sábado, janeiro 15, 2005

Pancada VI

(...)A grande verdade, era que tudo era tabu, era o aborto, eram a pílulas, era a própria menstruação, mas a culpa, não era nossa era dos nossos paizinhos que parece que viviam na pré-história, até parece que nascemos de geração expontânea para que era tanto tabu a volta das coisas, pareciam que andavam a criar flores de estufa, o que é certo é que elas aconteciam e depois é que era o delas, tive sorte na mãezinha que me tocou, quanto ao paizinho nem vou falar,pois se ele não consegue falar de mim porque terei eu de falar dele.
Nunca me bateu, também não me lembro de ele bater na minha mãe, mas gritava que nem, nem sei bem bem era um misto de corneta com bombos misturados com o som duma locomotiva a vapor, qualquer coisa assim do género.
Felizmente que o meu pai está em Angola debaixo de terra, deixou de nos chatear, de nos aborrecer, foi-se de vez, tanto para mim como para a minha mãe foi um alivio,
A Dona Henriqueta as vezes, ainda chora quando se mete a ler as cartas que têm guardadas, eu não tenho grandes saudades nem grandes nem poucas, assim fiquei com um belo carro, tenho uma casa só para mim, tenho muita coisa, que se ele ainda aqui estivesse bem tramada estava.
É claro que ás vezes tenho saudades dele, mas também pensar que ele ganha uma nota lá nas minas de Diamantes, e que é certinho aqui ao fim do mês é pena não ser uns diamantes, mas enfim não se pode ter tudo.
Mas também lembrar-me agora do meu pai era um bocado tétrico, afinal coitado do homem, anda lá fora a trabalhar para me sustentar,ou p+or outra anda lá fora a trabalhar para não estar aqui dentro a chatear.
A verdade é que a dor de cabeça continuava sem parar, e eu sem saber o que a « velhota » andava a fazer por ai, com um envelope, na mão toda sorridente, há dias que só me apetece é, desaparecer, para falar a sério agora apetecia-me mesmo estar numa igreja vazia sem ninguém, de olhos fechados sem ouvir nada a não ser aquele silencio tão profundo, dá-me uma calma fenomenal, pouca gente sabe ou desconhece, devem pensar que eu vou pedir aos anjinhos para me ajudarem na frequências ou nos exames, mas não, vou lá em busca de calma, de concentração, é uma boa formula, uma óptima formula, mas depois, de uma porrada de anos a estudar aqui estou eu feito parva, deitada na minha cama tipo uma colegial a procura do prazer divinal, com uma pancada na cabeça, que nem vejo e ainda por cima desempregada, não é que me possa queixar não me falta grande coisa, mas por vezes é um tédio, uma pessoas ás vezes está no sofá e já nem posição tem, nem paciência nem nada, lembro-me de RICHARD OSBORNE este era um dos gurus do meu curso de Sociologia.
« A Sociologia explica o que parece óbvio a pessoas que pensam que é simples, mas que não compreendem quão complicado é realmente ».
Estão a ver o dilema onde eu estava metida nos meus pensamentos?
Bom, qual dilema eu diria que era um trilema, os meu pensamentos iam muito além do que se possa pensar, chegavam as vezes ao absurdo do intelectual, para quem pensa que eu sou uma menina fútil, aliás é a minha imagem de marca, também gosto de a cativar, por vezes tem grandes surpresas, que o diga a Dr.a Monica, a psiquiatra, que mora aqui no prédio, deve pensar que eu sou parva, e deve pensar que eu não sei o que o Vasco andou por lá a fazer, em consultas, foi, foi até parece que eu não conheço o « animal », e mesmo que não o conhecesse a maneira que ela olha para mim, das duas uma ou é Fufa, ou o Vasco foi com aquela conversa da treta, que andou a espalhar por ai, espero que ele tenha aprendido, com aquela pancada de 6 pontos que me custou, eu sei lá custou-me muita coisa boa na vida e também custou-me muitas noites perdidas a pensar nele, mas a Dr.a deve pensar que eu sou parva, e mesmo que eu fosse tenho um aliado de peso o meu grande amigo Pilitas
que me conta tudo, sei que foi ela que o desvirginou, não ao Pilitas, mas ao Vasco, deve ter sido bonito deve, ela com aquele ar sabido com os óculos a caírem-lhe pelo nariz aquele cabelo apanhado com um lápis atras, estou a ver o filme(...)


Apeteceu-me

Sem comentários: