sexta-feira, abril 29, 2005

(Fogo) Cruzado VIII

(Fogo) Cruzado VIII

...) Casar era uma palavra que me assustava, não que eu tivesse alguma vez, pensado muito no assunto, mas a verdade é que casar, assusta, claro que assusta, casar partilhar, deixar de fazer uma série de coisas que estamos habituados a fazer, isso tornava a palavra verdadeiramente assustadora. Imaginar, que não podia deixar as cuecas onde quero, como quero, beber o leite pelo pacote, deitar-me no sofá e peidar-me loucamente, industrialmente, até ficar verde de intoxicação, aquelas coisas que só fazemos quando não partilhamos a casa com outras pessoas, aliás eu partilho a minha casa, mas é com o meu fiel amigo, e ás vezes partilho-a para uma sessões muito másculas de visonamento de pornografia, não é que fosse fã mas tinha graça pelo menos ver o enredo daqueles filmes, ou qualquer coisa que se pareça com isso. Partilhava para uma coisas suplementares, uns suplementos do namoro, porra umas infidelidades, mas poucas, nada de monta pelo menos desde que ninguém soubesse, mas vou deixar de falar de “gajas” estes pensamentos fazem-me mal.
Estava a ficar melhor da dor de cabeça e da má disposição, por falar nisso, deixa-me ir ver ali a dispensa, se já está seca a minha ultima colheita, procurei uma lista telefónica, uma paginas amarelas, e lá bem metidas estavam umas folhitas de erva a secarem, já ali havia umas com muito bom aspecto, muito mesmo, só tinha agora que encontrar os “lençois” sim as mortalhas, estava a ficar com a pica toda, aquela aceleração de principio da manhã, com uma adrenalina fabulosa para descobrir afinal o que vai acontecer, ao meu grande amigo Vasco, com certeza vou ter de fazer mais um risco na minha agenda, aquele risco, que eles odiavam, e de que maneira eu também me odiaria ver assim na agenda de uma amigo, mas também eles provocam as situações depois querem o quê ? A adrenalina começava a correr-me pelas veias, era a sensação que eu mais adorava sentir, adorava ter aquele frenesim dentro de mim, parecia as mulheres quando estão grávidas todas orgulhosas por sentirem o filho dentro delas, eu ali estava tal e qual uma mulher, a sentir aquela sensação dentro de mim, agora para a coisa melhorar, bastava encontrar a “seda”, mas estava difícil, já tinha dado a volta a casa toda e, nada, mas não era muito problemático lembrava-me daqueles cigarros indianos e indonésios de cravinho que eram a folha enrolada, ali podia tentar fazer a mesma coisa.
Vamos lá ver o que isto dá, o pior mesmo é estragar uma folha desta coisa, o que é um desperdicio, mas que se lixe está-me mesmo apetecer, rir-me com isto, a erva dava-me uma boa disposição infernal, se eu já era um bem disposto, por natureza e estupidez natural, com aquela pedrada, nem me imaginam, ficava com um sorriso de orelha a orelha, olhos pequeninos sempre avermelhados, um perfeito sacaninha, mas era fantástico, era uma bela maneira de ver a vida e olhar para a vida dos outros e aperceber-me que há coisas bem piores que a minha, assim deixava de ser um chorão nato, para ser uma verdadeiro optimista, tinha piada muita piada mesmo era essa a minha maior arma, era a piada.
Agora mãos à obra, vamos lá fazer aqui um belo “habano” de fazer rir, uma bela peça, está aqui uma coisa quase perfeita, agora só falta mesmo acender esta coisa e falta também uma maquina fotográfica ou de filmar para ficar para a posteridade, a glorificação deste acto, que vai ser memoravel, o meu primeiro charuto de erva, a primeira passa ia morrendo aquilo era directo, porra quase que parecia um exaustor a puxar o fumo, tem de ser com mais calma, que isto assim ia aquecer, bom aquilo assim era muito mais apetitoso e de que maneira só tinha um senão ardia muito mais rápido mas actuava muito mais depressa, bendita a hora em que as mortalhas desapareceram aqui de casa que isto assim é muito melhor, já me grisava (ria) todo, bastava olhar para qualquer coisa e ria-me, estava a ficar um delicia sentia-me nas nuvens, só faltava ver ali o Pavarroti a dançar ballet de maiôt e em pontas a dar uns belos saltos, só mesmo isso, e não conseguia parar de rir.

Apeteceu-me

"Porquê hoje, se amanhã também é dia? " Charles de la Folie

terça-feira, abril 26, 2005

(Mudanças) AVATARA

AVATARA (Mudanças)

(...) Era espantosa a sua capacidade de mudar, de se transformar, de se redescrever. A vida nele tinha vários sentidos e direcções, todas elas faziam parte de uma realidade, que tomava bifurcações meio estranhas.
A sua cabeça espartilhava-se, redobrava-se, fazia filmes.
O seu corpo mudava, a sua alma crescia, a sua preciosa vida, não era mais que isso mesmo, um conto, ou vários contos.
(...) Na sua secretária tentava escrevinhar qualquer coisa, sobre o que acontecia sobre o que via. Por ali nada mais que um ou outro casulo de uns animaizinhos que se acumulavam por ali, não sei ao certo, se seriam larvas de... não sei mesmo porque as aranhas não se transformavam. As aranhas essas sim eram uma excelente companhia, gostava de as observar, fascinava-me ver como elas produziam aqueles fios, por onde desciam, a uma velocidade estonteante, fascinava-me ver como aquilo acontecia, mas a verdade é que nunca conseguia ver nada. Os meus olhos acabavam por vidrar, desfocavam e entrava em processo de imaginar coisas,de imaginação extasiante, como: uma aranha enorme que andava por ai e fazia mal a todas as pessoas que eu não gosto e depois aparecia eu para os salvar.
Os seus pensamentos, eram muitas vezes despropositados, pensava sempre que era um super herói, que salvava toda a gente, quando afinal ele é que precisava de ser salvo.
Eram pensamentos, que se transformavam em realidades, que pareciam mais virtuais do que afinal eram. Complicada esta linha de pensamento, mas nem por isso os filmes, as comédias, os dramas, as ficções, mudavam, eram pequenas mutações na sua cabeça, mas também na sua vida a sua personalidade ia-se toldando conforme assumia a sua nova personagem. Era uma mistura de sensações, não sabia grande parte das vezes porque lhe aconteciam coisas estranhas, como acordava, em sítios completamente disparatados e nem sempre dentro dos parâmetros normais.
Gostava de olhar com olhos de animais, geralmente só via a duas dimensões, a preto e branco, tudo desfocado, mas era essa a imagem que tinha da vida do que o rodeava do que andava lá fora. Gostava de ver as pessoas desfocadas e ouvir as suas palavras empasteladas muito devagar.. como se fosse uma gravação avariada... ou em rotações erradas. As pessoas tinham-no magoado muito, por isso refugiava-se por ali, nos seus momentos, nas suas metamorfoses, eram gritos de revolta, que os transferia para o papel, para a sua tela imaginária, pinturas que ganhavam formas, cores e por vezes, grande parte das vezes vida. Era absurdo mas ao mesmo tempo fantástico, aquelas sensações, aquelas viagens alucinantes, aquelas amizades que fazia com a sua própria imaginação.
Gostava de ver os bichos de contas, com as suas múltiplas patas, que se fechavam neles próprios. Imaginava-os uma enorme avalanche, via-os a rolar, por um sitio qualquer...a crescer, a crescer, a ficar uma enorme bola cinzenta, grande, grande mesmo de meter medo. Depois abrir-se e com aquela panóplia de patas, começar a esmagar tudo e todos a sua volta...
Mas afinal, não passava de um pequeno bicharoco que brincava com a ponta da caneta em cima da secretária... de um lado para o outro.
Adorava ver aquela borbeletixas, que voam a volta das lâmpadas, para mim passavam logo a grandes pássaros que vinham do espaço que esvoaçavam perto da lua e faziam voos picados até a terra, entravam a velocidades loucas dentro dos oceanos onde pescavam baleias... os seus dejectos destruíam parcialmente cidades, mas eram animais pacificos, que sabiam viver e não se deixavam abater.
(...) naquele dia, não sabia bem o que tinha acontecido, mas não foi simples de assimilar, sentia dores pelo corpo, e tinha a face com sangue, a face e não só, escorria-lhe ainda pelos canto da boca algo esquisito era um pedaço de ti.


