terça-feira, maio 31, 2005

PINTURA (PAZ)

Fotografia tUa


(...) Sentia-se cansado, sua vida parecia um carrocel.Andava a uma velocidade alucinante cheia de altos e baixos ao som de musica comercial, muito foleira.
Estava prestes a cometer uma loucura, uma daquelas loucuras que não lembra ao diabo.
A sua cabeça, os seu pensamentos só pensavam em paz, em descanso e numa vontade quase alucinate de se sentir calmo.
Aquele parecia um dia perfeito, se não perfeito quase perfeito, com um ritmo próximo do seu pensamento, para cometer o seu acto de loucura, o seu disparate, a sua forma de se deixar, de deixar de ficar aborrecido.
Não entendia ainda muito bem o porquê do despertar de todas aquelas emoções, daqueles perfeitos disparates que pairavam ali próximo do seu esprectro.
Apetecia-lhe muito ter calma, paz, sossego de espirito, serenidade, essas coisas que por vezes acontecem.
Sabia que isso podia acontecer ali, ali era o sitio onde tudo isso podia ser atingido.
E ali estava ele a olhar para o Mar, estava calmo... o Mar e ele também, estava verde claro, o vento soprava fraco, um tudo nada mais que uma ligeira brisa, o céu estava limpo, ao longe viam-se gaivotas, sinal de embarcações de pesca por ali. Havia um silêncio quase fantástico e curioso... estava sózinho na praia, sozinho não.. conseguia ver um cão de grande porte, com um pelo enorme mas muito bem tratado, acastanhado claro, um pelo muito brilhante, corria e pulava atrás de uns estranhos carangueijos, que pareciam submarinos,mas com muitas pernas, ali bem perto podia ver aos saltos uns animaizinhos pequeninos, quase transparentes aos saltos, eram umas pulgas do Mar, umas... é uma maneira de dizer, uns milhares.
A boca estava seca, podia-se ver aquela crosta esbranquiçada nos cantos dos lábios, podia traduzir algum nervosismo, mas aparentemente estava tranquilo, podia ser sede mesmo, a sede de chegar onde queria. Despiu a sua t-shirt, pode ver-se o seu tronco, um pouco anafado, mas contornado, de linhas quase perfeitas, ou da perfeição que não andava por ali, mas quase. Retirou, ou por outra atirou literalmente os chinelos dos pés para o horizonte que ficava ali mais próximo, visto que atigiram uma altura consideravel, mas acabaram por aterrar ali bem perto.
Meteu os dedos entre os cabelos, depois cruzou os braços a volta do pescoço como se estivesse a abraçar-se, e começou a andar em direcção a água, lá bem perto começou a correr, mergulhou, e mal chegou com a cabeça fora de água começou a dar braçadas fortes, quando se sentiu com água bem profunda, deixou de dar aos braços, ficou ali uns segundos, respirou várias vezes fundo, depois abriu os braços deixou de dar às pernas e deixou-se afundar, o seu cabelo parecia uma planta marinha, enquanto o seu corpo ia descendo, os seus olhos estavam como o seu espirito a esvaziar-se, os seus pulmões iam ficando cada vez mais vazios, mas o seu semblante era de felicidade. Há sua volta, peixes de todas as cores e espécies, pareciam ignorar, o que estava por ali a acontecer, passavam rápido e em combinações ziguezaguiantes, lá em baixo escondidas no meio de rochas algumas anémonas, e outros animaizinhos, esquisitos.



Lá estava ele a procura, da paz de espirito e provavelmente de outras paragens, de outros mundos, de outras ilusões já que aqui neste, neste mundo, as coisas não lhe corriam de feição. Ele ali estava a ver tudo claro, o seu amor perdido, apesar de ser o seu unico e primeiro amor, mas a desilusão era enorme parecia que vinha acopulada com muitos e antigos amores, e ali estava ele prestes a ficar sem ar, a água começava a inundar-lhe os pulmões, o cerebro começava a ficar sem oxigénio e foi ai....
Foi ai que ouviu um berro da sua mãe para sair do banho, eram horas de ir para a escola.


Apeteceu-me

"Quem melhor que eu para me pintar por dentro!!" Charles de la Folie

sábado, maio 28, 2005

LOUCURA II

Loucura II


(...) Afinal tenho vinte e poucos anos, ok, escuso de me mentir a mim própria tenho trinta e muitos anos, e gosto muito de me sentir viva, gosto, adoro, amo sentir-me viva e o paspalho do meu marido, só quer é sofá, parece o Rei do Sofá, se calhar é o Gay do sofá! Será normal que um “ Gajo” mais novo que eu não se interesse por mim?
Acredito que se fosse uma chata, ou feia, ou mal feita, admito que ele estivesse farto de mim, mas eu nem sequer sou assim tenho a perfeita consciência daquilo que sou. Mas enfim aqui a psiquiatra sou eu, dá-me muito jeito tê-lo aqui por perto, assim evito paixonetas e sulipampa de alguém, posso sempre dizer que tenho muita pena mas tenho o meu marido, que precisa dos meu cuidados até que a morte nos separe, que é deficiente mental e precisa muito dos meus cuidados.
Custa-me estar sempre a pensar no mesmo, mas porra estou aqui com uma vontade, e aquele animal, coitados dos animais, ali o energúmeno está por ali a roçar-se pela cama, aquela boca aberta a maneira como os cabelos ou aquela coisa se espalha pela almofada, aquela boca aberta, que só me apetece meter-lhe uma maçã, parecia logo um leitãozinho pronto a assar. Esta é a grande verdade o que faz um energúmeno destes aqui em casa, eu só posso estar louca, ou então é amor, não posso ter casado com ele por interesse, só mesmo por amor porque interesse ele não tem mesmo nenhum, mas é a mais pura das realidades, curto muito mais o Cão Guru do que ele, preferia ter aqui na cama o bafo bichano do que o deste estranho que já vive comigo a não sei quantos anos.
Vou mas é fazer um belo cafézinho e ver se ainda há por aqui alguma daquelas brocas do pilitas, para ver como vai ser este dia que parece prometer, só tem que prometer com esta perspectiva de vida só pode mesmo prometer.
Quase que me atrevo a dizer que este prédio hoje respira expectativa e outras coisas mais que nem sei bem o quê, o ambiente está tão denso que se pode cortar à faca, não é que haja por aqui maldade, mas sim expectativa em relação a muita coisa, pelos ruídos que ouvi por aqui esta madrugada há por ai gente que deve estar com dores de cabeça que até dói só de pensar.
Agora tenho de pensar no meu cafézinho e na minha pequena broquinha se houver ainda por ai, temo que tenha ontem esfumaçado tudo com o champanhe, mas, espera ai, o que se passa ali na cozinha, está um nojo aquela cozinha, ai pois é, é sábado e a empregada não vêm ao sábado que gaita, vou ter de arrumar esta coisa toda, que nojo, as coisas que eu ontem comi, chantilly com fartura, ai que horror até admira hoje não estar mal da barriga, e o que é aquilo? Doce de amora? Céus a coisa foi mesmo violenta, foi, foi, ai e aquilo ali, nem quero pensar o que se passará na sala, estou a imaginar o filme, mas bom vou primeiro, arrumar ou dar uma arrumaçãozita por aqui antes de ir a sala, o energúmeno deve dormir até às tantas como de costume, esta cozinha mete nojo, e de que maneira não sei se me livro disto está toda lambuzada, cheia de nhanha, bom acho que vai ser serviço para alguém , ai acho, acho. O que é isto? Uma meia de rendas, por aqui, mas eu não uso nada disto, muito menos, bom o melhor é agarrar aqui nisto tudo meter para um saco e atirar para o túnel do lixo é capaz de ser muito mais fácil, porque assim nunca mais me safo. Bom e agora o melhor é limpar isto com estes toalhetes, que estão para aqui, isto até que dá jeitinho é muito mais prático, vai tudo de uma só vez.
A verdade é que estas coisas da lide de casa não são mesmo para mim, quer dizer, eu não me importo desde que não tenha assim muito lixo, adoro utilizar coisas novas, tipo aquelas que aparecem nos anúncios da TV, mas isso são outros 500 paus, porque apanho cada desilusão, tipo compre 4 pague 3, e eu compro se um é uma porcaria ou deito fora, os 4 ou então vou ter de gramar aquela porcaria durante 4 e longos pacotes ou embrulhos ou lá o raio que for, mas enfim nós somos assim é o mal de nascermos mulheres.


