terça-feira, julho 13, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada III

Mas hoje a coisa parece estar a correr bem… melhor do que é costume, anda tudo à roda, mas por enquanto nada de muito complicado, pior é quando estou mareada, quando estou virada para essas travessias atlânticas, hoje a coisa está calma, o mar não está revolto está calmo, tipo mar chão. O pior… o pior mesmo é sair da cama, tem de ser de uma só vez, ou de uma vez só, quem sabe se de uma vez acompanhada ou acompanhada de uma vez. Acho que não digo mais nada é só asneiras que saem da minha boca… bom, tem de ser de uma só VEZ, e depois rodar o rabo, tipo Break Dance… meter os pés no chão, apoiar as mãos nos joelhos e upa que se faz tarde, upa para cima. O pior é que as pernas vão bambolear, dar de si, até parece que já estou a ver o filme, e que filme, o melhor é passar à acção, vamos lá a isso… um, dois, três e... ai, ai…
Pois, é tudo fácil, mas aconteceu aquilo que se chama o efeito sempre em pé mas, em versão deitado, eu sou a sempre deitada… e sei, tenho a certeza que tenho de me levantar e que é um dia importante para mim, muito importante mesmo, se não é passa a ser, claro… ou nem por isso…
Nesta altura preciso mesmo de duas coisas: de relaxar e que esta pancada me passe, o melhor é continuar deitada e fazer algo que, alguma coisa que adoro, com este silêncio sepulcral (estas coisas não se devem dizer, mas eu digo tudo como os malucos, talvez por isso é que pensam que eu sou uma rapariga meio esquisita e não se enganam grande Merda). Adoro tirar macacos do nariz, fazer umas bolinhas apetitosas e depois lançar - os macacos - para o vazio e ouvi-los a bater estrondosamente contra o chão, ou contra o guarda-vestidos, ou contra a secretária que não tenho ou… sei lá… Mas fico frustrada quando caem no tapete, odeio mesmo, depois daquele trabalho todo de construção macacal e depois não poder ouvir, escutar aquela sinfonia, aquele belíssimo plock, um plock divinal feito de um belo macaco de uma narina imaculada e depois ejectada. Continuo com esta história, a pensar que devia haver olimpíadas do macaco, tipo: o arremesso do macaco, o mais belo plock do macaco, o maior macaco, o mais viscoso macaco, a colagem do macaco na retrete (no urinol para a classe masculina), o mais expansivo macaco no vidro do WC…seria uma forma de dar a conhecer a arte do macaco ou do macacão a todas as classes. Na verdade há umas menos privilegiadas que não sabem o que isso é, acho que estou certa, acho que pode ser uma bela forma de se estar na vida.
Depois desta dissertação sobre os macacos o melhor é continuar a treinar o meu plock, plock. Macacos mais macacos, a chamada “macacada final”, ou a “última grande macacada” ou ainda a “ grande macacada em cuecas”. Nada de muito especial fazer estas coisas ou não fosse eu mulher, mas as coisas que me lembro, uma mulher que devia ter muito tino, mas… claro, evidente e visível… não tenho! A minha mãe até que é uma “gaja” porreira, senhora “gaja” diga-se em bom da verdade, porque, por exemplo, eu nas mãos da minha Tia Luísa bem lixada estava, a esta hora já tinha um enxoval completo, completo não, faltava-me o essencial… o “gajo”!
A desgraçada da minha prima Ana que tem 24 anos, mais coisa menos coisa, o melhor é dar-lhe um intervalo de dois anos quer para cima e também para baixo, acho que ainda nem cheirou a coisa, coitadinha, o mais perto que esteve de um beijo foi na missa, no casamento não me lembro bem de quem, mas não é muito importante, o casamento claro. Na missa, naquela parte, em que se beija o nosso semelhante assim na Terra como no Céu, a minha prima Ana beijou um miúdo todo bom, na cara, claro, mas foi o mais próximo que ela esteve do sexo ou de um linguado ou de qualquer coisa que dê calores, que aqueça a alma e a faça transpirar, a alma, não vão pensar em outras coisas… Aliás, segundo sei, o meu Tio Manel, nesse casamento, já não tirou os olhos do rapaz, devia estar com medo que acontecesse alguma coisa de grave, quer dizer, o grave aqui devia ser mesmo o rapaz tossir e poder engravidar a prima Ana ou coisa do género, aquelas cabeças são um bocado para a esquisitice. Pois, é triste quando se tem a mania da pureza, quando pensam que um homossexual é alguém que lava a pila com OmO, pois branco mais branco não há, ou haverá… que se lixe a taça. Voltando à miúda, miúda uma fava, ela é mais velha que eu, mas coitada, o que ela sofre à brava com o período – menstrual. O médico mandou-lhe tomar a pílula para regular a coisa e a desgraçada quase foi deserdada só de pensar naquilo, na pílula, não foi de coisar seguro, foi mesmo na pílula… Aliás nem vale a pena porque a pílula, naquela casa, é heresia, se o meu Tio a deixasse tomar, qual tomar, utilizar… O homem é tão… nem sei bem a palavra para o definir… retrógrado, arcaico… não me ocorre nada mais…o meu vocabulário não chega para o definir, pressupondo que ele a deixava usar…
A pílula seria usada, pressionada entre os joelhos para nunca a deixarem cair, uma boa forma de nunca abrirem as pernas. Que horror, ou seja, se em vez da pílula meter uma granada, também faz um belo efeito, aí deve ser uma pílula abortiva. Não vou gozar mais com esta história, é tramado estar na situação dela e isto tudo é uma forma de dizer que a minha prima Ana é uma desgraçada. O que eu penso, e estou a ser muito sincera, é que se ela não se impõe depressa, ainda vai ter um valente desgosto, um não, dois, além de casar virgem, vão-lhe escolher o noivo. Acho que essa é a pior maldade que podem fazer a uma mulher, mas ela nunca se vai aperceber da maldade porque vai para o casamento com tanta “fominha” que nem se apercebe, nem se lembra do que lhe fizeram.

Apeteceu-me



"Não percebo as vontades por isso me deixo levar..." Charles de la Folie

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