quarta-feira, dezembro 22, 2010

À VOLTA DOS LIVROS - Aqui Há pena de Morte-Diário de um sem-abrigo

À VOLTA DOS LIVROS - Leitura Antena 1 - Multimédia RTP

quarta-feira, dezembro 08, 2010


Dia 10, Aveiro, 17.30 apresentação do Livro "Aqui há pena de Morte" para a Rádio Terranova - Hotel Moliceiro - e para todos os que quiserem estar presentes na sessão de autógrafos. 19:00participação no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré na conferência"Erradicação da Pobreza...Realidade ou Utopia?". Irão
participar elementos da Cáritas e da Ami. Será também apresentado o livro "Aqui há pena de morte ".

quinta-feira, novembro 18, 2010

segunda-feira, novembro 01, 2010

Estão todos Convidados

Convite



Biblioteca de São Lázaro

Como chegar:

Transportes:
Metro: Intendente ou Martim Moniz
Autocarro: 767, 723 e 790
Pontos de referência:

Estando no Martim Moniz, subir a Rua de São Lázaro até ao Largo da Escola Municipal nº 1, contornar o edifício da escola até ao primeiro portão verde à esquerda.

Estando na Rua da Palma ou na Av. Almirante Reis virar para a Calçada Nova do Desterro, subir até ao fim da rua e após a paragem do autocarro nº 23 atravessar a rua, em frente situa-se a biblioteca.

Estando no Campo de Santana descer pela Rua do Saco até ao fim da rua, encontra a Junta de Freguesia da Pena e de seguida a biblioteca.

terça-feira, outubro 05, 2010

Vidas (Em)cruzadas - Fogo cruzado I

Caraças! Humm… que Porra esta, o telefone a esta hora! A esta hora? E será que esta tem uma hora!? E será que a hora tem esta!? E esta é quem? Que horas serão?! E sei lá eu que horas são, aliás não faço a mínima ideia a quantas ando, parece que aterrei agora, e deve ter sido uma aterragem forçada, resta saber se com hospedeiras ou nem por isso! Raios! Oito e meia! Quem será que está a ligar a esta hora? Isto é ou são lá horas para alguém ligar!? Deve estar louco, às oito e meia da manhã! Ainda se fosse às oito e trinta e cinco, agora às oito e meia!? Nem que fosse a Cristina Rica a propor-me casamento, ou a propor-me ter uma carrada… um rancho mesmo de filhos meus. Claro que parava para pensar, mas… casar?! Não… nunca para casar, isso seria cometer haraquiri, mas pois… a esta hora e nestas condições… Nega, nega mesmo, levava uma nega, uma enorme tampa, não e não, faço birra, bato o pé, raios!

Mas, supondo que era a Cristina Rica, filhos não, «atão» e depois dava em alargar e perdia a graça toda… Não, nem pensar, prefiro encomendar filhos de uma outra maneira, treino com ela e alugo uns filhos ou adopto, ou coisa do género, mas claro, isto é apenas um sonho ou a minha imaginação a trabalhar para não mandar ninguém… claro a essa parte.

Raios o telefone não pára mesmo de tocar. Onde andará essa coisa, só assim percebo mesmo como é irritante o toque da porcaria do telemóvel, agora entendo a cara das pessoas quando ele toca… pois claro. Não está fácil… onde andará aquela coisa que guincha que parece uma matança de porco. Telefone…telefone… Isto não, não é… é uma garrafa de vodka, isto também não, é uma garrafita de tequilla daquelas de avião e mais uma, e mais outra… e telefone nada! Uma barra de chocolate, ups, aqui está ele, ora então o amiguinho está dentro de uma bota, da dita cuja, mais conhecida pela bota de cartolina. Belo sítio, belo mesmo!

Ora agora outra parte de malabarismo perigoso e complicado, será que eu consigo atender esta coisa? Um, dois, três… deixa-me cá atender. Só há uma coisa que ainda não entendi bem, o que se está a passar nesta cabeça. O melhor é passar para a posição de descanso - agarro no telefone, encosto-o ao ouvido e deixo-me cair para trás.

- Quem FALAAAA? (a conversa desenrola-se só com o Pilitas, não se consegue ouvir o outro lado, claro assim também perdia a piada, mas garanto que eu sei quem está do outro lado, psiuu…).

- Humm… Tu! A esta hora… sim?!

- Que queres?

- DESCULPA!?!

- A sério?!

- Estás a brincar, ai está, estás.

- Não estás?

- A SÉRIO?

- Estou tramado… mas como aconteceu?

- Quando???

- E mais alguém sabe?

- Só eu?

- E agora?

- Enviaste o quê?

- Por correio?!

- Pelo correio não, então como enviaste a carta?

- Pela dona Henriqueta?

- Ai valha-me Nossa Senhora dos Aflitos!

- Estou para ver a cara do Vasco!

- Claro sim, a cara dele quando receber essa carta.

- Claro que quero estar na primeira fila, mas tenho que me despachar ainda perco esse episódio.

- Ciao e boa sorte.

- Mas a coisa é assim tão grave como tentas pintar? Podias só… esquece…

- Até logo!

- Se precisares já sabes… há a Dra. Mónica, fica no 2º andar!

Está o baile armado, a coisa está complicada ali para aqueles lados. Ahahahahah - gargalhada sentida - não consigo parar de rir, não consigo evitar é mais forte que eu, aliás, o que posso eu fazer numa situação destas?! E depois, além da situação é das coisas mais engraçadas que ouvi nos últimos tempos, até estou com vontade de fumar aqui uma cacilhada e comemorar esta alegria, quer dizer não sei se alegria, mas apetece-me comemorar, com uma tequilla bum-bum, quer dizer a mim apetece-me sempre comemorar desde que seja pelo menos por duas boas razões, por tudo e também por nada.

