terça-feira, setembro 28, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada XII

Não vai ser nada, quando a Dona Henriqueta chegar vou tirar tudo a limpo, estou a ficar paranóica, apetece-me gritar, mas por muito que me esforce, não sai nada. Pareço uma daquelas cornetas… uma pessoa chega lá sopra, sopra e nada. Faz um bocado confusão, mas é como me sinto, aliás se ninguém vier aqui ter comigo depressa vou ficar aqui para sempre, tal é o estado em que me sinto, sem reacção nenhuma.

Mas estar aqui a mimar-me, a enrolar com o dedo o cabelo, enrola, desenrola e enrola, desenrola, deve ser irritante para quem esteja a observar horas a fio este cenário, eu com aquela cara que Deus nos deu tipo a cara 49, que não é nada mais que a minha cara de parva, mas enfim. Remoía, remoía sobre a carta, ligo ao Pilitas?! Ele sabe sempre tudo, se fosse alguma coisa de especial ou algo que me aguçasse o apetite, ele ia gozar, por isso, o melhor é não lhe ligar.

Bom, e no meio daquela confusão, saberia lá eu do meu télélé? Se o perder também não é nada de grave, já está tão velhinho, velhinho não, usado, usado também não, gasto, não… o termo é: quero um télélé novo, preciso é de ter mais cuidado, está todo marado. É verdade, já serviu de arma de arremesso, um “pato” qualquer que me mandou uma certa boca foleira levou logo com ele nos dentes… Pois cá comigo é tiro e queda, sempre demasiado agressiva e na ofensiva, e meus amigos, se estou com o sono… sou terrível, demasiado terrível, insensível, imprevisível e irremediavelmente intolerante. O meu pai chama-me anormal, a minha mãe mau feitio, se fosse o Vasco dizia logo que eu sou terrivelmente anormal e violenta, mas é o meu feitio. Por ele, por ele acho que até me moldava, ai moldava, moldava!

Será que a minha mãe já aí estará, para lhe perguntar da carta?

Que raio, a carta!!

Que grande susto… Porra… dei um salto, eu que estava aqui naquela posição de quem não vai nem fica, ou será de quem não vai, nem deixa ir?!

Olha quem chegou, salvé a Dona Henriqueta, a senhora dona minha mãe entrou aqui de rompante pelo meu quarto tal qual D. Sebastião e com a minha vista assim até o dia esta nublado… Mãe… dei um salto da cama, até fiquei tesa, hirta e imóvel, com um olhar meio atónito e antes de balbuciar qualquer coisa, fui direita ao corredor e salve-se quem puder (...) alguns segundos depois…

- Atão, mãe?

- Atão o quê filha?!

- Sim, atão que se passa?

- Não se passa nada… porquê? É suposto passar-se alguma coisa? – pergunta minha mãe a franzir o sobrolho.

- Não mãe! A carta o que diz a carta?

- Ahhh… a carta! Qual carta? Estás doida Palmira?!

- Oh Mãe! A carta que levaste ao Vasco… Estás perdida ó quê?

- Ó quê!? E um grande o quê também para ti, se assim o desejares. (aqui já a mãe estava a gozar o pagode)

- Pois a carta, não levaste a carta ao Vasco? Deves estar mesmo a gozar comigo, mas olha que não estou com disposição (grande arroto que lhe saiu).

- Levei claro, mas olha… para que conste não tenho por hábito, nem espreitar aquilo que é para os outros e muito menos esperar que me digam alguma coisa.

- És sempre a mesma coisa!!

- Bom, e muito menos com o pivete que vem de lá de dentro eu iria esperar, mas consegui trazer-te este “guronsan”, diz lá que não te li o pensamento? E… pois… e ele, encontrá-lo foi um milagre!

- Ok, obrigada, é sempre um prazer os teus favores, fico sempre sem saber de nada.