Apeteceu-me



"As mudança repentinas, mais não são que um movimento na nossa vida" Charles de la Folie

domingo, abril 24, 2005

Rum Livre

De um Trago

(...) Era um homem pequeno, olhos cavados, escuros e cavernosos. Não era sub-nutrido, mas era muito magrinho, cabelo escuro, orelhas salientes, moreno, aquele moreno característico da zona das Caraíbas.
A sua roupa muito gasta, coçada do muito uso, as calças com fundilhos, o tecido dos remendos muito diferente da sarja de suas calças, as botas que usava, naqueles pés pequeninos, deveriam ser uns bons pares de números acima. As botas sem atacadores, os pés sem meias, o chão quase sem peso por onde passava.
O calor intenso, fazia aquele rosto sobrecarregado de uma vida sombria, talvez não seja esse o termo, de uma vida de sonhos que teimava em alcançar, a sua única companhia era um radio, um velho rádio de ondas curtas que mantinha a mais de 40 anos escondido. Desde o tempo de outras lutas, lutas que levaram os sonhos, na baia dos porcos. Gostava de mascar tabaco era um vicio que tinha aprendido com o seu avô que Deus o tenha, ali agora neste tempo de paz... podre, mas de paz, onde o pouco que havia era sempre repetido, durante dias, meses, anos... repetidos, e repetidos até à exaustão, até enjoar. Agora naqueles tempos o tabaco era para fumar, esfumaçar até se gastarem os pulmões. Aquela cabeça andava à muito tempo a pensar, a matutar, o que ali fazia naquela terra perdida, gasta de tanta verdura e tanta saudade, aquela terra escondida do mundo, de costas voltadas para o futuro. É verdade que também pensava que ali ninguém tinha falta de nada, havia casas para todos, a comida não faltava, os hospitais apesar de muito escuros e velhos eram óptimos, isso era indesmentivel, mas a verdade é que faltava a liberdade de pensamentos, de dizer o que se sente, era complicado escrever, para se escrever tinha que se esconder, a prosa escondida eram como pensamentos limitados a nada, limitados a inexistência de coisa alguma. Aquela fraca figura de olhos cavados, mas com um brilhozinho nos olhos, que fazia realçar ainda mais aquelas cavernas onde habitavam aqueles estranhos mas bonitos olhos, pensava, que a sua vida ali tinha chegado ao fim que não valia a pena viver mais ali naquele espaço, naquele pedaço de terra rodeado por agua, era lindo, ou não fosse a sua terra, o seu espaço de sempre, mas onde os seus
sonhos teimavam em esbarrar num muro enorme de indiferença, que o foi marcando e magoando à tempo de mais.
Estava ali parado, sentado numa cadeira recostado na parede, em pleno equilíbrio na sua cadeira, a mascar a seu belo prazer uma grande folha de tabaco, sob um calor quase infernal, mas habitual por ali bebia-se um Rum a tragos fortes (já lá vamos). Ouvia-se uma bela musica de Pablo Milanês, á sua volta naquela rua de terra batida as casas muito bem pintadas mas com a mesma cor à uma eternidade, mantinham-se com as mesmas pessoas a janela, só que mais velhas, os carros eram os mesmos de a 50 anos, mas impecavelmente limpos e arranjados, havia um chevrollett lindo de morrer, tinha uma fotografia no dia em que fez 18 anos, foi um presente do pai, guardava aquela fotografia religiosamente na cabeceira do seu quarto. Mas ali estava ele a olhar para aquela rua que começava num largo, onde ficava o coreto, onde um dia Che, o comandante Che Guevara gritou liberdade, e zarpou para outra paragens, era ali naquele largo cheio de história, que também se construiu aquele exílio que tanto o angustiava. Naquele dia os seus pensamentos voavam, à medida que bebia em tragos fortes um Rum, com muitos, muitos anos, que tinha guardado para uma ocasião especial, ele sabia para onde ia, não era preciso, não podia levar aquela garrafa, muito menos o seu conteúdo, era um néctar feito por Deuses, e para Deuses, sentia-se um Deus a beber aquele Rum.
Os seus pensamentos estavam turvos, a sua mente toldada já há alguma saudade mas a sua ansiedade, estava resignada a sua partida.
(...) era noite já, saiu de casa sem fazer barulho, apesar do cuidado a sua porta rangeu, fez um barulho de arrepiar a espinha, mas que importava aquela viagem não tinha retorno, numa das mão tinha a ponta de uma corda, o resto estava a volta do pescoço. Chegou ao sitio, onde imaginou e idealizou a sua partida amarrou bem a corda e saltou, saltou para o vazio, sentiu um arrepio na espinha, o cadafalso,o cadafalso estava preparado, era uma pequena jangada que o havia de levar em direcção aos seus sonhos....

Apeteceu-me

" A liberdade voa com os nossos sonhos "
Charles de la Folie

sexta-feira, abril 22, 2005

Para não quebrar a cadeia

Para não quebrar a cadeia
P: NAO PODENDO SAIR DO FAHRENHEIT 451, QUE LIVRO GOSTARIAS DE SER?


Amor em tempo de cólera.


P: JÁ ALGUMA VEZ FICASTE APANHADINHO (A) POR UM PERSONAGEM DE FICÇÃO?


Panjamon



P: QUAL FOI O ÚLTIMO LIVRO QUE COMPRASTE?



Esteiros de Soeiro Pereira Gomes, com ilustrações de Álvaro Cunhal



P: QUAL O ÚLTIMO LIVRO QUE LESTE?



“Memórias de minhas putas tristes”



P: QUE LIVROS ESTÁS A LER?



J.M. Coeteze

Elisabeth Costelo


P: QUE LIVROS (5) LEVARIAS PARA UMA ILHA?



