(…) Não me lembro da noite. Estava decidida a viajar com os suspiros que saiam de dentro de mim, sem rumo. Encantava-me o degredo que impunha depois de deixar de pensar em ti. Não foi por nada, foi-me imposta a tua ausência e por isso respeitei essa tua fuga. Procurei um espelho em que me pudesse enfrentar. Sorri, porque a imagem da mulher jovem que se encontrava à minha frente, não correspondia ao desagregar do meu corpo. Sabia viver com ele e com a mentira que me era contada por aquela imagem traiçoeira.
(...) Deixei-me cair uma dúzia de vezes, as pernas fraquejaram. Outrora belas, hoje fracas, cruzadas por um emaranhado de veias que se confundem com riscos de caneta-de-feltro. O frio da decrépita e decadente vontade de pensar, confundia-se com o principio do estertor da morte. Antes agora. Ela que me leve enquanto a percebo, depois vou-me insana, mas insana ficarei até Ela me levar. Não tirava os olhos da sombra que se esbatia no chão. Acordei em sobressalto, era noite e a Lua espetava-me a alma.
(...) Nunca mais ninguém me definiu como tu o fazias. Absorvo o que deixaste e sinto a nostalgia dos anos que passámos. Juntos corremos o Mundo em sonhos que nunca concretizámos, por nada de especial. Sempre que falávamos do assunto, assumias-te como meu amante e despertavas em mim o desejo de te ter. Na noite em que te embrulhaste no sudário e partiste. Fiquei para sempre acordada contigo, por isso o sonho nunca se desvaneceu e fez-me caminhar à volta do Mundo, o teu.
(...) Os meus pecados deixaram um rasto aberto; como sulcos que rasgam a terra em plena convicção que o teu suor poderá percorrê-los. Reconheceria o teu cheiro, o teu calor, o teu sabor em qualquer lado. Nunca entendi porque não esperaste! Sempre te desejei como o homem da minha vida, mas nem isso foi o suficiente para ficares. Nunca conseguiste entrar no meu mundo, bastava percorreres aquele corredor e ultrapassar a porta que dava acesso à minha vida. Simples, não é! Mas tu não o fizeste.
Apeteceu-me
"Basta controlar o desejo para descobrir a nossa existência". Charles de la Folie
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12 comentários:
suspiro...pela leitura intensa!
mt bem escrito, sobretudo pk tem alma...do odor, da lembrança, do desafio não-aceite, da espera, do desejo.
voltarei para reler.
grata pela leitura, é bom saber q a nossa existencia é feita de (auto-)controlo e/do desejo.
apetece-me ser existencia de desejo...rs...só para brincar, sem desrespeitar :)
bj e bom carnaval (o meu será ao som das ondas do mar, certamente)
...eu sei que os dias têm estado quentes... mas não achas que a "piquena" corre o risco de se constipar naquele canto?... ;-)
Bjs
Vida Hi-fi, eu pensei q a loucura dela fosse d'alguma overdose de pêssegos...rs
belo! belo! belo!
amei cada sílaba...e amei a foto... tudo, tudo!!!!
gostei dos pêssegos :)
Está tudo dito na frase final:Simples, não é: Mas tu não o fizeste.
um bjo e boa semana
Escrita muito intensa....gostei.
Beijos e boa semana
para descobrir a nossa existência, acho que basta a percepção de que estamos vivos e que um dia vamos deixar de o estar. o desejo, esse que não nos deixa dormir..:-)
ps-porque é que não me consigo tornar seguidora deste blogue..?
beijo,b
não sei. tentei seguir mas pede para me registar um endereço gooogle..? sou seguidora de vários blogues e nunca me tinha acontecido isso:-S
porque será?
bjis, b
Fantástico texto e imagem...
Abraço
Hoje decidi visitar todos os blogs que acompanho.
E é com imenso carinho que
venho lhe desejar
um belo final de semana
Um abraço carinhoso
Se conseguisse escrever, era assim que diria tudo aquilo que por vezes sinto e não sai por palavras. Fantástico! Parabéns!
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