segunda-feira, maio 25, 2009

Trezentos mil




(…) A noite estava cerrada. A chuva dava um merecido descanso aos olhos enfadados do negro do asfalto. O brilho cadenciado – vindo de longe – esgotava-se no canto olho. O corpo tenso aniquilava-se no silêncio dos guerreiros que dormitavam nos braços de Morpheu. A música ténue que se esvaía de um qualquer canto a nada sabe. Sem sabor e imperceptível. Os pensamentos centram-se numa poesia espontânea e sem solução à vista. Estrofe após estrofe é rapidamente esquecida e perdida para sempre. Como a verdade e a mentira. Pode ser desejada por um pensamento, mas atenuada por um desejo.

(…) Está traçado o rumo. O cheiro das várias respirações concentra-se num só, numa viagem de sentido excepcional. Há uma missão cumprida, outra por consumar. Perfilha a noite e segue-a num destino pouco provável. Duas ou três estrelas libertam-se da muralha formada por nuvens invisíveis e indistintas. Desaparecem da cadência e da atenção do olhar, porque ali estarão, como sempre estiveram. O rumo mantém-se num «slalom» milimétrico e num ritmo imutável. Respira mais uma golfada de ar, vigia as trevas e sorrio naquela solidão pouco provável.

(…) Ao longe as luzes de um pequena ilha deixavam antever a veracidade do pensamento. Ebriamente acordado, num pensamento toldado às amarras da noite, fixava o olhar dormente nas luzes que se aproximavam. Por ali deixou ficar a minha memória, um segundo apenas, foi tudo o que ofereceu à mente. No outro segundo que restava desprendeu o olhar, apenas quatros almas adormecidas. Abruptamente a marcha é interrompida. O cor-de-laranja cintila no meio do Breu, nada fazia prever um desfecho daqueles. Um segundo depois alguém dançava – projectado pelas luzes de um carro –, sozinho, no meio da penumbra. Afinal não é todos os dias que se fazem trezentos mil quilómetros.

Apeteceu-me

“Vale a pena acreditar, nem que seja só por isso, acreditar” Charles de la Folie

segunda-feira, maio 18, 2009

Apresentação - O Ladrão de Livros - Porto

A Fronteira do Caos Editores, o Café Guarany e o autor convidam Vossa Excelência para a apresentação pública do livro O Ladrão de Livros a ter lugar no próximo dia 23 de Maio no Café Guarany, pelas 17 horas. A apresentação pública do livro está a cargo de Paulino Coelho da RádioRenascença.

Estão todos convidados.



Apeteceu-me

"Nem sempre somos norteados pelo infortunio" Charles de la Folie

quarta-feira, maio 13, 2009

Feira do Livro de Lisboa - sessão de autógrafos

A Fronteira do Caos Editores e o Autor convidam Vossa Excelência para a sessão de autógrafos do livro, O Ladrão de Livros da autoria de Carlos J. Barros, a ter lugar no próximo dia 17 de Maio pelas 18 horas, na Feira do Livro de Lisboa.

Feira do Livro - Stand C II - 18 - Fronteira do Caos - Gradiva

Apeteceu-me

"Sempre que me revejo, descubro uma ponta de saudade" Charles de la Folie

quarta-feira, maio 06, 2009

Requiem por coisa alguma

(…) O fim está cada vez mais perto. Vejo-te perder nos improvisos da minha lucidez – há minutos não estavas aqui – nem sempre ela lúcida. Saboreio o acerbo que se acumula nas pregas da minha mente, uma, duas e até três vezes. Corroboro com a indiferença de um olhar quase inerte e sem expressão. Os braços tombam em direcção ao chão, suspendendo-se na imagem quebrada de coisa alguma.


(…) A noite teima em não cair. A penumbra vai-se entranhando à espera de derrotar o crepúsculo do nosso sonho. Em vão rebolo de um lado para o outro à espera de adormecer – sozinho – sem alma e sem vontade. O cheiro à manhã que tarda, rompe entre os tecidos que me cobrem, provocando um arrepio de extinção, de pavor e de coisa alguma.


(…) Procuro no fundo da ilusão, as pequenas «coisas» – prazenteiras da vida – que nada me sugerem. A música surge monótona e discreta, num crescendo descrente. Numa evidente solidão, acompanhada por notas suaves que permanecem suspensas. E a vida? – pergunto devagar, sem afectar o ritmo das melodias de coisa alguma.


(…) Raramente vejo o sorriso que desperta as emoções. São pérfidas as palavras que saem da tua sombra, como ténues as lembranças que quero ter. Ilusões. Acidentalmente cruzo um olhar, rasgo a inocência de um instante e fico suspenso. Ao certo nada existe, na realidade, um momento não passa de coisa nenhuma que se fixa em nós, e ali permanece para sempre.



Apeteceu-me

"O silêncio acorda-nos a consciência e dá-nos a consistência da sobrevivência" Charles de la Folie