segunda-feira, janeiro 17, 2005

Sobreviver por ai (conto)

Estava um dia esplêndido, um dia primaveril, os pássaros cantavam, os cães ladravam, a aragem que corria era agradável, nem sequer esgardunhava o cabelo solto, aquele cabelo escorrido, que caia sobre os olhos esverdeados cor de Mar.
Eram uns olhos atentos a tudo o que a rodeava, eram como setas apontadas a indignação, mas havia tristeza naquele olhar, um olhar por vezes distante, corroído pelo tempo, era a amargura de muitos anos sozinha.
Mas a sua energia contrastava, com aquela melancolia indisciplinada, que percorria as suas rugas, marcas evidentes de um tempo que não perdoava, de um sol salgado, misturado com iodo lado a lado com as rochas daquele paraíso.
O farol era a sua única companhia, ao longo dos trintas anos que era faroleira, nunca faltou um dia ao trabalho, isolou-se ali, longe do continente, foi um desgosto de amor, já lá vão precisamente 30 anos, enclausurada naquele pedaço de terra.
O único homem que vira, durante este tempo, foi o ajudante do Cabo de Mar, que semanalmente lhe levava viveres e óleo para acender o farol.
Naquele dia primaveril, no mês de Janeiro, a faroleira estava sentada no seu banco, talhado pelas suas mãos, fechou os olhos e sonhou, sonhou com tudo o que não viveu e com tudo o queria viver, nesse dia quando acordou, descobriu o sentido da vida, que aqueles 30 anos ali enclausurada tinham servido para se sentir viva, afinal ela era uma sobrevivente.
Ela era a imagem do dia a dia que me percorre pela Alma e pelo Tempo.


Apeteceu-me

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei muito, temos sempre a sensação que se vivessemos de outra maneira aproveitavamos melhor o nosso tempo,o que fazemos diariamente é suficiente para nos sentir vivos....
fica bem
by sonia