segunda-feira, fevereiro 28, 2005

(Fogo) Cruzado

(Fogo) Cruzado - è a substitutição da Pancada e da Ressaca ou seja o III Capitúlo.

(Narrador- Pedro mais conhecido por Pilitas)



(...) Caraças, umh que porra esta, o telefone a esta hora, que horas serão, sei lá parece que aterrei agora, raios 8 e meia, quem será que liga a esta hora deve estar louco, ás 8 e meia da manhã, nem que fosse para anunciar que a Christina Ricci, queria casar comigo, ou ter uma carrada, um rancho mesmo de filhos meus, claro que parava para pensar mas, nunca para casar isso seria cometer harakiri, a esta hora e nestas condições, nega, nega mesmo, não e não, faço birra, bato o pé, raios.
O telefone não para de tocar, onde está esta coisa, só assim percebo, entendo mesmo como é irritante o toque do telemóvel, percebo agora a cara das pessoas quando ele toca.
Isto não, não é, é uma garrafa de Vodka, umh, isto também não é !! É uma garrafita de Tequilla daquelas de avião, e mais uma, e mais outra e telefone nada, ups aqui está ele, dentro da bota belo sitio, belo mesmo.
Umh, deixa-me cá atender esta coisa, ainda não entendi bem o que se está a passar nesta cabeça,(agarro no telefone, encosto-o ao ouvido e deixo-me cair para trás).

Quem FALAAAA (a conversa desenrola-se, só com o Pilitas não conseguimos ouvir nada da chamada)
Umh tu a esta hora, sim?!
Que queres?
DESCULPA !?!
A sério?!
Estás a brincar, ai estás, estás.
Não estás?
A SÉRIO?
Estou tramado, mas como aconteceu?
Quando????
E mais alguém sabe?
Só eu?
E agora?
Enviaste o quê?
Por correio?!
Pela dona Henriqueta?
Ai valha me Nossa Senhora dos Aflitos
Estou para ver a cara do Vasco quando ele receber essa carta, quero estar, na primeira fila mas tenho que despachar.
Ciao, e boa sorte, até logo se precisares já sabes a Dra. Mónica fica no 1º andar.


Estava o baile armado, a coisa está complicada ali para aqueles lados, AHAHAHAHAHAHA (gargalhada sentida) e se me ria, aliás o que podia fazer eu numa situação daquelas, era das coisas mais engraçadas que tinha ouvido nos últimos tempos, até estava com vontade de fumar ali uma cacilhada e comemorar com uma tequilla bumbum ou Sunrise desde que tivesse Tequilla.
Agora que a coisa estava a assentar, estava a sentir uma tonturas, que até me arrepiavam a espinha, parecia que tinha levado com um balde de agua fria em cima e logo a seguir com um supositório.
Isto está lindo, está, mas mesmo assim apesar do que sinto, não consigo tirar este ar estúpido da cara, um misto de espantado, atónito, estupefacto, sei lá o que pensar, pensava lá eu que isto podia acontecer, o melhor é começar a mentalizar o Vasco para ele não abrir a carta, ou por outra para ele abrir a carta mas primeiro pensar que aquilo é engano, nem sei bem o que fazer, estava a pensar com os dinheiro que juntei, ao longo deste ultimo ano fazer a trouxa e apanhar o barco para o outro lado e descobrir alguém que me dê dormida, guarida ou coisa que o valha, já sei que vai sobrar para mim, ai vai, vai e depois se eu tenho paciência e jeito para estas coisas estou mixado, é um misto entre o acto de fazer amor e lixado com “efe” ou com Fê, com queiram, mas que estava, estava , MIXADO com letra grande.(...)

Apeteceu-me
Continua é tipo Duracel

sábado, fevereiro 26, 2005

Ayers Rock




(...) Ao longe ouviam-se os “Didgeridoos” há quem diga que estes sons saem dos antigos espíritos Anangu, aborígenes que à muito defenderam o Ayers rock.
Esperava-se pela noite, Alice Spring já tinha ficado para trás, eram ainda 11 horas da manhã, o termómetro já marcava 51 graus.
51 graus isso mesmo, era um calor áspero, seco, indelevelmente infernal, só o respirar queimava os pulmões, mas a verdade é que ali perto estava uma das 7 maravilhas do mundo, estava-se a muito poucos quilómetros, de um pedaço de sonho, de uma viagem a pensamentos que ninguém quer esquecer.
Conseguir ver o por e o nascer do sol, naquele sitio era ... aliás, estar ali era por si só um momento único.
Aquela Milenar elevação monolítica de Uluru, também conhecida como Ayers Rock era simplesmente fantástica.
Uluru é a caminhada a volta daquela rocha, daquela imensa rocha, da maior rocha do mundo é verdade, o ayers rock , é só a maior rocha do mundo, não é um segredo, mas gostava de poder murmurar isso, de segredar para ninguém saber, para poder guardar aqueles momentos só para mim, momentos de rara beleza, de uma raro conforto espiritual.
Esta rocha, este calhau, sei lá como designar esta enorme “coisa” tem 3,6 quilómetros de comprimento e 348 metros de altura desde a base.
Um lugar sagrado, era mesmo uma visão do que mais sagrado existe na Austrália, pelo menos para os aborígenes das tribos Pitjantjatjara e Yankunytjatjara — vulgarmente conhecidos pelos Anangu.
Mas o corpo apertava, o nervosismo era cada vez maior, a vontade de vomitar ansiedade era muito grande, o coração tornava-se pequenino para aquela vontade enorme de desejar, amar, amar tudo o que se mexesse, o momento, amar aquele momento.
Aquele calor fazia a terra, aquela terra laranja, cheirar a muita coisa, cheiros quase indecifráveis, custava a respirar, custava a sentir os cheiros mas eram muitos.
Aquela humidade, agarrava a roupa ao corpo, o suor ficava peganhento com aquela poeira que fazia uma mescla de sebo, de uma crosta que se pegava pelo corpo, que colava tudo o que por ali se movimentava.
Mas o que era isso perante aquela beleza, que em nada era uniforme, era um momento de rara formosura sim, se pensarmos naquela forma como um corpo de uma mulher, como um desejo imenso e intenso de ver, sentir, sonhar, desejar, querer possuir, tudo o que se possa imaginar e sonhar, não era uma mulher, mas era um momento de rara beleza.
A noite começava a cair lentamente, a temperatura começava a ficar mais suportável, e o sol começava a pôr-se, a descer, a esconder-se, e começava o show de cores, de transformações, mutações, aquela rocha uluru, era poesia, os sons que rasgavam a noite, tocados pelos aborígines nos seus didgeridoos arrepiavam, no meio de todo aquele calor havia uma sensação de frio, mas ao mesmo tempo uma sensação de bem estar, um contrasenso, mas era um absurdo o misto de sensações ao ver aquele pedaço de sei lá o quê a mudar, laranja, vermelho, alaranjado, avermelhado, rosa, rosado, um sem numero de cores de muitas cores, uma paleta enorme de mistura de cores, vivas, bem vivas.
Os cheiros, o som, a vista, as emoções, de tudo o que se possa pensar, nada chega a ser tão estupidamente magnifico.
A noite cai, o Ayers Rock fica negro, as estrelas testemunham os silêncios, os muitos silêncios que se escutam, o ar torna-se mais leve, a fauna começa a viver sai da sua letargia do calor do dia, uma hibernação diária, que se quebra como um feitiço quando a noite chega, sente-se vida muita vida, essa vida que se movimenta, que encanta, que se sabe que lá está mas não se vê, mas que guarda, zela e vigia aquela Milenar elevação monolítica de Uluru.



apeteceu-me
(Apetecia-me voltar para là e esperar pelo meu fim)

Praia (traiçoeira)

(...) Passeava descalça, pela praia, sentia aquela areia fina, muito fina e branca, a entrar-lhe pelos pés, ou seria os pés a enterrarem-se de prazer, aquele prazer, que é andar pela manhã na praia.
Os cabelos com a brisa, vagueavam-lhe pelo rosto, por aquele, pedaço de face pintado por alguém numa noite serena de Amor, por vezes, segurava algumas pontas daquele cabelo russo de tanto sol apanhar, segurava-as com aqueles lábios, quase sempre húmidos, vermelhos cor de sexo, finos como um leve sorriso, finos, lisos, macios elegantes, mas mais que tudo, de sabor inteligente .
Os olhos, escondiam-se por entre aquela “multidão” desgrenhada, mas viam-se que eram penetrantes e lancinantes.
Ali perto dos seus pés, teimavam em rebentar pequenas ondas, muito pequenas e sem fim, durante dias, meses, anos, séculos, sei lá, uma eternidade que elas ali estavam e, não paravam nem se cansavam de bater contra aquela areia, fina, tão fina, que outrora fora rocha, que foi sendo consumida e desintegrada até ficar, fina, tão fina.
Se não fosse a brisa o dia custava a passar o calor era tórrido, mas a brisa que vagueava pelo corpo, fazia sentir bem, estava na altura, de entrar de rompante por aquela agua límpida, transparente quase inocente, não fosse a sua historia e força e, já agora imensidão, de um azul esverdeado, ou de um verde azulado, custava a distinguir era uma água sem igual.

De um gesto quase divino, ante braços esticados mãos unidas, com os dedos a apontar para o fundo, de um salto, de abdómen quase liso ligeiramente dobrado, o seu corpo dilacera pela agua, como um punhal entra pela carne, por segundos aquele corpo perdeu-se, afundou-se pelas aguas calmas, que testemunhavam, a doce e hábil dança de baixo de agua.
Ao vir ao de cima o seu corpo parece sair da agua envolto numa bolha, numa enorme bolha de ar, o cabelo veio escorrido, de uma forma bela, as gotículas, a milhares de gotículas que se espraiavam por aquele corpo bronzeado, eram uma alucinação de prazer, de dar a volta a cabeça, um deslumbramento, sentir aquele sal, saborear o sal, era uma imagem de arrepiar, quando apoiava os lábios nos ombros e saboreava a agua salgada, ai via-se aqueles olhos, de uma cor desconcertante, um cinzento quase irreal,
O seu corpo, transbordava emoções, prazer sentimentos, a maneira de por o cabelo, de o molhar e sacudir, era de uma elegância desmedida, da sua boca saiam melodias das suas mãos caricias, como passava as mãos pelo corpo, para se refrescar, era de uma sensualidade a roçar o pecado, a maneira como tocava ao passar com as mãos pelos seios, firmes as mãos, firmes os seios, firme a sua ternura inocente do prazer que se apodera em momentos de grande sedução entre ela e o mar.
Mais um mergulho, mais um salto onde o seu corpo de esgueira, num ritual de gestos ritmados e simétricos, em perfeita harmonia entre a varias partes que se envolviam e abraçavam, a agua o seu corpo o fundo do mar, gostava de um gesto voltar-se para ver o sol, o céu de baixo de agua, era magnifico a luz, os raios do sol a penetrarem em varias direcções a dispersarem-se por ali, como se fosse uma paragem obrigatória, o azul do céu, mexia-se, andava em pequenas ondulações era um azul visto dali quase marinho com sabor a sal.
Por vezes sentia, a roçar-se por si, pequenos peixes, que fugiam, aos mais bruscos movimentos, mas voltavam sempre, aquele corpo, não largava cheiro a medo, transpirava confiança, e os pequenos peixes, colocavam-se ali como se um coral trata-se, tal era a beleza a pureza.
Aquele corpo, gostava de sentir pequenos toques, quer da agua, quer dos peixes quer da sua imaginação, sentir aquela volúpia, aquele deleite, sentir uma excitação interior percorrer os poros, aqueles poros que emanavam odores sexuais, todo aquele corpo, aquela perfeição de curvas alinhadas por carnes de outros apetites, sentiam as vontades proibidas.
A agua saltava-lhe do corpo, deslizava como gotas de óleo, faziam a luz do sol reluzir e reflectir aquela lindíssima e apetecível pele, mais um mergulho, desta vez o salto foi mais alto, muito mais alto, encarpou o corpo e de uma só vez, entrou como se diluísse por ali, viu-se naquelas aguas transparentes seguir ligeira e rapidamente em direcção a luz, estava próxima do clímax, de atingir o declínio da sua tensão.
E foi ai, em contra luz, que emergiu, mais reluzente do que estava, não se lhe reconhecia o corpo, nem as suas feições, a luz intensificava-se ao mesmo tempo via-se saírem das suas costas, largas e compridas asas, asas de anjo, a terra tinha parido mais um mito.

Apeteceu-me

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Vida de (Cas)Cão

Falam-me de Bola, de futebol, de traquinices e meninices, é verdade que os "homens" perdem demasiado tempo a olhar para a bola, para uma bola, muitas vezes refastelados no sofá outras, no café em amenas orgias intelectuais.



È verdade, que os "homens" medem-se pelo seu poder argumentativo em relação à bola, pela sua necessidade constante de poder dizer alguma coisa, geralmente sobre a bola, porque muitas vezes lhe é negada, aquela visão quase poética da mulher, aquele carinho aquela tenura.



