segunda-feira, agosto 27, 2007

ARDENTE (MENTE)



(…) Dentro de mim crescia dia após dia a vontade de partir. Os meus sonhos pareciam ter terminado. Os meus desejos, já não eram. Vivia um pesadelo que aparentemente crescia em mim. Dava por mim prostrada, cabisbaixa, ombros encolhidos, costas quase enxovalhadas como um trapo. Longe iam os dias em que olhava para mim ao espelho e me interrogava… até onde poderia chegar aquele corpo (quase), perfeito.



(…) Havia dias em que o meu pensamento percorria histórias passadas. As minhas seduções (longe vão os tempos) … A verdade é que gosto de me seduzir a mim. Já não tenho muito tempo para me seduzir, arrebatar-me, deslumbrar-me… comigo mesma. Tenho-me, mesmo que enrugada e enlutada por algo que já não funciona. A minha cabeça funciona, os meus sentidos também.





(…) É curioso, como o suor ainda escorre, quando relembro momentos quentes. Muitas vezes passo as mãos por mim, sinto o corpo descaído e abatido… mesmo assim a minha mente (mente-me). Ai, como sinto um leve sopro de mim a repassar a pele a torneá-la. Fico com medo que a morte me leve no meu último fôlego de me reconciliar com o prazer libidinoso.




(…) Não sei onde vou, nem porque vou… muito menos sei se quero ir. Umas vezes penso que já cá não faço nada. Há outras, ai, se há… há outras que começo dentro de mim a desfolhar as minhas memórias e encontro a força imensa para perceber que sou imortal. Gostava agora de ser imoral. Tivesse eu o corpo de outros tempos e despia-me, ia para a rua mostra-lo, fazer inveja a quem tem pudor pela vida e por si.





(…) A verdade dói, custa-me já a levantar todas as manhãs. O meu corpo esta a desfazer-se por dentro. Morre aos poucos como o tempo. O que fui e o que sou! Sinto cada vez mais as paredes a estreitarem-se sobre mim… já não tenho a força de braços que tinha, para as afastar e não me sufocarem. Cerram-se e serram-me o juízo. Tenho vontade e necessidade de permanecer junto aos pequenos perfumes que tento percorrer na minha memória.


(…) Onde estão? Por onde andam as duvidas que me vão percorrendo. Dobro a espinha, na esperança de encontrar entre as minhas pernas o vazio que me pode preencher os dias que me faltam. Faltam me dias!? Espero que não me façam falta, quero ter tudo pronto para quando um dia tiver que ser, fique com a minha conta dos dias saldados. Só um momento, e assusto-me. Arrepio-me de pensar que ela… ai está, pronta para me levar. Não me quero sentir só.




Apeteceu-me

“ Pior que a Morte é sentirmos a espera dela”. Charles de la Folie