(…) O fim está cada vez mais perto. Vejo-te perder nos improvisos da minha lucidez – há minutos não estavas aqui – nem sempre ela lúcida. Saboreio o acerbo que se acumula nas pregas da minha mente, uma, duas e até três vezes. Corroboro com a indiferença de um olhar quase inerte e sem expressão. Os braços tombam em direcção ao chão, suspendendo-se na imagem quebrada de coisa alguma.
(…) A noite teima em não cair. A penumbra vai-se entranhando à espera de derrotar o crepúsculo do nosso sonho. Em vão rebolo de um lado para o outro à espera de adormecer – sozinho – sem alma e sem vontade. O cheiro à manhã que tarda, rompe entre os tecidos que me cobrem, provocando um arrepio de extinção, de pavor e de coisa alguma.
(…) Procuro no fundo da ilusão, as pequenas «coisas» – prazenteiras da vida – que nada me sugerem. A música surge monótona e discreta, num crescendo descrente. Numa evidente solidão, acompanhada por notas suaves que permanecem suspensas. E a vida? – pergunto devagar, sem afectar o ritmo das melodias de coisa alguma.
(…) Raramente vejo o sorriso que desperta as emoções. São pérfidas as palavras que saem da tua sombra, como ténues as lembranças que quero ter. Ilusões. Acidentalmente cruzo um olhar, rasgo a inocência de um instante e fico suspenso. Ao certo nada existe, na realidade, um momento não passa de coisa nenhuma que se fixa em nós, e ali permanece para sempre.
Apeteceu-me
"O silêncio acorda-nos a consciência e dá-nos a consistência da sobrevivência" Charles de la Folie
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5 comentários:
Já estás a escrever o próximo ?
Escreves muito bem mesmo.
Bjo e boa semana
Não fosse o prazer que tenho em ler um livro na sua forma fisica, o cheiro, o virar da página o voltar a reler de uma forma tão pessoal, ficaria viciada em ler aqui, as palavras tão inspiradas que escrever com o apoo visual que lhes conferes.
Joka
Mas que belo requiem!
um abraço
Amigo
lamento, não ter estado presente, mas sabes como é, também sabes como é infelizmente, a falta que as nossas Namoradas Eternas nos fazem.Breve vou ler o teu livro se Deus quiser.
Abraço
AnTónio
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