quinta-feira, março 31, 2005

(Fogo) Cruzado IV

(fogo)Cruzado

(...) pois é mesmo aquele “gajo” que deve ter desfalecido já algum tempo por ali e só de pensar que ele saiu de dentro de mim, ai que horror um aborto, áh as coisas que eu pensava, aliás as coisas que eu adorava pensar. Pensar mantém-nos vivo e de que maneira naquele momento bem precisava de estar vivo, mas não era o único que precisava de mim vivo, não vai faltar muito o Vasco vai irromper por ai aos gritos, ai vai, vai ele é que ainda não deve saber, quando a dona Henriqueta lhe der aquela carta.
O que eu precisava agora mesmo era, um bocado de alma, de espirito, para poder vislumbrar o que se vai passar neste sábado que já arranjaram maneira de, pois ia dizer que estragaram, mas acho que não , que não estragaram mesmo acho que vai ser uma daqueles dias 5 estrelas, mas tenho mesmo que ir a casa de banho. Deixa cá ver o que terei ai para ler... mas a Palmira também ia ter uma bela surpresa se não a teve já, pois será que ela já teve? Não acredito que a mãe fosse capaz de abrir a carta e contar a filha o que lá está escrito, mas nunca se sabe, mas se isso acontecesse já havia por ai gritos, e quem sabe uma ambulância a porta do prédio.
Bom, vou a casa de banho, sentar-me no trono, aquele frio fazia-me estremecer o corpo, o frio do... qual do... da peida a assentar na sanita, provocava-me aqueles arrepios na barriga, quando uma pessoa cruza os braços e dobra-se sobre o abdómen, a espinha parece amolecer para depois fazer de mola e catapultar os nossos olhos para fora da orbita, e depois, e depois olhamos para o espelho que fica logo ali para ver o ar de estúpidos que temos ali sentados no trono, é mesmo ar de estúpidos e de quem não sabe o que fazer, é quase como quando achamos alguém muito giro, e estamos durante dias a preparar um discurso todo pomposo e depois chegamos ao momento da verdade e bloqueamos e ela diz-nos tudo aquilo que nos deixa com aquele ar de casa de banho, um ar desconcertante, talvez dai aquela expressão “foi uma ar que lhe deu” é um ar de casa de banho. Ficas com aquela cara de quem comeu e odiou, mas enfim tinha mesmo de ali ir, e é inútil pensar que conseguimos outro ar, ou sobreviver sem termos de lá ir, temos mesmo de lá ir que ninguém duvide disso. Mas o ar também não melhora, quer dizer o ar de Ar, oxigénio, hidrogénio ou coisa que nos valha, esse melhora quando vamos a mata ou temos que ir a mata, ao campo, mas o nosso ar esse não melhora nada, quer dizer acho eu não é que por ali haja espelhos, mas estou a ver e a lembrar-me, primeiro a busca incessante de uma belo esconderijo para a obra de arte, depois ver e sentir se há alguém por perto, depois descobrir como se pode fazer a coisa sem acontecer nenhuma desgraça, puxa-se as calças para baixo, os boxers desvia-se cuidadosamente os pés, ajeita-se bem o cenário dá-se mais uma olhada em volta, sempre com alguma ponta das calças na mão caso apareça alguém para as puxar-mos rápido, depois dessa ultima olhada, os sentidos tem de ficar alerta, atentos, baixa-se, a posição é a de cócoras, o equilíbrio tem de ser perfeito, os pé tem de ficar desviados do centro de despejo, ali do raio de acção do alvo, tem de ser num sitio de ervas rasteiras para evitar cócegas desnecessárias, depois é só, é só, revermos estes passos todos e vermos o nosso ar, é mesmo um ar que nos deu, mas se revermos bem vemos que o nosso ar vai ser bem pior quando virmos que falta qualquer coisa, claro que falta, agora imagine-se o nosso ar, a pensar:- e agora onde vou limpar?
Claro, claro, alguém conhece uma ar mais idiota que este?
Claro que conhece, o ar de andar com as calças e os boxers puxados para baixo, a prenderem os pés e andar por ali, a procura de folhas decentes que não se desfaçam na mão. Pior mesmo só quando aparecemos depois ao pé de alguém com aquele ar meio encolhido, meio envergonhado, meio enojado, que só falta termos um letreiro, na testa a dizer fui “cagar” à mata e não tinha papel.

Apeteceu-me

Há 20 anos quando desci à capital deparei com esta "Mulher", com um "M" muito grande
fez-me voar muitas noites, quem sabe se não lhe devo alguma das minhas "coisas" boas.
Uma mulher sem preconceitos e com uma vontade muito grande de viver, pelo menos num mundo a parte.





20 anos depois, precisamente no dia do Pai fui encontra-la a vaguear por ai, onde se cruzou novamente comigo, encontrei a mesma "Mulher" com a mesma vontade de sonhar, viver e ensinar, uma mulher sem preconceitos e que não se queixa.
Chama-se Teresa Ricout, os amigos chama-lhe, Tété "manda" no Chapitô há muitos anos,foi a primeira Mulher Palhaço e é a unica que conheço.

"Adoro viver cansado de sorrir"
Charles de la folie

3 comentários:

Anónimo disse...

Lembro me desse dia..do dia positivo...ouvi a emissão e a entrevista que lhe fizeste, após a actuação do João Melo...que cantou qq coisa assim: se fores Dafundo eu serei Algés, se fores a ferida eu serei a crosta..mas lembro me mais ainda do dia seguinte

...e a casa de banho..bem a falta de uma, a mata tb serve..cuidado é com os bichos que por lá andam ;)

Oh Charles tu e a casa de banho, mais o trono, a mata, a obra de arte..ob pela disposição logo pela manhã..estava a precisar..fica bem
beijo enorme

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

Os momentos de reflexão no trono branco, o olhar à volta e onde está o resto? Boa partilha.

abraço

agua_quente disse...

Reflexões matinais? Ou pura e simplesmente reflexões sobre as diversas formas de cagar? :)) Fartei-me de rir. Gostei sobretudo da mata, claro. Beijos