Apeteceu-me



"Há sempre um acordar diferente, em dias diferentes, mas isso não nos torna iguais" Charles de la Folie

terça-feira, setembro 28, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada XII

Não vai ser nada, quando a Dona Henriqueta chegar vou tirar tudo a limpo, estou a ficar paranóica, apetece-me gritar, mas por muito que me esforce, não sai nada. Pareço uma daquelas cornetas… uma pessoa chega lá sopra, sopra e nada. Faz um bocado confusão, mas é como me sinto, aliás se ninguém vier aqui ter comigo depressa vou ficar aqui para sempre, tal é o estado em que me sinto, sem reacção nenhuma.

Mas estar aqui a mimar-me, a enrolar com o dedo o cabelo, enrola, desenrola e enrola, desenrola, deve ser irritante para quem esteja a observar horas a fio este cenário, eu com aquela cara que Deus nos deu tipo a cara 49, que não é nada mais que a minha cara de parva, mas enfim. Remoía, remoía sobre a carta, ligo ao Pilitas?! Ele sabe sempre tudo, se fosse alguma coisa de especial ou algo que me aguçasse o apetite, ele ia gozar, por isso, o melhor é não lhe ligar.

Bom, e no meio daquela confusão, saberia lá eu do meu télélé? Se o perder também não é nada de grave, já está tão velhinho, velhinho não, usado, usado também não, gasto, não… o termo é: quero um télélé novo, preciso é de ter mais cuidado, está todo marado. É verdade, já serviu de arma de arremesso, um “pato” qualquer que me mandou uma certa boca foleira levou logo com ele nos dentes… Pois cá comigo é tiro e queda, sempre demasiado agressiva e na ofensiva, e meus amigos, se estou com o sono… sou terrível, demasiado terrível, insensível, imprevisível e irremediavelmente intolerante. O meu pai chama-me anormal, a minha mãe mau feitio, se fosse o Vasco dizia logo que eu sou terrivelmente anormal e violenta, mas é o meu feitio. Por ele, por ele acho que até me moldava, ai moldava, moldava!

Será que a minha mãe já aí estará, para lhe perguntar da carta?

Que raio, a carta!!

Que grande susto… Porra… dei um salto, eu que estava aqui naquela posição de quem não vai nem fica, ou será de quem não vai, nem deixa ir?!

Olha quem chegou, salvé a Dona Henriqueta, a senhora dona minha mãe entrou aqui de rompante pelo meu quarto tal qual D. Sebastião e com a minha vista assim até o dia esta nublado… Mãe… dei um salto da cama, até fiquei tesa, hirta e imóvel, com um olhar meio atónito e antes de balbuciar qualquer coisa, fui direita ao corredor e salve-se quem puder (...) alguns segundos depois…

- Atão, mãe?

- Atão o quê filha?!

- Sim, atão que se passa?

- Não se passa nada… porquê? É suposto passar-se alguma coisa? – pergunta minha mãe a franzir o sobrolho.

- Não mãe! A carta o que diz a carta?

- Ahhh… a carta! Qual carta? Estás doida Palmira?!

- Oh Mãe! A carta que levaste ao Vasco… Estás perdida ó quê?

- Ó quê!? E um grande o quê também para ti, se assim o desejares. (aqui já a mãe estava a gozar o pagode)

- Pois a carta, não levaste a carta ao Vasco? Deves estar mesmo a gozar comigo, mas olha que não estou com disposição (grande arroto que lhe saiu).

- Levei claro, mas olha… para que conste não tenho por hábito, nem espreitar aquilo que é para os outros e muito menos esperar que me digam alguma coisa.

- És sempre a mesma coisa!!

- Bom, e muito menos com o pivete que vem de lá de dentro eu iria esperar, mas consegui trazer-te este “guronsan”, diz lá que não te li o pensamento? E… pois… e ele, encontrá-lo foi um milagre!

- Ok, obrigada, é sempre um prazer os teus favores, fico sempre sem saber de nada.

É uma dádiva dos céus beber isto, é um prazer que nem vos passa, parece um orgasmo multiplicado por 20, elevado ao quadrado, sim, mas matemática a esta hora é muito complicada, mesmo assim a minha rica mãezinha é um amor. Logo a seguir trouxe-me um café, daqueles que só ela sabe preparar, a seguir ao “guronsan” caiu que nem ginjas, esta é outra das frases que nunca entendi bem o porquê das ginjas. A seguir a umas ginjas, fico mesmo muita maldisposta, mas se for uma ginjinha com nozes, humm, nem vos conto, é simplesmente fantástico… Porra ainda não saí de uma e já me quero meter noutra… não, isso é que não.

No fim deste disparo todo de emoções e contradições parece… não parecia?! Já julgavam que me tinha esquecido da carta, não, claro que não me esqueci, e porque havia de esquecer?! Alguém me dá uma razão válida para isso?! Bem me parecia que os meus espíritos estão comigo, claro que estão, então deviam de estar com quem?!

Mas a carta? Eu estou cheia de dúvidas, certezas algumas… para dizer a verdade eu não tenho nada, nem certezas, nem dúvidas, nada, não tenho mesmo nada, só uma dorzita de tola.

Uma dúvida, só uma me está a dar cabo do toutiço… o porquê de toda esta pancada por causa da carta, até parece que a minha vida depende dela, daquele pedaço de papel enviado ao Sr. Vasco.