è verdade, que prefiro ver uma mulher, senti-la, cheira-la, tocar-lhe levemente, sentir o calor do seu corpo, segredar-lhe coisas bonitas, dizer que passam hoje 70 dias que levantou voo em direcção ao calor, outros Natais, outros Anos, que olhar para uma bola a rodar por ai.



È verdade que o choro não faz parte da Alma animalesca do "homem".
O choro não faz, mas o verdadeiro "homem" veste-se bem, veste o belo e lindo fato treino, saido das ultimas modas da contrafacção.
O "homem" procura incessante a fortuna não pelo seu magnifico e pomposo trabalho, mas sim na busca inecessante do Euromilhões, ou em totolotos desmedidos.



O "homem" que se preza não responde às mulheres, mas como sou educado e digo sempre presente às pessoas de quem gosto e sou amigo e, tu além de estares incluida nesse lote és uma Senhora, digo-te esse "homem" é mais pura realidade, mas a nossa visão da mulher, também não é muito animadora.
Apeteceu-me

Pancada XII (ultima)

Musica - EZspecial [my explanation]

(...) Nesse momento a Dona Henriqueta a senhora dona minha mãe, entra de rompante pelo meu quarto a dentro, eu que estava naquela posição, que nem lá vou nem deixo de ir, dou um salto da cama, um movimento impulsivo e fiquei, tesa, hirta e imóvel, com um olhar, meio atónito, e balbuciei assim uma coisa :

- A tão, mãe?

A minha mãe, com aquela cara angelical que Deus lhe deu, disse-me :

- A tão o quê filha
- Sim a tão que se passa?
- Não se passa nada porquê, era suposto passar-se alguma coisa? (diz a mãe a franzir o sobrolho)
- Não mãe a Carta o que diz a Carta
- Ahh a carta, qual carta, estás doida Palmira (cada vez percebia menos da conversa)
- Oh Mãe a carta que levaste ao Vasco, estás perdida ó quê?
- Ó quê!! E um grande ó quê também para ti, se assim o desejares (aqui j+á a mãe estava a gozar o pagode)
- Pois a carta, não levaste a carta ao Vasco deves estar mesmo a gozar comigo mas olha que não estou com disposição (e aí sai-lhe um grande arroto)
- Levei claro, mas olha não tenho por habito, nem espreitar aquilo que é para os outros e muito menos esperar que me digam alguma coisa.
- És sempre a mesma coisa !!!
- Bom, e muito menos com o pivete que vêm de lá de dentro eu iria esperar, foi um pau trazer-te este guronsam e eles encontra-lo foi um milagre.
- Ok, obrigada, é sempre um prazer os teu favores, fico sempre sem saber de nada.

Bebi, aquela dádiva, dos céus, com um prazer que nem vos passa, parecia um orgasmo multiplicado por 20 elevado ao quadrado, sim matemática a esta hora era complicada, mas mesmo assim a minha rica mãezinha era um amor, logo a seguir trouxe-me um café daqueles que só ela sabe preparar, a seguir ao guronsam caiu que nem ginjas, essa é outra das fazes, que nunca entendi bem porquê, as ginjas eu a seguir a beber umas ginjas, fico muita mal disposta, mas se for umas ginjinhas com nozes, umh, nem vos conto, é simplesmente fantastica, mas não vou pensar mais nisso se não daqui a pouco, estou mortal.
No fim daquele disparo todo de emoções e contradições, parecia, não parecia?! já julgavam que me tinha esquecido da carta, não claro que não esqueci e porque havia de esquecer alguém me dá uma razão valida, bem me parecia que os meus espíritos estavam comigo, claro que estavam então deviam de estar com quem?
Se não fosse, comigo, mas a carta eu tinha muitas duvidas, certezas algumas, para dizer a verdade eu não tinha nada nem certezas, nem duvidas, nada, não tinha mesmo nada.
Mas uma duvida, só uma me estava a dar cabo do totiço, porquê toda aquela pancada por causa da carta, até parecia, que a minha vida dependia disso, que dependia daquele pedaço de papel enviado ao senhor Vasco, o que seria que lá estaria escrito, que nervos, pior que isso, quem escreveu, pois é tanta conversa e nem me lembrei disso quem terá dado a carta a minha mãe:

- Mãe, mãeeeeeeeeeee anda cá depressa.
- Simmmm que foi Palmira ? (com cara de caso)
- Diz-me uma coisa, quem te deu a carta para enviares ao Vasco?
- Quem, me deu, ora essa, quem me deu foi, deixa cá ver, ora, acreditas que não me lembro?
- Como não te lembras? ( a Palmira fervilhava, estava piursa)
- Como fácil, a carta apareceu, hoje de manhã debaixo da porta.

Foi assim que decididamente fiquei a saber o que dizia a Carta, dizia,isso mesmo:
- Para o senhor Vasco.

Apeteceu-me
Esta é a ultima pancada, que pertence, ao II capitúlo de Qualquer coisa.


Este desenho pertence ao "A", que era o dono do Blog Tubo de Ensaio e que como qualquer géniozinho fez birra e arrasou com um blog muito interessante.
O "A" faz parte com o "Kal" dos meus comentadores pagos, parecem os velhos dos marretas.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Guerreiro urbano

Guerreiro Urbano (KULA SHAKER- PLAY)


(...) Naquele momento naquele preciso momento, quando fugia a toda a velocidade, por entre a multidão que se dirigia a lugar algum, voltou-se para trás e, tudo parou, fixou os seus opositores, cada espaço que ocupavam maneira de correr, andar, de olhar, como o fixavam como vestiam o que transportavam nas mão as suas mochilas, naquele momento os seus opositores, estavam marcados.
Depois olhou em redor, para fixar pontos de apoio ás suas fugas, ás suas manobras, aos seus desafios, sabia-se que era ali, naquele momento, que tudo se ia desenrolar, a rapidez de movimentos era crucial à sua estratégia, estava nervoso, muito nervoso era a sua primeira vez, mas tinha sido programado, programado não, é uma palavra demasiado mecânica e, irrealmente superficial, tinha sido amado e treinado, para um dia como estes não falhar, não podia falhar, era demasiado cruel para os anos de dedicação e sacrifício(s).
A sua volta, enormes edifícios a rasgarem os céus, as suas janelas espelhavam o Sol que raramente se via directamente, as nuvens passavam a uma velocidade quase alucinante, os candeeiros de rua pareciam curvar-se perante a eminência da peleja, daquela briga, do combate, os semáforos, pareciam fora de controlo, o asfalto estava mais negro que nunca, as sarjetas fumegavam dos dejectos que por lá se acumulavam, as tampas que selavam os milhares de túneis que se estendiam pela cidade, estremeciam, tal era a energia que aquele corpo libertava.
A vida á sua volta lentamente começava a tomar o mesmo rumo em direcção a lado algum, respirou fundo e com uma energia desconcertante virou-se para a frente e começou a correr, o seus passos decididos, faziam lembrar uma pantera, rápido como uma gazela, veloz como um tigre, ágil como o vento.
De dentes cerrados, e olhar decidido lá ia ele, com uma camisa de xadrez rasgada nas mangas, por dentro uma camisola com um capuz cinzento, as calças largas feitas de sarja com imensos bolsos, calças claras, claro, escondiam o movimento dos músculos, daquela massa e fibras, aquele poder de contracção e relaxamento, olhar por entre o tecido e ver aquele movimento em câmara lenta era de uma beleza que agredia.
O tronco quase perfeito uma obra de arte, parecia uma lamina de quase cortar a respiração, um V perfeito os abdominais definidos, os músculos abdominais, que seguravam e suportavam na perfeição a coluna, a espinha, o dorso, os músculos peitorais achatados não muito grandes, era um corpo de sonho de muito treino de muita agilidade, um corpo perfeito para michel-ange ou por outra Miguel Angelo o génio da Renascença um dos muitos génios daquele período, poder pintar, poder transportar para uma das suas esculturas, fazer dele o que quisesse e pudesse, abusar, satisfazer o seu dom.
Em plena corrida, e de um salto só, muda de direcção e de outro salto coloca-se em posição frontal aos seus opositores.
Frente a frente os olhares, cruzam-se só um pode vencer, só um pode chegar, só um pode ter, é uma questão de honra, uma questão de dignidade, de saber quem tem o poder de mudar o seu próprio rumo.
Na Rua, as pessoas mexem-se sabem do conflito, mas não querem participar, é um conflito antigo diário, de uma preparação quase angustiante para aquele desfecho.
De costa voltadas, sem olhar os seus oponentes, sobe devagar e controladamente uma pequena escadaria, pé, sob pé, tacteando, degrau sob degrau, chega ao final, sente as suas costas tocarem numa porta, aconchega bem as costas naquele vidro frio, de que é feito a porta.
Naquele momento, os olhos fixam-se mais uma vez nos seus inimigos, e por momentos, sustem a respiração, revira os olhos conta até dez, antes de fazer um movimento brusco quase irreflectido vê os seus demónios a auto destruírem-se, caiem como um baralho, parece um espelho que acabou de se quebrar, muitos espelhos, muitos pedaços, um barulho quase ensurdecedor.
E de repente no seu gesto brusco e quase irreflectido, vira-se com uma perna mais a frente, mais flectida que outra, os músculos contraídos, braço ao nível do tronco, o ante-braço estendido, palmas das mãos voltadas para a frente e de um gesto, um simples mas brutal gesto, abre a porta e chega a mais um dia de trabalho.

Apeteceu-me (como sempre)

terça-feira, fevereiro 22, 2005

A minha Rua II

(...) a minha rua
pensei que estava esquecida esta minha rua, mas eis o meu espanto quando vi lá um comentário, um comentario que deveria estar guardado a muitos anos, da minha querida maninha, da unica, da ... minha adorada.
Aqui fica então o comentário :

... e então as expedições à mina de água?? Grandes aventuras!! Explorações com morcegos e tudo.E aquela vez que trouxes-te uma cobra (preta...horrivel... morta) e a metes-te num saco de plástico (transparente) e a escondes-te na caixa do contador da água na escada do prédio e ma mostrás-te com tanto orgulho... ta raáaá´...!! Ia-te matando!!

Mas o que tu não sabes, e que as raparigas também exploravam aqueles montes, e tinhamos os nossos segredos, os nossos esconderijos, os nossos trilhos secretos.
Era eu, a Fernanda, a Teresa, a Fatinha e a Céu do Bairro Taborda. E faziamos guerra aos rapazes... Principalmente aos Veludos... Mas enfim, só te digo agora porque já passaram estes anos todos e já ninguém tem pedalada para correr aqueles montes a defender o território!!


Apeteceu-lhe
E continuo sem saber porque te chamam Tinuxa e me chamavas Ninito.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Auto Retrato II (A Besta)

Auto retrato II (triciclo retrato)




(...) Eu sou uma Besta!
Que grande novidade, quem me conhece sabe que é um termo carinhoso, um termo que gosto, mas só o permito a pessoas chegadas, muito chegadas a mim, o que quer dizer, que só eu posso faze-lo, não é que não tenha amigos, claro que tenho, ao contrario de muita gente, eu tenho muitos e bons amigos, até porque a amizade está em constante construção.
O que quero dizer é que eu gosto do termo, seria incapaz de o chamar a alguém mas gosto de o fazer a mim, o termo estúpido anda muito gasto.
A Besta, odeia fazer a barba todos os dias, gosto do ar agressivo que me dá, (mas não é por isso sinto-me livre) dá-me ar de musica francesa, rock francês, lembra-me o Anti-social dos Trust, não è preguiça de a fazer, é mesmo desleixo, um desleixo que dura a anos a fio e que fez escola para os meus lados.
Hoje penso, que nunca fui talhado para ser um líder, eu acho que nunca o fui, vivo em constantes mutações de humores vivo da minha própria imprevisibilidade, o que me dá uma característica única, que muitos odeiam e, outros adoram, mas ao olhar para trás,fico com duvidas porque devo ter sido um líder tive muitos seguidores, lembro-me de uma moda que pegou a custa do meu andar, eu ando em bicos dos pés(agora já não)ou andava, e havia gente que o fazia, a barba fez escola, e o meu cabelo que não é penteado a mais de 30 anos.
Sim, a mais de 30 anos, o meu Pai morreu quando eu tinha 9 anitos, ele adorava ver-me penteado e, por birra por ele ter ido, partido ou raio que fez, numa altura que fazia falta, nunca mais me penteei, passo com a mão pelo cabelo, mas lembro-me muitas vezes dele e lembro-me de outras coisas, lembro-me do amor impossível que ele viveu, eu nasci em 1964.
Bom naquela altura o que aconteceu, imagino, se imagino, 18 anos de diferença(...) eu fui nascer a França, mas isso também não foi grave eu sou Francês o meu sobrinho mais velho é canadiano, não é maninha?
Nada que me envergonhe, os meus são portugueses de gema de São João da Pedreira, made in Alfredo da Costa.
Mas dizia eu, que o meu andar fez escola, assim como a minha barba e o cabelo despenteado.
Mas a minha imprevisibilidade, quer de atitudes, quer de reacções, está sempre presente em mim apesar de andar muito, mas muito mais ponderado, mas sinto, voltei a ouvir Stranglers.
Diria mesmo que meu estado de espirito é musica, vive, o estado de espirito claro, alimenta-se de musica, absorve a musica, respira musica, se um dia passarem por uma pessoa na rua de braços abertos a rodopiar com a cabeça inclinada para trás, não tenham duvida sou eu, ou mesmo se virem alguém a voar, sou eu.
O perfume também me aguça visões, voltei ao meu antiguinho Cool Whater by Davidoff,. O seu cheiro, dá-me flash constantes de outros dias de outras épocas, puxa-me o passado, embala-me o futuro, janelas constantes de outras realidades abrem-se, contornam-se dificuldades.
Quem me conhece, sabe que ando sempre com um sorriso nos lábios, rio-me por tudo e por nada, aliás eu rio-me por nada, sei dar a outra face, odeio o orgulho, acho que o orgulho é muitas vezes confundido com a auto estima, o orgulho é um exagerado conceito que alguém faz de si próprio, a auto estima, é a nossa estima, o nosso apreço, a nossa afeição.
A vaidade, bom adoro ser vaidoso a minha maneira, mas não a aconselho a ninguém, adoro andar nu sinto um (G)orgulho imenso por andar nu, literalmente despido, não sou nudista, mas sinto-me bem, mesmo com muito frio, deixamos este aspecto meio depravado para trás e, passemos a minha vaidade, não me sei arranjar, por outra odeio arranjar-me, nunca olho para o que pode ou não fazer conjunto, não me preocupo com isso, nem quer saber, não tenho bainhas nas calças, ou dobro ou , ou claro, as camisas andam sempre por fora das calças, tenho milhares de sapatos, botas e ténis, mas uso sempre os mesmos, se pudesse andaria descalço, sempre descalço adoro andar mesmo com os pés ao léu.
Enfim sou o que sou e sinto-me feliz por isso.