Apeteceu-me

Olha-me este !!!

"As vezes precisamos mais de nós do que de outros(falsos)" Charles de la Folie

quinta-feira, maio 26, 2005

SARDINHAS

"Estava a assar sardinhas com o lume a arder, queimei a pilinha sem ninguém saber... era a coisa que mais adorava... lalalalalalallalaal"
Abriu a época da Sardinha (oficialmente) cá no Burgo.
Esperava a visita dos Cunhados, mas pelos vistos foi vetada, pelo "Karma" que vos acompanha.
Presumo que o comité central não vos tenha dado autorização.
A sardinha sempre me disseram que se quer pequenina como a "mulher" ou será o contrário ou ao contrário, mas que se lixe por 5 € marcha tudo, quer dizer tudo não algumas coisas. Vinho do Pingo doce a 0.99 € só mesmo com 7 UP, mas estas coisas fazem-me lembrar o povo e por isso é o mais próximo que consigo estar da festa, festa !! Qual festa. A praia está o máximo por apena 2 € conseguem ficar longe da sardinha e do garrafão, porque sardinha ali só mesmo de faca e garfo, afinal é de faca e garfo que se consegue fugir aos impostos, aquelas "porras" todas que afinal dão "STATUS"..
Bom estou a fugir da Sardinha, viva a sardinha há quem goste mais da Sardinha BIBA, eu também já fui FAN mas agora quero mesmo é uma boa sesta e pensar que o país onde vivo não tem um actor como primeira dama, o melhor é não comer mais Pimento para não ficar a tarde toda a " Arrotar" como o povão, aliás tenho dias que é com cada um que despenteio a minha esposa toda... mas andam por ai uns que comem Sardinhas e depois arrotam Lagosta, outros é mais postas de pescada..
Estão a ver cunhados, estão a ver o que perderam...

Apeteceu-me (apetecia-me mais, mas... a velhice não perdoa )
"Mais vale uma sardinha na boca do que as mãos a assar" Charles de la Folie

terça-feira, maio 24, 2005

SALAZAR(Just illusion)

Salazar


É uma vez sem exemplo.
Vou aqui falar de política e de futebol, mas a culpa é do meu cunhado que me apressou a fazer a crónica para o jornal dele, e agora tinha que ficar com isto entalado 15 dias.

- Não me perguntem porquê, mas só me vêm a ideia, o nome de Salazar,
e não falo daqueles utensílios de cozinha que servem para rapar tudo, quer dizer tudo não só a massa dos bolos.
Hoje dei por mim a pensar, porque andei eu a pedido de uma data de energúmenos, de cinto apertado ?! Andaram-me a falar ao coração para apertar o cinto, que iam aumentar o IVA, mas que era para o bem da Nação, que não nos aumentavam para bem da Nação, que isto e mais aquilo, tudo para bem da Nação. Hoje acordo ainda ressacado por ter percebido ou por outra entendido ( 11 anos é muito tempo para me lembrar, daquela outra Nação do pais real, basta olhar que até arrepia) porque é que o nosso País não tem mais turismo de qualidade e ouço a bela noticia, um tal de relatório ou comissão Constâncio.
7 %, sim senhora é este o défice do nosso país, lembro-me que quando me pediram para apertar o cinto o défice era de 3,2 % , coisa pouca subiu para mais do dobro e eu com a cintura toda vincada de tanto apertar aquela “porra”.
Acho que o dia foi o ideal, para anunciar, já que uma enormidade de pessoas estão distraídas, uns de contentamento, outros de raiva, e penso que é ai que me lembra o Salazar, aliás aquele clube só é o que é, porque andaram com ele ás costas, por muitas razões e esta é uma delas, Ter o povo, o povão contente, já na antiga Roma dos Césares era assim, Pão e Circo, para calar o povo, assim não contestavam os aumentos e outras vigarices as atenções estavam viradas para outros lados.
Ontem vi um enorme roubo, de 5 milhões de euros ao Sporting também estava tudo distraido e aquela “besta” do árbitro fez o que fez. Como não se pode ver 3 fora de jogo claríssimos, alguém me explica?
Podia ser eu, mas não fui, até alguns daqueles comentadores pagos a peso de ouro pelos clubes, essa é uma outra coisas que me faz confusão mas adiante, até esses senhores viram isso.
Mas voltando ao défice, acontece uma coisa destas e ninguém é responsabilizado, não acontece nada a ninguém ? Será que se eu for fazer queixa a DECO posso ser indemnizado ? Penso que eu e mais uns quantos portugueses, mas enfim.
Gostei de ver, adorei ver, aquele desfile de FIAT’s com as cabeceiras enroladas em bandeiras, aquelas sessões de pancadaria, aquela gente, enfim adorei ver aquele desfile fashion, divertidissimo, espero que o ICEP aproveite bem para fazer promoção a Portugal.


APETECEU-ME


“ Que me serve gritar numa terra de surdos”
Charles de la Folie

segunda-feira, maio 23, 2005

ARAGENS (NOUTRO LUGAR)

Aragens (noutro lugar)