O que será que lá está escrito? Que nervos, pior que isso, quem escreveu… pois com tanta conversa nem me lembrei disso, quem terá escrito e dado a carta à minha mãe?

- Mãe, mãeeeeeeeeeee… anda cá depressa!

- Simmmm, que foi Palmira? (com cara de caso)

- Diz-me uma coisa, quem te deu a carta para enviares ao Vasco?

- Quem me deu? Ora essa, quem me deu foi, deixa cá ver, ora… acreditas que não me lembro?

- Como não te lembras? (Palmira fervilhava, estava piursa)

- Como? Fácil, a carta apareceu, hoje de manhã debaixo da porta.

Foi assim que, decididamente, fiquei a saber o que dizia a Carta, dizia isso mesmo: Para o senhor Vasco.

E que confusão era aquela lá fora?

Apeteceu-me


"Só somos iguais na Morte, porque em vida apenas existe utopia". Charles de la Folie

terça-feira, setembro 21, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada XI

Sinto-me cansada, com muita vontade de fingir comigo própria que estou a desfalecer, mas já estou aqui há algum tempo e só mesmo os olhos se mexem e movimentam… e de que maneira até parecem que saltam fora de órbita, devem estar prestes a chegar a Marte, porque a Vénus… nem de camisa! Andava mesmo traumatizada… agora hummm… comia uma chiclete, era mesmo o que me apetecia… para ver se tiro este hálito infernal a noite, a noite… e continuo a dizer que noite… algumas doses ou shots de cavalo, mas siga a marinha.

Estou aqui a pensar, quando fugi de casa, as coisas que eu fiz, mais uma de me envergonhar, tinha para aí os meus 17 anitos…

O que uma pessoa faz quando não pensa, tudo porque roubei no supermercado do Sr. Romão e fui apanhada, e depois o raio do homem disse que ia contar à minha mãe, foi uma vergonha. E logo eu que era considerada uma menina modelo, uma óptima estudante, ajudo toda a gente, muito simpática, sei lá… aquelas coisas que as pessoas te dizem quando estamos com os pais, e só te apetece grunhir, e ser mal-educada e dizer para irem todos comer qualquer coisa que os enfarte, mas vamos lá a mais uma das minhas histórias alucinogénicas.

Ora então, naquele dia, como nos outros, eu não sou, juro que não, cleptomaníaca, mas por vezes penso que devo andar lá perto… Adoro roubar, quer dizer, roubar por roubar, gamar, desviar dos donos, apossar-me do que não é meu, na prática é meu desde que lhe metesse a vista em cima, um papel invisível a dizer que é meu. Nesse dia a coisa correu mal, é que filei um chocolate daqueles enormes e prendi-o entre a minha saia e a blusa, perfeito não se notava nada, só que… esqueci-me de um pormenor, um pequeníssimo pormenor sem importância, um insignificante pormenor, é que a blusa era ainda uma daquelas blusas aos “fuinhos” que se usavam naquela época, ora estava a pagar a minha chiclete diária, e o bom do Sr. Romão disse-me:

- Olá! Bom dia a quem é uma flor!

- Bom dia Sr. Romão, como está?! E a família, os meninos estão bons?!

- Sim Palmirita, estão óptimos!

- É para pagar a pastilha - disse eu.

- E a tablete também… não é Palmirita? - questionou o Sr. Romão.

- A tablete?! Está a brincar, não está?! - respondi irritada, mas a ficar aflita.

- Não, Palmira, a menina está a brincar comigo? - insistia ele furioso.

- Claro que não estou… - retorqui – claro que não!

- Então o que tem debaixo da camisola? (deitava fumo)

- Nada, claro que não tenho nada! (aqui já eu procurava um buraco)

Tentei levar a minha até ao fim, esse foi o mal, quando olhei para baixo e vi aquele cenário, nem estava a acreditar, mudei de cores 29 vezes, ia-me dando uma coisinha má e depois… pois… depois quando uma pessoa precisa de raciocínio rápido… fica-se com raciocínio estúpido e estupidez ainda mais rápida, bom se não é assim, é parecido… ou seja, fui uma completa idiota.

Ele apercebeu-se da coisa e vai daí, começou aos gritos e aí a coisa quase deu para o torto, pensei o pior… quando agarrei numa banana com o propósito de o atacar, ainda apontei a banana à cabeça, mas depois arrependi-me, podia dar prisão e ainda era, na altura, muito nova e vai daí deixei a tablete e fugi.

Fugi da maneira mais idiota que conhecia… a pé, podia fazer como nos filmes e roubar um carro, uma mota ou uma bicicleta, a bicicleta era bem, eu era um ás a dar ao pedal, mas o pior, o mais frustrante da história é que eu ouvi o Sr. Romão, a dizer aos gritos:

- Agarra que é ladrão, roubou-me uma banana, agarra o “homem”, tirem-lhe a banana!

Ora fiquei um bocado… à toa. O homem tinha mesmo ficado possesso com a minha atitude e o pior é que não era pela tablete, era mesmo pela banana, que raio de homem se metia naquele histerismo no meio da rua por causa de uma banana?!

É verdade que fiquei abalada com o assunto, parecia que estava a ver aquela gente toda a olhar para mim e a apontar.

- Olha, foi aquela que roubou a banana ao Sr. Romão. Parecia um burburinho ensurdecedor que se tornava num grande “bruá” na minha cabeça.

E ali… tomei a minha maior e mais difícil decisão, fugir de casa.