Toda a obra de Gabriel Garcia Márquez

“Cem anos de solidão” não podia esquecer.

E mais os Wilt de Tom Sharp



P: A QUEM VAIS PASSAR ESTA CADEIA (3) E PORQUÊ?



http://dncover.blogspot.com , pela amizade que empresta ás pessoas

2 - http://universoinculto.blogspot.com , pela imensa sensibilidade da autora e pela criatividade

3 – http://baubrinquedos.blogspot.com , porque aos 17 anos ainda há muito para aprender, mas demonstra já uma capacidade enorme

Apeteceu-me

"Ler é como descobrir uma corpo insaciavel" Charles de la
Folie



"Fahrenheit 451 é a temperatura a que começa a arder o papel"

quinta-feira, abril 21, 2005

(fogo) Cruzado VII

(Fogo) Cruzado VII



(...) Claro que ao domingo melhorava um bocadinho, quer dizer um bom bocado, aliás eu conheci a Susana , a minha rica Susaninha a um domingo, um belo domingo, que resolvi ver como paravam as modas na missa da 11, eu sabia que aquilo por ali era um manancial, ou por outra tinha um potencial, absolutamente incrível, a missa das 11, menina que se prezasse, ia aquela missa. Eu não fui lá bem por causa da Susana, era mais uma amiga dela, que andavam sempre juntas para todo o lado, uma daquelas coisas imperceptíveis para os homens, aquela amizade ou aquelas amizades entre teenagers, teenagers mas femininas, não me lembro que se passasse o mesmo com os homens, com os machos latinos, mas pensava eu aqui com os meus botões, porque eram sempre aqueles segredinhos irritantes, aqueles papelinhos que passavam umas as outras, e porque iam sempre duas à casa de banho, fazia-me espécie, nunca ninguém me explicou o porquê disso, o porquê de irem duas meninas sempre a casa de banho, não têm muita explicação, apesar de já ter perguntado a umas quantas, mas as respostas nunca são satisfatórias, quer dizer as respostas nunca são respostas, porque um - é assim porque é assim , não é resposta para nada, muito menos para um curioso como eu.
Mas as mulheres são mesmo assim, gostam de se tornar enigmáticas, o problema não saberem qual é a definição de enigma, saber sabem se passar numa qualquer telenovela, mas como adivinha, aliás a mulher quer-se tipo adivinha, tipo chegas ai a um encontro e perguntas :
- Adivinha quem vêm jantar ? ( com aquele ar 39 XPTO)

E ela responde-te : ( com aquele ar de cueca amarela)

- Não sei, quem será, conta-me sabes que sou muito curiosa.

E só te apetece responder tipo, olha e sabes quem te vai dar uma “queca”, mas uma pessoa arrisca-se a ouvir uma resposta que não quer tipo, ai que ordinário, ou pior será que é o não sei quanto, por isso é sempre de evitar este tipo de situação com as mulheres para não termos nenhuns dissabores, que nos traumatizem nos 5 minutos seguintes.
Mas eu fui a missa naquele dia , para ver mesmo a amiga da Susana era um pedaço de, nada, nada, nem sequer quero pensar nisso, mas que era um belo naco de fruta (penso que é esse género de conversa que nos dá aquele titulo que “elas” adoram dizer de nós –és um machão).
Era muito bonita, a Maria penso que se chamava Maria, tinha uma boca, ai meu Deus só de pensar nela até me lembro de ir ao Céu, mas porque havia eu de ir ao céu se tinha ali o Inferno tão perto, aliás costumo dizer que fui a jogo e perdi, ou que apostei tudo no branco saiu no preto, queria uma saiu-me a irmã, mas afinal, a Susana não era assim tão má, em nenhum dos aspectos, nem sequer me controlava muito, quer dizer controlar controlava eu é que não deixava, porque haveria de deixar, sim porque havia de ser eu controlado, ela sabia que fumava uma ervita de vez enquanto, muito raramente, ao pé dela claro. Longe dela parecia a chaminé da padaria ali da Rua de cima, mas adiante isto não interessa nada, ela sabia que eu não metia ninguém ali em casa, porque a respeitava muito, claro que a respeito, agora ia lá meter alguém com ela ali em casa, nem tanto a mar, nem tanto à terra, era obvio que gostava dela longe de mim namorar com ela só por namorar, mas que ela era um achata era.
E depois passava a vida a falar da porcaria do casamento, era impressionante em cada 3 palavras 5 eram sobre o casamento, pior que isso, só mesmo a mãe dela, eu em cada 2 palavras 28 eram sobre o casamento, e quando é que eu acabava o curso, e patati, patatá e rebébebéu e rebébébéu, tinha dias que só me apetecia, envia-las para vários sítios e nenhum deles perto, era de doidos. A grande verdade é que eu tinha as minhas coisas, a minha casa, o meu carro, a minha vida e elas ainda queriam mais, por isso é que eu procurava, novos desafios de apenas uma horitas, por vezes podiam ser repetidos, mas nunca mais de três vezes isso trazia dissabores, a experiência dizia-me que á terceira vez já era considerado um abuso ou seja, era namoro, a não ser que fossem casadas, isso já era uma outra história e que história, mas a verdade é que eu gostava da Susana ponto final parágrafo e como, acho, não ia casar com a mãe a coisa estava mais ou menos bem encaminhada, bom eu falei em casar?


Apeteceu-me

"O ciúme além de um sentimento é uma arma de arremesso"

charles de la Folie

terça-feira, abril 19, 2005

Motard

Motard (rasga-lhe o corpo)



