terça-feira, fevereiro 15, 2005

Depressão (contaram-me)

Depressão (contaram-me)


(...) Corria para o precipício, daquela vez era caso sério, se nada de anormal acontecesse, chegava depressa ao limite da sua depressão, batia bem lá no fundo.
A sua cabeça, parecia naquela altura uma maquina de lavar roupa, era essa a imagem, que ressaltava na nossa imaginação, remexia para um lado, para o outro uma volta para a esquerda outra para a direita, ora depressa ora devagar, ora molhada, ora seca.
Era uma cabeça cansada e, a prazo de andar as voltas, o seu olhar não era vazio como os outros que conhecia, era estranho, era sim, mas não vazio, o seu rosto parecia estar sempre com vontade de esboçar um sorriso, os seus lábios húmidos transpiravam sedução, encanto e um certo suborno.
Ao longo da vida (bastava apenas percorrer-lhe aquele olhar) as alegrias cruzavam-se sempre mas, sempre com as desilusões, mas nunca as desilusões com as alegrias, porque no final de cada ciclo, acabava deprimida, humilhada por si mesmo, mas era o preço a pagar pela audácia das suas atitudes.
Depois vinha o processo longo e moroso para se recompor, muitas noites sem dormir, muitos cigarros sem fim, muitas lagrimas sofridas, uma vontade louca de não se alimentar, um ódio figadal, uma auto estima a roçar, roçar não,estava mesmo no limiar da insanidade mental.
Ai começava o auto-processo , o auto-control , a auto-personalização, a auto-disciplina, apesar do que me soava melhor era mesmo a “auto-destruição” é uma palavra violenta, gosto da violência das palavras e da violência da musica, as duas formam um bailado magnifico da mais pura carnificina mental, mas era mesmo o começo, a procura incessante, a descoberta de cada ponta solta, como um puzzle, e colar (muitas vezes com cuspo), tal a ansiedade de fazer o percurso inverso ao Abismo, aquele buraco negro estupidamente fundo, comprido mas, com fundo, porque varias vezes, ela havia lá tocado, ou seria só um apeadeiro?! Não me parecia.
Mas aquele tocar no fundo, fazia-me ressaltar varias imagens: a do nadador em competição que toca na parede e volta para trás rapidamente, a dos miúdos a brincarem a apanhada que correm incessantemente uns atras dos outros até se tocarem e o processo iniciar-se novamente com outro personagem, um pouco a imagem das estafetas.
O percurso é muito mais moroso, com sequências repetidas vezes sem conta, o repetir de erros, as quedas constantes as varias frustrações, sobe 1 descem 5, Aquelas coisas que por mais que lhe chamem lugares comuns, não o são, são isso sim, problemas isolados, problemas encastrados, tal qual os electrodomésticos das cozinhas, isto para usar a linguagem de dona de casa com os seus rolos na cabeça e de roupão, pantufas com coelhinhos e meias amarelas a tapar os pelos das pernas, com a cera no buço.(adoro esta imagem)
È verdade, é uma escalada por vezes inglória, não quer dizer sem sucesso, mas inglória, muitas vezes sem compreensão, sem razão para os outros.
Mas os pulsos vergam-se, as mãos cerram-se, os músculos contraem-se, as veias incham, quase rebentam, e grita-se com a Alma, com espirito, ninguém nos ouve, a agonia sufoca, mas o mal sai, vai saindo, vai se esfumando. Entra a compreensão, o conhecimento perfeito do problema, meio caminho já lá vai, outro meio falta percorrer, o topo já se vê, por vezes ainda se escorrega, mas a oportunidade está ali tem de se agarrar, e depois?
Chega-se ao topo rapidamente.
Abre-se os braços como cristo na cruz, encarpa-se o corpo e salta-se para o Abismo novamente.(contaram-me)

apeteceu-me
(mais um texto dedicado ao São Valentim, amanhã termina e serão explicados)

5 comentários:

Anónimo disse...

quantas vezes me mandei do abismo, é preciso "morrer", para começar de novo, claro que voltava ao abismo, mas de todas as vezes que me mandei do abismo,aprendi a viver.

Micas disse...

Tento nunca perder a minha lucídez, mesmo que para isso me esconda num outro qualquer mundo por um periodo, digamos, de (re)colhimento...e garanto-te que não há nada melhor que o (re)nascer ;)
Vim por a minha leitura em dia, já tinha saudades de cá vir, mas o tempo tem andado curtinho, curtinho :( . A teu poder criativo fascina-me. A Mata dos Medos está do melhor! Beijos

Anónimo disse...

Quase, quase lá, mas não..ufa!!!
30 de Junho de 2004...o mundo parece desabar...o que foi que eu fiz, como foi possível isto acontecer?!?...uma sensação de vazio, de abandono...viro me contra tudo e contra todos, sinto que ninguém me entende...pq eu?, interrogo me vezes sem conta...os dias vão passando, e quase a bater no fundo, consigo levantar me..olho a minha volta e vejo que afinal não estou só...aprendi que não é tarde, nunca é tarde..vou a luta..faz-se justiça, e desde então o hoje, cada momento vivido passa a ter outro significado...fica bem
Beijos

Unknown disse...

"A" espera ai, rewind, não sabes escrever? mesmo que fosse verdade, isso seria um factor para te esforçares cada vez mais, andares para a frente não gostas de escrever? então ontinua, tu escreves pra caraças gosto imenso de te ler.

este abismo...é uma abismo qualquer que se pega e apega.

Unknown disse...

calma a Palmira está de regresso breve...rsrsr quinta há mais post it tem calma a minha fase séria tb tem limites ou por outra ..sei lá hihihih