A vergonha de enfrentar a minha mãe, mas acho que o pior não era isso, era a vergonha de enfrentar a minha mãe e ela levar-me em frente do homem, no meio de toda a gente que lá estivesse no supermercado. O que seria grave para mim, seria a humilhação total, e como não estava para isso, para enfrentar essa coisa, antes uma surra, era como se fosse 2 em 1, da surra não me escapava, talvez sim, talvez não e… pois claro, aí resolvi fugir. Foi horroroso, não me lembrava nem de sítio, nem de ninguém, quer dizer de alguém lembrava-me, mas havia sempre aquelas perguntas tipo, o que fazia ali àquela hora? Porque não estava em casa? E aí, então, resolvi meter-me ao caminho, procurar abrigo, até que… encontrei a minha mãe pelo caminho e, o resto é aquilo que já tinha descrito, a minha fuga foi mesmo só em pensamento, quer dizer ainda fugi, aliás, ainda guardo a banana religiosamente, mais ou menos, é uma réplica em plástico, um dia ainda a vai sentir, ai vai… vai… aquele Sr. Romão!

Mas, enfim, era novinha… mas já vivi uns bocados engraçados, engraçados agora… na altura não achei grande piada, mas com descontracção e estupidez natural tudo faz sentido, se bem que eu seja uma rapariga muito sentida.

Porra! Já são quase 10 horas da manhã e ainda estou aqui prostrada na cama. Que neura! Quer dizer, por um lado até sabe bem não andar por ali a passear pela casa, atarantada, sem saber muito bem o que ando a fazer, mas por outro lado estou demasiado intrigada, com a carta...

Apeteceu-me

"Nem sempre acreditamos que tudo o que sai de nós é verdade" Charles de la Folie


terça-feira, setembro 14, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada X

E a vida continua e eu sem saber nada da carta, é mesmo uma desgraça, tenho de saber, eu quero saber, preciso saber… Pode ser daquela lambisgóia da Dra. Mónica, talvez não, mas agora estou num estado de ansiedade e no meio desta pancada toda era só o que me faltava ter um ataque de pânico, é mesmo o que vinha a calhar. Ainda dizem que o período é difícil, comparado com o que se está a passar é um caldinho. Isto porque… quando embico numa coisa… fico terrível, fico a moer, a moer, a remoer e acreditem que moída e remoída já eu estou. Parece que andei para aí uns duzentos quilómetros a pé, com uma mochila cheia de pedras preciosas, mas não as posso tirar, nem tocar, nem ver… Estou doente e o raio da carta ainda me mete pior. É que para mim só há uma solução, suicidar-me, atirar-me de bem alto, muito alto, um salto para o abismo, assim tipo atirar-me da cama abaixo, é um tombo e peras, são para aí vinte centímetros para a desgraça. Se fosse uma “Tia muito Bem” podia partir uma unha e isso podia trazer graves consequências psicológicas, não sei bem a quê e a quem, mas talvez, por exemplo, à minha cabeleireira.

Coitada! Quer dizer coitada de mim, eu aqui assim e ninguém me salva, nem uma garrafinha milagrosa, nem um chá, nada, nada mesmo…

Ui, eu não sei bem o que se passa, acho que tenho cabeleireira marcada, ora se tenho cabeleireira… devo ter alguma coisa especial, mas não consigo lembrar-me. A minha mãe nunca mais chega e são quase 10 horas da matina e eu aqui sem saber de nada. Não sei da carta, não sei o que vai acontecer, não sei o porquê de achar que tenho cabeleireira marcada, deve ser um belo dia deve… um sábado e com estas incertezas todas, imagino como vai ser o domingo…

Tenho de tentar, mas é um esforço descomunal e isto só para ver o que se passa à minha volta… reviro os olhos, parece que estão a suar de tanto esforço… É uma transpiração monumental para a minha vista, mas aqui e ao que posso ver ao meu redor, nada mesmo… nada se passa, quer dizer, tirando aquelas coisas soltas, umas cuequitas, ou duas, ou três, um soutien, ou dois, ou três, um par de meias, ou dois, ou três, tanta coisa, como pode ser isto se eu sou só uma!?

Estou com umas securas que dão para três e a carta nada, nada mesmo, ainda vou chorar.

Às vezes finjo que choro, mas nunca é nada de especial, são aquelas coisas que nem nós acreditamos, remoemos, remoemos, mas nada… pois eu chorar chorava, mas é de ter o quarto assim desarrumado. Nem tudo é mau, posso sempre gabar que é um desarrumado com estilo, desarrumado e não desmazelado. É um desarrumado com… ou seja, o meu desarrumado tem encanto, faz-me lembrar o desarrumado daquelas vedetas que vão ao cabeleireiro só para se despentearem. Lembro-me dos Aerosmiths, o Steve Tyler, aquela mão cheia de homem, dizer qualquer coisa tipo “vocês não sabem quanto custa ter este mau aspecto”. O dele, coitado, é à borla foi mesmo de nascença ele é um misto entre um carro estampado e um galo da Índia.

O meu quarto é assim, tem umas cores extravagantes, é a chamada aberração contra natura, um amarelo cueca a roçar canário, com um verde frigideira misturada com alfaces, os acessórios são tonalidades extras dos meus próprios domínios criativos, processos que, para um comum normal, demoram anos, muitos anos mesmo, a grande maioria não consegue e se conseguisse… batatas! Para mim apenas segundos, resta referir, claro ninguém a não ser eu, a sobredotada da fava rica, é que pode “criar” uma coisa daquelas, claro que tenho de dizer a verdade…

Ainda não o fiz e já estou arrependida, só falta lá escrito em letras garrafais, aqui jaz a minha virgindade, nunca o fiz por, por, por… nunca o fiz porque nem quero pensar na minha virgindade, pensar para quê? Já foi há tanto tempo, eu quero é pensar no que diz aquela carta, isso é que eu quero. E já agora também não me importava nada de saber o que se passou esta noite.

