sexta-feira, fevereiro 22, 2008

...Sem fim

(...) Lembrei-me agora. Lá fora chovia, um cheiro infernal de ti escorria dentro de mim.

Cruzei os braços, sentei-me à tua espera – Pouco ou nada esperava. Não foi por isso que apareci, vim porque queria mesmo aqui estar. Nem sempre é possível, nem sempre quero e nem sempre queres. – Não escrevo estas palavras por me sentir abandonada -, sim abandonada, é assim que me sinto hoje. Nos outros dias não é tão forte, doí, mas não é tão forte. Hoje sinto aquela “coisa” dentro de mim. – Lembras-te de eu te falar! Deixa-me fazer outra pergunta, deixas? – Claro que deixas, não é verdade?! Lembras-te de mim? Das minhas feições, do meu cheiro! Só mais uma pergunta, será que posso? – Alguma vez te passou pela cabeça que gosto do Silêncio. – Não precisas estar calado, sabes que o ruído do teu silêncio magoa. É um contra senso, mas é a mais pura das verdades(...)





Apeteceu-me

"Os sonhos muitas vezes sonhados, não deixam de ser sonhos." Charles de la Folie

terça-feira, fevereiro 05, 2008

“Como matei o Ministro”


Como matei o Ministro será apresentado dia 5 de Abril em Lisboa e a 6 de Abril em Santarém –


Este novo romance nasce de um prazer espontâneo – sem artifícios – que surge ao correr da pena e consoante o meu estado de espírito.


Toda a trama narrativa gira em torno de Carlos A., das suas manias, medos, fobias e da sua obsessão em matar o Ministro das Finanças. “...todos os dias, sem se aperceber tem aquele ritual. Ritual sem ritmo e estrambulhado que acontece há tanto tempo que já quase nada importa. Custa ver-se assim, entre a morte e o estrebuchar para a vida. – Só assim se entende o difícil olhar para a rua, ver todas as manhãs a escuridão em que acorda e se levanta. – Difícil resgatar o Sol na penumbra daqueles olhos semi cerrados! Lógico acorda completamente deprimido a pensar naquela profunda solidão em que vai vivendo.


Carlos A. gosta de se deitar a pensar na sua vida danada e condenada, acorda a pensar de forma positiva - na vida danada e condenada.

“....as injustiças aborrecem-no, é uma das coisas que mais o aborrece. Sabe que a culpa não costuma morrer solteira, não costuma culpar ninguém...

- Ninguém não! Há evidentemente uma pessoa… – O Ministro! Ele que o atormenta há anos. O Ministro com a pasta das Finanças. Esse sim, o motivo dos seus pensamentos menos lúcidos – raramente deixa de pensar nele – uma obsessão….”




Carlos trabalha numa repartição de finanças, é um sujeito “...curioso, aquela cabeça nunca pára – apesar do seu ar, gosta de sonhar, é um sonhador nato. De imaginação cruel, cínica, mas hilariante, de um grande sentido de humor, rasgado por vezes de bafos de ódio. …”

Vive num mundo fechado, muito seu, até ao dia em que se apaixona perdidamente por Ana. “……. Não percebia o que se passava com ele. Toda aquela disfunção hormonal era irracional e incompreensível. Afinal Carlos A. estava apaixonado!...”

Esta força arrebatadora, esta paixão acaba por se impor e provocar em Carlos um desejo premente de mudança.

“……Porque não dizes tu o que gostavas que eu mudasse, que eu comprasse?! – segredou-lhe. Fez um sorriso timidamente malicioso e rematou.Gostava que me mudasses.

Ana esperou muito tempo por este dia, não enrubesceu como seria de esperar, simplesmente sorriu. Os seus lábios ficaram vermelho cereja. Os seus olhos ganharam um brilho especial. O seu corpo começou um diálogo sensual, entre a sua imagem e o seu querer. …”



Há um deslizar sob a superfície revolta do nosso quotidiano. A luta diária, a lufa-lufa da grande cidade, a corrupção, o poder do “grand monde”, a degradação de espaços, instituições… deste país à beira-mar plantado, surgem em pequenos flash.

Grandes valores da vida são abordados sem o recurso a um tom moralizante.

Não esqueçamos ainda o prazer dos sentidos, dos comensais, gastronómicos, dos odores inebriantes da nossa fausta cozinha, dos nossos vinhos… coloridos.



“…. Molharam os lábios mais uma vez com aquela dádiva divina, uma criação que por certo passou pelas mãos de Baco. Pareciam ter medo de beber em demasia, com receio que se acabasse ali o momento. Ergueram os copos em direcção ao céu – saudaram-se, no meio de um tilintar de vidro fino. ….”



“…. O vinho corria pelas gargantas qual prazer de quem escuta e sente música. A comida estava excelentemente confeccionada. Não era “nouvelle cuisine”, nem alta cozinha, era a cozinha do possível, por vezes – uma magnífica cozinha! .... Uma pequena delícia acompanhada com uma oferta, um excelente licor de zimbro fresquinho. Tomaram café, sentiam-se bem com eles próprios. … “



“…. Ali, o peixe do rio era famoso, gostoso, temperado segundo tradições antigas que chegavam de terras longínquas. Mas Ana vinha com vontade de comer uma chanfana. A sua falecida avó é que fazia muitas vezes, ela adorava – carne de cabra, velha de preferência, cortada aos pedaços… toda ela enfiada numa caçoila de barro negro. Muita cebola cortada às rodelas, alho, salsa, banha e vinho tinto do melhor que por aí se encontre, temperado por mãos sábias. Depois, num forno de lenha, cozinhar e embebedar a carne a gosto. ….”



Carlos A., Ana C., Alexandre V. são personagens fictícias, mas bem reais nos seus pensamentos, atitudes e desejos.

Terá Carlos a coragem suficiente para pôr em prática o seu maquiavélico plano –, num pequeno sorriso Carlos encontra o que perdeu outrora.





Apeteceu-me

"É preciso acreditarmos nas nossas paixões menos carnais". Charles de la Folie