terça-feira, setembro 14, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada X

E a vida continua e eu sem saber nada da carta, é mesmo uma desgraça, tenho de saber, eu quero saber, preciso saber… Pode ser daquela lambisgóia da Dra. Mónica, talvez não, mas agora estou num estado de ansiedade e no meio desta pancada toda era só o que me faltava ter um ataque de pânico, é mesmo o que vinha a calhar. Ainda dizem que o período é difícil, comparado com o que se está a passar é um caldinho. Isto porque… quando embico numa coisa… fico terrível, fico a moer, a moer, a remoer e acreditem que moída e remoída já eu estou. Parece que andei para aí uns duzentos quilómetros a pé, com uma mochila cheia de pedras preciosas, mas não as posso tirar, nem tocar, nem ver… Estou doente e o raio da carta ainda me mete pior. É que para mim só há uma solução, suicidar-me, atirar-me de bem alto, muito alto, um salto para o abismo, assim tipo atirar-me da cama abaixo, é um tombo e peras, são para aí vinte centímetros para a desgraça. Se fosse uma “Tia muito Bem” podia partir uma unha e isso podia trazer graves consequências psicológicas, não sei bem a quê e a quem, mas talvez, por exemplo, à minha cabeleireira.

Coitada! Quer dizer coitada de mim, eu aqui assim e ninguém me salva, nem uma garrafinha milagrosa, nem um chá, nada, nada mesmo…

Ui, eu não sei bem o que se passa, acho que tenho cabeleireira marcada, ora se tenho cabeleireira… devo ter alguma coisa especial, mas não consigo lembrar-me. A minha mãe nunca mais chega e são quase 10 horas da matina e eu aqui sem saber de nada. Não sei da carta, não sei o que vai acontecer, não sei o porquê de achar que tenho cabeleireira marcada, deve ser um belo dia deve… um sábado e com estas incertezas todas, imagino como vai ser o domingo…

Tenho de tentar, mas é um esforço descomunal e isto só para ver o que se passa à minha volta… reviro os olhos, parece que estão a suar de tanto esforço… É uma transpiração monumental para a minha vista, mas aqui e ao que posso ver ao meu redor, nada mesmo… nada se passa, quer dizer, tirando aquelas coisas soltas, umas cuequitas, ou duas, ou três, um soutien, ou dois, ou três, um par de meias, ou dois, ou três, tanta coisa, como pode ser isto se eu sou só uma!?

Estou com umas securas que dão para três e a carta nada, nada mesmo, ainda vou chorar.

Às vezes finjo que choro, mas nunca é nada de especial, são aquelas coisas que nem nós acreditamos, remoemos, remoemos, mas nada… pois eu chorar chorava, mas é de ter o quarto assim desarrumado. Nem tudo é mau, posso sempre gabar que é um desarrumado com estilo, desarrumado e não desmazelado. É um desarrumado com… ou seja, o meu desarrumado tem encanto, faz-me lembrar o desarrumado daquelas vedetas que vão ao cabeleireiro só para se despentearem. Lembro-me dos Aerosmiths, o Steve Tyler, aquela mão cheia de homem, dizer qualquer coisa tipo “vocês não sabem quanto custa ter este mau aspecto”. O dele, coitado, é à borla foi mesmo de nascença ele é um misto entre um carro estampado e um galo da Índia.

O meu quarto é assim, tem umas cores extravagantes, é a chamada aberração contra natura, um amarelo cueca a roçar canário, com um verde frigideira misturada com alfaces, os acessórios são tonalidades extras dos meus próprios domínios criativos, processos que, para um comum normal, demoram anos, muitos anos mesmo, a grande maioria não consegue e se conseguisse… batatas! Para mim apenas segundos, resta referir, claro ninguém a não ser eu, a sobredotada da fava rica, é que pode “criar” uma coisa daquelas, claro que tenho de dizer a verdade…

Ainda não o fiz e já estou arrependida, só falta lá escrito em letras garrafais, aqui jaz a minha virgindade, nunca o fiz por, por, por… nunca o fiz porque nem quero pensar na minha virgindade, pensar para quê? Já foi há tanto tempo, eu quero é pensar no que diz aquela carta, isso é que eu quero. E já agora também não me importava nada de saber o que se passou esta noite.

Apeteceu-me

"Não é no contar dos dias que envelhecemos mas sim em vê-los passar passivamente" Charles de la Folie

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