Apeteceu-me

"Não é no contar dos dias que envelhecemos mas sim em vê-los passar passivamente" Charles de la Folie

terça-feira, setembro 07, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada IX

Por falar em beleza… a beleza da minha mãe não há meio de chegar. O tempo passa e, nem o pai janta, nem a gente almoça. Hummm… o que preciso mesmo é de tomar alguma coisa, a cabeça parece pesar toneladas, estou a imaginar ir até à cozinha de carrinho de mão, com a cabeça lá em cima, é assim que a sinto, como um peso desmedido para o resto do corpo, tipo aqueles cabeçudos do Carnaval.

E que Carnaval anda por aqui, o que é certo é que continuo especada aqui em cima da cama. Acho que está alguma coisa para acontecer, aliás aconteceu na noite anterior, isso pelo menos é uma evidência, só espero que não tenha acontecido nada de muito anormal, às vezes, a coisa… pois a coisa descontrola-se e mais que descontrolada já sou eu.

O que me intriga… nesta altura do campeonato é que não consigo imaginar o que pode estar escrito dentro daquele envelope… Que raio! Onde andará a Dona Henriqueta!? Quando mais precisamos delas, mães claro, é quando mais elas nos desaparecem, é sempre assim e julgo não haver remédio porque vai ser sempre assim, não haja ilusões!

Até parece que eu tenho uma remessa de mães, é que ter esta já é uma sorte, uma santa destas… só que agora era muito precisa… e nada, nada mesmo… Lá continuo eu de barriga para cima… cabeça empoleirada na almofada, às vezes com uma vontade de passar as mãos pelas pernas que até me arrepia, mas passa depressa só de pensar que tenho de fazer movimentos, alguns movimentos bons, mas a vontade desvanece com uma velocidade alucinante, tipo flash de máquina descartável.

A verdade é que estou angustiada, aos 23 anos… sinto-me angustiada por tudo o que fiz e pelo que não fiz. Apetece-me fazer algumas coisas, mas das que fiz houve algumas de que me arrependo. Arrependo-me das vezes que me apeteceu amar alguém loucamente, sentir alguém a trepar por mim, pelo meu corpo, pelos meus desejos e desígnios, e arrependo-me das vezes que senti nojo de mim por fazer coisas que me apeteciam muito... Não foram grande coisa, a bom da verdade, é que há homens, qual homens! Miúdos que são uma coisa pavorosa, embrulhados são uma coisa, quando se desembrulham, meu Deus… Então quando se prova, valha-me a Nossa Senhora dos Aflitos, conseguem ser confrangedores, às vezes não é por falta de argumentos, é mesmo por falta de… como posso explicar sem me envergonhar, eles querem tudo à pressa, não entendem que as coisas que dão mais prazer demoram a fazer… Demoram, é verdade que este é o meu ponto de vista e ponto, e ponto… e ponto… Apre! estou a ficar um pouco repetitiva, ponto G, “G point”… “prontos” está dito, não só meu… das mulheres, das mulheres em geral. Lembro-me de um namorado que tive que, com a aflição, ou com a pressa, ou sei lá com o quê, rasgou sete preservativos ao tentar meter aquela porcaria, puxava e com os dedos, pimba. Um “gajo” que me dizia, que fazer amor com ele, era como uma prova de Formula Um, no fim era um cheiro a borracha queimada! Afinal… dá-me vontade de rir, nem das boxes saiu. Ele bem tentou, mas já não consegui parar de rir, foi mais forte que eu, no fim ainda lhe disse para levar as “camisinhas”e tentar fazer-lhes a bainha, que ainda serviam para mais umas provas… mas de triciclo, ou então para recauchutar. Nunca mais o vi, coitado, foi um bocado, um bocado é favor, humilhado, mas o que havia de fazer? E se houvesse?! Mas não havia felizmente…

É uma Pancada… para rapariga até que é saudável, quer dizer, tudo dependendo dos parâmetros de quem – te vê. É óbvio que a minha avó não tem a mesma visão - até porque é míope - que, olha pois, que a minha Tia Luísa, a mãe da Ana, claro que não, a minha Avó é 50 ou mais anos avançada!

O que eu penso, isto é o que eu deveria pensar nesta altura… acho que a Ana no dia em que se soltar, vai ser lindo, tenho impressão que vai parecer um toiro a sair dos curros, desencabrestada de todo, mas é cá uma impressão… Só me faz espécie uma coisa: a Ana terá sido inventada debaixo de um vão de escada?! Se, para aquela família, um preservativo é uma dádiva de Satanás aos pecadores, hoje em dia é aos pescadores tal é a quantidade de camisinhas que aparecem por aí a boiar, mas já nem o Santo Padre pensa assim, enfim, o tiro vai sair-lhes pela culatra, ai vai… vai…Hum basta ver como me olham, e isto porque tenho dois brincos na orelha, imagino se eles… bom até a minha mãe, mas não quero pensar nisso agora, não quero mesmo.

Eu bem tento, juro que estou a tentar… a tentar fazer força para me levantar, mas o melhor que consigo é que a cabeça se vire ligeiramente na almofada, na minha melhor amiga, na minha confidente, na minha alma gémea. Se nascesse, por acaso, um objecto gostava de ser almofada… nã, nã nã Porra! Ainda tinha como dono um daqueles gajos sebosos que não se lavam, que deitam óleo do cabelo que dá para fritar batatas, nã nã, isso é que não … ai que me vomito só de pensar nisso, que nojo.