Apeteceu-me
Só falta uma coisa odeio tirar os oculos escuros.

domingo, fevereiro 20, 2005

A Tribo dos (In)conformistas do (A)mar

A Tribo dos (In)conformistas do (A)mar



(...) Chamam-lhe tribo, uma tribo.
Não sei bem qual é a definição de tribo, mas adoro esse nome, dá-me a sensação de liberdade, de Gente livre, de Gente que gosta de viver que, sente a vida que, se sente.
Se no Português há uma palavra que não tem tradução, “Saudade”, no Inglês há uma outra que traduz sentimento, mas é enorme de alma não de tamanho, Feeling.
As tribos são Feelings que transmitem saudades, claro de quem está e de quem esteve, sentimentos, conhecimentos e vivências.
A tribo que vos falo vive isolada, ao contrario do que possa parecer dos seus movimentos, sempre diferentes, fora de rotinas.
As parecenças com os índios, são enormes: qual é a primeira visão que se tem quando se fala num índio?
As suas pinturas claro, os seus rituais de guerra, de paz, religiosos e espirituais.
A tribo do mar também se pinta, também tem a natureza como pano de fundo e como religião, galopam ondas sem fim, movimentos de liberdade.
Não há selhas nem selas, só o dorso, não há esporas só agilidade.
A espera também está presente, chamam-lhe mais paciência, esperam as ondas no seu SPOT, ou de outros lugares esperando o set (pode ser sete já que são sete ondas a ultima é a maior) perfeito.
Há quem espere uma onda uma vida, há outros que a seguem pelo mundo pelos oceanos a vida inteira.
Seria estúpido se dissesse que muitos não as encontram, seria mesmo muito estúpido
Esta é a minha maneira, de ver porque a onda perfeita está dentro de nós, é o que sentimos, quando na ultima braçada, fechamos os olhos e nos encontramos no LIP, quando os abrimos, já pertencemos a uma outra realidade, o nosso corpo já não nos pertence, o nosso pensamento está suspenso, há um silêncio a nossa volta só se sente o rasgar da água, a nossa visão perde-se por nós, não há cheiros, mas há um paladar, um sabor, sabe (a)mar, sabe a sal, sabe bem.
As tribos são vadias, vagueiam como as vagas.
Voltando atras, à ultima braçada, quando fechamos os olhos, estamos no LIP, sentimos a força da onda sentimos a prancha a ser tomada, o bottom a deslizar, por uma incrível força, quando pouco ou nada há a fazer, de um só pulo em conjugação com os braços, que se jogam ao equilíbrio, os pés tomam o seu lugar no Deck, o corpo ganha forma, nas costas um Swell maravilhoso, ondas vagas, vadias, ondas que se tomam mas que nunca se conquistam, as ondas são como o vento, como as tribos, livres, de tudo e de nada, mas o Drop, naquela onda, aquela imagem.
O ponto de equilíbrio que se descobre é igual ao nosso ponto de equilíbrio espiritual. Uma imagem Una e única, claro, aquele leque de agua, aquele Tail Slide, que deixa na crista da onda no seu Lip, deita mil gotas de sal que se evaporam no ar.
Aquela dança, aquele bailado, os riscos que deixa a sua passagem riscos de espuma, pintados, numa tela em constante mutação, em perfeitos rabiscos que mudam de cor, como se fosse uma partitura de musica, musica para uma sinfonia cheia de cor imagens e silêncios, aqueles silêncios que fazem os grandes momentos.
Naquele espaço, onde tudo vagueia, onde as tribos procuram rituais de prazer, onde os elementos se seduzem, vive a nossa profundeza, a nossa pureza, vive a fronteira entre o caos e a organização, onde a destreza da nossa mente vence a letargia do conformismo.


Apeteceu-me
"A" ouve a musica e sente a tua capacidade de deslizares e cria.

(IN)CONFORMISMOS
Spot-Local habitual de surf
Pico - Lugar dentro de água onde estão a dar ondas
Set- Conjunto de ondas
Lip - Parte alta da onda
Wipe out - Queda perigosa
Crowd - Muitos surfistas no mar
On Shore - Vento que vem do mar
Off Shore - Vento da terra para o mar. Este vento normalmente é quente e alisa as ondas
Free surfer - Surfista que não entra em campeonatos regularmente. Surfa por puro prazer
Big Rider - Surfista de ondas grandes
Shaka - Termo Havaino, para "está tudo bem!"
Aloha - Saudação havaiana
Gun - Prancha grande, para ondas grandes
Deck - Parte de cima da prancha (onde o surfista pisa)
Fundo (Bottom) - Parte do fundo da prancha (onde ficam as quilhas)
Swell - Ondulação
Secret Spot - lugar de surf "secreto"
Inside - Ondas perto da costa
Outside - Ondas longe da costa / Qualquer local para fora da rebentação
Flat - Mar liso, sem ondas / Sem curvas (referente ao shape da prancha)
Bone Crusher - Onda enorme que "rebenta" com extrema violencia
Quebra-coco - Ondas que "rebentam" perto da areia da praia
Beach Break - Praia com fundo de areia
Point Break - Praia com fundo de pedra.
Reef Break - Praia com fundo de coral
Drop - Significa descer a onda da crista até a base
Bottom Turn (Cavada) - Manobra onde o surfista faz uma curva na base da onda em direção do lip (crista)
360 - O surfista executa uma volta completa em torno de si mesmo (com sua prancha) e continua na mesma direcção
Aerial - Vôo com a prancha
Cut back - Manobra em que o surfista volta na direção contrária da onda e depois retorna na direção normal
Floater - Manobra em que o surfista flutua, quase sem contacto, com a crista da onda, quando ela já está a quebrar
Grab rail - Manobra que o surfista coloca a mão na borda da prancha para pegar um tubo de back side
Tail Slide - Manobra em que o surfista derrapa a rabeta da prancha. Pode ser conjugada com outras manobras
Tubo - Manobra em que o surfista fica dentro da onda

Ansiedade Fatal

Ansiedade Fatal


(...) Que merda, mais um dia de ansiedade, mais um para juntar aos muitos que se tem perdido por mim, esta angustia esta inquietação de espirito, esta impaciência é comum a todos os mortais, mas eu sou imortal, quero ser imortal, desejo imortalizar-me, que estupidez, é estúpido pensar assim, claro sou estúpido, mas se sou estúpido porque penso?
A nossa historia é feita de incertezas, de Deus, de Deuses, de prazeres e de vontades e limites.
Os nossos limites as nossa barreiras, são saltos contínuos, vontades de nos descobrir-mos e ai chega a historia que vos quero contar.

(...) sentado, naquele pequeno tronco de madeira, um tronco de um enorme carvalho, cortado há mais de meio século, a mais de muitas vidas, onde muita gente se sentou desejou e prometeu, amores eternos, pensava nos dias que corriam, sentia aquele fresco da manhã que nos fazia dar voltas ao estômago, sentia o cheiro das acácias e das begonvilias, era uma manhã como muitas outras, não fosse aquele o dia que tinha combinado por carta conhecer alguém que sonhava amar.
Naquele tronco estavam cravados, na madeira, vários escritos feitos a navalha alguns, com pedras aguçadas a laia dos homens das cavernas, sobressaia um escrito que gostava particularmente,” O sonho comanda a vida” .
Lembrava-me, como se fosse hoje, dos poemas de António Gedeão, então da pedra filosofal era um hino para mim, um hino à minha capacidade de sobreviver, de sonhar e de existir.
Ali estava eu sentado no meio de um campo verdejante, não muito distante das habitações daquela pacata aldeia que me viu nascer, ouvia-se ao fundo o riacho, não um riacho mas o riacho, o riacho da minha aldeia, aquele que eu considerava único, aquele que eu conhecia os sons de cor, os ressaltos nas pedras, gastas de tanto agua as atravessar ao longo dos anos era o ribeiro, os pássaros, o chilrear dos pássaros, o coaxar das rãs, sentir aqueles cheiros que só ali se desenvolviam, perto do riacho, dos fungos e musgos, que cresciam naquelas rochas.
A rapariga a que eu tinha escrito, para a conhecer, era alguém que eu tinha sonhado ser perfeita para mim, é verdade, que não tinha nascido do acaso, claro que nem podia ser assim, uma amor nascido por correspondência, onde já se tinha visto, em dias como aqueles, mesmo sabendo que já não vivíamos nos anos 60, estávamos em plenos anos 70, a tecnologia avançava as pessoas já não ligavam as mini saias (excepção feita ali na aldeia) a ideia de amores feitos por correspondência tinha ficado na II Guerra Mundial, é certo que aqui morria com o fim da guerra colonial, 20 e muitos anos depois, mas os factos nesta altura são o que menos me interessavam.
Pouco ou nada sabia dela diga-se em bom da verdade, enquanto esperava ali sentado naquele tronco de carvalho, de pernas cruzadas, mãos entrelaçadas e que, de vez enquanto as levava por cima da cabeça como se me estivesse a exercitar, mas mais não era que afastar o nervosismo, aquele nervosismo miudinho que não mata mas mói, as vezes, ficava pálido de imaginar ela aparecer ali de rompante, mas no fundo apesar dos avisos, que ela vinha, que ela aparecia, eu tinha quase a certeza que não aparecia, fazia-me lembrar a história uma longa e bonita história, de Gabriel Garcia Marquês, em “Amores em tempo de cólera” de um amor impossível, mas nunca esquecido, e que ao, fim de 70 anos foi retomado, mas essas história para aqui não interessam, claro que não, são mitos, são historias.
Mas sabia que ela não ia aparecer, no fundo, sabia e preparava-me para acrescentar aquele, tronco de madeira cortado há sei lá quanto tempo, uma bela frase, não de Gedeão, mas de alguém que me apetecesse sentir naquela altura, lembrei-me de um Salmo da Bíblia que tinha guardado há muito, nem me lembro porquê mas que dizia assim :

“Olhei para a direita e vi; mas não havia quem me conhecesse.
Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha alma.”

A verdade, e que naquele pedaço de madeira onde o tempo deixava marcas escritas, descobri varias coisas, uma e a mais importante que, a ansiedade deturpa os nossos pensamentos, e naquele momento era tanta que tinha chegado uma semana mais cedo.


Apeteceu-me

sábado, fevereiro 19, 2005

Pancada XI (onze)

(...) Fugi da maneira mais idiota que conhecia, a pé, podia fazer como nos filmes e roubar um carro uma mota ou uma bicicleta, a bicicleta era bem, eu era um ás a dar ao pedal, mas o pior o mais frustrante da história é que eu ouvi o SR. Romão, a dizer aos gritos :


- Agarra que é ladrão, roubou-me uma banana, agarra o homem, tirem-lhe a banana.

Ora fiquei um bocado, á toa, o homem tinha mesmo ficado processo com a minha atitude o pior é que não era pela tablete era mesmo pela banana, que raio de homem se metia naquela histeria, no meio da rua por causa de uma banana?
È verdade que fiquei abalada com o assunto parecia que estava a ver aquela gente toda a olhar para mim e a apontar.

