(…) Gosto de me projectar para uma mundo diferente. Não foram poucas vezes que me vi diante um público entusiasta a olhar os meus saltos em tudo magníficos. A minha elevação o meu poder de me fixar e permanecer no ar. Ou um pequeno chassé, que espelha nos meus pés a vontade de voar em pontas de fogo. O meu corpo quente de vontades, permanece em movimento para arrefecer o desejo que me percorre. Gozo o meu corpo vivendo tudo o que não posso nem consigo. Sonho com o corpo que não tenho, vejo-o de forma diferente. Deste que é meu, saem projecções de mim, que se reflectem no meu gemer.
(…) Perco-me pelos meus caminhos. Enormes encruzilhadas que recaem nos meus pensamentos. Direita, esquerda, cima, abaixo, fico-me. Parada recolho o céu que cai sobre mim. Arrepio-me mais uma vez com medo das minhas ilusões. Dos monstros e fantasmas que não me largam. Já estão tão longe, mas sempre tão presentes que tenho medo que sejam reais. Não pode! Nem quero, quero trilhar outras veredas, outras vaidades, outros sentidos que não direcções. Sigo-me, os dedos palmilham-me. Abre-se-me aquele sorriso meio parvo quem não se controla… assusto-me.
(…) Nem sempre reconheço os espaços que me rodeiam. Aquela fragrância de carmim que se esconde envergonhada de tempos em que foi abusada. Choro compulsivamente dentro de mim, da mesma forma que recupero suspiros dos tempos em que o espelho despertava fúrias. Experimento outra vez aqueles pequenos corrupios –, entre o absolutamente e o delicadamente carnal. A pele eriça-se, protejo-me de olhares mais perversos – os meus próprios olhares. A minha orbita volta a céus onde a musica suporta todo o desejo daquele caminho percorrido tantas vezes…
(…) Levanto-me, ergo-me mais uma vez perante o meu corpo. Está nu. Nada me separa de nada. Sinto vozes, que vociferam palavras de deleite. São armas que entram por mim e me descontrolam. As minhas mãos interpretam sinfonias, verdadeiros solos de poesia. Contorço-me, fecho-me, antes de me abrir e sentir o descolar da minha alma. Arremesso-me de encontro aos meus segredos. Tremo sem medo. A espinha contorce-se de uma vontade ir sem nunca chegar. Há um percurso que se vê ao longe e tenta-se perpetuar no momento. Ingrata a missão entre o querer e o ter, sabendo-se que se vai chegar. – Mesmo que sozinho.
Apeteceu-me
" Uma Mulher é sempre Mulher mesmo na desgraça, um Homem é sempre uma desgraça perante o seu olhar". Charles de la Folie