quinta-feira, setembro 21, 2006

Rataria na primeira pessoa

Nos últimos tempos tem-me apetecido recuperar um hábito de há muitos anos, fazer desporto mais normal que o levantamento do copo e outros desportos que nos levam ao sedentarismo e com isso a ganhar uma grande e cara barriga. (adiante) Com isso tenho tido um maior contacto com a natureza, quer de bicicleta, quer a correr, quer… querer queria, mas …





(adiante) … é inacreditável o quanto as pessoas são “porcas”, muito porcas mesmo.
Nos meus longos e dolorosos passeios de bicicleta é inacreditável o lixo que se vê a beira da estrada. Vê-se de tudo desde o simples preservativo a garrafões de vinho.
Até caixas de peixe são por ali abandonadas a apodrecer. Ainda não entendi porquê e qual a razão, quando existem poucos metros mais acima contentores. A verdade é que além do muito lixo há uma enorme quantidade de ratos e ratazanas, pudera ali é uma enorme fonte de alimento. Hoje compreendo porque é que as pessoas quando entram no meu carro fazem aquela cara de espanto, é que eu guardo todo o tipo de lixo que se faz, desde as garrafas de agua, aos papeis, sacos, saquetas e afins até a poder meter num contentor ou na reciclagem. Da mesma forma que ando sempre com os bolsos cheios de papeis de rebuçados, bocados de papel higiénico e coisas do género, mas é verdade que isso sou eu… mas é demasiado desagradável ver as pessoas a deitar tudo o que é lixo vidro fora, ás vezes dá-me vontade de ter um varinha mágica e fazer sei lá o quê.
Se o lixo se junta na beira da estrada e por certo na estrada da Beira, assim como nas outras estradas pelo pais fora, não menos verdade que quando ando a correr e eu faço-o geralmente na mata que fica entre a minha casa e a praia de São João de Caparica, o “nojo” é o mesmo ou pior, se é verdade que o termo vai “cagar” a mata ali é literal, até porque nenhuma daquelas praias é dotada de casas de banho publicas, mesmo pagando 2.5€ para entrar de carro. Mas a verdade é que há muita gente que “caga” a mata e não na mata.
As pessoas (se é que se pode chamar pessoa a esta espécie de troglodita), vão para ali, comem que nem umas “bestinhas”, e depois deixam todo o tipo de lixo por ali, não acho normal que em pleno sec. XXI, ainda haja gente que faça atrocidades destas.
Afinal o mundo não está nada melhor, está cada vez mais sujo e se isto não bastar, é só dar uma volta pela praia, tirar as medidas a uns portugueses típicos e observar. Depois é só fazer um rewind e tentar perceber o que vai mal no nosso pais.
Eu acho que vai quase tudo, esta semana vi uma carrada de pais preocupados com a sua vida e a borrifarem-se com os seus filhos, como vai ser o prolongamento dos horários, quem vai dar as actividades, isso é tudo secundário. Primeiro é preciso saber para onde vão “atirar” os filhos depois a educação logo se vê até porque agora vão poder avaliar os professores mesmo que não saibam o que os filhos fazem na escola, até porque os trabalhos para se fazerem em casa os TPC’s, vão ser feitos na escola no chamado estudo acompanhado ou coisa do género. Como poderá muitos desses pais saberem o que fazem os filhos na escola… se os “atiram” em vez de os acompanharem.

Apeteceu-me


“Até para brincar é preciso tempo e espaço… na nossa consciência.” Charles de la Folie

sexta-feira, setembro 08, 2006

Desencontros

Já não sabia onde Ela estava. A verdade é que lá estava.
Chegou por volta das 2 da tarde, uma hora que pouca gente suspeitava! Era um argumento como outro qualquer. Poderia ser ou talvez não.
Era muito difícil de ajustar a hora, uma hora, uma qualquer hora. Era fiel aos seus princípios, talvez por isso ainda não a tivesse descoberto.
- Bastava-me recordar-me Dela, como eu a queria ver ou imaginar. Sim, Imaginar! Porque a verdade é que todos os dias sonhava, também não era mentira que todos sonham, que o sonho é uma constante, por vezes da vida (como dizia António Gedeão).
- Onde estava – continuava-me a interrogar-me.
Sabia que estava com uma blusa bege, com recortes nas mangas rematadas com tule.
Uma saia aos folhes com cores discretas de fim de estação, cintada com um lenço castanho claro.




Varias vezes, reli a carta que Ela me escreveu para saber se os pormenores eram assim mesmo ou se os teria inventado.
- Ah! Os Sapatos - dizia em voz alta.
Pois os sapatos eram afinal umas sandálias de pano com a sola de corda com uns atilhos nos tornozelos. Também eles beges.
- Os olhos, que olhos seriam?
Por certo seriam bonitos e expressivos a julgar pelas expressões que escrevera, o que é certo – lembrava-me agora – é que Ela nunca falou Dela, porque seria?
Para mim ela tinha rosto, tinha corpo, tinha alma e sentimentos… mas isso era o que eu queria que Ela tivesse, porque Ela, por enquanto era só parte da minha imaginação.
Sentei-me no chão encostado a um pilar de mármore, frio como a morte, duro como a vida. Foi ali que refiz todas as minhas ideias sobre a minha existência, e sobre a existência Dela, estava confuso e baralhado.
Cabisbaixo, com as mãos na face a tapar os olhos, fixo na luz que saia das brechas dos dedos recordava a minha infância. Lembrava-me dos livros que fui obrigado a ler antes mesmo de saber o que era um “pintelho”. Eça, lembrava-me do “Crime do Padre Amaro”. Foi o primeiro livro que li, talvez por isso toda a minha ansiedade, toda aquela vontade de que o tempo viesse rápido de encontra mim e me fosse dando fogachos de vida vivida.
- “Cum” caraças – respirei fundo, a camisa colava-se, daquele suor que saia a velocidade da ansiedade. O frio do Pilar arrepiava-me o corpo, as nádegas estavam adormecidas, a minha cabeça estava um caos.
Sentia-lhe o cheiro, só podia ser. O meu olfacto sentia aquele odor que fui imaginando ao longo da nossa troca de missivas. Aquela fragrância só poderia ser emanado por ela. Na direcção do cheiro, nada, apenas um imenso nada, um enorme vazio de coisa alguma. Havia esperança. Naquele pequeno horizonte havia um pequeno declive, que escondia a imagem Dela. Ela que fui perdendo ao longo de uma espera que realmente nunca o foi. Aquele encontro estava marcado, estava realmente marcado pela incerteza da realidade.
O cheiro mantinha-se, mas o campo visual não mentia, mesmo sonhando acordado aquele era o lado certo de uma historia que parecia com um fim errado.
Onde estaria aquele corpo, que vestia cores discretas, mas que o rosto não se revelava.
Foi um compasso de espera, uma longa espera de um encontro com a imaginação.
Uma realidade desencontrada.

Apeteceu-me

"Os passos podem ser seguidos pelo cheiro." Charles de la Folie