(...) Nada que o fizesse corar, nem pelo trabalho, nem pelo aparato da situação. O dia era um dia normal, um dia de trabalho, um dia com e sem esperança, nada que não acontecesse todos os dias desde a nossa existência, mesmo para os mais afortunados.
(...) Longe dali, perto de um ribeiro...
com uns longos calções, uma camisola de alsas, uns chinelos de meter o dedo, um chapéu virado ao contrário. De cana de pesca na mão, enfiava uma minhoca acabada de tirar de baixo de uma pequena rocha, enfiava-a ainda viva a contorcer-se num anzol, e depois habilmente atirava-a para dentro de água, para junto de um pequeno cardume que parecia ali encurralado, consoante os peixes comiam a minhoca o isco, ele puxava a cana devagar para não magoar os peixes, o seu objectivo era mesmo, alimentar os peixinhos e passar o tempo morto que tinha por ali.
(...) Naquele escritório, num enorme open space, com muita gente, parecia passar despercebido, mas na realidade não passava, bastava uma desatenção para todo o mecanismo, para toda aquela grande empresa se desmorenar, não era bem assim, mas pelo que o seu chefe gritava parecia, que o mundo ia acabar ali pela falta de um simples papel, sem valor.
(...) Ninguém sabia onde nascia aquele ribeiro, ou por outra ninguém sabia de onde vinha aquela água limpida, fria, gelada, e muito transparente que transportava além de folhas, pequenos, animaizinhos à superficie, transportava também algo muito importante para aquele rapaz, tranquilidade para o seu dia a dia,era ali que se concentrava, para os seus trabalhos, para as suas produções.
(...) Era ali que parecia que a vida ia durar, durar uma imensa eternidade, pareciam uns sem vida, o seu trabalho só era valorizado pelos gritos dos muitos chefes, que por ali coabitavam sem fazer nada, mas um valor, sem sentido, porque os gritos só serviam para, mortrar a prepotência de nada de coisa nenhuma. Mas era ali que a sua vida se ia manter, que tinha de concentrar, ou desconcentrar.
(...) As suas cores eram vermelhas, o vermelho que o ar do campo transmite, um vermelho saudáuvel, é assim que chamo ás faces ruborizadas, dos campónios, de gente onde a qualidade de vida dá e sobra para se ter uma vida fantástica, à beira daquele riacho cresciam flores lindas, belas papoilas, vermelhas cor do céu, do céu sim aquele tom alanjando quando o Sol se está a por.
(...) Ali onde o Sol nunca se vê, nem a sua chegada, nem a sua ida, ali só se ouve o barulho do ar condicionado, das ventoinhas dos computadores, de alguns estomagos a remoer, e dos dedos dos pés a estalar de tão vincados estarem aos sapatos, que se encontram estratégicamente debaixo da secretária, à sua memória vem-lhe a imagem daqueles filmes em que as secretárias estão escondidas por detrás dos biombos, fala por certo de secretárias de matéria não orgânica, porque as outras de carne e osso escondem-se mas por baixo de outras secretárias.
(...) Ali parecia o paraiso, mesmo quando o tempo ficava mais remexido a beleza da paisagem mantinha-se, o ribeiro continuava ali inabalável, os peixinhos permanecem juntos, o cheiro a campo, a aquela face rosada, a forma de vestir, era a liberdade levada a extremos mesmo que aqueles movimentos fossem perpétuos.
(...) Ali estava ele, prostado na sua secretária, com os cotovelos apoiados, no tampo que estava protegido por um enorme poster de borracha, com as cores do seu clube, por debaixo, escondia aqueles papéias mais intimos, ou que julgava, mais intimos e importantes, mas que não passavam de papéis, de meros papéis sem valor ou conteúdo, mas eram d’ele e isso ninguém podia negar, nem queriam.
Mas ali estava agarrado ao seu pisa papéis, onde corria um ribeiro, com uns peixinhos, num campo muito verde onde o rapaz que pescava tinha a face ruborizada, como só mesmo quem vive no campo tem, ali estava ele a olhar, e a pensar na liberdade que se podia ter mesmo dentro daquela prisão de vidro.

Apeteceu-me

“A nossa liberdade pernoita no nosso pensamento” Charles de la Folie

quinta-feira, maio 19, 2005

LOUCURA I

Loucura I (Este sustitui (fogo) cruzado, trata-se de uma psiquiatra que vive lá no prédio)


(...) - A esta hora, aqui por casa?
Eram 8 e muito pouco da manhã, sábado, uma desgraça, a sorte é que não tinha consultas marcadas para hoje, quer dizer há sempre umas consultas inesperadas nem que seja com gente aqui do prédio. Claro bateram à porta.

- Olá, a esta hora aqui por casa? ( pergunta desnecessária da Dr.a Palmira)
- Desculpe lá mas não dormi nada esta noite e achei melhor falar consigo, já que a doutora é como os padres, um poço sem fundo.(resposta meio tímida da pessoa do outro lado que não pode ser revelada a partir deste momento por causa do juramento ao Deus dos Psiquiatras)
- Bom isso tem algum interesse, sim mas claro, evidentemente.(a partir de agora as respostas são muito esclarecedoras)
- Claro e você contou isso a alguém?
- Ah ao Pilitas e entregou uma carta a Dona Henriqueta, humhh.( a Dr.a já coçava a cabeça por todo o lado)
- Bom nesse caso a coisa já está m andamento, vai explodir não tarda nada o melhor é começar a preparar o consultório para hoje. ( com um sorriso de orelha a orelha)
- Só de pensar no Vasco, naquela carinha laricas, que vai entrar em stress pós traumático é pelo menos uma vida em tratamentos.
- Pois, pois não têm de quê, esteja sempre a vontade.


Bom isto vai ser lindo, e eu para ver, pelo menos vou ter por aqui uma comédia trágica vicentina, ou coisa no género. Ainda bem que estava já acordada assim percebi este numero na perfeição, e que numero, só me apetece rir, quer dizer só estou acordada porque aquele energúmeno ressona que nem um porco, aquilo não é bem ressonar parece mais um automotora ou uma locomotiva a carvão, começa lento mas depois... raio que o parta ao homem, com tanta Merda por ai tinha logo que me tocar este, é que ainda por cima não têm ponta por onde se pegue é impressionante.
Onde estaria eu, no dia em que me lembrei deste numero, esta não era uma frustração, porque, porque enfim, tinha outras coisas em que me preocupar, nesta altura preocupava-me a cara do vasco quando receber aquela carta, por um lado preocupava-me, por outro deixavam-me contente que ele havia de irromper por ai a dentro, o que era muito, mas muito bom, e atrás dele viria o pilitas, e quem sabe, quem viria mais, quem sabe.
A minha cabeça não estava grande coisa, ontem a noite tinha sido complicada, bebi uma garrafa de champanhe sozinha. Estava para aqui a pensar, que adoro beber champanhe e fazer amor desmesuradamente, mas ontem só bebi mesmo champanhe. Voltando ao energúmeno, não sei mesmo o que vi naquele homem, não têm mesmo nada de jeito, nada mesmo, ás vezes podia ser assim totó, fisicamente atarracado e ser bom na cama, mas se é! Pois não sei onde porque aqui comigo não é mesmo aquilo parece sei lá o quê, é atar e por ao fumeiro, odeio gente assim, de atar e por ao fumeiro, odeio sentir-me uma mulher objecto.
Mas nem sequer tem a ver com machismo ou com feminismo, têm a ver mesmo com, o homem nunca deu para isto, o problema é que ele é maricas, tenho a certeza que ele é maricas mas ou nunca o descobriu, ou têm medo de se assumir, mas não vou ser eu que lhe vou fazer ver isso, ele que veja, porque se não ainda vai dizer que o ando a manipular e coisas do género.
Ele gosta mesmo é do aquário dos seus Escalares, guffis, lutadores, fica ali horas, eu acho que até se masturba ali a olhar para o peixes horas a fio, mas cada tarado a sua mania, acho que quando sai de lá vêm com aquele jeitinho de boca, não, não é o que estão a pensar, é aquele jeitinho dos peixes sempre a abrir a boca e a fecha-la parece que estão a enrolar os lábios e a desenrola-los, bom isso lembra-me champanhe e o champanhe lembra-me outros voos e agora a esta hora, o melhor é tomar um duche de agua fria muito fria, para ver se arrefeço, todas estas noticias deixaram-me a ferver e de que maneira, é que eu fervo em pouca agua, ai fervo, fervo.