É uma dádiva dos céus beber isto, é um prazer que nem vos passa, parece um orgasmo multiplicado por 20, elevado ao quadrado, sim, mas matemática a esta hora é muito complicada, mesmo assim a minha rica mãezinha é um amor. Logo a seguir trouxe-me um café, daqueles que só ela sabe preparar, a seguir ao “guronsan” caiu que nem ginjas, esta é outra das frases que nunca entendi bem o porquê das ginjas. A seguir a umas ginjas, fico mesmo muita maldisposta, mas se for uma ginjinha com nozes, humm, nem vos conto, é simplesmente fantástico… Porra ainda não saí de uma e já me quero meter noutra… não, isso é que não.

No fim deste disparo todo de emoções e contradições parece… não parecia?! Já julgavam que me tinha esquecido da carta, não, claro que não me esqueci, e porque havia de esquecer?! Alguém me dá uma razão válida para isso?! Bem me parecia que os meus espíritos estão comigo, claro que estão, então deviam de estar com quem?!

Mas a carta? Eu estou cheia de dúvidas, certezas algumas… para dizer a verdade eu não tenho nada, nem certezas, nem dúvidas, nada, não tenho mesmo nada, só uma dorzita de tola.

Uma dúvida, só uma me está a dar cabo do toutiço… o porquê de toda esta pancada por causa da carta, até parece que a minha vida depende dela, daquele pedaço de papel enviado ao Sr. Vasco.

O que será que lá está escrito? Que nervos, pior que isso, quem escreveu… pois com tanta conversa nem me lembrei disso, quem terá escrito e dado a carta à minha mãe?

- Mãe, mãeeeeeeeeeee… anda cá depressa!

- Simmmm, que foi Palmira? (com cara de caso)

- Diz-me uma coisa, quem te deu a carta para enviares ao Vasco?

- Quem me deu? Ora essa, quem me deu foi, deixa cá ver, ora… acreditas que não me lembro?

- Como não te lembras? (Palmira fervilhava, estava piursa)

- Como? Fácil, a carta apareceu, hoje de manhã debaixo da porta.

Foi assim que, decididamente, fiquei a saber o que dizia a Carta, dizia isso mesmo: Para o senhor Vasco.

E que confusão era aquela lá fora?

Apeteceu-me


"Só somos iguais na Morte, porque em vida apenas existe utopia". Charles de la Folie

terça-feira, setembro 21, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada XI

Sinto-me cansada, com muita vontade de fingir comigo própria que estou a desfalecer, mas já estou aqui há algum tempo e só mesmo os olhos se mexem e movimentam… e de que maneira até parecem que saltam fora de órbita, devem estar prestes a chegar a Marte, porque a Vénus… nem de camisa! Andava mesmo traumatizada… agora hummm… comia uma chiclete, era mesmo o que me apetecia… para ver se tiro este hálito infernal a noite, a noite… e continuo a dizer que noite… algumas doses ou shots de cavalo, mas siga a marinha.

Estou aqui a pensar, quando fugi de casa, as coisas que eu fiz, mais uma de me envergonhar, tinha para aí os meus 17 anitos…

O que uma pessoa faz quando não pensa, tudo porque roubei no supermercado do Sr. Romão e fui apanhada, e depois o raio do homem disse que ia contar à minha mãe, foi uma vergonha. E logo eu que era considerada uma menina modelo, uma óptima estudante, ajudo toda a gente, muito simpática, sei lá… aquelas coisas que as pessoas te dizem quando estamos com os pais, e só te apetece grunhir, e ser mal-educada e dizer para irem todos comer qualquer coisa que os enfarte, mas vamos lá a mais uma das minhas histórias alucinogénicas.