(...) Parou a sua mota, mal chegava com os pés ao chão, encaixava-se na perfeição ali, era uma espécie de chopper, um motão, que andava que se desunhava.
Podíamos fazer aquelas comparações que toda a gente faz e diz, tipo: ela era uma “Easy Rider”, adorava andar com os cabelos ao vento pela “highay”.
Mas não! Parou a mota, numa rua escura, meteu-a no descanso, trazia um enorme casaco de cabedal que quase lhe tapavam as botas, umas botas muito elegantes da Donna Karan, tirou uma das pernas para o lado de cá, ajeitou-se, tirou as luvas de cabedal preto, com umas protecções na palma das mãos de metal, recolheu-as na sua mala, uma mala dupla daquelas de usar a tiracolo, como o bornal dos cowboys.
Tirou o capacete, um capacete escuro com uma viseira escura, de lá de dentro uma enorme cabeleira escura, morena, cor mediterrânea se é que isso existe, sacudiu o cabelo, de um lado para o outro com convicção, saltava a vista uns olhos verdes, um verde azeitona, quase que me atrevia a chamar verde Martini, mas essa cor só existe mesmo na minha memória ou na minha imaginação, era uma doce face, doce e linda, de uma ternura invejável.
Meteu o capacete em cima da mota, uma mota, cheia de cromados, digna de uma rainha, o seu tamanho assustava, o seu roncar era magnifico, a sua postura quase perfeita, era feminina, muito feminina, como a sua amiga, era uma Harley, uma mota, uma amiga , uma paixão. Apaixonadas uma pela outra, nunca se traíram. Ela tinha sido um presente do seu pai quando nasceu, esteve a sua espera 18 anos, 18 lindos anos.
Deixou o capacete no banco da mota como já tinha sido referido, olhou em frente e avançou, com um andar decidido, pé ante pé, como quem está numa passarela, uma andar decidido e seguro, quando chegou a porta de onde ia, o porteiro mandou-a avançar, entrou, calmamente jogou as mãos às golas do seu grande e pesado casaco negro que lhe protegia o corpo, quer das quedas quer do frio, e retirou-o.
Foi de cortar a respiração, foi um momento mágico, as pessoas que a conhecem recordam, que quem não a conhece, apaixona-se rapidamente.
Naquele dia tinha um vestido preto, simples, muito simples não muito decotado, mas que realçava o seu regaço e algumas curvas dos seus peitos, as alças descaiam pelos seu ombros, queimados do sol de outras paragens e férias. O seu pescoço era estupidamente atraente e aquele vestido dava-lhe ainda mais graça. O vestido caia direito, ligeiramente cintado, não muito, mas caia um palmo, um bom palmo acima dos joelhos, uns joelhos, de sonho, umas pernas torneadas, bronzeadas, nem muito magras, nem muito robustas, estavam num meio termo, entre a perfeição e o requinte, e aquelas botas cor de pele justas, quanto baste, estava magnifica.
Sorriu, primeiro deixou o bornal, depois o casaco, cheirava muito bem, os seus olhos verdes ali ganhavam outras tonalidades, quando a luz ganhava vida e a musica começava a bater, o seu corpo estremecia.
Deu dois passos olhou a sua volta, rodopiou umas duas vezes encostou-se de costas ao balcão, o barman já a tinha visto, ela inclinou a cabeça para trás, como quem vai lavar o cabelo, abriu a boca, e automaticamente o barmam, encheu-lhe a boca de tequilla quando ela levantou a cabeça empurrou-a .
Foi directamente para a pista de dança, o seu corpo começou a vibrar novamente, cada vez mais, as suas pernas não paravam, as ancas abanavam-se com uma sensualidade de fazer corar, não pelo arrojo, mas porque era difícil desviar o olhar, era como um vicio, não se conseguia tirar os olhos.
De cabeça baixa, abanava-a, os cabelos andavam soltos, de um lado para o outro era fantástico quando a levantava olhava em frente os seus olhos confundiam-se com os projectores, tal era o brilho, um brilho de prazer, de fascínio, de alguma loucura, de uma vontade de dançar. A musica , batia, batia, batia, tocava, tocava.
(...) levantei os olhos do estirador, suspirei, e disse bem alto: - que porra.
- Não conseguia encaixar aquela mulher, aquela história, no anuncio que tinha para entregar daqui a 1 hora, era difícil, meter ali uma garrafa de lixívia.

Apeteceu-me

"Um dia saltará um olhar, para dentro do corpo e ai cairás dentro de ti"

Charles de la Folie

domingo, abril 17, 2005

LONDRES

Londres(Sono ritornato)


(...) Ir a Roma e não ver o Papa (agora é um bocado difícil) é quase como ir a Londres e não ver a Rainha, pior é chegar lá e levar com o casamento do Príncipe Carlos e de Camila. Agora, e perante este cenário compreendo que as novas gerações sejam muito mais traumatizadas que as anteriores. As histórias de príncipes e de princesas tem sempre personagens bonitas, tirando o Sherek e a Princesa Fiona versão Ogre, mas esses tem sentido de humor. O Carlos é feio, é muito feio, a Camila é horrorosa, não têm charme nenhum, como é que posso explicar a uma criancinha que aquela personagem é um príncipe, não posso porque nunca mais me respeita.
(...) Caiu a noite em Londres, está frio perto do Tamisa, o Céu não está totalmente encoberto, o cenário podia ser o de há uns séculos atras. Podiam aparacer por ali a passear o Willy Fogg e o seu fiel criado Passepartout, quem sabe um Sherlok Holmes atrás de uns daqueles vilões que tanto aparecem nas histórias sobre Londres, a grande, bonita e mal cheirosa Londres.
A escuridão. Estava escuro como o breu, enquanto roçava os ombros pelas pareces sujas de séculos de Smog, enquanto pensava na vida, de um lado que a operação a minha mãe corresse bem, do outro que os meus amores não desvanecessem. Sustive a respiração, pensei ouvir o meu nome, entre o barulho das águas pouco calmas do Tamisa, e o barulho do Big Ben a dar as badaladas da meia noite, olhei com medo. Veio-me ao pensamento o Dr. Jekyll e Mr. Hyde, era aquela hora, podiam aparecer por ali a qualquer momento, o médico e o monstro, respirei fundo e pensei que a minha vida podia ser assim... quem sabe se não era. Também me lembrei do Jack the Ripper, o estripador, que andou também por aquelas paragens, era por ventura a personagem londrina que mais admirava, gostava de pensar neles, como uma grande fantasia da minha vida.
Passei pela Abadia de Westminster, ali ao admira-la, gostava de pensar que todos os Reis e Rainhas daquela “ilhota” tinham passado pelas minha fantasias.
Ouvi uma série de badaladas, a noite foi longa, a imaginação fértil.
A caminho do St Thomas' Hospital perto de Westminster, lembrei-me de uma coisa, do cheiro... aquele cheiro, de antigamente dos esgotos a céu aberto, ratos, ratazanas, da falta de asseio, agora os cheiros de Londres, eram misturas de comidas exóticas, de Kebab’s e Pita’s Shuarma’s, com um acentuado cheiro a caril, aquele caril forte, só imaginável, com aquele queijo de Castelo Branco que as pessoas insistem em guardar em casa, e que em todo o prédio cheira, um cheiro que não corresponde ao sabor, é verdade, mas uma coisa não sei se compensa outra.
Mas, parei, sentei-me na beira de um passeio, estava de frente para o Hyde Park, e comecei a matutar, havia algo que me faltava, aquela noite não estava a ser perfeita, aquela noite que tirei para os meu pensamentos, estava com falta de algo, faltava musica. Lembrei-me que uma das muitas vezes em Londres tinha ido a um clubezinho, o Town & Country Club, onde em 91 vi um concerto inenarrável dos Crowded House, foi a primeira vez que tocaram “Weather with you” uma musica que ainda hoje me acompanha na minha memória, fazia-me lembrar aquele club, o Rock Rendez Vous de outros tempos, na intrépida Lisboa. Curioso, fui a procura dele e comecei a pensar no desfile de grupos que por lá vi nesses dias, desde Billy Brag, a Siouxie and Banshees, com o Robert Smith dos Cure numa das violas, Tom Verlaine... até acreditem vi os Texas, onde a Sharlene Spiteri tinha ainda um ar “naif” parecido com a "nossa" Margarida Pinto dos Coldfinger. Cheguei lá, ali numa transversal meio escondida perto de Picadilly, olhei para o sitio, onde outrora foi um clube fantástico, agora não era mais que nada, nada mesmo, não existia, fora-se, e com o club, o Town & Country Club foi-se quase uma geração de ouro da musica londrina.
Ouvi novamente chamarem pelo meu nome, olhei vi uma sinistra figura... na mão tinha qualquer coisa brilhante ou que brilhava. Olhei para a assustadora figura londrina, e reparei que era Jonh Lydon,dos Sex Pistols, o homem que desafiou Londres e que cantou em versão Punk “Good Save the Quenn”. Estendeu-me a mão, e entregou-me um Cd, lá dentro estava o Original dos Clash “London Calling”.