Apeteceu-me


" As loucuras da vida, alegram-nos a Alma"
Charles de la Folie

quarta-feira, maio 18, 2005

SPORTING



Não costumo ser mal educado nestas coisas, mas "Puta" de vida.
A sorte não quis nada com o SPORTING,nem com o Sporting, nem comigo, nem com, a gente de bom gosto que ainda vive neste cantinho a beira mar plantado.
O que me apetecia dizer era muito mais do que vou dizer.
Mas a verdade e a diferença viu-se no fim do jogo os adeptos do SPORTING mesmo depois de perder lá estavam a aplaudir a equipa, lembro-me de um programa de rádio que se chamava som da frente, que tinha como lema o direito à diferença, é esse o lema do SPORTING ser diferentes de todos, fazer das derrotas, victórias, é isso que eu gosto.
A verdade é que lá estivemos, na luta pelo campeonato, mesmo contra as bruxas 6 milhões dizem, de bruxas e ainda fomos à FINAL da TAÇA UEFA. Só duas equipas se podem gabar disso,disso é de ir a FINAL são elas o SPORTING e o CSKA. E o resto é conversa.
Penso que aqui ouve dedo do TOVARISCH qualquer coisa, para ter alguns favores da Va ou da Gina ou das duas, mas enfim.
Mas não vai ser isto que me vai esmorecer, há coisas bem piores, acreditem que sim.
A falta de Tensão no elástico é bem pior... eu disse tensão, não perceberam, áh ok, é bem pior que... como queiram, mas enfim.
Agora levantar a cabeça, e para o ano há mais. Que se lixe.
O homem dos Pêssegos um dia deste vai entrar, algures por ai com uma arma em riste e pimba, desculpem lá mudar de conversa, hoje em dia só engravida quem quer não é?! Pois e pimba assalto um banco e vou para as Seixelles, porque por enquanto só tenho mesmo direito ao seixal.

Apeteceu-me
"Perder é a forma mais facil de desistir" Charles de la Folie

segunda-feira, maio 16, 2005

TOVARISCH

дружественный

(...) Olhava de um lado para o outro, era já noite. Numa esquina na gelada Moscovo, o nosso intrépido herói, enrolado num sobretudo escuro, confundia-se com uma sombra, de um lado uma garrafa de Vodkra enrolada num jornal, podia-se ver a data daquele jornal, mas que interessa isso.
Escondido debaixo, da sua quente camisola, um embrulho, guardava-o com a sua própria vida. Mas naquela altura ficava uma interrogação no ar que fazia ali, naquela esquina escondido um membro do Politburo, não era normal, naquela altura na União Soviética estes destacados membros do povo esconderem-se. Mas ali estava ele, parecia esperar... esperar por um momento exacto. Longe iam os dias de boas graças daquele povo que libertou nos idos anos 40 no final da 2ª Guerra Mundial os prisioneiros de Auchwitz e lutaram como ninguém as portas de Moscovo.
Estávamos na véspera, do Ano Novo de um dos dois anos novos, que se comemoram na Rússia, já que continuam a utilizar, dois calendários o Juliano e o Greoriano um comemora a 1 de janeiro e o outro a 14 de janeiro. Mas nada disto interessa, o que interessa ou interessava naquele momento era o nosso herói, naquela altura, olhou para o relógio, puxou as golas do seu sobretudo, agitou o seu barrete, feito de pele de esquilo, apesar de merecer um gorro de uma outra pele melhor, por entre aquela penumbra e frio puxou da sua garrafa de Vodkra, inclinou a cabeça para trás, e de um valente trago, bebeu quase meia garrafa, a sua maçã de adão, parecia deliciada com arrastar daquela sensação e ardor. Aquele aquecimento que penetrava pelo seu corpo, era fantástico, dos seus poros começava a brotar suor, as suas mão aqueciam de uma maneira disparatada, depois enrolhou a garrafa, passou a manga do seu casaco pelos lábios, e olhou novamente, para todos os lados.
Estava ali ao lado do Teatro Bolshoi, saiu dali como o passo alargado, ajeitou o embrulho que escondia, perto da Catedral de São Basilio, sentiu uns passos, olhou para trás já com a respiração ofegante, não de quem está cansado mas de quem, está receoso, de quem esconde algo, olhou para trás novamente, desta vez pouco discretamente, mas não tinha visto ninguém, também não queria acreditar que o KGB o pudesse seguir, mas mesmo assim, seguiu, estava agora a passar perto do Museu da história do estado, era fantástico, a áurea que ali se vivia na praça vermelha. Por momentos, enquanto tentava controlar a sua respiração e os seus nervos, relembrava-se do grande desfile militar que este ano tinha presenciado, ao lado do General Karin Boniek, um grande amigo, e homem que sabe guardar os seus segredos mais secretos.
Passava agora perto do muro do Kremelin, desviou-se para o outro lado, estava quase na altura do render da guarda e não queria correr o risco de ser reconhecido. Ajeitou novamente o embrulho, que continuava bem aconchegada de encontro ao seu corpo.
Ali na praça das catedrais virou rápido e encostou-se ao edifício do senado. Respirou, repirou novamente, encostou-se ali aquele edifício, castanho esverdeado, de 3 andares com um pé altíssimo, um edifício que conhecia bem, muito bem mesmo, havia lá duas secretárias que conhecia, lindamente, se conhecia, tirou a garrafa novamente do bolso, custou a sair, estava embaraçada, no meio do forro roto do bolso do sobretudo. Depois foi meter o gargalo da garrafa na boca e de uma só vez, bebeu mais um trago, um grande trago daquela agua benta ardente.
O caminho estava ali a frente, seguiu uns bons 200 metros, olhou para trás não viu ninguém, naquela porta de madeira, aliás, duas enormes portas de madeira, olhou novamente, para trás, e para os lados empurrou a porta, subiu uma enorme escadaria de mármore. Lá em cima a fumar um cigarro, estava um enorme homem, algo foi dito em surdina, depois abriu-se a porta de um apartamento, lá dentro, muita luz, debaixo de enormes candeeiros de cristal, gente muito bem vestida, mas parecia uma grande festa, mas na clandestinidade, era por certo na clandestinidade.
Mal tirou o sobretudo, as pessoas perceberam quem era, o mais esperado membro do Politbugo, tirou debaixo do seu camisolão o tal pacote, devagar e sob o olhar daquela gente toda, começou a tirar o papel, lá debaixo, um disco, sim um disco de vinil, uma versão do cokaine de J.J. Calle, tocada por um grupo Soviético ás escondidas.


Apeteceu-me

"A Musica não é mais que a imaginação a dançar"

Charles de la Folie

sábado, maio 14, 2005

O RISCO (equilibrio)

O risco (equilibrio)