Ora então, naquele dia, como nos outros, eu não sou, juro que não, cleptomaníaca, mas por vezes penso que devo andar lá perto… Adoro roubar, quer dizer, roubar por roubar, gamar, desviar dos donos, apossar-me do que não é meu, na prática é meu desde que lhe metesse a vista em cima, um papel invisível a dizer que é meu. Nesse dia a coisa correu mal, é que filei um chocolate daqueles enormes e prendi-o entre a minha saia e a blusa, perfeito não se notava nada, só que… esqueci-me de um pormenor, um pequeníssimo pormenor sem importância, um insignificante pormenor, é que a blusa era ainda uma daquelas blusas aos “fuinhos” que se usavam naquela época, ora estava a pagar a minha chiclete diária, e o bom do Sr. Romão disse-me:

- Olá! Bom dia a quem é uma flor!

- Bom dia Sr. Romão, como está?! E a família, os meninos estão bons?!

- Sim Palmirita, estão óptimos!

- É para pagar a pastilha - disse eu.

- E a tablete também… não é Palmirita? - questionou o Sr. Romão.

- A tablete?! Está a brincar, não está?! - respondi irritada, mas a ficar aflita.

- Não, Palmira, a menina está a brincar comigo? - insistia ele furioso.

- Claro que não estou… - retorqui – claro que não!

- Então o que tem debaixo da camisola? (deitava fumo)

- Nada, claro que não tenho nada! (aqui já eu procurava um buraco)

Tentei levar a minha até ao fim, esse foi o mal, quando olhei para baixo e vi aquele cenário, nem estava a acreditar, mudei de cores 29 vezes, ia-me dando uma coisinha má e depois… pois… depois quando uma pessoa precisa de raciocínio rápido… fica-se com raciocínio estúpido e estupidez ainda mais rápida, bom se não é assim, é parecido… ou seja, fui uma completa idiota.

Ele apercebeu-se da coisa e vai daí, começou aos gritos e aí a coisa quase deu para o torto, pensei o pior… quando agarrei numa banana com o propósito de o atacar, ainda apontei a banana à cabeça, mas depois arrependi-me, podia dar prisão e ainda era, na altura, muito nova e vai daí deixei a tablete e fugi.

Fugi da maneira mais idiota que conhecia… a pé, podia fazer como nos filmes e roubar um carro, uma mota ou uma bicicleta, a bicicleta era bem, eu era um ás a dar ao pedal, mas o pior, o mais frustrante da história é que eu ouvi o Sr. Romão, a dizer aos gritos:

- Agarra que é ladrão, roubou-me uma banana, agarra o “homem”, tirem-lhe a banana!

Ora fiquei um bocado… à toa. O homem tinha mesmo ficado possesso com a minha atitude e o pior é que não era pela tablete, era mesmo pela banana, que raio de homem se metia naquele histerismo no meio da rua por causa de uma banana?!

É verdade que fiquei abalada com o assunto, parecia que estava a ver aquela gente toda a olhar para mim e a apontar.

- Olha, foi aquela que roubou a banana ao Sr. Romão. Parecia um burburinho ensurdecedor que se tornava num grande “bruá” na minha cabeça.

E ali… tomei a minha maior e mais difícil decisão, fugir de casa.

A vergonha de enfrentar a minha mãe, mas acho que o pior não era isso, era a vergonha de enfrentar a minha mãe e ela levar-me em frente do homem, no meio de toda a gente que lá estivesse no supermercado. O que seria grave para mim, seria a humilhação total, e como não estava para isso, para enfrentar essa coisa, antes uma surra, era como se fosse 2 em 1, da surra não me escapava, talvez sim, talvez não e… pois claro, aí resolvi fugir. Foi horroroso, não me lembrava nem de sítio, nem de ninguém, quer dizer de alguém lembrava-me, mas havia sempre aquelas perguntas tipo, o que fazia ali àquela hora? Porque não estava em casa? E aí, então, resolvi meter-me ao caminho, procurar abrigo, até que… encontrei a minha mãe pelo caminho e, o resto é aquilo que já tinha descrito, a minha fuga foi mesmo só em pensamento, quer dizer ainda fugi, aliás, ainda guardo a banana religiosamente, mais ou menos, é uma réplica em plástico, um dia ainda a vai sentir, ai vai… vai… aquele Sr. Romão!