Apeteceu-me

"A Fútilidade é algo com que lidamos na nossa inutilidade" Charles de la Folie

sábado, abril 09, 2005

Coisas da Vida

Chama-se Frederico Luis Cochat Bagorro Sequeira, não é procurado por ninguém, é menino "Queque" de Cascais, ou da Linha apesar que Linha lembra-me sempre o combóio. Na obstante ( esta vai cair-lhe que nem ginjas) dos seus 58 anos, é muito mimado, mas também um grande amigo, um amigalhaço.
Num desses dias mais complicados, para a minha cabeça, estava ele comigo, e para me animar, levou-me a um supermercado e comprou uma caixa de gelados, sentamo-nos num passeio no meio da rua a comer os ditos no meio de repasto, teve a seguinte afirmação:- Óh Carlos tu apesar de andares com a cabeça toda "Lixada" estás sempre a sorrir e com um brilho nos olhos.
respondi-lhe:
Vou-te mostrar porquê.. e comecei-lhe a fazer o filme daquilo que via e porque andava sempre a sorrir, porque sou uma pessoa muito DADA.

Coisas da Vida (amigos)


(...) Estava um dia solarengo, um dia bonito, o céu sem nuvens... não fosse o carro estar na oficina, e seria um dia quase perfeito...
(flash 20 seg, o resto só eu vejo)(...) 6 gelados quase em riste, na outra caixa, uma mulher, uma menina, uma senhora, reparei que tinha casado a muito pouco tempo, a aliança brilhava, um brilho de muito novo, de muito recente, era uma aliança farta.
Era bonita, muito atraente, cabelo castanho claro, curtinho quando voltava a cara uma das pontas tapava-a, olhos cor de mel. Um corpo cheio de genica, mas quem conhece mulheres, notava que era um corpo cheio de desejos, era um corpo cheio, uma pernas nem muito grossas, nem muito finas, bem delineadas, as ancas de boa parideira, mas ainda sem filhos. Vestia uma blusa discreta, e uma saia de camurça que passava dos joelhos.
Estava decidido a reparar discretamente naquela mulher, mas fui apanhado por um sorriso, e depois por um rosto a ruborizar-se. Via-se que não era sua intenção, que não tinha sido sua intenção fazê-lo.
À primeira vista tinha tudo para ser feliz, casada à muito pouco tempo e com quem sempre amara, estava escrito pelo seu corpo, pela forma de pisar até de vestir.
As suas compras, enquanto o gelado derretia-se na minha boca, reparava nas suas compras, coisas simples, muito simples, para a lide de casa, deveria ter a empregada de férias, ou coisa do género, ou então viu-se abruptamente, sem ela, poucas coisas para comer, de quem não esperava visitas e provavelmente nem o marido para comer, começava-me a aperceber, olhei para a rua de relance e vi o parque de estacionamento, de todos os carros sobressaia um, olhei para as suas mãos e deduzi, que era médica, deduzi que só podia ser ela, mãos finas e muito pouco trémulas.
Claro que podia estar enganado, pelo menos no carro, se fosse o dela tinha um digito a dizer médico, mas... podia ser de outra pessoa, reparei novamente, num olhar muito discreto entre as farripas da sua franja, um olhar tímido mas muito esclarecedor, estava a ficar tentado, muito tentado, mas estava impedido de movimentos, só queria perceber, porquê? Porquê, porque estaria ela infeliz, porque olhava assim para mim!? Só podia ser. Ela era enganada pelo marido, não havia outra hipótese, namorou uma vida inteira com ele e depois quando casou, apercebeu-se que lhe restava um inferno, pela frente, apercebeu-se demasiado tarde. E agora não sabia que fazer, provavelmente ele já nem se quer ia a casa, a aliança era só para manter as aparências. Mas reparei, num pormenor num spray para engomar golas de camisa, por certo não seria para ela, por isso enigma resolvido o marido mantinha-se por lá, mas também é verdade que podia ser para o pai.
Claro podia ser para o pai, ao aperceber-se da infelicidade da filha foi conforta-la.
Mas tudo isto eram suposições, conjecturas da minha cabeça, não seria a primeira vez que ela me traia lembro-me do atentado ao presidente da junta de freguesia lá da minha terra, consegui, ver um atentado, parecia um filme de Hollywood, mas afinal a montanha tinha parido um rato.
Apesar das poucas coisas, levavam-se em dois sacos, ela não quis esforços e leva-as no carrinho. Quando a vi pagar, ai não tive duvidas do que pensava, para já que tinha dinheiro, não para as compras, mas tinha, aquela panóplia de cartões de crédito, demonstravam bem isso, que ali abundava, dinheiro podia ser só fogo de vista mas não me parecia, olhou novamente, entre a empregada da caixa e os cabelos, olhou e desta vez fixou-me de tal maneira que o meu colega de gelado, assustou-se, até aquela altura ainda não se tinha apercebido, falava, gesticulava, fazia interrogações sobre o preço das coisas, ás vezes dava-me a sensação que ele queria falar sobre a influencia das margaridas na cultura da batata, mas era demasiado intelectual para o sitio e para a altura do dia...
Olhei novamente para ela, ali à distancia não consegui ver o nome, bem tentei olhar para o cartão, mas estava demasiado longe.
Acabou de pagar, meteu a sua mala a tiracolo, agarrou no carrinho empurrou-o com a gentileza de uma bela mulher, ao passar por perto de mim, com o indicador, apontou em minha direcção, o meu estômago deu um salto, um enorme salto, parecia que a carruagem de uma qualquer montanha Russa estava a descarrilar, fixou-me os olhos e disse-me :
- Desculpe lá limpe o queixo, que está cheio de gelado, e sim sou médica sou.


Dedicado ao meu amigo "Fefas"

Apeteceu-me

As aparências têm o mérito de serem só aparências nada maisCharles de lá Folie

Desculpem a musica apesar da letra acho-a quase perfeita - "Brazilian Girls"

quinta-feira, abril 07, 2005

(Fogo) Cruzado VI

(Fogo) Cruzado VI
(...) imaginem um homem, não muito alto com umas formas meio esquisitas, não eram formas, porque ele nem formas tinha ou têm, era um deformado nato. Ainda gostava de saber o que uma mulher interessante como a doutora vê ou pode ver numa coisa daquelas, pequeno quase careca, de óculos, uma pêra horrorosa estou a imaginá-lo... acho que só o imagino com o pé cheio de “merda” , ainda podia pensar que ele tivesse alguns atributos especiais mas tenho quase a certeza, não juro, mas quase que o poderia fazer, que ele não tinha atributos, não podia se não, pois se não a doutora não procuraria atributos por outros lados.
Ah e tinha uma coisa ainda mais horrorosa uma vózinha de bradar aos céus, agora imaginem, este meu intrépido “amigo” salvo seja, a bater-me a porta, quase a irromper por ela, aliás quase a derrubá-la, com o pé cheio de “caca” a dizer :

- esta “merda” é sua ? ( com aquela voz cavernosa de quem tem ainda 5 anos mas acabados de fazer)

ao qual respondi :

- não amigo, essa merda não é minha, é de quem a agarrar e o senhor teve essa sorte. (com alguma, alguma não muita ironia).