- Olha foi aquela que roubou a banana ao Sr. Romão. (tipo burburinho que se torna num grande bruá, na nossa cabeça)

Ali, tomei a minha maior e mais difícil decisão, vou fugir de casa a vergonha de enfrentar a minha mãe, mas o pior não era isso era a vergonha de enfrentar a minha mãe e, ela levar-me em frente do homem no meio de toda a gente que estivesse no supermercado, era a humilhação total, não estava para isso, antes uma surra, pois ali era mais ou menos 2 em 1, porque a surra não me escapava, talvez sim talvez não e, ai resolvi fugir, foi horroroso, não me lembrava nem de sitio nem de ninguém, de alguém lembrava-me mas havia sempre perguntas tipo o que fazia ali aquela hora porque não estava em casa, então resolvi, meter-me ao caminho e procurar abrigo por ai, até que encontrei a minha mãe pelo caminho e, o resto é aquilo que já tinha descrito, a minha fuga foi mesmo só em pensamentos, quer dizer ainda fugi, alias ainda guardo a banana religiosamente, mais ou menos é uma replica em plástico, um dia ainda a vai sentir vai aquele Sr. Romão .
Mas enfim era novinha mas já tinha vivido uns bocados engraçados, engraçados agora mas na altura não achei grande piada, mas com descontracção e estupidez natural tudo, fazia sentido, se bem que eu fosse uma rapariga muito sentida.
Porra, já eram quase 10 horas da manhã e ainda estava eu prostrada na cama que neura, quer dizer por um lado até sabia bem não estava, ali a passar pela casa atarantada, sem muito bem saber o que andava a fazer, mas por outro andava mesmo intrigada, com aquela carta..
Não vai ser nada deixa, quando a Dona Henriqueta chegar vou tirar tudo a limpo estava a ficar paranóica mesmo, apetecia-me gritar, mas por muito que me esforçasse, não sai nada, parecia aquelas cornetas, que uma pessoa chega lá sopra, sopra e nada faz um bocado confusão, mas era como me sentia, aliás sentia que se ninguém fosse ali ter comigo depressa iria ficar ali para sempre tal é a maneira ou forma como me sinto, sem reacção.
Mas estava ali a mimar-me a mim própria, a enrolar com o dedo o cabelo e, enrola e, desenrola e, enrola e, desenrola, deve ser irritante quem esteja a ver uma pessoa naquilo durante horas com aquela cara que Deus nos deu tipo a cara 49, que nada mais que cara de parva, mas enfim, remoía, remoía sobre a carta, até pensei ligar ao Pilitas ele sabe tudo, mas se fosse alguma coisa de especial ou assim que me aguçasse o apetite ele ia era gozar a brava comigo por isso é que o melhor é mesmo não lhe ligar, bom e no meio daquela confusão saberia lá eu do meu télelé, também se o perdesse não era nada de grave já estava tão velhinho, quer dizer velhinho não, usado, usado também não, gasto, não o termo era um télélé novo com uma dona, que tem falta de cuidado, estava todo marado, também já tinha servido de arma de arremesso ai a um pató qualquer que me mandou uma boca foleira qualquer, e levou logo com ele nos dentes, é tiro e queda, sou demasiado agressiva, então se estou com o sono, sou terrível, demasiado terrível, insensível, imprevisível e irremediavelmente intolerante, o meu pai chamarme-ia anormal, a minha mãe mau feitio, se fosse o Vasco dizia logo que eu era terrivelmente anormal e violenta, mas é o meu feito, mas por ele até me moldava, ai moldava, moldava.
Será que a minha mãe já ai estará, para lhe perguntar da carta?
Que raio a carta!!

Apeteceu-me
Sinto-me só e agora?

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Tia Fatinha, a caturreira que apareceu em Fátima!

(...) Olha lá, segreda-me lá o que é aquilo, ali ao pé daquela azinheira. É uma aparição, ou é o novo modelo da Sony a 3D?
Acho que é a Tia Fatinha. Veio de Fátima, fazer uma visita à Tia Lili.
Disseram-me que vai pôr Botox, no corpo todo.
Botox? Isso é daquelas coisas, que quando metes na boca cola-se ao céu da boca, realmente anda sempre a falar de céus, mas as lantejoulas criam o mesmo efeito.
Cola-se ao céu da boca, o caramelo e ela gosta muito de caramelos, tanto que anda sempre a dizer: Ai, o meu caramelo, o meu caramelo!.
Foi aí que ela pensou que a aparição poderia ter acontecido em Badajoz, mas depois deu-se o milagre e o EL que se cortou em inglaterra desfez-lhe os anseios.
Foi o milagre da multiplicação dos pobres de espírito e dos oprimidos pela sociedade, que gerou a grande revolução dos espiões de casais, que praticavam, ginástica sueca, em casa dos pais.
Mas essa ginastica acabou por não ter futuro, passou a ginastica cueca, cada palpebra ficava num estado de espirito renovado, mas cada qual é como cada um, pim pam pum cada bala, e ai ela tomou mesmo valium.
Mas na verdade, os frascos estavam trocados e ela tomou um laxante fortíssimo e passou uma semana, na casa de banho, que era forrada a ouro de 18 quilates.
É o que se chama obrar de alto e de fininho, chegaram-lhe a chamar a caiadeira da semana tal foi o efeito do laxante, outros deram-lhe o cognome de peida dourada.
Confundiram-na com um qualquer presidente de um clube futebolístico, com essa história da peida dourada, até que ela veio a público, confirmar, o que as Tias invejosas já desconfiavam. A Tia Fatinha, fazia parte de um projecto secreto intergaláctico, de robots de Cascais, especialistas em festas, sem nenhum fim produtivo.
O projecto Fútil 3069, era considerado um sucesso estrondoso além fronteiras.
Era espantoso, as futilidades robóticas dessas festas interplanetarias, a maria mamalhuda fazia sempre de mordoma, a mordoma da pia, tinha um cão que se chamava boby de ão ão e ão ão e o número de telefone era o 21 de 435 e 768, mas isso nunca afectou a aparição dos cagar de cocoras.
A grande surpresa da última festa, foi a presença da Barbie, que depois de deixar o Ken entregue ao GI Joe, mostrou um grande interesse pelo, Bobby de ão ão e ão ão. Este que assim que a viu, abanou o seu rabinho de bomba e foi logo dar-lhe uma lambidela.
Deu-lhe uma pisadela que a deixou de rastos e foi ai que a senhora cobra a encontrou ao seu nivel, e disse-lhe “olha lá deves julgar-te muito importante para limpares o chão e esse fato faz conjunto com a tijoleira da casa de banho, umhh adoro esses azulejos, porra está frio estamos na rua?”.
Não! Abriste a porta do frigorífico.
Olha! Está uma azeitona a dizer-nos adeus.
Mais um equívoco, nesta nossa humilde passagem, as azeitonas não têm pernas, e uma barata não ladra assim.

Escrito por Tânia T. (eu mm) e Carlos Barros (kula), em post it dourados. Dedicado, como é hábito, ao nosso amigo Miguel M. (cha_no_deserto) e a todas as Tias.

Apeteceu-me

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

A Minha Rua ( Saudades da Minha Infância )

A Minha Rua ( Saudades da Minha Infância )



(...) Eu Carlos Barros me confesso, confesso que ia, a caminho da escola do meu filho, a pensar em tudo, fiz a minha paragem habitual, para olhar mais uma vez o Mar, e comecei por momentos a ver a minha rua, a minha rua de sempre, aquela que é minha, sempre foi e, sempre será, a Avenida António dos Santos em Santarém a avenida que para muitos não era mais que um sentido único para a sua ultima morada, mas ali pelo menos na “Malta do Pereiro” abundava vida.
Dei por mim a chorar compulsivamente, não é que seja maluco, acho que sou meio amalucado, mas maluco não sou, piegas, também não sou, mas deu-me uma saudade, ai que saudade, que me deu, o meu coração apertou de uma maneira, que não vos conseguigo contar, os olhos ficaram pequeninos, o meu corpo retraiu-se como se tivesse uma sensação de perda, fiquei por momentos num vazio, no vácuo, num emaranhado de emoções que nem eu sabia que existiam, consegui ver toda aquela avenida, a única avenida que eu conheço em todo o mundo que tem curvas e contra curvas subidas descidas, consegui vê-la direita.
Aquela rua, mas que rua, lembro-me da vista, abria a janela do meu quarto, e vou tentar, só tentar descrever o que via ( e ainda vejo), lá ao fundo no horizonte o Tejo, o Tejo no seu esplendor, com os seus bancos de areia, depois lezíria mais lezíria, o verde, muito verde, daquela que é considerada a terra mais fértil do planeta, a vista consegue alcançar Muge, pelo meio velhos e novos chaboucos que as chuvas e as cheias foram deixando, até lá um enorme vale, pelo meio, e de espaços a espaços o barulho do combóio, ele andava por ali, não se via mas sentia-se ouvia-se, só a noite as luzes das carruagens o tornavam visível.
No meio do vale um “ribeirão” que mais não era que um esgoto a céu aberto, a sua volta, silvas e mais silvas um enorme amontoado de picos e espinhos, que acompanhavam vale abaixo os dejectos de uma cidade.
Nas encostas, oliveiras, muitas oliveiras, algumas, atadas aos seu tronco, ovelhas, outras (ovelhas) a solta, burros, cães, gatos, também me lembro de ver figueiras, mas essas ficavam mais perto das habitações no bairro de baixo, nespereiras e laranjeiras, alguns limoeiros, no outro lado do sopé ficava o Campo do leões, outro Bairro onde as aptidões dos seus habitantes eram mais jogar a bola.
Ali no Pereiro, a farda era outra, joelhos em sangue, crostas sobre crostas, e explorar aquele vale até a exaustão, não havia buraquinho, toca, coelho, coelhinho, galinha ou galináceo que não fosse conhecido daquela tribo, daquelas Tribos, eram tribos, que vegetavam por ali, a Tribo dos Veludos, dos Branquinhos, dos Agostinhos, dos Quintinos todos os dias, percorriam aqueles incalculáveis e inclinados acres de terra, picos e dores de cabeça para os pais de cada um, era espantoso.
Ali onde a terra nos fazia crescer.
O ranho, as crostas, os buracos, as palmadas, tudo isso nos alimentou o crescimento, o mundo seguiu parado durante muito tempo, quem diria, que o homem teria chegado a lua, que havia os sprectruns, que o Jim Morrisson tinha morrido, quem diria!
Ali as “estorias” viviam ao nosso ritmo, eram alimentadas por nós: Quem estava de castigo em casa por ter roubado a tábua de passar a ferro ou o alguidar para poder surfar aquelas encostas, ali sim eram verdadeiras ondas de prazer, as velocidades estonteantes, os saltos os rasgões de pele, fantasias e mais fantasias, muitas vezes paradas por paredes de silvas e silvados.
o cheiro eras uma mistura de amoras silvestres, com o carrasco, aquele carrasco que teimam em não conhecer por estas bandas, que também dá bolotas, e que serve de esconderijo a inimigos figadais, como a raposa e o coelho.
Os gritos nas varandas dos pais ecoavam pelo vale, os nossos nomes a hora certa eram chamamentos sagrados perpetuados, pelo horizonte, eram guinchos míticos que ainda hoje os ouço na minha cabeça, na minha capacidade de voar e sonhar, navegam nas minhas saudades daqueles dias, percorrem lagrimas que teimam em não parar de cair, em cada lágrima um nome uma vontade de voltar aqueles tempos, aquelas gentes, algumas que já não existem outras que se consomem por ai.
Lembro-me que à frente da minha casa, existia um palheiro, sim um palheiro, lembro-me disso, ao lado vivia a Dona Manuela e o Senhor Sebastião, era ai que todas as noite, com um fervedor, ou uma cafeteira, lá ia buscar um litro de leite ainda quente, acabado de ser mugido , em plena Avenida António dos Santos, sim, porque aquela era, é, e será a minha Rua !