Rápido, rápido, coisas positivas, rápido, ora deixa cá ver gelado de pistácio, ovos de tomatada, baba de camelo, doce da avó, está a melhorar, mas com a sede com que estou, não posso pensar muito em doces, ora pensar, pois pensar!?

Que terá o raio da carta? Aquela carta que a minha mãe tinha e já não deve ter, já a deve ter entregue, mas que tinha na mão, pois na mão?! Estou intrigada, aquela carta, humm… Sr. Vasco, se não fui traída pela minha bela vista, ali há gato, ai há, há!

Gato, gatão, não sei que raio de felino, mas que deve existir alguma coisa deve e a minha mãe sabe, se não sabe devia saber, afinal eu sou filha dela, ela só tem de investigar para mim.

Eu sei que ela tem um desgosto enorme por esta situação, não fui criada para ele, mas a amizade que os meus pais tinham e têm para com os pais dele… Lá estou eu a pensar naquele gabiru, não passa um minuto que eu não pense nele, isto é que é uma sina… nem o pai almoça nem a gente janta…

Apeteceu-me



"O tempo pára naquela fracção de segundo, mas os sulcos na pele continuam a ser escavados" Charles de la Folie

terça-feira, agosto 17, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada VIIII

Aquelas palavras ecoam-me ainda na minha humilde cabecinha (...)

-Sabem?! Ontem estive com a Palmira.

-OHHH, então? (em coro)

-Nem sabem o que aconteceu!

-Conta!... (em coro)

-Estive com a Palmira, e...

-Foi?! E?... (em coro)

-Nus!

-Nus?!... (em coro)

-Sim, e foi muita bom, até deitei... Sabem?... Não sabem?!

-Ah vieste-te? - diz um ou uma mais esclarecido ou esclarecida.

-Vieste-te?! (em coro)

-Sim, vim a pé, como é normal, o meu pai tem o carro na oficina.

-(riso geral) Ah! Ah! Manganão, conta lá, não disfarces - diz o mais esclarecido.

-Sim, sim pois claro e depois, sabem, foi sempre a abrir.

-E a Palmira? (pergunta geral)

Aquela conversa foi para mim tão absurda, que ainda hoje tento perceber o tipo, tentar tento, mas não consigo!

É óbvio que eu naquela altura, até demorava a carburar, a pensar no assunto,realmente a perceber o que acabava de ser dito ali. Fartei-me de gozar o pagode, tipo cá de trás da multidão, e se era uma multidão estava mesmo muita gente, a escola quase em peso... Olha então quando o assunto era uma menina, nem queiram saber!

Eles,para saberem pormenores, elas para poderem ter trunfos contra a concorrência,ali valia tudo, aliás se há sítio competitivo para o qual nós não estamos preparadas é o Secundário, vi-me e desejei-me, mas sobrevivi. Da fama daquele energúmeno é que não me safei, mas naquela tarde e perante aquela assembleia, eu mandei umas bocas valentes:

-Então Garanhão há gaja!?

Eu cá de trás, escondida em tom provocador, muito mesmo.

-Era perfeita, umas mãos magníficas.

-Porquê és manicura, arranjaste-lhe as unhas?

-Pois, pois...

Dequem não tem resposta, e o sorriso amarelo, só visto.

-E descobriste-lhe o ponto G?

Estafoi para o matar, ainda hoje me rio da resposta dele.

-Sim, sim, estava difícil de o tirar, mas consegui. Aqueles cintos da Gucci sãomesmo difíceis, mas têm aquele pontinho em cima do "G" ...

Alie acolá ouviram-se umas gargalhadas estridentes, claro só mesmo algumas miúdas perceberam a pergunta e entenderam a cretinice e imbecilidade da resposta.

-Tocaste-lhe o clítoris?

Esta ainda foi mais maldosa!

-Sim toquei, ainda tentei tocar Led Zeppling, mas ela odeia música pesada.

-Tentasses uma música mais levezinha.

-Pois, não tentei, devia?! É que eu só tenho olhos para a Palmira...

Já não me lembro bem do resto, sei que me ri... que chorei a rir, acho que me mijei a rir e que andei muito divertida, super divertida o resto da tarde, só quedepois comecei a sentir aqueles olhares de, como explicar... um misto dedesaprovação e de heroína, mas também um misto de desavergonhada com tarada sexual. E comecei a tomar as proporções da coisa, já era mesmo coisa pública e começou a remoer, a remoer, uma moinha nesta minha humilde cabeça... A cólera e araiva começaram a tomar conta de mim e isto numa rapariga de 14 anitos,imaginem!

É...Eu tinha os meus defeitos, como toda a gente, era traquina, mas tinha alguma consciência e, aquilo, aquela história começou a cair-me muito mal, a provocar azia e de que maneira.

A caminho de casa, não como sempre, evitei ir com o Pilitas e com o Vasco, fui a matutar na vingança, como havia de me vingar. Pensei em quase tudo, até empurrá-lo do alto do nosso prédio, mas coitadas das pedras da calçada!

Ao virar a esquina... vi, ao fundo da rua, a conversar, o Pilitas e o Vasco. Eles estavam de costas para a entrada do prédio. Achei que aquele era o momento e não me ocorria nada... É que não me lembrava de nada, estava bloqueada. Ali antes do prédio havia e há uma loja de electrodomésticos que é do Tio do Pilitas, ali, na zona da porta costuma estar sempre e naquele dia não foi excepção, uma pequena exposição dos produtos da loja. A única coisa que se pegou à minha mão e com uma boa base de lançamento foi uma daquelas panelas de pressão com uma pega grande tipo frigideira, ora a tampa parecia mesmo à medida dos meus intentos. Escapuli-me para dentro do prédio, sem me verem, foi difícil, mas consegui ficar transparente tal era aminha raiva. Quando eles entraram só me lembro que ainda travei o meu ímpeto a tempo de... porque... pois porque se não tinha sido a minha desgraça.