Mas, enfim, era novinha… mas já vivi uns bocados engraçados, engraçados agora… na altura não achei grande piada, mas com descontracção e estupidez natural tudo faz sentido, se bem que eu seja uma rapariga muito sentida.

Porra! Já são quase 10 horas da manhã e ainda estou aqui prostrada na cama. Que neura! Quer dizer, por um lado até sabe bem não andar por ali a passear pela casa, atarantada, sem saber muito bem o que ando a fazer, mas por outro lado estou demasiado intrigada, com a carta...

Apeteceu-me

"Nem sempre acreditamos que tudo o que sai de nós é verdade" Charles de la Folie


terça-feira, setembro 14, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada X

E a vida continua e eu sem saber nada da carta, é mesmo uma desgraça, tenho de saber, eu quero saber, preciso saber… Pode ser daquela lambisgóia da Dra. Mónica, talvez não, mas agora estou num estado de ansiedade e no meio desta pancada toda era só o que me faltava ter um ataque de pânico, é mesmo o que vinha a calhar. Ainda dizem que o período é difícil, comparado com o que se está a passar é um caldinho. Isto porque… quando embico numa coisa… fico terrível, fico a moer, a moer, a remoer e acreditem que moída e remoída já eu estou. Parece que andei para aí uns duzentos quilómetros a pé, com uma mochila cheia de pedras preciosas, mas não as posso tirar, nem tocar, nem ver… Estou doente e o raio da carta ainda me mete pior. É que para mim só há uma solução, suicidar-me, atirar-me de bem alto, muito alto, um salto para o abismo, assim tipo atirar-me da cama abaixo, é um tombo e peras, são para aí vinte centímetros para a desgraça. Se fosse uma “Tia muito Bem” podia partir uma unha e isso podia trazer graves consequências psicológicas, não sei bem a quê e a quem, mas talvez, por exemplo, à minha cabeleireira.

Coitada! Quer dizer coitada de mim, eu aqui assim e ninguém me salva, nem uma garrafinha milagrosa, nem um chá, nada, nada mesmo…

Ui, eu não sei bem o que se passa, acho que tenho cabeleireira marcada, ora se tenho cabeleireira… devo ter alguma coisa especial, mas não consigo lembrar-me. A minha mãe nunca mais chega e são quase 10 horas da matina e eu aqui sem saber de nada. Não sei da carta, não sei o que vai acontecer, não sei o porquê de achar que tenho cabeleireira marcada, deve ser um belo dia deve… um sábado e com estas incertezas todas, imagino como vai ser o domingo…

Tenho de tentar, mas é um esforço descomunal e isto só para ver o que se passa à minha volta… reviro os olhos, parece que estão a suar de tanto esforço… É uma transpiração monumental para a minha vista, mas aqui e ao que posso ver ao meu redor, nada mesmo… nada se passa, quer dizer, tirando aquelas coisas soltas, umas cuequitas, ou duas, ou três, um soutien, ou dois, ou três, um par de meias, ou dois, ou três, tanta coisa, como pode ser isto se eu sou só uma!?

Estou com umas securas que dão para três e a carta nada, nada mesmo, ainda vou chorar.

Às vezes finjo que choro, mas nunca é nada de especial, são aquelas coisas que nem nós acreditamos, remoemos, remoemos, mas nada… pois eu chorar chorava, mas é de ter o quarto assim desarrumado. Nem tudo é mau, posso sempre gabar que é um desarrumado com estilo, desarrumado e não desmazelado. É um desarrumado com… ou seja, o meu desarrumado tem encanto, faz-me lembrar o desarrumado daquelas vedetas que vão ao cabeleireiro só para se despentearem. Lembro-me dos Aerosmiths, o Steve Tyler, aquela mão cheia de homem, dizer qualquer coisa tipo “vocês não sabem quanto custa ter este mau aspecto”. O dele, coitado, é à borla foi mesmo de nascença ele é um misto entre um carro estampado e um galo da Índia.

