segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Loucura em Si

(…) Não me lembro da noite. Estava decidida a viajar com os suspiros que saiam de dentro de mim, sem rumo. Encantava-me o degredo que impunha depois de deixar de pensar em ti. Não foi por nada, foi-me imposta a tua ausência e por isso respeitei essa tua fuga. Procurei um espelho em que me pudesse enfrentar. Sorri, porque a imagem da mulher jovem que se encontrava à minha frente, não correspondia ao desagregar do meu corpo. Sabia viver com ele e com a mentira que me era contada por aquela imagem traiçoeira.

(...) Deixei-me cair uma dúzia de vezes, as pernas fraquejaram. Outrora belas, hoje fracas, cruzadas por um emaranhado de veias que se confundem com riscos de caneta-de-feltro. O frio da decrépita e decadente vontade de pensar, confundia-se com o principio do estertor da morte. Antes agora. Ela que me leve enquanto a percebo, depois vou-me insana, mas insana ficarei até Ela me levar. Não tirava os olhos da sombra que se esbatia no chão. Acordei em sobressalto, era noite e a Lua espetava-me a alma.



(...) Nunca mais ninguém me definiu como tu o fazias. Absorvo o que deixaste e sinto a nostalgia dos anos que passámos. Juntos corremos o Mundo em sonhos que nunca concretizámos, por nada de especial. Sempre que falávamos do assunto, assumias-te como meu amante e despertavas em mim o desejo de te ter. Na noite em que te embrulhaste no sudário e partiste. Fiquei para sempre acordada contigo, por isso o sonho nunca se desvaneceu e fez-me caminhar à volta do Mundo, o teu.

(...) Os meus pecados deixaram um rasto aberto; como sulcos que rasgam a terra em plena convicção que o teu suor poderá percorrê-los. Reconheceria o teu cheiro, o teu calor, o teu sabor em qualquer lado. Nunca entendi porque não esperaste! Sempre te desejei como o homem da minha vida, mas nem isso foi o suficiente para ficares. Nunca conseguiste entrar no meu mundo, bastava percorreres aquele corredor e ultrapassar a porta que dava acesso à minha vida. Simples, não é! Mas tu não o fizeste.

Apeteceu-me

"Basta controlar o desejo para descobrir a nossa existência". Charles de la Folie

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Uma pequena brisa



(…) Perco-me por entre palavras que são sopradas por ti. Ultrapassam – as palavras ditas - as vontades, despertando o pequeno arrepio que me percorre as entranhas. Um pequeno recado de uma odisseia audaz, é tua e minha. Basta apontar – com um simples gesto do indicador –, para perceberes o sinal, mesmo que sejas volúvel e indeterminada. São dias imaginários em que me apercebo do teu sabor e fragor. Lá longe de onde tu vens emancipada e indelével, como a poesia que vou rescrevendo ao teu sabor. Eu sei que pertences ao mar.

(…) Nem sempre posso imaginar com destemor os princípios da tua lealdade. Sempre no feminino, sempre inteligível, sempre constante. Aprazível é essa a palavra que procuro debaixo do sabor intenso da tua crueldade. Fiel ao principio de que és capaz de me derrotar pelo instinto. matas-me na insegurança em que envolves. Porém o beijo matinal por mim todo, afasta de mim os demónios que ocupam durante as noites. Viajas na abundância dos Deuses e por eles gritas no teu sopro.

(…) Não me lembro ao certo o dia em que me relancei sobre o silêncio que nos ocupa. Nem sei na realidade se esse silêncio existe. As dormências que me vão ocupando por vezes enganam-me e lançam-me falsos cenários. Desperto novamente do desacerto em que a minha consciência se mantém. Junto-me ao limbo dos mortais e procuro-te mais uma vez e descubro o teu reflexo. Chegas perto de mim num grito que envolve – mais um – e me alimenta a vontade.

(…) Um suspiro, percebi agora que ages como um suspiro, um leve e ruidoso vagido de persistência. Acordaste agora mesmo de dentro daquele pequeno imago. Olhei-te da minha janela, sabia que por lá andavas, ouvia o barulho do mar – e que bem que ele cantava – devias estar por perto a embala-lo. Eu sei que és destemida, mais uma vez beija-me o corpo e ajuda a que a minha mente expulse a prostração que me amarra. Mais uma vez foste conselheira do vazio que nos enrola.

Apeteceu-me

“As palavras nem sempre são usadas, outras porém são ousadas” Charles de la Folie

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

(Cas)cão



(…) Há uma fronteira entre o tudo ou nada, hoje, lembra-te sempre disso tocou-me o nada. Chegou-me aquele vazio de morte, a angústia de te perder sem vontade. Regressam-me vezes sem conta os teus olhos, doces e dormentes do medo de partir. Eu conheço-te, vi isso quando te voltei as costas, como se abandona um inimigo. Não há perdão para a morte, assim como não há perdão para a vida. Há simplesmente um princípio e um fim e nós estamos no meio. Ou por outra não estamos em lado nenhum, simplesmente ficamos.


(…) Chegaste como partiste… com o mesmo olhar assustado do desconhecido…

Apeteceu-me

“As palavras não tem fim, como as saudades” Charles de la Folie