Travei a tempo, salvo seja, a "carrapeta" em ferro, com o balanço, saltou e pimba, 6 pontos no toutiço... A partir desse dia, conversas com ele nunca mais, claro sócom o advogado da minha mãe como nos filmes. A verdade é que nunca mais conversei com ele, também é verdade, que nunca o perco de vista, nem posso! Há entre nós um misto de Amor-Ódio, uma química infernal, sei que ele também tem o mesmo sentimento, também sei, das peripécias que faz quando anda mais nostálgico... Não... não são essas, de falar alto pelos corredores e pelo prédio quando sente a minha aproximação, começar a dizer disparates para ter a minha atenção, diz cada coisa mais ridícula... No outro dia, eu nem me lembro bem,aliás, eu... eu mesma até fico envergonhada, mas disse uma patacoada do género...quase que pareciam duas, tipo a falar sozinho, como os malucos, uma conversa de surdos, mais de malucos... assim, mais ou menos... - Meu Deus porque me fizeste tão belo?

Ou então:

-Não sei se estou farto de ser belo, se estou farto de ser loiro.

Claro que deve estar belo, ele é moreno até à quinta casa e de belo só se for um belo cabaz de cornos, isso sim, isso é que é beleza.

Apeteceu-me



"Apenas por uma vez descobri que havia outras vezes para olhar a vida" Charles de la Folie

terça-feira, agosto 10, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada VII

O que me está neste momento a irritar… a verdade é que a dor de cabeça continua sem parar e eu sem saber o que a “velhota” anda a fazer por aí, com um envelope na mão e toda sorridente… Raios que me partam a mim e ao que me atormenta, há dias em que só me apetece desaparecer, para falar a sério, agora apetecia-me mesmo era estar numa igreja vazia, sem ninguém, de olhos fechados, sem ouvir nada a não ser aquele silêncio profundo, dá-me a calma suficiente para…?! É fenomenal, pouca gente, claro que pouca gente sabe, e porque havia de saber o que eu vou fazer à igreja! Devem pensar que eu vou pedir aos anjinhos ajuda divina para qualquer coisa…tipo os exames, mas não?! Claro que não… vou lá em busca de calma, três quilos de calma e quatro quilos de concentração… é uma boa fórmula, uma óptima fórmula de descompressão e descontracção e alguma estupidez natural.
Depois de uma porrada de anos a estudar… aqui estou eu feita parva, deitada na minha cama, pois de quem havia de ser, claro que sei de quem podia, até tenho uma boa lista de possíveis “gajos de a quem a dita cama poderia pertencer, mas… estou aqui na “minha”, como uma colegial à procura do prazer divino, ou será divinal? Pior, só mesmo estar com uma pancada na cabeça, que nem vejo, e ainda por cima desempregada, mas isso não importa grande Merda, não é que me possa queixar, não me falta grande coisa, mas… Pois é, por vezes, é um tédio, uma pessoa às vezes está no sofá e já não sabe em que posição deve estar, nem paciência, nem nada. Lembro-me do Ricardo, mais conhecido por RICHARD OSBORNE, era um dos gurus do meu curso de Sociologia: “A Sociologia explica o que parece óbvio a pessoas que pensam que é simples, mas que não compreendem quão complicado é realmente”. Este gajo sabia da coisa…
Estão a ver o dilema, onde estou metida nos meus pensamentos?! Qual dilema, eu digo que é um trilema! Estes meus pensamentos vão muito além do que se pode pensar, chegam por vezes ao absurdo do intelectual. Para quem pensa que eu sou uma menina fútil, gosto, adoro que essa seja a minha imagem de marca, gosto de a cativar à futilidade claro, às vezes assusta e dá muitas surpresas a quem não me conhece, grandes perturbações para assim dizer. Que o diga a Dra. Mónica, a psiquiatra que mora aqui no prédio, a senhora pensa ou deve pensar que eu sou parva, deve mesmo pensar que eu não sei, pois deve, ai deve deve… que eu não sei o que o Vasco andou por lá a fazer nas suas consultas! Foi, até parece que eu não conheço o “animal”, e mesmo que não o conhecesse… A maneira como ela o olha, há sempre outra hipótese e das duas uma, ou é fufa, ou o Vasco foi com aquela conversa da treta que andou a espalhar por aí há uns anos, espero que ele tenha aprendido com aquela pancada de 6 pontos e que me custou muita coisa, e mulher perdida por cem, perdida por mil, é o que se diz e acho que é bem verdade.
Mas eu sei lá, custou-me muita coisa boa na vida, entre elas custou-me muitas noites perdidas a pensar nele. Mas, mas… mais um mas e mais um… mas a Dra. deve pensar que eu sou parva, e mesmo que fosse, mesmo que eu fosse parva, tenho sempre um aliado de peso um excelente aliado, o meu grande amigo Pilitas que me conta tudo. Ah! Pois é! Sei que foi ela que o desvirginou, não ao Pilitas, mas ao Vasco, pois claro, deve ter sido bonito deve, ela com aquele ar sabido com os óculos a caírem-lhe pelo nariz, aquele cabelo apanhado com um lápis atrás, estou a ver o filme!
Às vezes vejo mesmo filmes, filmes de mais até! O que é certo é que não sei se o que sinto por ele é amor ou se é ódio. Ele deve pensar que eu ainda sou aquela “parvinha” como no dia em que foi contar aquelas histórias para a escola, onde reuniu meio mundo e contou aquelas alarvadas sobre mim. Ainda um dia gostava de perceber e entender o que é que realmente se passou naquela cabeça, naquela cabecinha tresmalhada, não sei se isso vai acontecer algum dia.
Apeteceu-me


