(…) Viveu demasiado tempo dentro da sua própria sombra, para se lembrar fosse do que fosse. Foi isso que lhe provocou a violenta metamorfose que o transformou na sombra que o perseguia. Os braços soergueram-se lentamente, a cabeça tombava em círculos e, tudo se manteve escuro. Nem os gemidos da sua própria erosão o demoveram, revelou-se e partiu.
(…) Um arrepio na espinha provocou-lhe aquele olhar perdido, sem expressão e sem chama. Procurava nas palavras que não saíam, a verdade. Caiu fulminado pela ilusão que se refugiava dentro de si. Alojava-se dentro de um parasita num local ermo dentro de si. Nem a melodia perdida dos sons graves da música lhe indicavam o caminho, era noite e chovia.
(…) Os dedos não paravam de baloiçar, numa energia sem precedente. Uma realidade cruel, ao mesmo tempo reconciliadora com o «processo»; reagiam assim, só isso. Estava cinzento o corpo tombado perto de ti, reflectia os pequenos silêncios que se acumulavam, como malmequeres tombados numa batalha longínqua e vegetante.
(…) Não me lembro do teu nome – e isso importa? Não me lembro do teu sorriso – isso parece grave! Como é grave não saber o sabor das palmas das tuas mãos. Nem a cor, nem de cor, do respirar que me mantém acordado, numa vida que se vai esvaindo, dia após dia. Reinvento-me, nada sobra dentro de mim, só o sabor a sangue dos meus lábios.
"Há sequências de nós que nunca chegam a existir". Charles de la Folie
7 comentários:
"Os vazios" não se querem perfeitos e "Os malmequeres"
não se querem tombados.
"O sabor das palmas das mãos" é doce e quente e "A vida" está repleta de cor.
"Os meus, teus, seus lábios" têm o sabor a mel.
Estas tuas palavras são "sapiência" e "verdade".
um abraço
Olá Carlos,
Parabéns !!!
"O esquecimento total é impossível...
as pegadas impressas na alma são indestrutíveis ... "
Beijinhos
Bi@
Carlos,
Você tem um dom e o dom de nos fazer transpor uma série de fronteiras. Por vezes confesso que tenho alguma dificuldade em entender os seus textos, leio e releio e nada me dizem, porém acordo da minha letargia e tudo fica claro.
beijinho e obrigada por existir
Gosto essencialmente das sequências que nunca chegam a existir...
e tu existes? ou és uma inconsequência?
Pringle
Entrei aqui por acaso. Sou novato nestas andanças, mas não noviço!
Descansa, não estou aqui para indagar as razões que te levaram a matar o ministro; não li o livro, desconheço o móbil... mas posso deixar a minha simpatia pela ideia! :D
Bom blogue, já te adicionei no meu.
Abraço
FESTAS FELIZES, BOM ANO...
adorei o excerto dos "malmequeres tombados numa batalha longínqua e vegetante"...mt me diz hj, na sua tristeza e profundidade.
obrig
bj
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