O homem ia tendo um treco, aliás quando tentou dizer mais alguma coisa, fechei-lhe a porta na cara, ficou danado quis-me processar, mas teve azar a mulher disse-lhe que o melhor era procurar um psiquiatra, porque estava a ficar louco. Ao que parece, deve ter seguido o conselho, nunca mais o ouvi, aquela voz era mesmo irritante e aquelas roupas que usava, quase de certeza quando era mais novo usava daquelas farpelas à marinheiro com um chapéu de palhinha com uma fita azul e branca de cetim. E guinchava à mãe a fazer queixinhas dos outros meninos.
Mas a grande verdade é que o culpado daquela sacanice e de todos aqueles problemas era o meu fiel amigo, esse coirão que tinha personalidade própria, que dava pelo nome de cão Guru, mas eu tramava-o ai tramava, tramava, o piorzinho era onde ele andava e o que andaria a tramar naquela altura já que não se encontrava em casa.
Quem sabe se não iria dar apoio moral ao nosso amigo Vasco, hehe que bem ia precisar, como seria a carta, tinha alguma curiosidade em saber como era, como estava, mas enfim agora só queria debelar aquela dorzita de cabeça nada melhor que um belo café e uma agua com gás, açúcar e limão, uma velha receita indígena que aprendi ali com os índios da tasca do outro quarteirão, por isso à falta de drogas boticárias, ou farmacêuticas, nada melhor que a minha bebida maravilha melhor que o Maradona, mais rápida que o Carl Lewis, mais leve que uma pena da galinha mais rápida da Etiópia, assim uma coisa. A minha bebida já estava pronta, prontissima, só faltava o meu balde de café, nada melhor, que ir até a sala deitar-me no chão, meter as pernas em cima de sofá e calmamente beber, loucamente as minhas mixórdias a ver se a coisa melhora, este dia prometia.
Eram quase 9 horas da matina, a chamada hora que ninguém desconfia, mas nada de muito especial, eu só queria mesmo aquela dadiva do reino do café, era um bem precioso, era um dos bens mais preciosos que há memória, apesar da minha memória andar pela rua da amargura, já não é como era esta minha memória pelo menos nestes dias meio esquisitos, quero dizer nestes dias em que tinha bebido um bocadinho mais, melhor dizendo nos dias a seguir às noites em que bebi um bocadinho mais, a palavra lógica e ideal é mesmo ressaca, uma grande e valente ressaca, não era bem o meu caso, mas acho que alguém estava agora a sofrer desse mal, acho mesmo, e ele que esperasse por o resto da pancada que havia de ver o que é mesmo bom para a tosse, essa é que é essa e o resto é mesmo conversa da treta, apesar de eu achar que a conversa ao sábado de manhã é sempre conversa da treta, ao sábado e ao domingo ao domingo só melhora um bocadinho porque, por isso mesmo.

Apeteceu-me


"Sempre que te apeteça algo, repira fundo para sentires se há algo dentro de ti." Charles de la Folie

terça-feira, abril 05, 2005

Fenda

Fenda (teimosia)

(...) No momento em que baixava a perna para pisar o solo, sentiu o chão a abrir-se mesmo à sua frente uma enorme cratera, parecia que alguém estava a abrir o chão com uma grande faca de abrir ostras.
Não se esquece daquele dia, mais um passo e teria voado para outras paragens, a terra fendia-se, um cheiro nauseabundo e enjoativo sai das profundezas daquela terra rasgada. A terra começava a ceder, saiam vapores de vários tons mas predominava a cor amarela. Um som estranho e agudo começava a percorrer aquela zona, a terra voltava a abanar e a ceder desta vez mais forte, estava completamente desequilibrada, o meu destino era ser comida pela fenda, quando senti alguém a puxar-me pelo ombro.
Cai, desamparada no chão longe da fenda, já muito longe, à minha volta não via viva alma, fiquei sem saber o que se passava, debaixo de mim um barulho ensurdecedor, pareciam canos de água quando estão prestes a rebentar, mas ali o barulho estava em crescendo a uma velocidade, a um ritmo muito alto, apercebi-me que uma fenda vinha em direcção a mim, não vinha abria-se, levantei-me e comecei a correr em direcção a nada de especial, corria, esbaforida, ofegante, parecia... nada! a vontade é deixar-me por ali e ser apanhada por aquele enorme buraco, que vinha a minha procura, lembrei-me de virar rapidamente para um lado, e correr ainda mais forte, no meu ultimo folgo, quando cai senti as minhas pernas a tremer, todo o meu corpo tremia, mas a minha respiração misturava-se com a terra. Queria pensar, pensar em muitas coisas mas nada me vinha a cabeça a não ser aquela imagem da terra, do chão a abrir-se, do solo a lacerar-se, a separar-se.
Estranho, mas não vi viva Alma, nem o tempo que passou, não sabia nem do tempo nem de gente, nem de quem me puxou quando estive prestes a cair, tudo era estranho, mas ao fundo via mais um brecha a abrir-se, esta parecia vir muito mais rápida, era impressionante, fazia vácuo, sai muito pó de depois rapidamente o pó recolhia, para dentro, estava pasmada, abismada era mais o termo, mas realmente estava hipnotizada, nada no seu corpo se movia nem os olhos pestanejavam, o ruído, o barulho, o som estava cada vez mais perto, era cada vez mais ensurdecedor, mais esgotante, esgotava aquele som, aquela imagem, esgotava tudo a paciência, os nervos, de mãos cerradas e de um só pulo virou-se e novamente começou a correr, desta vez aos pulos de um lado para o outro, sabia que assim não corria riscos, não sabia que riscos... mas não corria, era isso que o seu 6º sentido lhe dizia, quando olhou novamente, as coisas estavam outra vez mais calmas.
Olhando bem, as várias fendas estavam a abrir-se, com um padrão definido, o que queria dizer, que tinham vida própria, ou então havia mão divina.
Parecia, que o pior já tinha passado, porque aquele padrão era..talvez fosse um tabuleiro enorme de xadrez, eram vários quadrados, geometricamente desenhados.
A sua vida tinha sido vivida sem padrões definidos, talvez por isso não tinha sido apanhada, ela pensava, enquanto o seu peito não tinha descanso, tal era o ofegar da sua respiração, uma respiração funda, que magoava, quando chegava aos pulmões, magoava pela adrenalina solta e ansiedade em que vivia.
Parecia que estava constantemente na corda bamba, parecia uma equilibrista nata, mas não. O que ela fazia era viver a vida, senti-la a cada momento, respira-la.
Mais um estrondo, agora via a vegetação toda a recolher para dentro da terra, era um espectáculo de se ver, era sim ela estava a gostar do desafio, a sua vida finalmente tinha um sentido fugir das armadilhas, dantes escondidas, mas agora sabia-o, que estavam ali eram visíveis e directas, como um jogo de Xadrez, mas como tudo na vida. O xadrez não tinha imprevisibilidade, as jogadas eram todas estudadas até a exaustão, bastava esperar por um erro, até porque ao longo da vida tinha aprendido com os erros dos outros, mas nada que fizesse perder o sono, queria mesmo, ultrapassar aquele dia aquela fase, de mais uma letargia constante.
Estava na hora, tirei os olhos dos meus colegas e continuei a trabalhar, ainda não era desta vez que ia ser promovida. Não queria mesmo afundar-me como eles e ser mais um numero, preferia mesmo o meu nome.