Apeteceu-me
Dedico este texto, a minha Irmã, (é nesta parte que ela vai chorar baba e ranho), que ainda hoje não entendo porque lhe chamam Tinuxa, nem entendo onde foi ela buscar o termo Ninito, que durante anos me chamou.(acho que agora me chama mais parvo, no bom sentido claro)

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Silêncios de Ontem (Ayer)

Silêncios de Ayer (Ontem)


(...) Uma entrada sumptuosa, no seu pórtico uma roseta com mil cores, pedras sobre pedras.
Cada pedra, um rosto, um suor, uma lágrima, uma história de certeza, aquela porta de madeira no meio de delicados arcos, talvez românica, talvez não, uma serpente por cima da porta, delicados arcos, entalhados e recortados por hábeis mãos.
Lá dentro morava o silêncio. Era abismal, uma diferença abismal, bastava ter um pé dentro, outro fora.
Um ouvido virado para dentro outro para fora, de um lado o burburinho da azáfama do dia a dia, o bulido das terras de gente, do outro lado o silêncio.
- Ahh, (admiração) o silêncio que tem barulhos, curioso o silêncio tem barulhos.
O silêncio é composto por milhares de barulhos que não se ouvem, e ali naquele espaço de Deus, os barulhos ecoavam num imenso silêncio.
Com os dois pés lá dentro, uma abstração total dos Santos, santinhos, imagens, pinturas de «gentes» anónimas», escultores desconhecidos mas, de grande valor, depois dessa abstracção, de separar mentalmente todas aquelas peças, meticulosamente e religiosamente ali enfiadas, era como chegar a uma outra dimensão, a um outro «Portal», um fresco agradável de um enorme bem estar, depois aquele silêncio que, nos embala, uma ante câmara para ensaiarmos um belo e sonoro grito, que nos fica preso na nossa indignação, sim indignados de um grito deslocado do seu cenário, do seu habitat!!
A casa de Deus, ao qual não pedimos licença para entrar, também não pedimos licença para «Ele» se instalar por aí, para ser «dono» e «senhor» (...)
Mas fixamo-nos ali, naquele espaço, rodamos depressa sobre nós próprios, a deslocação do ar faz-nos sentir livres, sabe bem, muito bem mesmo, liberta-nos.
Seguimos viagens de silêncios entre aqueles bancos corridos de madeira que correm a nave principal ou a principal de 3 naves, mas os bancos, o silêncio, o silêncio e os bancos, um corrupio de imagens e seduções, mas basta um pequeno, toque um ligeiro toque, um pequeno arrastar de um daqueles bancos, enormes bancos corridos, um milímetro que seja e o silêncio desmorona-se, ecoa por todo aquele espaço um ribombar de barulhos agitados e estridentes, os ruídos batem naquelas paredes, aquele estrépito embate nas paredes grossas erguidas a muito naquela nave, e voltam para trás , sobem, descem, um sobe e desce constante, e durante minutos aquela harmonia de silêncios é desfeita por aquele milímetro de madeira arrastado pela pedra fria de um chão milenar, é desfeito um cocktail de prazeres rasgados pelos nossos prazeres auditivos.
Mas é ali, que os nossos pensamentos, as nossas viagens, conseguem ganhar velocidades estonteantes, os nossos sonhos tornam-se diferentes tal é a calma que ali se consegue, sem ninguém sem nada, apesar d’«ELE» estar em toda a parte.
Imagino a imagem de uma cabeça cortada ao meio horizontalmente, com um corte preciso e, imagino milhares de peças, pecinhas, roldanas, engrenagens a andarem para a trás e para a frente, a rodarem para a esquerda e para a direita, numa perfeição caótica,(adoro o caos) adoro esta imagem da nossa cabeça, um meio de laboração perfeita, não gosto de olhar nem de perceber o Cérebro, ou por outra o Cérebro é imperceptível, aquela massa cinzenta nervosa que ocupa a cavidade do crânio, não consigo compreender, não compreendo com funciona.
Mas também é verdade, por muito que se dê voltas, que também não faço a mínima ideia como funciona o dono daquele Espaço.


Apeteceu-me
(este é o ultimo da Triologia de 4 textos sobre o São valentim)

Batalha - A luta, a procura de quem queremos
Ansiedade - A paixão a espera, o frenesim
Depressão - A falta de respostas
Silêncios - Este deixo ao vosso critério e imaginação, tenho a minha, mostrem a vossa.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Depressão (contaram-me)

Depressão (contaram-me)


(...) Corria para o precipício, daquela vez era caso sério, se nada de anormal acontecesse, chegava depressa ao limite da sua depressão, batia bem lá no fundo.
A sua cabeça, parecia naquela altura uma maquina de lavar roupa, era essa a imagem, que ressaltava na nossa imaginação, remexia para um lado, para o outro uma volta para a esquerda outra para a direita, ora depressa ora devagar, ora molhada, ora seca.
Era uma cabeça cansada e, a prazo de andar as voltas, o seu olhar não era vazio como os outros que conhecia, era estranho, era sim, mas não vazio, o seu rosto parecia estar sempre com vontade de esboçar um sorriso, os seus lábios húmidos transpiravam sedução, encanto e um certo suborno.
Ao longo da vida (bastava apenas percorrer-lhe aquele olhar) as alegrias cruzavam-se sempre mas, sempre com as desilusões, mas nunca as desilusões com as alegrias, porque no final de cada ciclo, acabava deprimida, humilhada por si mesmo, mas era o preço a pagar pela audácia das suas atitudes.
Depois vinha o processo longo e moroso para se recompor, muitas noites sem dormir, muitos cigarros sem fim, muitas lagrimas sofridas, uma vontade louca de não se alimentar, um ódio figadal, uma auto estima a roçar, roçar não,estava mesmo no limiar da insanidade mental.
Ai começava o auto-processo , o auto-control , a auto-personalização, a auto-disciplina, apesar do que me soava melhor era mesmo a “auto-destruição” é uma palavra violenta, gosto da violência das palavras e da violência da musica, as duas formam um bailado magnifico da mais pura carnificina mental, mas era mesmo o começo, a procura incessante, a descoberta de cada ponta solta, como um puzzle, e colar (muitas vezes com cuspo), tal a ansiedade de fazer o percurso inverso ao Abismo, aquele buraco negro estupidamente fundo, comprido mas, com fundo, porque varias vezes, ela havia lá tocado, ou seria só um apeadeiro?! Não me parecia.
Mas aquele tocar no fundo, fazia-me ressaltar varias imagens: a do nadador em competição que toca na parede e volta para trás rapidamente, a dos miúdos a brincarem a apanhada que correm incessantemente uns atras dos outros até se tocarem e o processo iniciar-se novamente com outro personagem, um pouco a imagem das estafetas.
O percurso é muito mais moroso, com sequências repetidas vezes sem conta, o repetir de erros, as quedas constantes as varias frustrações, sobe 1 descem 5, Aquelas coisas que por mais que lhe chamem lugares comuns, não o são, são isso sim, problemas isolados, problemas encastrados, tal qual os electrodomésticos das cozinhas, isto para usar a linguagem de dona de casa com os seus rolos na cabeça e de roupão, pantufas com coelhinhos e meias amarelas a tapar os pelos das pernas, com a cera no buço.(adoro esta imagem)
È verdade, é uma escalada por vezes inglória, não quer dizer sem sucesso, mas inglória, muitas vezes sem compreensão, sem razão para os outros.
Mas os pulsos vergam-se, as mãos cerram-se, os músculos contraem-se, as veias incham, quase rebentam, e grita-se com a Alma, com espirito, ninguém nos ouve, a agonia sufoca, mas o mal sai, vai saindo, vai se esfumando. Entra a compreensão, o conhecimento perfeito do problema, meio caminho já lá vai, outro meio falta percorrer, o topo já se vê, por vezes ainda se escorrega, mas a oportunidade está ali tem de se agarrar, e depois?
Chega-se ao topo rapidamente.
Abre-se os braços como cristo na cruz, encarpa-se o corpo e salta-se para o Abismo novamente.(contaram-me)

apeteceu-me
(mais um texto dedicado ao São Valentim, amanhã termina e serão explicados)

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

* Vomitar Ansiedade

*Vomitar Ansiedade (O meu tributo ao dia de (...))

(...) Mais uma manhã de chuva, aquele chuvisco, com ritmo constante, onde pouco ou nada cabe, um céu moderadamente cinzento, as nuvens tocadas a vento tomavam formas, que só a nossa imaginação consegue contornar.
De braços bem esticados, para ai 3 metros de ponta a ponta, mas nada que interesse, espreguiçava-se, espraiava a sua noite, os olhos ainda embargados e desfocados de alguns sonhos entre crepúsculos, ainda não tinha tomado consciência do dia, da claridade que o Sol enviava para a terra aquela dadiva, que naquele dia apesar de moderadamente cinzento entrava, o Sol claro.
O Cérbero ainda estava sem estímulos, o corpo aos poucos perdia a letargia e a apatia de tantas horas prostrado na cama.
Aos poucos enquanto a remela , já seca começava a saltar dos cantos dos olhos, aos poucos, instalava-se o horizonte daquele dia “moderadamente cinzento”, com uma chuva que teimava em cair, mas não era isso, o corpo, aquele corpo, entroncado, de formas quase herculeanas, apesar das devidas diferenças e de mitos, aquele corpo deixava de estar dormente e instalava-se um mau estar relativo, um formigueiro, um nervosismo absurdo e estupidamente calmo, parecia um Rum com 21 anos onde enfiavam para dentro uma agua com gás, o estômago remexia, era uma sensação nova, com a qual não sabia ainda lidar, era mesmo muito recente, tinha apenas horas, ou minutos, os pensamentos movimentavam-se em círculos constantes, anormalmente constantes e curtos.
Pensamentos, que se repetiam, ecoavam, transmitiam insegurança, todo o seu corpo estremecia, aqueles círculos batiam sempre na mesma incerteza.
Estranho, a sua vontade de urinar era enorme, mas o estranho é que tentava vezes sem conta, eram poucas as gotas que os seus delicados e longos dedos conseguiam em abanões pouco vigorosos repelir para fora, quase que se contavam, saia da casa de banho em direcção a sua janela. E mal se fixava voltava a casa de banho, estava-se a tornar num ritual de poucas ou nenhumas gotas, isto até se habituar.
Aquele estômago, aliás toda aquela zona entre o externo e o baixo ventre, fervilhava, crepitava, parecia sal a cair no lume, aquela zona parecia estar em quedas constante para o abismo, para aquele vórtice profundo do desconhecido, e quando se recompunha voltava tudo ao principio, tudo ao mesmo.
Era curioso, apesar daquelas sensações todas, daquela panóplia de sensibilidades , estava calmo, calmo no sentido que nada de grave estava a acontecer.
O apetite faltava, era uma encruzilhada de chamamentos naquele corpo, um corrupio, aquela corrente sanguínea ,o sangue quente dava voltas e mais voltas a uma velocidade alucinante, tal era o batimento do coração.
Era musica, musica alegre naquele dia “ moderadamente cinzento “.
A vontade de fazer alguma coisa era muita mas o Cérebro, aos reflexos do Cérebro, não correspondia o resto do corpo , parecia descoordenado, estavam descoordenados, vagos, vazios de ideias mas não de ideais .
Os olhos vidrados no horizonte, que aquela janela deixava alcançar, percorriam todos os espaços deixando a sua passagem rastos de luz, atravessando e contornando todos os obstáculos que encontrava, uma viagem labiríntica, arriscada estonteante, com curvas contra curvas, viragens rápidas e alucinantes a 90 graus , a 180, a 380, descidas e subidas, como numa montanha russa, círculos expirais, o rasto de luz quase se perde, mas como uma sombra segue inabalavelmente a viagem.
Até começar a abrandar aquele turbilhão de emoções. – Final da viagem
ELA que está na outra ponta da sua curta mas alucinante viagem, também “ *Vomita Ansiedade”


* "Vomitar ansiedade" uma frase retirada de um texto de uma Amiga Nuria Sampaio

Apeteceu-me
(Este Também faz parte de uma série de textos dedicados ao São valentim)

sábado, fevereiro 12, 2005

Batalha (amorosa)

(A minha) Batalha



(...) Havia sangue por todo o lado, naquele pedaço de terra que outrora tinha sido uma plantação de arroz, agora jaziam corpos sem fim, era mais uma plantação de horrores.
Naquele dia por entre a névoa, aquela névoa que existe sempre no imaginário de cada um, que parece aparecer no fim de uma batalha.
Aquele nevoeiro ensanguentado e molhado, que envolve odores que transmitem o sabor do suor misturado com saliva. Sangue, estrume e alguma adrenalina, havia quem no calor da luta tal o seu empenho tivesse orgasmos, espalhasse o seu sémen por aquela terra, uma luta que dura horas, dias mesmo, as suas necessidades eram feitas ali, em plena batalha.
Era desumano ver, aquele cenário assustador, aterrador, cruel, de uma brutalidade sobre-humana, mas era assim, era assim que os senhores da guerra queriam, era assim que eles mandavam, a vida, pouco ou nenhum valor tinha, o dos outros claro, porque para os Senhores, a vida deles tinha de ser preservada continuada e vingada.
O barulho era ensurdecedor, as laminas esgrimiam-se, se é que esta palavra pode mostrar ou evidenciar, o barulho que das espadas a embaterem, umas nas outras, a embater no broquel, nos escudos, aquele pedaço, aquele pequeno pedaço de chapa, que estava encaixado no braço, no braço esquerdo, aquele pedaço de vida.
O Sol começava a baixar, estava vermelho, mas um vermelho fogo, que reflectia, nas poças de sangue, um conjunto gritos, de pessoas a serem brutalmente esmagadas, era impressionante, o que aquele sangue representava, representava milhares de vidas de pessoas, aquele sangue, que dentro veias tinha a força de mil homens, e ali jazia, permanecia, persistia, quieto amontoando-se.
O sons das flechas a rasgar o ar, a percorrer aquele espaço era como um chamamento um cantar, o assobiar de uma melodia de morte, eram milhares de setas ao mesmo tempo, o som do vergar do arco, de milhares de arcos, o som do cabo, o largar do cabo, dos cabos que empurram as flechas em direcção ao céu, onde assobiam um barulho ensurdecedor, ganham altura e depois no limbo o silencio, ali naquela fracção onde a força da subida para e começa a descida vertiginosa, o som mortal e brutal, parecem vespas, a laminas abrem caminho e, as penas de pombo mais macias, conduzem, a uma nova velocidade a uma nova vida a um novo jorrar de sangue.
Depois é mais uma maneira de morrer, o som das setas a entrarem a consumirem a carne humana, é grosseiro, um som vazio agudo e ao mesmo tempo oco, a maior parte das vezes mistura-se com o som de morte, com o suspiro final, com aquele definhar lento e agonizante da vida.
O matraquear das espadas, que se digladiam, é horroroso, mas ao mesmo tempo belo, são movimentos ao contrario que se julga, lentos, mas violentos, as laminas a roçarem uma na outra é uma bailado digno da sua morte, os corpos que as manobram, são corpos hábeis, os músculos saem do corpo, mas os que mais impressionam são os músculos do pescoço, que saem todos para fora parecem que vão rebentar a veia jugular, torna-se num enorme tubo que alimenta o Cérbero, e que o mata de raiva,.
As espadas, ficam encandescentes tal é a violência, deitam labaredas que só, os seus olhos vem, a limalha que libertam são pequenas farpas, que se cravam na carne descoberta por milhentos cortes, fio da espada a bater na carne rasga-a irremediavelmente, os cabelos acompanham o movimento dos braços, cabelos fartos encharcados de suor.
O grito que é solto quando a espada entra pela carne, mais não é que o grito de uma mulher virgem, penetrada pela primeira vez num acto continuo e violento.
Apeteceu-me