(...) O risco era demasiado.. demasiado grande para o prazer que se pretendia. Naquela altura, o vento corria pela sua face, o cabelo alinhado soltava-se para a frente dos seus olhos, as sobrancelhas mantinham-se de maneira uniforme, mas que naquele momento serviam mesmo para amparar, o suor. O seu corpo parecia rigido, como quem está morto, petefricado, só o seu tom avermelhado, não deixava duvidas, estava vivo, os seu olhos estavam quase inertes... concentrados com o que viam, e com o que fazia.
Notava-se nas suas feições que era uma pessoa calma, aliás tinha mesmo que o ser, o risco que corria não combina com a falta de calma, com inquietações despropositadas, com reacções bruscas.
Esra uma pessoa compacta, era pequeno, mas compacto, com um corpo musculado, era um corpo atlético.
Desde pequeno, que treinava, treinava horas e horas a fio, era a sua vida, a vida da sua familia, vinha de geração em geração, desde há muitas gerações, era a vida, a sua vida, a vida que tinha sido escolhida há já muito. Enquanto olhava para o horizonte com aquele ar compenetrado, as imagens que lhe iam directas ao cérebro, eram recordações de outros tempos, de outras vidas, na longicua mas linda Mongólia, naquelas estepes entre o gelado e o degelo, onde a vida continuava pura e serena, onde a comida, sabe a comida, o amor sabe a amor, onde as lágrimas sabem a mar e o suor cheira a prazer e sexo.
Gostava de pensar debaixo daquela tensão, na sua terra, na sua aldeia, não pensava na sua familia, porque estava com eles, por onde um andava estavam todos, era um clã a maneira antiga, mas em pleno seculo XXI.
Lembrava-se por vezes da neve que caia, dos 23 graus negativos, mas isso não importava, era outubro, e em outubro o que interessava, no vale de Darhad era levar os rebanhos até ás pastagens de Inverno. Durante seculos, a caminhada feita duas vezes por ano, moldou a vida nómada daquelas paragens e terras que tantas saudades lhes deixava. Ele amava- a tanto como a temia.
Ele via e sentia, e sabia que há muitas gerações que as famílias atravessam as montanhas do Norte da Mongólia, uma caminhada que provocou e provoca ainda hoje a morte de muitos caminhantes, de muitos amigos e familiares seus. Quando o Outono desce sobre o vale de Darhad, centenas de famílias carregam os bois e partem, conduzindo ovelhas, cabras e vacas para os acampamentos de Inverno, onde a erva é suficientemente alta para manter as manadas até à Primavera e a temperatura se mantém uns bons dez graus mais elevada. Entre o vale e os acampamentos de Inverno, eleva-se uma muralha de três mil metros, cujos picos cobertos de neve podem ser tão belos como brutais.
E ali estava ele, 500 metros acima de qualquer coisa, por baixo era um abismo, um autentico abismo, um buraco sem fim que ele não conhecia o segredo, era nunca olhar para baixo, com uma enorme vara de equilibrio nas mãos lá ia ele, pé ante pé, devagar, para chegar ao fim daquele interminavel cabo de aço. No fim a glória, a glória daquele dia, porque depois , vinha mais um, e mais um, e mais outro. Os dias eram infidaveis mas a sua capacidade de se equilibrar também, aliás o risco e o equilibrio era lema da sua familia, morreu mais gente a atravessar o vale de Darhad, do que a atravessar os seus cabos de aço.
Era a vida de nómada a procura da sobrevivência, a procura de se encontrar, a procura, de muitas coisas, que se encontram no deslizar de cada passo que se dá no dia a dia. As sua sabrinas, já estavam acostumadas aquele deslizar que não pode escorregar, a minima escorregadela, sabe-se que é a morte do artista.

Apeteceu-me

"O equilibrio é a essência da nossa liberdade"
Charles de la Folie

quarta-feira, maio 11, 2005

(Fogo) Cruzado X

(Fogo) Cruzado X



(...) Mas os chineses nem todos são assim pacientes, não são não, basta ir a um restaurante chinês, e pedir ao “ senhole um plato, tipo o numelo telinta e tlês, e agladecele com um glande obligado” que ele ficam logo a carburar mal, e depois se rematares com um “está certo ou Alberto” eles ficam piursos, ficam a deitar fumo por todos os poros, mas a que propósito vêm agora para aqui o raio dos chineses? Pois claro, vi logo que não vinham para aqui fazer nada, eles só são mesmo o verbo encher, porque são tantos e, pois muitos e todos com a mesma ideia, a mesma não eles têm duas ideias, uma é abrir um restaurante a outra é abrirem uma loja de chinesices, aquelas lojas que têm tudo a preços fantásticos, onde compras até, sei lá o quê baratíssimo e que não serve para nada, mas têm graça e foi barato.
Bom mas chinês a parte, porque não começar a pensar o que vai acontecer aqui neste prédio quando o Vasco ler aquela magnifica prosa em forma de literatura poética, pois penso que isto não faz sentido algum, mas o que nesta altura faz sentido, nada faz sentido, nem aquela algazarra que vai por ali na escada, parece a Dra Mónica e a Bestinha, claro o marido este é o temo mais carinhoso que me lembro numa altura desta, a besta... até que não é um mau nome e soa bem, será que ele merece o termo de besta? Não, coitadas das bestas, as bestas merecem muito mais que isto, aquele era mesmo um energúmeno, podia-lhe chamar endemoninhado, mas era um nome demasiado pomposo para o “coiso”, porque andariam ele aos gritos? Para ser franco, andavam sempre aos gritos por isso não era nada de especial o que se estava por ali a passar apesar de ser Sábado de manhã.
Naquela altura estava com um estalo que até parecia uma batata frita daquelas estaladiças, tipo as que vendem na praia segundo a receita da avózinha, uma isso fazia-me lembrar a bela bolinha de Berlim com aquele creme ranhoca com 15 dias de praia, até que não eram más de todo, não eram não apesar do aspecto, por vezes pareciam que tinham acabado de vir de um campo de bola qualquer desses por ai espalhados onde as bolas durante 90 minutos são tão maltratadas, as bolas e os espectadores, mas esses merecem sempre o que vão ver, adoro ver esses jogos, só para ouvir os mimos a que são brindados os jogadores adversários, os árbitros e o policias e muitas vezes os jogadores da casa, mas esses depois têm o que merecem no fim quando vão lanchar a bela “sande” de courato com os adeptos e o belo tinto, onde o melhor que se tratam é de filho de um comboio de melancias para cima, e este termo já é muito pouco utilizado.
Precisava de saber do Cão Guru, precisava de saber como estava a minha conta se não estaria a negativos, precisava de saber se ainda tinha alma, pelo menos não estava “perdido na pólis cinzenta da chuva fria” onde é que já tinha ouvido aquela frase tão pomposa, claro que minha não era ai isso é que não era, porque não tinha arte nem engenho para dizer coisas daquele género, as minhas eram mais “ o que ei-de fazer para ser o teu Amor?” geralmente a resposta era sempre a mesma suicida-te, o que demonstra que eu tinha uma personalidade muito forte porque nunca tentei, nem pensei no assunto se quer, tinha outra frase do gènero “ a menina sabia que este é o ano da queca louca?” geralmente a resposta era também demasiado evidente tipo - claro que sabia e onde encontro um bom parceiro, mas nada de muito especial, ou não fosse eu um ser muito especial, quer dizer, mais ou menos especial, quer dizer tipo aqueles bifes a moda da casa que são sempre muito especias, são sempre diferentes dos bifes convencionais, mas quando vêm para a mesa uma pessoa olha, olha e não vê diferença nenhuma, nenhuma mesmo a não ser quando chega a conta, ai sim notas uma grande diferença. Por mais que perguntes e barafustes e praguejes, ninguém te explica porque é que o bife à casa é especial, seria muito máis especial se fosse um bife “há” casa, porque ai já havia qualquer coisa uma casa por exemplo, mas ok, acho que sou especial a minha maneira, nada de especial, nada ou muito o vasco vai passar-se e eu não sou especial? Ai sou sou e vão ver mesmo como, e vão descobrir que eu não sou o centro do mundo, que sou o poeta da prosa, o musico da alarvidade mental o poderoso mentor de porra alguma o grande e enorme Rei do condomínio, agora já mês estava mesmo a passar e de que maneira, mas não vai ser por ai que o gato vai a filhoses, se é que há gato e filhoses se é que existe alguma coisa, a pedrada estava a dar cabo de mim de uma maneira violentíssima era mesmo poderosa, mas brilhante adorava aquela pedra dos meus novos charutos eram uma máquina de fazer rir e de fazer discursos estava ali um autentico político, político escreve-se com “M” grande ou “m” pequeno? Bem me parecia, político nem se devia escrever, mas podíamos inventar uma nova classe de políticos os políticos do Havano de erva, os ganzados do apocalipse, ou os pedrados do parlamento. Já tinha slogam e tudo : - Com políticas ganzado o parlamento a tarde não abre e de manhã está fechado.
- Adoro política, mas sem demagogia como isso é impossível é uma bela porcaria, fume ganzas que isso passa.
Mas a grande verdade a maior verdade é mesmo que o Vasco está lixado com “F” grande e eu aqui a curtir esta bela pedrada, essa é que é que é essa, coitado, nem quero pensar muito no assunto, cada um é como cada qual, eu como costumo dizer, não sou perfeito mas tenho partes de mim perfeitas.