Apeteceu-me

"Um buraco evita-se com um desvio, uma queda ultrapassa-se com dor" Charles de la Folie

segunda-feira, abril 04, 2005

(fogo) Cruzado V

(fogo) Cruzado V


(...) Mas bom tinha mesmo que fazer ar de idiota, aquele já ninguém me o tirava, a sorte mesmo é que não havia julgo eu, nenhuma maquina de filmar escondida por ali para algum desse programas que correm o mundo, com imagens ainda mais idiotas que esta minha, esqueci-me de dizer que aquele ar de mato não era meu, sabem sonhei com aquilo, ou vi num filme, ou... era mesmo eu o que torna a coisa mais ou menos embaraçosa, mas como até nem sou um rapaz muito de me envergonhar, quer dizer...
Bom presente feito, entregue e enviado, pelo rápido aquático de serviço. Agora é mesmo tempo de procurar algo que me tire esta dor de cabeça, esta ligeira má disposição, ver ali a minha pequena planta, e tentar descobrir o meu ilustre Cão Guru.
Aquela planta era tratada como uma rainha, a rainha da cannabis, era linda, cheirava lindamente, parecia sorrir para mim, agora estava crescida, esteve ai uma altura que ela mirrou, o Cão Guru, numa de ciúmes mijou-lhe para cima e ela mirrou, até desfaleceu, estive quase a ter de lhe fazer respiração boca a boca, mas ela acabou por sobreviver, hoje é a mais linda planta aqui do prédio, tem filhos lindos, um perfume fabuloso, só nunca recuperou a 100% da sua cor original, de verde ficou assim uma amarelo mijo, nada de muito especial, penso que os seus filhos, já são chineses mesmo, até as pétalas ou as folhas parecem estar em bico, quer dizer de chinesas não têm mesmo grande afinidade, foi mesmo mijo do Cão Guru, naquele dia fico a pão e água.
Costumavam-me perguntar se ele, devido ao seu porte enorme, 80 quilos ou mais de peso, dizia eu, que costumavam-me perguntar se ele comia muito e eu costumava responder, que comer ele comia, eu é que não lhe dava. Por vezes acho que o meu cão me tentava dizer, tentava... dizia mesmo qualquer coisa nunca o entendi, mas estou convencido que ele tentava comunicar, o problema é que não sabia mesmo o que ele tentaria fazer ou dizer ou comunicar, mas comportava-se como os putos, tentava sempre afirmar-se pela negativa, já passo a explicar: se o contrariavas, se ele queria ver um programa de televisão do seu agrado, isto acontecia geralmente quando eu estava mais pedrado, ele era capaz de me destruir uma peça de roupa ou coisa do género, se a comida não fosse da marca que ele gostava, era capaz de se trancar na casa de banho encostar-se a porta e depois era o descalabro total, lembro-me de um dia que ele queria à força um daqueles brinquedos horrorosos, que passa o dia a roer que ao fim de um tempo manda um smell que até envergonha o mais proeminente, distinto, elevado e importante chulé, bedum com um fedor acumulado, daquele com 15 dias de uso, que se agarra ás mão e se molda como os macacos do nariz, estava eu a dizer, ás vezes perco-me com pormenores, Ah o mau feitio do Cão Guru, aquele energúmeno mijou-me para dentro do vídeo, como não bastasse e não estivesse satisfeito, roeu o cabo todo do telefone, mas depois aprendeu a lição quando tentou o mesmo ao da televisão, apesar de ser de pelo curto acho que ainda hoje tem os pelos em pé, o que me deixa com uma certa satisfação, mas enfim ( se a liga de protecção dos animais sabe!).
Acho que a vingança disso mesmo foi ir deixar uma poia à porta da Dra Monica, a mim não me aborrecia muito a Doutoura, o pior era o marido, ainda se fosse no consultório, apesar de ser em frente, mas ali, foi uma desgraça, o homem não deve nada à simpatia, mesmo nada, é asqueroso, hediondo, se soubesse o significado até lhe chamaria esquálido, mas como não sei, fico-me por cornudo, mas isso fica para outras núpcias, não tenho por hábito de falar nessas coisas, mas além de ter levado com a poia no tapete o senhor ainda teve o azar, para mim foi o desplante de a pisar foi o fim do mundo quase em cuecas, nem me quero lembrar.

Apeteceu-me

"Nunca sei por onde passo, mas isso não significa que ande perdido" Charles de la Folie

sábado, abril 02, 2005

Feeling's

Nada de Especial (Sorriso interior)




(...) Adorava ficar só, de um momento para o outro procurava a solidão, bastava-lhe ouvir o que mais gostava, sentia e depois, refugiava-se a apreciar o momento, a sentir, a sentir-se, era uma imagem desconcertante, mas ela sentia que ele, ele a fazia sonhar e imaginar, talvez por isso passasse a vida a fugir.
(...) O mar embrulhava-se na areia, embrulhava-se no vazio da nossa imaginação, os olhos desfocavam ao olhar para aquela imagem, entravam outros sonhos por dentro daquele olhar, aquela goticulas, que o mar fazia subir a alturas quase inenarráveis, paravam as gotas claro, o olhar descodificava a imagem que entrava pelo imaginário, o Cérbero processava a imagem rapidamente e depois via-se tudo o que se possa pensar ou sonhar, desde o sorriso, o nosso próprio sorriso. Aquelas imagens levavam-nos para longe, muito longe mesmo para locais, que não eram muito distantes dali, mas ao mesmo tempo inatingíveis.
O sonho é isso mesmo, sonhar acordado com o nosso imaginário, o nosso impossível, mas era ali que o sonho era levado ao limite, que voava por sítios que apareciam ali pela primeira vez nunca antes pisados por qualquer homem, ou por qualquer outro ser, eram sonhos estranhos que tinham um herói, mas era sempre o mesmo herói, nunca se vê o rosto, mas por certo que esse rosto tem cheiro, tem cor, tem uns olhos vidrados no horizonte onde o mar se embrulha com a areia e no vazio e levanta aquelas goticulas. Aquele mar que vai e vêm como os nosso sonhos, que a sua força faz lembrar os murros que ao longo da vida levamos sem saber de onde caiem, de onde chegam, grande parte da vezes dos sítios mais inesperados. Louvados sejam os que nos acertaram no centro do ego e fazem, as grandes e verdadeiras descobertas da nossa existência, uma inexplicável, incompreensível e indecifrável vontade de sofrer, com a simplicidade de quem oferece um beijo.
(...) Aquela mulher de sorriso largo lá ao fundo onde o horizonte não chega, nunca se revela, a sua imagem de marca é uma sombra, um sombreado de uma vida que não aparece, mas que vai vivendo em lugares escondidos, em pequenas bases de solidão como quem joga a apanhada, são os jogos de vida, os jogos que têm de ser interpretados, pelas vozes do nada.
(...) O dia estava limpo, mas o vento tocava o mar a chicote e ele que se embrulhava com a areia e com os vazios, que por ali caiam e se afogavam, os sonhos caiam, e faziam o mar encrespar-se cada vez mais, revoltar-se, mas ai havia duvidas de quem era realmente a revolta se era do mar ou do mundo que desacreditava os sonhos, porque nunca ninguém tinha dito, nem escrito que os peixes morriam no fundo do mar por ele estar revolto, ele o mar, os pássaros também não morriam por haver tempestades.
Ouvia-se por ai histórias, que histórias, as histórias que imaginamos serem nossas mas afinal não passamos, nem passam disso de pequenas histórias que nunca são contadas tal é a banalização do dia a dia.
(...) Continuava fechada sobe si própria no seu ciclo de quatro dias, onde nada a incomodava, aquela solidão era fechada hermeticamente, durante aquele ciclo, só se sabia que não tinha morrido, pouco mais, depois emergia à tona, fazia a sua aparição para depois, se fechar, foi ai que empederniu os seu sentimentos. E o mar revolto que se embrulhava com a areia e com o vazio, dizia baixinho ... “Nada me pára mesmo que isso signifique desfalecer, é preciso viver para crescer, mesmo que revolto”.