(Este faz parte de uma série de textos dedicados ao São valentim)

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Mata do Medos ( receios )

Mata dos medos

(...) 8 da noite, o Sol começava a baixar, na Mata dos Medos, sentia-se a brisa do mar, ouviam-se as ondas a bater, estava uma temperatura amena de Primavera.
3 miúdos, atrevidos que faltaram a escola, andavam por ali, pelo meio do pinhal, a natureza que ao sol se mostrava estava agora a esconder-se, viam-se tocas de ratos de campo, zimbros, troviscos, medronheiros e carrascos, ouviam-se o chilrear de pássaros de muitas espécies, era um cenário pintado quase a mão, uma mata mandada plantar por D. João V, já naquela altura era assim que se travavam as dunas.
Aqueles 3 miúdos andavam a colocar visco nas arvores,(um suco glutinoso que se extrai da casca do azevinho, com o qual se envolvem as varinhas para apanhar pássaros), era desumano, ver os pássaros a lutarem contra aquele, suco que mais parecia ranho, aquele ranho esverdeado nojento acabado de sair das narinas de um carnautaro, ou de um tiranossauro, mas aqueles miúdos não pareciam ficar muito comovidos com o assunto, ficavam felizes riam-se do sofrimento, dos pobres pintassilgos.
Um melro, com o seu bico de cor de ouro, observava atento, o que se estava a passar, assobiava melodias tristes parecia estar a adivinhar o fim de alguns das sua espécie, mas, não se deixava enganar, o cheiro do visgo servia de repelente, ao melro.
A noite caia abruptamente, os 3 amigos viam-se de repente numa situação complicada, muito complicada, os pinheiros mansos pareciam fechar-se entre eles, que entrelaçavam as suas agulhas para taparem o céu .
Pouco ou nada se via, sentia-se o cheiro a maresia, mas adensavam-se outros odores, sentia-se o cheiro a medo, estavam ali os 3 parados costas com costas, formavam um tridente, ao mínimo movimento, os sons criavam ainda mais medos, os galhos a partirem-se debaixo dos pés, serviam para as cabeças ficarem geladas, os olhos encherem-se de sangue, o corpo ficar hirto, a pernas ficarem bambas.
Estavam , acagaçados, amedrontados, apavorados, naquela altura, a Mata dos Medos parecia estar em pequenos murmúrios.

- O mais novo do grupo, o João, pensava nas coisas que o irmão mais velho lhe costumava contar, no homem que raptava jovens para depois os comer, que geralmente se arrastava pelas matas, era um homem muito grande, vestia-se a com gangas e aproveitava-se do restos de trapos que encontrava por aqui e ali e, enrodilhava-os a volta do corpo, diziam que era Húngaro que, tinha vindo para Portugal para jogar a bola mas um desgosto de amor emaluqueceu-o e, comeu a namorava que o enganava, que a partir dai nunca mais foi visto sabe-se que anda pela Mata dos medos, que o seu cheiro nauseabundo o persegue e, quando o vento lhe dá de feição os cães uivam como os lobos.
O Irmão, lembrava-se ele também lhe disse que ouve uma vez um grupo de 3 miúdos que desapareceu, só encontraram um sapato sujo de excremento humano.
O João estava assustadissimo, ao mínimo respirar dos seus amigos, dos murmúrios da mata, do som da coruja, do cantar do melro, ele estremecia, no seu pensamento só queria sair dali, queria gritar, mas os seus lábios estavam imóveis , da sua boca não saia qualquer ruído parecia que estava cozida, estava completamente petrificado.

- O Rodrigo que era o mais espiritual do grupo, era um miúdo negro, de raizes profundas Africanas, os seus olhos lentamente começaram a cerrar-se, sentiu um formigueiro pelo corpo, começou a sentir a Mata, as suas Almas perdidas que esvoaçavam por ali tipo balões soltos a despejarem.
Começou a recordar velhos feitiços que ouvia contar lá em casa à sua avó, ela uma velha macumbeira, amada e odiada por todos, recordava de estar escondido na escuridão, afastava silenciosamente a cortina feita de uma velha manta ribatejana, feita de mil cores escuras que representam o campo a cor do campo, afastava a cortina que dava para o quarto da avó, o único quarto daquela casa que só tinha um inquilino, recordava de ver uma imensidão abrupta de velas, milhares de pontinhos de luz acesas e o curioso é que a luz não brilhava muito menos alumiava, ouvia os murmúrios da minha avó a rezar e a evocar demónios e espíritos para derrotarem a paz de quem ela odiava, esses pensamentos eram tão fortes que quando abriu os olhos, parecia ter uma névoa de sangue, e a sua frente levitavam velas acesas no meio uma enorme poça de sangue onde se juntava com uma cabeça de um galo, as suas patas cruzadas, ao longe parecia ver-se o galo a esvoaçar sem cabeça nem pés.

- O Manuel era o mais racional de todos, mas aquela noite, ou naquela noite, só lhe apetecia chorar, mas a lagrimas saiam secas, a força que fez para chorar, ele sabia que o choro afastava o medo, urinou-se pelas pernas abaixo, o liquido escorria por cima dos seus ténis fazia um pequeno canal em direcção ao mar, de repente a urina começo a evaporar-se, fez como que uma nuvem, que se foi transformando num pequeno demónio, primeiro a cara da sua antiga professora, depois em formas rápidas, a do seu vizinho que todos os dias o espancava quando saiam da escola, depois do cão do seu avô que o mordeu quando era ainda bebé, por fim do seu pai, o seu rosto fechou-se, parecia querer sucumbir aquele episódio, estava palido.

Os 3 continuavam imóveis de costas voltadas uns para os outros, um triângulo perfeito, no meio desse triângulo, desse tridente formado, pareciam sair sons de pessoas, os sons eram cada vez mais fortes, começaram a ver vindo de todos os lados luzes, temiam o pior o seu fim.
Afinal eram só pessoas, pessoas a sua procura, tudo não tinha passado de um sonho mau, quando os 3 se voltaram, lá estava o galo sem cabeça e sem pés a esvoaçar, lá estava o pai do Manuel, lá estava o Húngaro refastelado a comer.


Apeteceu-me

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Renascer (de algum lado)

(...) caiu prostrado sobre si mesmo, curvou-se com um esgar de dor, pressionou com as palmas das mão voltadas para fora o seu abdomem. Estava curvado, de joelhos no chão a cabeça quase tocava naquela pedra de mármore fria, gelada, gélida, o seu rosto estava contraído, aliás como todo o seu corpo.
Aquele homem, aquela personagem era alguém, que passava despercebido a todos quantos por ali passavam, dos seus olhos quase negros, nem uma lagrima saia, mas encontrava-se muita tristeza, muita amargura, naquele momento não se percebia se era mágoa ou agonia, mas via-se que aquela dor não passava.
Do sitio onde me encontrava via-o parado na sua própria decadência, a sua volta o frenesim do dia a dia das grandes cidades, as pessoas passavam, indiferentes aquele Ser, aquele que estava em dificuldades, passavam e nem olhavam, era o desrespeito total por uma vida, pela vida mesmo, aquele homem representava uma vida aos olhos de quem olhava, era mais uma vida, será que se perdeu todo o respeito pela vida humana?
Mas não, não valia a pena estar por ali a preocupar-me, fixei novamente o meu olhar, ali, naquele homem, naquela vida que eu receava que se estivesse a esvair, que estivesse perto do estretor da Morte, estava vestido normalmente, de calças de ganga umas calças de ganga, normalissimas gastas do uso, de algum uso, via-se que era uma pessoa com posses, notava-se que tinha o mínimo cuidado a vestir-se e a arranjar-se, a camisa estava engomada, o cabelo estava esgardunhado, pelo momento, estava desalinhado pelo momento, imagino o que se passaria, ali naquele momento naquela penumbra, provocada por aquela floresta de pernas, que se movimentavam ritmadas, num passo certo em direcção a nada, ou a tudo ás suas vidas, mas uma ficava definitivamente para trás e ninguém parecia importa-se, importava-me eu, não conseguia deixar de pensar e de ver aquele Homem aquela pessoa, aquele ser.
O dia estava brilhante, brilhante do sol que estava sumptuoso, apesar de alguma brisa que fazia por vezes abanar as folhas das arvores que rodeavam aquela enorme praça algures por ai, adorava aquele bruá misturado com o som da folhagem que insistia em se digladear sem motivo aparente.
O sol, por vezes visitava o nosso amigo, na sua agonia, o meu olhar agora percorria todo aquele cenário, até voltar a centrar-se e a concentrar-se ali.
De repente o corpo começa a movimentar-se a sua cabeça, começa a erguer-se, os seus ombros a esticarem-se a alargarem-se, pareciam que os seus olhos quando se abriram deitaram laminas de luz pela indiferença de todos quantos passaram por ele, ergueu um joelho, depois outro e de cócoras, perante a mesma multidão que não deu por ele, ergueu-se sem esforço, com as mão ainda a segurarem o abdomem.
Terá percebido? Percebeu, via-se na sua face, que estava ali sozinho, mas o seu rosto abriu-se, como uma flor que desabrocha. Aos meus olhos, aquele corpo renascia das cinzas, cintilava, para trás tinha ficado uma combustão violentíssima, que ardia de uma forma desorganizada, aquela dor, serviu para se erguer ainda mais forte com mais vontade.
Os meus olhos estavam a ficar embargados de um turbilhão de emoções, mas aquilo que eu sentia, estava longe muito longe.
Lá de longe vi aquela personagem, aquele ser, olhar para mim, saiu de rota de colisão, daqueles seres banais, vulgares até mesmo ordinários, odiava aquela mesquinhez, odiava mesmo, parecia, que tudo estava a andar a roda a rodopiar, mas não. Que estranho parecia estar a ouvir Red Army Blues dos Waterboys, e ai vi aquela personagem abrir os braços, vi aqueles olhos quase negros ganharem a sua cor normal, esverdearem como a agua do mar, como o gotejar da floresta Amazónica, a cabeça com um leve impulso virou-se para cima o, olhos olharam para o céu e num movimento brusco entrou em mim.
Em mim que estava prostrado sobre mim mesmo, com um esgar de dor, a pressionar com as palmas das mão voltadas para fora o meu abdomem. Estava curvado, de joelhos no chão a cabeça quase tocava naquela pedra de mármore fria, gelada, gélida, o seu rosto estava contraído, aliás como todo o seu corpo.(...)