Apeteceu-me



Acabou o capitulo (fogo) cruzado, e começa a Loucura, é a história da Psiquiatra do prédio.

terça-feira, maio 10, 2005

Mulher Invisível

Mulher invisível



(...)Era só mais um dia. Estava ali como todos os dias desde à 6 anos encostada a uma parede, numa qualquer esquina, que só por acaso era sempre a mesma.
Era uma mulher franzina, de olhar directo, rosto com marcas do tempo, com marcas do dia a dia, marcas de alguma frustração por exemplo de nunca ter visto mar.
Tinha um cabelo bonito, arranjado e enrolado, era negro natural, encaracolado por prazer, despenteado pelo vento, mas nunca esgardunhado, por isso sempre com aspecto delicioso. O seu olhar, directo mas discreto, atento, mas sem preconceitos, estudava quem passava e quem todos os dias a ignorava. Muitas vezes sorria com ela própria, dizendo que era a mulher invisível, invisível mas indivisível. O seu rosto apesar de agastado, da marcas sem perdão de um tempo que não para de uma vida mal curada, era um rosto simpático, enigmático, com simplicidade, era um rosto simples, talvez por isso se tornava bonito. Mas não era mais uma face, não era mais um semblante, porque era diferente, e a diferença não pode ser vetada à indiferença, por isso não podia ser invisível.
O seu corpo, era pequenino, franzino, delgado, delicado, esguio e nem por isso deixava de ser belo e apreciável, cada pedaço do seu corpo, estava incorporado no espaço a que lhe estava reservado, nada era enorme, mas tudo era proporcional, à beleza que um corpo deve ter.
Unhas das mãos pintadas uma cor purpura, quase a roçar a morte, aquela cor, que os corpos ganham quando perdem o calor e se soltam sabe-se lá para onde, costumam-lhe chamar a alma, mas não era mais que a cor, das suas unhas, e nada tinha a ver com a morte, simplesmente, porque a cor se tinha diluído por ai. Tinha vestido um camiseiro, cor de rosa, cintado, com umas golas enormes a fazer lembrar, modas de outros tempos, as golas compensavam o facto do camiseiro não ter mangas, ser cavado, estava abotoado até ao penúltimo botão, notava-se o seu regaço, queimado do sol, que realçava uma sardas ou uns sinais, que se não fosse assim nunca se notariam, conseguia-se ver o bordado do seu soutien preto, notava-se discretamente.
A sua saia, era uma pequena e discreta saia, não uma mini, mas podia ser uma média, feita de napa a imitar cabedal, um creme discreto a lembrar camurça, sobre ela um cinto largo, de uma cor estranha e cheio de miçangas de muitas cores uma fivela enorme, de cor de bronze, que apertava com dois (sei lá o nome) bicos.
Ali estava ela encostada, a espera, a espera que nada acontecesse, mas ao mesmo tempo a fazer o que mais gostava, observar as pessoas que por ali passavam, e nem se quer a olhavam.
Mas ela, ela olhava e via o que as pessoas continham, o que lhes ia na alma, ou por outra o que não lhes ia naquela alma..
Havia por exemplo uma senhora, que todos os dias passava por ali com dois sacos de plástico na mão, de um lado legumes, do outro o pão. Uma senhora de pernas arqueadas a rondar os cinquenta e muitos anos, pasava o dia a praguejar, olhava para mim, praguejava, olhava para o transito, praguejava, enfim olhava para a sua vida praguejava. Era casada, podia ver-se a sua aliança e mais outra que... queria dizer que estava com o mesmo homem a pelo menos 25 anos, na sua cara via-se que era uma luta e não um prazer, porque nunca a vi com ele, era obvio que ele ou era reformado ou desempregado, porque levava-lhe sempre o jornal, e ninguém quer ler o jornal depois de um dia de trabalho. E todo o santo dia lá ia ela sozinha, a praguejar com 25 anos de casamento e ninguém para lhe aliviar o esforço. Presumia que tivesse de ir naquele andamento, para ter o almoço a tempo e horas, para não levantar ondas.
A vida das pessoas, é assim, uma vida ocupada de desocupações, ou desocupada cheia de ocupações. Outra pessoa que gostava de observar era das poucas pessoas que me respeitava, estava ali a uns bons 30 metros de onde me encontrava, era o cauteleiro, conseguia falar com toda a gente, tinha conversa para toda a gente e toda a gente tinha conversa, para lhe dizer, aquele homem, tinha com ele guardado a vida de quase toda a gente que por ali passava, e a verdade, é que quase vivia de caridade deste e daquele. Quem sabia tanta coisa, devia de ser tratado de outra forma, porque seria que uma pessoa que tinha dentro dele a vida de tanta gente, era quase um indigente.
A vida continuava como todos os dias.. alguém ao fim de algum tempo parou para falar comigo:
- Desculpe quanto é? É preciso pagar o quarto, ou pode ser no carro?

Mais uma vez os olhos lacrimejaram e lá foi à vida.

Apeteceu-me


"O dia é a nossa imagem da vida, mas nem a chuva nos esmorece."
Charles de la Folie

sábado, maio 07, 2005

Divisão (muro)

Divisão (muro)

(...) Olhava fixamente para aquele muro, os olhos desfocavam, as lágrimas corriam lentamente pela sua face, as pequenas veias nos seus olhos começavam a ficar vermelhas de sangue,do grande fluxo de sangue, eram pequenos derrames. A sua mente vagueava entre aquele muro e a aragem daquele dia, olhava para os pés e sentia que nada podia fazer. Porquê os pés, porquê a vontade de pular com força em direcção ao muro? As mãos estavam cerradas, com muita força, notava-se nos músculos, totalmente contraídos, pareciam rochas, pedras, que a qualquer momento podiam explodir, sem qualquer razão aparente.
Estava frente a frente com o seu Adamastor, com a sua tormenta, com tudo o que mais receava, era a sua vida, estava ali e por vezes sentia-se sem controlo dela, mas a vida era isso mesmo um perfeito descontrolo, um perfeito respirar de dias, muitos dias, muitas horas, minutos, segundos, que eram respirados abundante e sofregamente.
Respirar, aquele acto continuo, que nos mantém ao nível de qualquer coisa, mas que coisa ?!
Aquele muro, que olhava fixamente, ele!
Durante aquele acto continuo de expirar e expelir, aquele acto de pura sobrevivência.. respirar é isso mesmo, é sobreviver! Para se sobreviver, é preciso resistir, porque podemos simplesmente, deixar de o fazer, e desacreditar toda a nossa existência.
O muro, que mais não é se não uma barreira, continuava ali. A sua visão periférica, mostrava que ele, muro, não tinha fim, não conseguia atingir o seu fim, podia ser meramente uma ilusão optica. Era uma barreira que por vezes parecia inultrapassável, mas nada lhe restava mais, a verdade era essa, nada lhe restava mais que aquele muro, vivia com ele 24 horas por dia, talvez por isso, naquele dia estava ali, quase prostrado, acabrunhado, diante do seu maior pesadelo, por mais que pensasse, chegava a conclusão que não havia volta a dar. Claro que não havia volta a dar, ele foi habituado a não dar voltas, mas sim a enfrentar essas voltas. O peito enchia-se de raiva, os sentidos despertavam ódios, o suor que se libertava era corrosivo, as pernas, entreabertas e flectidas forçavam e vincaram-se no chão, as pernas não, mas os pés, esses sim, forçados pelas pernas, com músculos definidos e saídos, o tronco seco em forma de “A” invertido, os abdominais salientes, pareciam tijolos mal enfiados, uma parede interminável, mas seca, um poço de força. De uma forma ou de outra ele sabia, que era inevitável, quanto mais os punhos cerrava, mais os músculos do pescoço saiam, a jugular quase pulava, movia-se para fora, como se uma mangueira tratasse. Estava frente a frente, depois daquela acalmia aparente, de anos e anos a fio sem que nada se passasse. O seu corpo naquele momento emanava uma energia forte, saiam raios de luz intensos, o seu cabelo estava em pé tal era a electricidade, os seus olhos mudaram de cor, ficaram da cor da electricidade, seja qual for a cor da electricidade. Os seus movimentos, ficaram rápidos, muito rápidos, de tal maneira que a imagem que se via parecia em camera lenta. Naquela altura, a diferença era enorme, respirava-se confiança, respirava-se, era evidente que o que se ia passar, ia ser violento, mas só havia um vencedor, e o derrotado cairia no esquecimento rapidamente.
Passaram-se 100 dias, e ali estava ele imóvel, diante do muro, podia-se ver, aliás já se viam as brechas, que o tempo estava a provocar, naquela barreira, alta, longa, quase intransponível, já se podiam ver pequenos movimentos da parede a sucumbir, o muro começava lentamente a despedaçar-se, a desintegrar-se, a transformar-se em areia, a imagem era de uma enorme ampulheta, que teimava em contar o tempo.
Alguém me disse que tudo começou numa pequena brecha. Aquele enorme muro, grande e quase intrasponivel, o tempo, fez com que se desvanecesse. E ele, ele ali ficou para sempre petrificado pela sua energia, naquele momento já era uma memória.