O meu quarto é assim, tem umas cores extravagantes, é a chamada aberração contra natura, um amarelo cueca a roçar canário, com um verde frigideira misturada com alfaces, os acessórios são tonalidades extras dos meus próprios domínios criativos, processos que, para um comum normal, demoram anos, muitos anos mesmo, a grande maioria não consegue e se conseguisse… batatas! Para mim apenas segundos, resta referir, claro ninguém a não ser eu, a sobredotada da fava rica, é que pode “criar” uma coisa daquelas, claro que tenho de dizer a verdade…

Ainda não o fiz e já estou arrependida, só falta lá escrito em letras garrafais, aqui jaz a minha virgindade, nunca o fiz por, por, por… nunca o fiz porque nem quero pensar na minha virgindade, pensar para quê? Já foi há tanto tempo, eu quero é pensar no que diz aquela carta, isso é que eu quero. E já agora também não me importava nada de saber o que se passou esta noite.

Apeteceu-me

"Não é no contar dos dias que envelhecemos mas sim em vê-los passar passivamente" Charles de la Folie

terça-feira, setembro 07, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada IX

Por falar em beleza… a beleza da minha mãe não há meio de chegar. O tempo passa e, nem o pai janta, nem a gente almoça. Hummm… o que preciso mesmo é de tomar alguma coisa, a cabeça parece pesar toneladas, estou a imaginar ir até à cozinha de carrinho de mão, com a cabeça lá em cima, é assim que a sinto, como um peso desmedido para o resto do corpo, tipo aqueles cabeçudos do Carnaval.

E que Carnaval anda por aqui, o que é certo é que continuo especada aqui em cima da cama. Acho que está alguma coisa para acontecer, aliás aconteceu na noite anterior, isso pelo menos é uma evidência, só espero que não tenha acontecido nada de muito anormal, às vezes, a coisa… pois a coisa descontrola-se e mais que descontrolada já sou eu.

O que me intriga… nesta altura do campeonato é que não consigo imaginar o que pode estar escrito dentro daquele envelope… Que raio! Onde andará a Dona Henriqueta!? Quando mais precisamos delas, mães claro, é quando mais elas nos desaparecem, é sempre assim e julgo não haver remédio porque vai ser sempre assim, não haja ilusões!

Até parece que eu tenho uma remessa de mães, é que ter esta já é uma sorte, uma santa destas… só que agora era muito precisa… e nada, nada mesmo… Lá continuo eu de barriga para cima… cabeça empoleirada na almofada, às vezes com uma vontade de passar as mãos pelas pernas que até me arrepia, mas passa depressa só de pensar que tenho de fazer movimentos, alguns movimentos bons, mas a vontade desvanece com uma velocidade alucinante, tipo flash de máquina descartável.