Apeteceu-me

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Ponto Final

Ponto Final



(...) Eram para ai uma cinco da manhã o frio apertava, naquele pequeno espaço que o Miguel tinha para trabalhar, chamavam-lhe escritório, ficava bem chamar-lhe, aquele nome pomposo, que mais não era que uma sala onde a musica corria como fonte de inspiração, melodias desgarradas, suaves com uma violência que só os seus ouvidos conseguiam imaginar.
Viam-se os fluxos de sons de cores violentas e garridas, a entrarem pelos canais auditivos, nessa altura a cabeça do Miguel parecia, um enorme raio X, com correntes coloridas a circularem-lhe pelo Cérbero, estavam ali os estímulos para a sua escrita, para o seu trabalho, aquelas musicas eram escolhidas ao acaso mas a sua imaginação dava-lhe o toque e requinte de malvadez.
O Miguel era um escritor de casos “Estranhos” casos complicados que se complicavam ainda mais aos seus olhos, uma pequena historia, passava de mero episódio do dia a dia, a historias rocambolescas, férteis em impossíveis passagens pela imaginação do Diabo, chegavam a ser geniais tal era o empenho e o brilhantismo com que os seus dedos percorriam as letras do teclado.
Naquela noite, ao som de uma concertina, uma melodia desmedida com ajustes de sintetisadores, e com batidas inexistentes, escrevia mais uma « estória », o frio apertava, estava embrulhado num cobertor, a cabeça coberta pelo capuz da sua camisola, as mãos geladas batiam com força no teclado, a velocidade das sua escrita, das suas mãos a deambular pareciam fazer luz encandescente a seguir o seu rasto, sem nunca conseguir acompalha-la (a mão e a escrita) pareciam uma sombra mas, despegada do seu gémeo.
Raramente fixava as palavras que apareciam no monitor do seu computador, mas naquela noite, estava a tentar perceber uma palavra que tinha escrito, que tinha saído sem nunca a ter pensado, sem nunca se lembrar que ela existia, uma palavra inexplicável , tão indecifrável que nem me atrevo a escreve-la, por varias razões, por falta de compreensão, por medo dela, por aquilo que pareciam ser inevitáveis vontades da própria compreensão e da própria palavra que parecia ter vida.
O olhos começaram a fixa-la a palavra começou lentamente a encher o ecrã, a desfocar e a crescer, a ficar enorme até ficar uma letra só, depois seguiu-se um bailado violento de troca de letras com a mesma palavra, por vezes parecia um jogo de sinónimos , pareciam querer dizer alguma coisa, algo de irreal existia por ali, seria uma mensagem, seria a terrível dor da solidão, seria a verdade da razão do trabalho do amontoar de « estorias » naquele Cérbero.
De repente, começou a ver os seus olhos a ficarem focados no monitor, a crescerem estavam vermelhos, viam-se os milhares de canais a encherem-se de sangue, veias minúsculas a serpentearem pelo reflexos dos olhos, entrou em apeneia, mergulhou olhos abaixo a procura de referencias das suas perplexidades, naquele momento estava irresoluto, as suas ideias estavam reféns da sua indigência, faltava-lhe algo ele sabia que lhe faltava algo para o fim ser diferente de todas as outras histórias, esta era aquela « estória », como se costuma dizer a que separa os bons dos muito bons, aquela história que pode definir o teu grau de humildade, só os génios tem capacidade para serem humildes os outros vivem da hipocrisia que teimam em confundir com humildade.
No corrupio e na complexidade do seu Cérbero que ele as vezes teimava em dizer parecer-se com os indistintos, só que colocados de forma diferente. Esta era aliás a única piada que costumava contar a si próprio, nunca se ria, mas sorria, sorria muitas vezes, aquele sorriso quase patético que, por vezes embalados por goles de puro whisky, quando irrompe goela abaixo, a queimar tudo a sua passagem, até aterrar e acamar no estômago, o rosto como reflexo, ganha formas, as sobrancelhas franzem os olhos cerram, as maçãs do rosto ganham covas, a testa fica enrugada e os dentes agridem-se tal é a força e a pressão que fazem, depois quando este percurso do whisky chega ao fim o rosto abre-se e fica aquele sorriso patético, de dever cumprido.
Enquanto se media por dentro, percorria as varias fases do seu eu, o frio fazia-se sentir cada vez com mais força, as mãos estavam paradas sob o seu colo a uma pequena distancia do um outro mundo seu, de uma outra viagem de um outro pesadelo, mas naquela altura com o corpo curvado, de olhar fixo, no monitor, ele sabia que estava a curtas distancias de muitas coisas, mas o que interessava era aquela « estória » era a palavra indecifrável
Os seus olhos ensanguentados, começavam a desaparecer, parecia um rewind, as letras pareciam estar a fazer a dança ao contrario, começavam a sair uma a uma, até voltar ao texto original e a tal palavra ficar arrumadinha, no seu lugar, onde agora tudo parecia fazer sentido, e foi ai, que o cansaço e o sono no meio de uma melodia bucólica do Jonh Lee Hooker, fez com que o Miguel caísse, prostado em cima do teclado e naquele momento, a historia ficava completa, a « estória » que fazia dele um génio estava terminada, foi assim colocado o PONTO FINAL.


Apeteceu-me

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Dumbo...o jumbo da selva, é um Babe, que só visto!

Estava lindo de maiôt, apesar dos seus 130 kilos, dançava como ninguem... aquelas sapatilhas de pontas é que me davam cabo dos nervos.
Nunca tinha visto o Dumbo, tão feliz. Um sorriso contagiante. Um dançar deambulante. Cada vez que rodopiava, criava tornados.
Foi ai, que o Homem Aranha teve aquela depressão, era inenarrável, os ciumes que ele tinha da Viúva negra, o Dumbo esse ganhou os 100 metros mariposa.
Também pudera!!! Mal se atirava à piscina, não havia água que resistisse... a própria gravidade tinha um medo, que se pelava, desta doce criatura.
Foi ai, que o Batman resolveu sair de casa, aborreceu-se de vez com o seu mordomo e bateu com a porta. O Dumbo nesse dia, fez um voo rasante ao ovo de colombo.
O Batman, andou de tal forma descontrolado e triste com a situação do mordomo, que assumiu que era gay quando, em vez do seu feixo de luz normal... o símbolo que era agora avistado no céu, às altas horas da noite, era um coração, bem redondinho.
Ca gay qual quê, o Batman? Não!... não pode ser! Ainda me lembro como se fosse hoje, aquele namoro desenfreado com a piriquita da Mulher Gato e o Dumbo continuava à procura de Kleenex para a sua tromba.
De trombas ficou a Mulher Gato, quando descobriu o Batman, com o seu fato semi-despido, enquanto fazia um striptease, para o fiel mordomo.
Era uma ideia diabolica... tudo isto era um esquema, para o homem pinguim o apanhar com as calças na mão ; e o Dumbo andava triste, à procura de sabão azul e branco.
A verdade é que o Homem Pinguim, gostava de apanhar o sabão sempre que ía ao ginásio, principalmente, quando o Conan ía às aulas de Hidroginástica.
O homem rã??? Esse Conan era fresco, era uma bela peça uma arma de arremesso, uma valente argamassa, mas diziam as más linguas que passava a vida a procura, porque tinha mirrado.
Era o herói da Trafaria e da Ana Faria e os queijinhos frescos. Comia que nem um desalmado e metia as culpas, nos Três porquinhos e nos Sete anões. Estes, que desde que entraram no videoclip dos Rammstein, já foram deixar as mini-pegadas, no corredor da fama, na feira popular.
O pior e o que eu acho mais incrivel, foi o Mike kososvky a apanhar berbigão, foi uma sensação, mas nem o passeio da fama que tinha 20 cm, e ele tinha 23 de pé, parou de gritar sons estranhos, buhh,buhh ; e o Dumbo continuava a fazer vento para a corrida de wind surf.
O problema foi que o Bambi, que fazia wind surf pela primeira vez, não sabia nadar e quase se afogou, não fosse o corajoso Nemo e as suas amigas tartarugas irem salvar a pequena criatura.
A assistir a tudo isto, de coração nas mãos estava o avô cantigas, que cantava descontrolado:
Vamos fazer amigos entre os animais...amigos destes não são demais, na vida!.
E foi ai que a Serenela Andrade ficou famosa, quando emitiu aquele grunhido que ficou para sempre gravado nos ouvidos do porquinho Babe: «Os Animais são nossos amigos».
Depois apareceu a Britney Spears, que morria de amores pelo porquinho Babe e lançou aquele tema, que a catapultaria para o sucesso Mundial: Hit me Babe, one more time!.
Aí acordei ao lado da Mona Lisa e disse: “Porra mais vale morrer do que perder a vida”.

Escrito por Tânia T. e Carlos Barros (Kula)... a parceria dos post-it ... desta vez Silver, dedicados ao nosso amigo Miguel M. aka cha_no_deserto, numa tentativa de festa, de pagode, de amena cavaqueira pimba animada, com direito a super-heróis e aspirantes ou pseudos.

Apeteceu-me

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Vazio de Cores

(...) As palmas eram merecidas, mesmo muito, o grande Mestre, que tinha chegado das grandes cidades, afinal tinha feito desaparecer todas as tristezas daquela pequenina Aldeia.(...)

(...) Ela entrou de rompante, apareceu em palco e não se intimidou, mesmo com as luzes a baterem-lhe de frente e pela frente, no seu desnudado corpo, mesmo sem saber se havia muita gente a assistir ao seu desempenho, aquela rapariga vinda da Aldeia não mostrou medo à grande cidade. (...)

Entre a Cidade e a Aldeia, ficava o Vazio, podiam ser uns parêntesis, uma fase intercalada ente os dois espaços, nas extremidades daquele buraco ficavam duas vidas, mas ali nada existia nada a não ser uma tela pintada a negro, podia-se tentar visualizar, sintonizar mesmo paisagens, lindas e belas verdejantes, montanhosas, sinuosas, brilhantes, com vales, valinhos, rios, ribeiros, ribeirinhas, arvores, arvoredos moitas, cães, gatos, coelhos, pássaros,tudo, mas uma cortina cinzenta transparente teimava, em cair sucessivamente naquele vazio espacial.
Naquele desprovido, desocupado e destituído caminho, podia fazer-se uma auto estrada de sons, estridentes contínuos, com ligeiras protuberâncias, ligeiras bossas, no aproximar desses sons que atingem velocidades irracionais, velocidades fora do controlo humano, aqueles sons formavam uma musica com batidas ritmadas, na ordem dos 60 batimentos por minuto mais coisa menos coisa, era uma musica ao ritmo cardíaco.

(...) No meio dos movimentos do Grande Mestre, movimentos estudados, pelos anos de saltar de Aldeia em Aldeia a levar o seu espectáculo de Magia e ilusionismo, movimentos quase graciosos, que levavam o seu longo manto, capa, isso mesmo a sua enorme capa a esvoaçar a passar pelos rostos das pessoa que se sentavam na primeira fila,incredulas e de boca aberta, num desses movimentos enquanto na sua enrugada mas hábil mão, mostrava um baralho de cartas, tudo parou a sua frente.(...)

(...) No calor e no meio de bafos ressabiados, de gentes ávidas de ternuras fictícias, de gentes que se alimentam de sonhos, naquele palco sozinha mas sem se intimidar com aquela panóplia de gentes que estavam ali para a esturpir das sua vida para se alimentar da sua graciosidade, eles que sonhavam um dia em ter uma mulher assim na sua cama, elas que sonhavam e fantasiavam um dia poderem dançar assim.
Num dos seus saltos que a tornaram famosa, num axel numa perseguição dantesca imaginaria, ficou suspensa no palco e na sua respiração.(...)

Naquele corredor de som que se abriu, no lugar vazio, sem tempo onde aquelas almas se cruzaram, onde a bailarina, regressou a Aldeia que a viu nascer e o Grande Mestre voltou a Cidade onde teve noites de gloria.
No cruzamento, daquelas Almas daqueles espíritos, no meio daquele vazio daqueles parêntesis, estava uma caixa vermelha, vermelha com o Sangue.


Apeteceu-me

domingo, fevereiro 06, 2005

E eu a julgar que Bono era o meu nome do meio

Hoje chamaram-me melómano, é uma pessoa que gosta de música o pior é que me segredaram que eu melómano, vejam só, guinchava quando tentava cantar, guinchava ou gritava, berros mesmo estranhos e horriveis, qualquer coisa assim do género.
Toda a vida me julguei um cantor esplêndido, um cantor acima da média, sempre cantarolei no chuveiro, e nunca ninguém me mandou calar.
É verdade que nunca quis ir à Chuva de Estrelas, nem ao Ídolos, nem a coisas do género, mas acredito que podia ir ali a um qualquer bar, para os lados da Brandoa, ou da Rinchoa ou coisas terminadas em «oua».
Penso que com a minha farta cabeleira loira, poderia imitar a Sharleen Spitteri, a cantar aquelas melodias dos Escoceses Texas, aliás sempre achei que eu de Kilt ficaria a matar.
Mas como é que alguém da Escócia, da terra do Whiskie, pode se chamar Texas, da terra do petróleo e do Sr Bush.
É obvio que eu percebo no fim de ver o Paris Texas, de Win Wenders. também eu meteria o nome de o filme a qualquer coisa que me aparecesse a frente, e aquela banda sonora do Ry Cooder, é alucinante.
Mas não posso esquecer que, do que disseram de mim:
« emite uns berros estranhos (e horríveis) quando ouve música de que gosta. Penso que devem ser como os que emite quando sente arrepios ou vertigens.»
É a maior frustração da minha vida, nunca me tinha dito tanto mal, mas a verdade, é que eu canto mesmo mal hoje percebi porque o meu cão passa a vida a uivar quando eu canto, é que ele tem os ouvidos muito sensíveis, obrigada Nu pelo aviso.

* Estou um bocado frustado o Sporting acabou de perder 0 - 3 com o Maritimo e merecido é isso que me irrita.