Apeteceu-me

"Os muros contornam-se, mas derruba-los dão mais satisfação" Charles de la Folie

quinta-feira, maio 05, 2005

(Fogo) Cruzado IX

(Fogo) Cruzado IX

(...) Mas porque havia eu de parar de rir, aliás dava-me muito mais gozo rir-me assim de uma bela pedrada do que beber uns copos, os copos eram porreiros mas além de ficarem mais caros, dão uma ressaca filha da mãe, acho que a minha sorte de não esta tão mal foi não ter bebido muito e fumado quanto baste, porque se não hoje isto estava bonito estava, mas enfim.
Já passou, agora já estava a carburar um belo charuto “made by Pilitas” e acho que o melhor é fazer outro, um belo charuto de erva, porque aqui neste belo prédio está prestes a rebentar uma bomba, uma daquelas, que tenho de ver isto como diz o povo a cor de rosa, mal sabem eles que isto de cor de rosa pouco tem, mais parece um arco Íris.
Têm piada, aliás tudo tem piada, agora até se a Susana se me deixa-se eu me iria rir, estou mesmo estupidamente bem disposto. Imaginem ter uma gajo com os copos a falar contigo, durante horas, cada vez que quer dar ênfase a qualquer coisa toca-te, bate-te, no braço , no ombro, um “gajo” até se passa, fico possesso, e reforça a ideia que não te apetece ouvir e bate-te mais ao fim de uns minutos tens os ombros e os braço negros, tudo isto para reforçar a ideia que a erva é mais cool, mais paz e amor e raios que vos lixem, deixem-me em paz, não tenham conversas muito intelectuais comigo, erva é mais mesmo deixem-me em paz que eu quero mesmo é rir-me que nem um louco andar bem disposto, agora conversas pseudo intelectuais “made by construção civil” tipo ouves na telenovela e fazes daquilo lei, fazes quase a constituição da republica. Bom já parecia que estava a ficar senil esta coisa dá-me todos os dias ás 9 e 30 da matina, fico um bocado obtuso, ok bronco, não ignorante, porque e se há uma coisa que eu prezo é na educação que os meus pais me deram, incutiram-me todos os bons valores, desde os morais, aos deixa lá ver aos morais, mais aos valores morais e ainda aos valores morais, mas isso era mais a minha mãe , não é que fosse uma “rata” de sacristia, mas o meu pais os valores, deixa cá ver, umh, pois o meu pai era um bocado tarado, pois um bocado tarado era favor, era um bocadinho muito, talvez um bocadão bastante, era um grande tarado, o meu pai passava a vida a tentar enganar a minha mãe, mas tenho a ligeira sensação que o cornudo era ela, mas isso agora pouco importa.
Lembro-me das poucas lições de vida que ele me deu quando descobriu a minha plantação de erva, foi que a erva não servia só para fumar, que fazia muito mal, que a erva era muito boa medicinalmente mas era bebida.- fiquei um bocado estupefacto, agora beber erva? Mas realmente depois explicou-me que era bebido como chá, fazer um belo chá de erva, mas dai a ser bom medicamento ia uma grande distancia mas enfim, e o que é verdade é que foi uma bela lição de vida. Apanhamos uma pedrada nesse dia os dois que ficamos uns belos compinchas, aquilo rendia pouco como chá mas não era nada mau, depois vim a saber que no Ceilão era um prática corrente, beber chá de erva, eu sempre tive alguma afinidades com o Vietname, não sabia bem porquê mas agora já sei, têm a ver com o belo chá, mas enfim não vamos falar mais do assunto porque agora, estava mais virado para Cuba para as belas técnicas de como se fazem charutos, e agora lã que ia outro, só de pensar naquele envelope, naquela carta, naquela história que o Vasco ia levar, se é que ainda não levou, não levou porque se não já sabia ele já aqui estaria, mas também com a ressaca que ele deve estar, anestesia tudo, claro que anestesia, mas não sei se não curaria logo, aquela medonha ressaca que ele deve ter, acho que ele nem sabe como chegou a casa.
Mas se estava com vontade de lhe contar, agora não vou lhe vou dizer nada acho que ele vai estar ocupado com outras coisas, vai ser a vingança do chinês, adoro as vinganças do chinês, o chinês tinha uma piada que nem vos conto, nem sei como não há um livro a explicar a teoria do chinês, eu um dia ainda vou escrever um livro sobre o chinês, os chineses, aquelas vinganças, as torturas aquela maneira de serem, que não sabem dizer não, dizem que sim a tudo, e estão sempre a entalarem-nos.
Pois é, tipo, gostas de mim? E eles dizem que sim, mas estão a dizer a policia que és o malandro que roubaste a avó, violaste a filha, beijaste a mulher e fizeste amor com ele.