A verdade é que estou angustiada, aos 23 anos… sinto-me angustiada por tudo o que fiz e pelo que não fiz. Apetece-me fazer algumas coisas, mas das que fiz houve algumas de que me arrependo. Arrependo-me das vezes que me apeteceu amar alguém loucamente, sentir alguém a trepar por mim, pelo meu corpo, pelos meus desejos e desígnios, e arrependo-me das vezes que senti nojo de mim por fazer coisas que me apeteciam muito... Não foram grande coisa, a bom da verdade, é que há homens, qual homens! Miúdos que são uma coisa pavorosa, embrulhados são uma coisa, quando se desembrulham, meu Deus… Então quando se prova, valha-me a Nossa Senhora dos Aflitos, conseguem ser confrangedores, às vezes não é por falta de argumentos, é mesmo por falta de… como posso explicar sem me envergonhar, eles querem tudo à pressa, não entendem que as coisas que dão mais prazer demoram a fazer… Demoram, é verdade que este é o meu ponto de vista e ponto, e ponto… e ponto… Apre! estou a ficar um pouco repetitiva, ponto G, “G point”… “prontos” está dito, não só meu… das mulheres, das mulheres em geral. Lembro-me de um namorado que tive que, com a aflição, ou com a pressa, ou sei lá com o quê, rasgou sete preservativos ao tentar meter aquela porcaria, puxava e com os dedos, pimba. Um “gajo” que me dizia, que fazer amor com ele, era como uma prova de Formula Um, no fim era um cheiro a borracha queimada! Afinal… dá-me vontade de rir, nem das boxes saiu. Ele bem tentou, mas já não consegui parar de rir, foi mais forte que eu, no fim ainda lhe disse para levar as “camisinhas”e tentar fazer-lhes a bainha, que ainda serviam para mais umas provas… mas de triciclo, ou então para recauchutar. Nunca mais o vi, coitado, foi um bocado, um bocado é favor, humilhado, mas o que havia de fazer? E se houvesse?! Mas não havia felizmente…

É uma Pancada… para rapariga até que é saudável, quer dizer, tudo dependendo dos parâmetros de quem – te vê. É óbvio que a minha avó não tem a mesma visão - até porque é míope - que, olha pois, que a minha Tia Luísa, a mãe da Ana, claro que não, a minha Avó é 50 ou mais anos avançada!

O que eu penso, isto é o que eu deveria pensar nesta altura… acho que a Ana no dia em que se soltar, vai ser lindo, tenho impressão que vai parecer um toiro a sair dos curros, desencabrestada de todo, mas é cá uma impressão… Só me faz espécie uma coisa: a Ana terá sido inventada debaixo de um vão de escada?! Se, para aquela família, um preservativo é uma dádiva de Satanás aos pecadores, hoje em dia é aos pescadores tal é a quantidade de camisinhas que aparecem por aí a boiar, mas já nem o Santo Padre pensa assim, enfim, o tiro vai sair-lhes pela culatra, ai vai… vai…Hum basta ver como me olham, e isto porque tenho dois brincos na orelha, imagino se eles… bom até a minha mãe, mas não quero pensar nisso agora, não quero mesmo.

Eu bem tento, juro que estou a tentar… a tentar fazer força para me levantar, mas o melhor que consigo é que a cabeça se vire ligeiramente na almofada, na minha melhor amiga, na minha confidente, na minha alma gémea. Se nascesse, por acaso, um objecto gostava de ser almofada… nã, nã nã Porra! Ainda tinha como dono um daqueles gajos sebosos que não se lavam, que deitam óleo do cabelo que dá para fritar batatas, nã nã, isso é que não … ai que me vomito só de pensar nisso, que nojo.

Rápido, rápido, coisas positivas, rápido, ora deixa cá ver gelado de pistácio, ovos de tomatada, baba de camelo, doce da avó, está a melhorar, mas com a sede com que estou, não posso pensar muito em doces, ora pensar, pois pensar!?

Que terá o raio da carta? Aquela carta que a minha mãe tinha e já não deve ter, já a deve ter entregue, mas que tinha na mão, pois na mão?! Estou intrigada, aquela carta, humm… Sr. Vasco, se não fui traída pela minha bela vista, ali há gato, ai há, há!

Gato, gatão, não sei que raio de felino, mas que deve existir alguma coisa deve e a minha mãe sabe, se não sabe devia saber, afinal eu sou filha dela, ela só tem de investigar para mim.

Eu sei que ela tem um desgosto enorme por esta situação, não fui criada para ele, mas a amizade que os meus pais tinham e têm para com os pais dele… Lá estou eu a pensar naquele gabiru, não passa um minuto que eu não pense nele, isto é que é uma sina… nem o pai almoça nem a gente janta…

Apeteceu-me



"O tempo pára naquela fracção de segundo, mas os sulcos na pele continuam a ser escavados" Charles de la Folie