Apeteceu-me
Não me levem a mal

Pancada X (dez)

(...) Eu as vezes fingia chorar, mas não era nada de especial, é aquelas coisas que nem nós acreditamos, remoemos, remoemos, mas nada, aliás eu chorar chorava, mas de ter o quarto assim desarrumado, mas podia-me gabar que era um desarrumado com estilo, tinha pinta o meu desarrumado, tinha encanto, fazia-me lembrar aquelas vedetas que iam ao cabeleireiro só para se despentearem, aliás lembro-me dos Aerosmiths o Steve Tyler, aquela mão cheia de homem, dizer qualquer coisa tipo « vocês não sabem quanto custa ter este mau aspecto », o dele coitado era a borla foi mesmo de nascença era um misto entre um carro estampado e um galo da índia.
O meu quarto era assim, tinha umas cores estravagantes, eram a chamada aberração contra natura, era uma amarelo cueca a roçar canário, com um verde frigideira com alfaces, os acessórios foram tonalidades extras que vieram dos meus próprios domínios criativos, processos que para um comum normal demorariam anos, muitos anos, grande maioria nunca descobriria e, se descobrissem batatas e, para mim apenas segundos, resta referir claro que ninguém, a não ser eu, a sobredotada da fava rica, é que podia fazer uma coisa daquelas, claro que tenho de dizer a verdade, ainda não o tinha feito e já estava arrependida, só faltava lá escrito em letras garrafais, aqui Jaz a minha virgindade, nunca o fiz por, por, por, nunca o fiz porque nem queria pensar na minha virgindade, pensar para quê já foi a tanto tempo, eu queria era pensar o que dizia aquela carta isso é que eu queria e também não me importava nada de saber o que se terá passado.
Sentia-me cansada com vontade de fingir comigo própria que estava a desfalecer, mas estava ali já algum tempo e só mesmo os olhos andavam e de que maneira até pareciam fora de orbita, pois deviam mesmo estar prestes a chegar a Marte, pois porque a vénus nem de camisa, andava mesmo traumatizada, mas agora até que comia uma chiclete, era mesmo o que me apetecia para tirar este hálito a noite, a noite e que noite de algumas doses ou shots de cavalo, mas siga a marinha.
Estava aqui a pensar quando fugi de casa, tinha para ai os meus 17 anitos, as coisas que uma pessoa faz quando não pensa, tudo porque roubei no supermercado do Sr Romão e fui apanhada, ele disse que ia contar a minha mãe, foi uma vergonha, eu que era considerada uma menina modelo, era uma óptima estudante, conseguia ajudar toda a gente, era muito simpática, sei lá aquelas coisas que as pessoas te dizem quando estás com os pais que só te apetece grunhir, e seres mal educada e dizeres para irem todos comer, qualquer coisa que os enfarte.
Ora então naquele dia como nos outros, eu não era cleptomaníaca, mas devia de andar lá perto, adorava roubar, roubar por roubar, era gamar, desviar dos donos, apossar-me do que não era meu, na pratica era meu desde que lhe metesse com a vista um papel invisível a dizer que era meu.
Ora nesse dia a coisa correu mal, não é que filei um chocolate daqueles enormes e prendi-o entre a minha saia e a blusa, perfeito mesmo não se notava nada, esqueci-me de um pequeno pormenor, um pequeníssimo pormenor, um insignificante pormenor, é que a blusa era uma daquelas blusas aos « fuinhos » que se usavam naquela época, estava a pagar a minha chiclete diária, e o bom do Sr Romão disse-me:

- Olá bom dia a quem é uma flor
- Bom dia Sr Romão como está, e a família, os meninos estão bons?
- Sim Palmirita, estão óptimos
- É para pagar a pastilha (disse eu)
- E a tablete também não é Palmirita? (insistia o Sr. Romão)
- A tablete? Está a brincar, não está? (dizia eu Irritada, mas a ficar aflita)
- Não, a Palmira a menina está a brincar comigo ? (dizia ele furioso)
- Claro que não estou (Dizia eu cada vez mais, claro)
- Então o que tem debaixo da camisola? ( deitava fumo)
- Nada claro que não tenho nada !! (aqui eu já à procura de um buraco)

Tentei levar a minha até ao fim esse foi o mal, quando olhei para baixo e vi aquele cenário, nem estava acreditar mudei de cores 29 vezes, ia-me dando uma coisinha má e depois, quando uma pessoa precisa de mais raciocínio rápido e estupidez natural, não, ficamos com raciocínio estúpido e estupidez rápida, se não é assim é parecido ou seja fui uma completa idiota.
Ele apercebeu-se da coisa e vai dai, começou aos gritos e ai a coisa ia dando mesmo para o torto, pensei o pior quando agarrei numa banana para o atacar, ainda a apontei a cabeça, mas depois arrependi-me podia dar prisão e ainda era muito nova, e vai dai deixei a tablete e fugi. (...)
Apeteceu-me

sábado, fevereiro 05, 2005

Rosa-Choc...e um cruzar de pernas!

(Dois amigos ao telemóvel)
-Rosa-choc uma ova, a vida continua porque tem de ser assim, ela mesmo de oculos até que era uma rapariga bonita.
-Estou a dizer-te Rafael. Naquele dia nem parecia ela. Vestidinho rosa-choc, malinha rosa-choc, era tudo rosa-choc.
Fiquei em choque!
Sabes bem que sempre tive um fraquinho por ela, mas nesse dia, odiei-a.
-Pois é Pedro, ela estava muito choque, mas mais chocada, disseram-me que o gajo com que ela andava, era artista de circo, e ela herdou aquele fato, mas o teu fraco por ela não tinha a ver com as orelhas?
-Ouvi dizer que ela era boa contorcionista. Bem... esse gajo, ex-namorado dela, contava tudo aos amigos.
O que ele não sabia, é que eu tinha uns amigos, de uns amigos meus, que sabiam das histórias todas.
Rafa, nem imaginas os sonhos, que eu tive!!!
-Pedro não me digas que continuas a sonhar com estrunfes! Que raio de sonhos, eles atacam assim, mordem mesmo os dedos dos pès? Que raio e sonhas a cores com legendas?
-Ah, que mordem, mordem...se eu te contasse!!!
Cores, legendas e tudo a que tenho direito.
Pelo menos em sonho, sou eu que controlo tudo.
-sim, mas esse controlo, anda sem pilhas, mas conta-me uma coisa não a achas muito naif pedro?
disseram-me que aquele namorado vegetariano dela foi com ela para tras de uma moita e «comeu» amoita nunca mais usou cabelo laranja.
-Não, que não tem pillas. A minha ex-namorada, a Mónica, até me comprou uma régua, para medi-la. Disse-me que nunca tinha visto nada assim. Era uma festa!
Eu, não me importo nada que ela seja naif!!!
Melhor ainda. Mais fácil é , de lhe dar a volta, não achas?
Era cá um cromo, esse namorado dela...chiça, penico!
-Ontem ouvi o shrek dizer isso, mas não achas naif? O que achas que é, uma gaja que pensa que desabrochar é tirar da boca?
-Acho-a uma flôr. Ela é aquilo que eu gostava que todas as outras fossem.
Só me dão é chatices!
Se fosse muda, então é que era um troféu dos Deuses.
Acho que não vou aguentar-me, sem ir ter com ela.
Vou lá ter com ela, agarro-a de uma vez e ZZZZZZZZZZttttttttttttttttttt.
O que achas Rafa?
-O que eu acho?! Queres realmente saber?
-Quero!!!!
-Acho que a ela é a pessoa ideal para ti, só há uma coisa que me intriga bastante, onde é o pipo para a encheres?
-Ok, Rafa...Adeusinho! Hoje vou comer algodão-doce!

Escrito por Tânia T. e Carlos Barros (Mr. Kula), em post-it rosa-choc.
Dedicado ao nosso querido amigo, Miguel M. Cha_no_deserto. :)

Apeteceu-me

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O carnaval que nunca vi

(...) O cheiro a lodo era intenso, mas era compensado pelo magistral envolvimento entre os canais, e aquelas construções medievais, realmente Veneza era precisamente com um dia sonhara.
Estávamos no meio do mês de fevereiro, era a grande festa, o mês da grande festa, era o carnaval de Veneza, o carnaval mais elegante do planeta.
Estava ali toda a sua mística, todo o esplendor de uma cidade, podíamos dizer, até concluir que era um intervalo no tempo, aquela cidade parava durante 2 semanas para observar o luxo, o mistério, o esplendor a extravagancia, aquela ostentação e magnificência, de milhares de personagens que desfilavam pela cidade Sereníssima.
Casanovas, arlequins, condes, condessas e muitos protagonistas disfarçados sob máscaras de inspiração mitológica e nobre brotam pela cidade .
Eu via, descobria mistério em todas as personagens, escondiam-se, seduziam, fugiam pelas praças, ruas e vielas da localidade, depois de olhar sob as mascaras que lhes tapam os rostos, «escondem-se» dentro dos amplos e tradicionais salões dos velhos palácios, e velhos e centenários bordéis.
Veneza que nasceu no século V, que foi uma das Capitais mais importantes e ricas da Europa medieval.
Lembrava-me ainda no dia em que Napoleão, o pequeno grande Napoleão que um dia, fez Veneza sucumbir aos seus encantos bélicos.
Mas aquela Veneza, que eu estava a ver, ali bem no meio da praça de São Marcos, provavelmente a praça mais conhecida do mundo, a par de Tienanmen de má memória.
Dizia eu, rodopiava de braços abertos, naquele magnifico cenário e via no meio do nevoeiro, o campanário, a torre do relógio, o palácio ducal, quase imperceptível, à direita, e os edifícios dos procuradores de São Marcos, parcialmente encobertos por arcadas temporárias, onde eram exibidos os produtos mais apreciados do artesanato veneziano, também conseguia sentir o cheiro a paramento que vinha da Basílica .
Mas diziam-me, sopravam-me murmúrios que aquela praça era linda, decorada para a realização do mais sumptuoso festival de Veneza, a Festa della Sensa. Este acontecimento vivia no Dia da Ascensão a cerimónia de celebração do casamento simbólico entre Veneza e o mar, era a evocação da vitória longínqua que dera à cidade o controlo naval daquele mar muitas vezes desconhecido que se chama Adriático.
Mas era ali, naqueles canais sob um manto negro, que seguia caminho numa gôndola qualquer sem numero, espaço ou tempo, segui viagem para outros mundos para outros carnavais, aquela sedução, aquela gente de repente ficou imóvel, parou.

Apeteceu-me

* Metade destas coisas fui pesquisar e descobrindo em sites porque não conheço Veneza, tabem me lembro de muitas coisas do Tomb Raider.(hihihihih)

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Cheiros e outras cores.

Senti os seus lábios bem perto do meu rosto, eram quentes, aconchegadores, se é que esta palavra existe, mas existe aquele cheiro, aquele, eu sei que existe, um misto de cheiro a terra molhada com lã acabada de lavar, tinha um leve aroma a sândalo, era um cheiro agreste, um cheiro de prazeres, uma mão cheia de sabores, uma panóplia de pensamentos.
Não sei se acontece com mais gente, mas os cheiros a mim confundem-se com cores, imagino o amarelo, e sinto-lhe o cheiro, um puro aroma a limão, cheira-me a cabelos molhados, desfraldados, cheira-me a trópicos se bem que o verde lima, também cheire, a Brasil, a Picanha com feijão, a corpos bronzeados, a caipirinhas sem fim, cheira a praia, cheira a praia e a bronzeador.
O verde, ai o Verde cheira-me a erva, relva, a campo a corridas vertiginosas, cheira-me ao prazer de rebolar pelo chão, cheira-me a alface, couves e uma sopa de caldo verde, mas não me cheira a chouriço, mas o Verde cheira-me a esperança, cheira-me a titulo, cheira-me.
O vermelho mata-me, o cheiro a sangue que se espalha, aquele odor a hospital, a uma fé carnal, cheira-me a dias de espera, cheira-me a hálitos incontrolaveis e incontornaveis, nos prazeres e na arte de sedução.
O Branco cheira-me a pureza e a beleza, tem fragrâncias que não se atingem, o seu cheiro está num patamar onde a abundância de sentimentos são inalteráveis lineares sem a chama nem a cor da imprevisibilidade, o seu cheiro acalma, acalma as mente prodigiosas que teimam em fugir daqui, deste mundo de cheiros.
O azul, cheira a tenacidade, cheira a perseverança, a apego, cheira a outras luas outros céus cheira as partes mais intimas do sentimento, são dias de consentimento esses cheiros, depois tornam-se cinzentos com o passar do cheiro e do tempo, fica um cheiro rotineiro, um leve cheiro como uma brisa branca.
Temos o castanho, que cheira a floresta, onde as suas essências aromáticas se traduzem num cheiro a morte agradável, falamos de folhas, de uma vida que se recicla, um cheiro a uma morte que mais não é que o renovar de vida, o castanho cheira a outono, cheira a abandono é uma passagem para outras cores noutros sítios, cheira a procura incessante do Arco Íris, do seu perfume que se reduz, aqueles lábios bem perto do meu rosto, que a minha mãe teimava em beijar, vezes sem conta.

Apeteceu-me
Kal, vá homem não desanimes dá cor e cheiro a esta BD, que é tua