Apeteceu-me

"A mentira é cega, de tal maneira que a verdade não se Vê "
Charles de la Folie

terça-feira, maio 03, 2005

Fábula sem sentido

Fábula sem sentido


(...) Nada de especial, não era mesmo nada de especial apenas alguém com muita vontade de sorrir, era uma criança, sim uma criança e ao seu lado estava outra e mais outra e outra e muitas mais, eram mesmo muitas, mas sorriam, todas elas sorriam, não era vontade, sorriam mesmo,ao mesmo tempo estava um silêncio ensurdecedor.
Não conseguia compreender porquê, não entendia aquele silêncio, via-se, notava-se perfeitamente as crianças a brincarem, a brilharem, a falarem, a divertirem-se, conseguia ver, uma roda com uns 10 meninos intercalados, com a girafa Badana, o macaco sapato, o tigre Balulas, e as manas tolinhas, eram todas lindinhas.
Mas estava ali parado a olhar, não entendia, não entendia nada, muito menos o que se passava ali era uma fábula a maneira antiga, (não de La Fontáine), mas não tinha som, não tinha sentimento, aquilo que via, parecia qualquer coisa que não trespassava para o mundo onde estava.
Parecia um animal numa jaula, andava de um lado para o outro a procura de soluções, a tentar perceber o porquê de não sentir nada, de não ver, de não ouvir as crianças, os seu gritos as suas falas, as suas fantasias, não as ouvia, nem as entendia.
Ali mais ao lado, balançavam uma enorme corda duas meninas, de costas voltadas uma para a outra, saltava a avestruz Saltitona, e a hiena Fedorenta, estranho... também não sentia o seu cheiro, era mesmo muito estranho, lá no meio da praça a cadela Assunção e o cão Ão ão, faziam um concurso de buracos, enquanto tiravam a terra que nem loucos, o canguru Frufru acalcava-a com saltos, enormes, grandes saltos.
Só lhe apetecia chorar, não entendia o porquê de não entender as crianças, de não as ouvir, de não saber o que ali se passava e porque apareceram de repente aqueles animais todos, não era normal, não parecia sequer um sonho, não era, por certo que não era, não podia ser, estava a ficar quase irado, irritado, quase a ficar com vontade de gritar, de se fazer ouvir, mas cada vez que tentava dizer alguma coisa aos meninos, as palavras não saiam, a sua voz não emitia qualquer ruído, qualquer som, parecia que estava num enorme vácuo, numa outra dimensão.
Estranho que alguns animais pareciam passar por ele e dizerem-lhe adeus, havia vários orangotangos, um que se chamava Barnabé e o outro rapé, empoleirados em cima de uma nuvem, atiravam fatias da nuvem aos meninos e depois, escondiam-se, a nuvem era cortada como as melancias, quem adorava era o porco Silvio e o bode Silvério, comiam o que sobrava e agradeciam a quem lhes dava.
Era alegria a rodos, mas ali o nosso amigo continuava a não perceber, não queria acreditar, continuava sem acreditar no que se estava a passar, o que se passava com ele, nunca nada daquilo lhe tinha acontecido, nada mesmo, nem parecido, estava tentado a gritar novamente, mas já estava cansado muito cansado, de tanto tentar perceber aquele mundo, que tinha despertado ali sem mais nem menos, sentia-se como se estivesse pendurado num estendal de roupa a secar, ou numa vitrine de exposição de bolos ou qualquer coisa assim meia estrambólica, as forças começavam a faltar, estava quase a desfalecer sentia um cansaço enorme a percorrer-lhe o corpo, a alma os sentidos, começava a ver tudo a dobrar a quadruplicar, fazia lembrar as maquinas de filmar antigas com 4 zooms, antes de cair olhou para o lado e viu numas bolhas de sabão enormes, outras pessoas como ele, com as mão cravadas nas paredes das enormes bolhas que emitiam ou transmitiam, ou largavam ou... a espaços visam-se pequenos arco Íris.
Olhos esbugalhados e uma visível preocupação sem percebere o que se estava a passar.
Uma ligeira brisa, um chocalhar e um remexer das enormes bolhas, mais uma folha desfolhada, daquela história sobre a infância perdida, dos meninos que se recusam a crescer e dos grandes que nunca foram meninos, o sapo palhaço lá estava a rir-se, agarrado a lula ramelosa, ao grilo rameiro e á cobra esguia, que nem uma enguia.
Nesse dia algo de importante aconteceu lá para os lados do arco Íris, um enorme sorriso depois de um bocejo do Sol.


Apeteceu-me


"Os passos bem medidos nem sempre têm conta certa" Charles de la Folie

domingo, maio 01, 2005

Garoto do Rio

Passear na Lua

(...) Ria-se a “bandeiras” despregadas, era um prazer vê-lo sorrir, era um prazer saborear aquela ilusão a que nos transportava. Era um “miúdo” fantástico dizem! Um daqueles garotos, que gostávamos ter sempre por perto para podermos observar e aprender. Quem diz que os mais velhos, os mais sabedores, não aprendem com os mais novos! Quem diz isso? Pois quem diz não sabe nada, não conhece nada da vida.
Aquele garoto, saia todos os dias de casa apaixonado pela vida pela vontade de viver, pelo saber crescer. Crescia com passos bem medidos, que só a sua idade sabe fazê-lo. Nem muito depressa nem muito devagar, crescia SIMPLESMENTE.
Grande parte dos dias sentava-se ali perto do cais, numa pequena saliência, com os pés quase a tocarem o rio, com o seu boné azul, gasto de tanto o usar e de tanto sol aparar, a pala desfiava, sempre voltada para trás como a sacudir os dias que passam. Ali sentado pensava, reflectia, o seu dia a dia. Phones colocados, ouvia grande parte das vezes, musicas que os mais novos não ouvem e os mais velhos têm medo de escutar, coisas como Ben Harper, mas ouvia, escutava, versões “Malditas” de “Excuse me” ou Tricky em “ Evolution, revolution, love”.
Eram essas musicas que o transportavam ao seu mundo, que traduziam aquele sorriso de fazer inveja. Era fantástico vê-lo ali sossegado, sozinho, mas compenetrado nas suas coisas mundanas, não no sentido de mulher da vida, mas na facilidade e liberdade de pensamento das suas coisas, era um regalo vê-lo ali a dar as pernas a olhar para o horizonte, correr aquele rio a uma velocidade que só a sua vista e o seu pensamento conseguia, uma ternura.
Foi num dia daqueles... ou num daqueles dias, numa tarde de desfolhada, onde corria uma aragem de arrepiar a espinha que, desapareceu do olhar de todos os que o seguiam a distancia, desapareceu, foi, foi-se literalmente daquele sitio. Sentiu o momento de viragem, em que o rio deixou de correr para o mar, as nuvens pararam no céu, o vento prostrou-se num qualquer vale, o canto dos pássaros ficou sem melodia, as mentes ficaram perplexas, os riscos tornaram-se invisíveis, o pesado ficou leve e a alma indivisível.
Naquele momento, a vida parou, os olhares perderam-se pelo espaço, pela escuridão de uma qualquer solidão se é que isso se pode dizer, quem o olhava, quem sorria por o saber por perto percebeu o grande vazio com que ficou.
Todas as noites naquele local podia-se ver uma enorme bolha transparente brilhante, estranhíssima! Parecia o seu recorte a brilhar. Nem toda a gente o via, só mesmos aqueles que durante anos beberam da sua pureza, possuíram a sua actitude, a sua capacidade de estar na vida de olhar, sorrir e dizer coisas bonitas. Foi ai que a vida continuou, o céu não caiu, as nuvens não se esvaziaram, o rio continuou a correr em direcção ao mar, as palavras voltaram a fazer sentido, as melodias, pareciam outra vez existirem.
(...) noutro espaço de tempo, sentado num enorme penhasco, com os pés soltos por cima das nuvens, mãos vincadas na terra, ao lado dos quadris, pernas semi abertas e a balançar, tronco ligeiramente inclinado para a frente, olhos vincados, muitos quilómetros a frente, lábios meios gretados do vento e do sol, do frio e dos dias ali.
Pensava em tudo e em nada, mas pensava, na vida que tinha, que queria, e na vida das pessoas, das muitas pessoas que acreditavam e acreditaram em si, que o viam, que conheciam o seu sorriso, e que do seu sorriso faziam modo de vida.
Era o sorriso que os que não conseguiam chegar ao seu brilho, era o sorriso que “eles” imberbes criaturas invejavam.
Um dia senti que aquele menino estava sentado na minha janela, sentado com os pés a balançar para o lado de fora, e acreditou...
Adorava saber que ele se passeava pela Lua.

Apeteceu-me
“Sorrir não está ao alcance de todos, muito menos dos imoraisCharles de la Folie