Apeteceu-me

"Por perto se conquista uma Alma longe" Charles de La folie

sexta-feira, abril 01, 2005

Quem sabe ? (odeio o dia das mentiras)

Quem sabe?
(...) Contam os antigos, que há muito, muito tempo havia um velho que durante anos ninguém acreditou nele. Cabelo enorme branco, preso por uma fita de serapilheira. A cara comida pelo tempo, as rugas escurecidas do sol, os olhos encaixavam-se numas covas de quem já tinha visto e passado por muito, os lábios ressequidos, quase em crosta, umas orelhas curvas, bem pronunciadas e juntas ao crânio. As suas veias soltavam-se pelo pescoço, tinha um corpo hirto para a idade magro mas seco, era um corpo com fibra, vestia um manto feito de trapos que outrora foram roupa, nos pés uns chinelos feitos de couro. As suas mãos, eram umas mãos cansadas, mas de uma beleza impar, uns dedos compridos finos, que contrastavam com a sua indumentária, mas eram as suas unhas, as suas unhas que lhe davam um ar digno, durante muitos anos pensei porquê, nunca consegui perceber porquê, mas aquilo que os antigos me contavam, deixava-me a pensar porque é que eram a unhas que o destinguiam.
Os mais novos, ouviam as suas histórias, para depois o gozarem, os mais velhos ignoravam-no, simplesmente esqueceram-no e abandonaram-no, mas ele nunca se sentiu sozinho, a sua missão era essa, dizer, contar, partilhar o seu conhecimento.
Tinha 16 anos quando partiu pela primeira e ultima vez da terra que o viu nascer, era uma terra não muito grande, ali para os lados de Barcelona, saiu sem direcção, sem rumo definido, saiu simplesmente. Ninguém se lembra que ele tenha olhado para trás, mas a grande verdade é que ninguém se lembra dele sequer, porque haveriam de se lembrar? ... Correu, meio mundo, passeou-se por outro meio, viu aquilo que ninguém acredita, muito menos imagina, nem sonham por ventura com tais locais, viu cabos que viravam oceanos, viu montanhas que fugiam pelo céu, viu campos brancos que se espalhavam pelo horizonte, mares que se fundiam com o Céu. Viu, viveu e foi feliz.
O sitio onde passou mais tempo foi pela ilha do Bornéu, onde a selva era densa, os animais mandavam, onde reinava ainda o bom senso e ordem natural da existência da vida, a Natureza Era a natureza que mandava ali, os humanos que ali viviam respeitavam-na e serviam-se do que ela lhes dava, usufruíam das suas dádivas e agradeciam sem as machucar.
Um dia rio acima, encontrou uma tribo, o seu ar desconcertante na altura, foi o que o fez sobreviver, ainda com 20 e poucos anos, de barba por desfazer, fez com que a tribo Akri, uma das mais perigosas tribos de caçadores de cabeças da Ásia não o fizesse em bibleot. Um dia mais tarde teve a certeza, que foi aquela barba que fez com que a sua cabeça não estivesse em exibição naquela aldeia. O chefe da tribo teve-o na mira da sua zarabatana, daquele cano, com cerca de 2 metros que tem um dardo feito de osso afiado, e com pequenas penas de papagaio, que lhe dão uma cor extraordinária, mas o veneno que é envolto no bico do dardo é mortal, eficazmente mortal, é uma mistura, que só a tribo Akri conhece, primeiro paralisa e depois mata, eles acreditam que toda a gente deve conhecer e ver a sua morte.
No fim de avanços e recuos, aqueles homens de estatura pequena, não muito negros, olhos rasgados, uma espécie de trança a volta da cabeça, com uns estranhos calções ou slips, feitos de pele de um qualquer animal, mal curtida, no fim de avanços e recuos, o chefe decidiu, leva-lo para a sua aldeia, uma pequena aldeia feita com casas de pé alto, por baixo viviam os animais, os pequenos animais domésticos, se é que isso se podia chamar, e por cima viviam os homens e mulheres da tribo.
Naquela noite conta-se, que foi dada uma festa em honra daquele homem que chegou de lado nenhum. A ementa era miolos de macaco, um óptimo pitéu na zona, depois de mão em mão passava uma malga de uma bebida esquisita, cada vez que ele bebia, todos se riam, foi beber até cair para o lado, lembra-se só de acordar e vomitar tudo, era normal, tinha feito a iniciação à tribo, à sua tribo. Quando acordou, pouco ou nada restava do seu corpo, estava coberto de chagas, foi levado para longe, onde durante 5 dias, ficou fechado num buraco, só com a cabeça de fora onde uma jovem, uma bonita jovem, lhe dava água, foram alucinações diárias, até ao 5º dia, quando o tiraram daquele buraco, onde as formigas lhe chuparam o sangue.
O corpo pouco ou nada tinha vazio, tinha sido tatuado em todo o seu corpo sobrava-lhe as mãos e a cabeça, as formigas curaram-lhe as chagas, limparam-lhes as feridas. Ali ele percebeu que a natureza dava tudo o que era preciso, por ali casou, por ali ficou, até um dia...
Na sua terra não passava de um velho doido, de um velho maluco, de mais um velho que alucinava com histórias, mais um mentiroso, mas pelo mundo era considerado o maior antropólogo que alguma vez existiu.


Apeteceu-me

"Existir é viver, desistir é morrer" Charles de la Folie