sexta-feira, junho 27, 2008

Páginas Soltas


(...) Não me lembro ao certo, qual foi o dia da semana, seria domingo ou segunda-feira. Na realidade isso não me importava grade coisa – não me sentia com a vontade de outrora – mas afinal só tinham passado dois dias depois de a ter visto. Vestia simples e simplesmente caminhava rumo à minha imaginação.

(...) Certamente que não era real a imagem que havia chegado até mim. Ninguém pode ser assim tão perfeito. Aqueles contornos de personalidade, assentes num espirito quase livre e sem preconceitos que vagueavam nas ondas produzidas num oceano de ideias. O bafo que saia de sua boca era doce – como nada.

(...) Tinha um olhar sem expressão – não é verdade, mas gosto de esborratar essas palavras na minha tela preferida. São as cores da frase que me afagam a vontade de te ver e ficar parado a olhar para esses fragmentos da minha imaginação. Vejo-te esboçar um sorriso, mas só isso, não passa de um esboço de cor indefenida como estas palavras.

(...) Onde estava ela quando perguntei pela verdade dos sentimentos. Escondeu-se dentro daquela tela onde os verdes do campo sobressaiam, na esperança que o azul do céu não fosse atravessado pelo branco das nuvens. Tudo é cor, mesmo quando a dimensão do surreal se atravessa na «minha» direcção.

(...) O que foi que disseste? Sussurraste tão baixo que tenho dificuldade em descobrir-te. Existes mesmo? É verdade espanta-me como te podes esconder num dia como este. Afinal não é dia e a noite tarda em chegar – estamos no limbo, entre a vontade e o desespero de gritar – solta-o.

(...) Já não me lembro se foi ontem, não me lembro se eras tu - ela, se era ela – tu. Faz diferença pensar isso de ti – foi o que pensei, desde que se pense, não tem importância. Mas onde se pode transportar esse cogitar – nunca vi isso assim, nem mesmo no dia que saltei do cadafalso, solto de ti.

Apeteceu-me

“Quando abri os olhos apercebi-me que não foi um sonho, afinal só tinha passado mais um dia”. Charles de la Folie

quarta-feira, junho 04, 2008

(A)Deus a Fé de (a)mar

(...) Percorria o silêncio em que me encontrava em busca de uma palavra, de um sinal, de uma ilusão. Nada, naquele dia só o desespero das imagens em agonia me despertavam daquela intensa apatia - repetitiva. As palavras surgiam em pequenos murmúrios sentidos e discretos – havia a dor.

(...) Da mesma forma que te abraçava procurava nas palavras aquilo que sentia. Rescrevia na atmosfera aquele sentimento tão próprio da paixão. Nada aparecia escrito, havia sentimento no momento e desejo de verdade, mas as palavras – ficavam por escrever.

(...) Nunca o vi, nem sei se alguma vez o verei. Não acredito que se esconda, na realidade não acredito naquilo que não vejo – se não se esconde onde estará? – pergunto. É uma antiga dúvida que segue num movimento quase perpétuo. Uma avalanche de gente procura-o sem dó num movimento inalienável de Fé.


(...) falo dele como quem bebe água, mas não sei nada sobre ele. Provoca dores imparáveis e sem sentido. Percorro novamente o espaço que fica entre corpos, os vazios que não encontro e surgem-me palavras que não se descrevem – nem sei se existem.

(...) De Deus só conheço um imenso adeus – numa despedida cheia de dor. Do amor só conheço o ardor com que se define algo que não se vê. Nem Deus, nem o Amor se vêem, não se definem, nem aparecem – serão eles actos de fé?

“ Um dia perguntei a um anjo: Porque estou eu a sonhar?” Charles de la Folie