quinta-feira, outubro 08, 2009

“Aqui há pena de Morte – Diário de um sem abrigo”

“- Morada? – o coração começou a bombear o sangue violentamente, provocando-me uma ansiedade. – Não tenho morada minha senhora! Aqui, neste local onde me encontro, sentado e com o coração a bater, sou um número que uns querem subtrair e outros somar.”
Eis o diário comovente de um sem-abrigo, um grito de desespero com um sabor acidulado a solidão.
Cap, Russo, Cenoura, Joe, Crava… deambulam pelas ruas de Lisboa quais soldados numa luta inglória. Conhecem de bem perto as agruras da vida, mas cedo aprenderam a amortecer as pancadas diárias e vivem numa enorme solidariedade.
Cap tem a seu cargo este exército invisível e uma missão, ajudar os outros sem-abrigo a aguentarem-se nas ruas e a protegerem-se do torpor da pena alheia. Perdido entre o presente da sua vida de indigente e o passado que não consegue lembrar, retrata-nos, numa visão fina e arguta, uma Lisboa pouco atenta à indigência.
Cap possui uma cultura ímpar e uma alma de poeta, é um sonhador. Nos seus sonhos fantasistas o beijo come nuvens, os campos abraçam, os mimos desprendem-se das árvores.
Quando conhece Rita perde-se na imaginação do amor. Sentir os lábios de Rita nas suas bochechas cadavéricas transporta-o para uma outra dimensão. Mas terá um sem-abrigo direito ao amor? Ei-lo confrontado com a vontade de se apaixonar e a vontade de prosseguir uma missão de sobrevivência.
“Há quem não acredite em nós, quem nos considere uns dissimulados, mas quando tombamos aqui…é demasiado difícil de nos voltarmos a levantar.” E pode acontecer a qualquer um de nós!
Cap, porém, pondera erguer-se e partir…

Para breve numa livraria perto de si...


"Temos de continuar o percurso, mesmo que seja difícil levantar as pedras que nos atiram." Charles de la Folie

3 comentários:

Bino disse...

Tenho uma "pancada" que é a de que um dia ainda vou ser um sem abrigo.
É a porra dum medo.
Abraço, Carlos.

O Profeta disse...

Parei na viagem de rumo e estrelas
Sentei-me à beira de uma lagoa sussurrante
Um Milhafre fitou-me zombeteiro
Hesitei na procura do adiante

Na ilha há sempre uma criatura em vigília
Há sempre um feiticeiro vento
Há sempre uma flor que a alma seduz
Há sempre no acontece um mágico momento



Abraço

Catherine disse...

"Temos de continuar o percurso, mesmo que seja difícil levantar as pedras que nos atiram." Charles de la Folie

é, de facto, uma boa frase!

Catherine