quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Silêncios de Ontem (Ayer)

Silêncios de Ayer (Ontem)


(...) Uma entrada sumptuosa, no seu pórtico uma roseta com mil cores, pedras sobre pedras.
Cada pedra, um rosto, um suor, uma lágrima, uma história de certeza, aquela porta de madeira no meio de delicados arcos, talvez românica, talvez não, uma serpente por cima da porta, delicados arcos, entalhados e recortados por hábeis mãos.
Lá dentro morava o silêncio. Era abismal, uma diferença abismal, bastava ter um pé dentro, outro fora.
Um ouvido virado para dentro outro para fora, de um lado o burburinho da azáfama do dia a dia, o bulido das terras de gente, do outro lado o silêncio.
- Ahh, (admiração) o silêncio que tem barulhos, curioso o silêncio tem barulhos.
O silêncio é composto por milhares de barulhos que não se ouvem, e ali naquele espaço de Deus, os barulhos ecoavam num imenso silêncio.
Com os dois pés lá dentro, uma abstração total dos Santos, santinhos, imagens, pinturas de «gentes» anónimas», escultores desconhecidos mas, de grande valor, depois dessa abstracção, de separar mentalmente todas aquelas peças, meticulosamente e religiosamente ali enfiadas, era como chegar a uma outra dimensão, a um outro «Portal», um fresco agradável de um enorme bem estar, depois aquele silêncio que, nos embala, uma ante câmara para ensaiarmos um belo e sonoro grito, que nos fica preso na nossa indignação, sim indignados de um grito deslocado do seu cenário, do seu habitat!!
A casa de Deus, ao qual não pedimos licença para entrar, também não pedimos licença para «Ele» se instalar por aí, para ser «dono» e «senhor» (...)
Mas fixamo-nos ali, naquele espaço, rodamos depressa sobre nós próprios, a deslocação do ar faz-nos sentir livres, sabe bem, muito bem mesmo, liberta-nos.
Seguimos viagens de silêncios entre aqueles bancos corridos de madeira que correm a nave principal ou a principal de 3 naves, mas os bancos, o silêncio, o silêncio e os bancos, um corrupio de imagens e seduções, mas basta um pequeno, toque um ligeiro toque, um pequeno arrastar de um daqueles bancos, enormes bancos corridos, um milímetro que seja e o silêncio desmorona-se, ecoa por todo aquele espaço um ribombar de barulhos agitados e estridentes, os ruídos batem naquelas paredes, aquele estrépito embate nas paredes grossas erguidas a muito naquela nave, e voltam para trás , sobem, descem, um sobe e desce constante, e durante minutos aquela harmonia de silêncios é desfeita por aquele milímetro de madeira arrastado pela pedra fria de um chão milenar, é desfeito um cocktail de prazeres rasgados pelos nossos prazeres auditivos.
Mas é ali, que os nossos pensamentos, as nossas viagens, conseguem ganhar velocidades estonteantes, os nossos sonhos tornam-se diferentes tal é a calma que ali se consegue, sem ninguém sem nada, apesar d’«ELE» estar em toda a parte.
Imagino a imagem de uma cabeça cortada ao meio horizontalmente, com um corte preciso e, imagino milhares de peças, pecinhas, roldanas, engrenagens a andarem para a trás e para a frente, a rodarem para a esquerda e para a direita, numa perfeição caótica,(adoro o caos) adoro esta imagem da nossa cabeça, um meio de laboração perfeita, não gosto de olhar nem de perceber o Cérebro, ou por outra o Cérebro é imperceptível, aquela massa cinzenta nervosa que ocupa a cavidade do crânio, não consigo compreender, não compreendo com funciona.
Mas também é verdade, por muito que se dê voltas, que também não faço a mínima ideia como funciona o dono daquele Espaço.


Apeteceu-me
(este é o ultimo da Triologia de 4 textos sobre o São valentim)

Batalha - A luta, a procura de quem queremos
Ansiedade - A paixão a espera, o frenesim
Depressão - A falta de respostas
Silêncios - Este deixo ao vosso critério e imaginação, tenho a minha, mostrem a vossa.

5 comentários:

Anónimo disse...

fiquei com uma sensação de paz, vontade de não fazer nada, só ficar aqui a ouvir os meus gatos a brincar, como duas eternas crianças,porque é que raramente paramos, parece que para nos sentir-mos vivos temos de estar ocupados, a pensar em alguma coisa. pois é hoje não queria pensar em nada.tenho de ir estudar
acho que "assassinei" o teu texto
beijos

Unknown disse...

Sonia qual, quê, o assassino aqui sou eu, acho que «mato» qualquer texto, mas enfim adoro escrever, e vou escrevendo e enquanto, vir por aqui escritop qeu os meus textos dispertam sentimentos, nas pessoas vou andando por ai, semre é melhor que fazer disparates como diz a minha mãe.
obrigado a todos por me entenderem

Anónimo disse...

Podermos parar para pensar e decidir o que fazer a seguir, é reconfortante...na calma e quietude de uma igreja ou no silêncio do nosso quarto, não ouvir nada e sentir tudo...só que nem sempre se encontra o que se procura
beijos

Unknown disse...

Sara e foi com amor (e por esquecimento) que falta o cheiro, mas essa parte é vossa o cheiro a paramento, o cheiro a flores velhas e frescas, os varios cheiros a tabus ressequidos de anos a fio usados.
beijos
adoro que passes por cá Sara que é de Amor

isa xana disse...

o silêncio de uma igreja... em tempos as igrejas davam-me sensaçao de paz e protecçao. hoje nao sao para mim mais do que edificios de uma religiao, edificios que fazem outras pessoas sentir-se bem lá.
se preciso de paz e protecçao, o melhor sitio é o meu quarto, se preciso pensar em sossego faço-o aqui, se quero rezar rezo aqui, no meu quarto.

bem escrito o teu texto:)

jinhu