"Nem sempre encontramos o que procuramos, porque estamos demasiados ocupados em não achar..." Charles de la Folie

terça-feira, agosto 03, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada VI

Éramos umas espertalhonas, por exemplo, lá o nosso grupinho, tínhamos tácticas infalíveis para saber quem eram os rapazes que gostavam de nós. Tenho vergonha de pensar no assunto, tenho? Não tenho nada, quer dizer… envergonho-me do que andei a fazer, mas passa, é coisa de pouca dura… dura que horror… Mas que resultava a nossa minha táctica, resultava, era tiro e queda, então era assim: montávamos guarda à porta da casa de banho dos rapazes e íamos ver as portas das retretes, os escritos, o que lá andava escrito, tipo “Vasco Love Palmira”, ou a “Virgindade da Palmira mora aqui”, coisas deste género e com uma fluência literária que metia dó, de uma prosa e de um português, sei lá, será que se pode dizer vernáculo ou cavernáculo?!? Mas houve lá, naquele sítio digno de um Cervantes ou de um Marquês de Sade, uns escritos ou uns dizeres… hummm fabulosos… nunca mais me esqueço:
“Eu fodi a Camarão Diaz!”
“Eu fodi a Inona Radar!”
“Eu fodi a Catarina Fortuna!”
“Eu fodi a Fernanda da Serra!”
E depois, por baixo, estava uma piada medonha escrita com letras quase garrafais ou seriam… pois… mas estava assim:
“Tu fodeste foi a parede toda ao homem!”
Apesar de tudo, nas paredes da casa de banho dos rapazes, no WC, é tão giro dizer isto, liam-se algumas coisas interessantes, mas verdade verdadinha e que seja dita, quem não se sentava naquelas retretes, ai, ai, era a filha do meu pai, essa é que não era de certeza absoluta. Eu não me sentava pelo nojo que era e eram de uma imundice vergonhosa e assustadora. Engraçado ou sem graça, nem sei o que pensar, muitas raparigas…pois, já me lembro, arre!... com esta coisa nem raciocinar direito consigo, perco-me… ah!… haviam de ver como pensavam muitas raparigas… Naquela altura, ainda hoje infelizmente, quando aparecia alguma rapariga grávida, geralmente, era por contágio, sim contágio, tipo infeccioso, era sempre por artes mágicas do acaso. Aliás, havia por aí muito incesto virtual claro, ou era na toalha da casa de banho, ou na banheira, familiar portanto!
Hoje rio-me com isso, tem mesmo uma certa piada como se pensava antigamente, era fantástico, o problema é que os nossos, pois os nossos pais alimentavam-nos essas ideias, eram planos divinais que nos engendravam. Hoje, olhando para trás, vejo os atentados que fizeram à minha inteligência, mas não foram os únicos. Só de pensar na falta de informação, é inenarrável, como nunca ouvi falar do assunto, penso que deviam fazer abortos a atirar pedras às cegonhas… Meu Deus!
A grande verdade!... Tudo naquele tempo era tabu… o aborto, a pílula, a própria menstruação, nem maionese podia fazer menstruada, só comigo engolir essa tretas, histórias desse género, mas a culpa, não era nossa, era dos nossos paizinhos que parece que viviam na pré-história. Chego a pensar, deveriam querer que acreditássemos ter nascido de geração espontânea. Para que era tanto tabu… tanta Merda à volta das coisas, parece que andavam a criar flores de estufa. O que é certo é que elas aconteciam e se aconteciam, pois claro e depois é que eram elas.
Tive sorte na mãezinha que me tocou, quanto ao paizinho nem vou falar. Se ele não consegue falar, porque terei eu de falar dele. Assim à primeira vista nunca me bateu, também não me lembro de ele bater na minha mãe, mas gritava que nem… nem sei bem, era um misto de corneta, com bombos misturados com o som duma locomotiva a vapor, qualquer coisa assim do género. Felizmente que o meu pai está por terras Africanas, está lá debaixo da terra, já há uns tempos que deixou de nos chatear e de nos aborrecer com os seus gritos tipo Tarzan do raio que o parta, foi-se de vez, tanto para mim como para a minha mãe, é um alívio.
A Dona Henriqueta às vezes, por vezes mas não muitas, ainda chora, isto quando se mete a ler as cartas que tem guardadas. Eu não tenho grandes saudades, nem grandes nem poucas, claro fiquei com um belo carro, tenho uma casa só para mim, tenho muita coisa, imensas coisas, mesmo muitas… se ele ainda aqui estivesse, bem tramada estava, tramada não, mas sem coisas e que coisas!
É claro que às vezes tenho saudades dele, mas também pensar que ele ganha uma nota lá nas minas de Diamantes, e que é certinho aqui ao fim do mês, é pena não ser em diamantes, mas enfim não se pode ter tudo… Já agora, lapidados e enfiados num belo colar, claro e o cuzinho lavado com água de rosas?! Hi! Hi! Hi!
Mas também, lembrar-me agora do meu pai é um bocado tétrico, afinal coitado do homem, anda lá fora a trabalhar para me sustentar, ou pior, anda lá fora a trabalhar para não estar aqui dentro a chatear e não me sustenta só a mim, sustenta também, pois sustenta os meus vícios, já que a mãe não tem nenhuns.

"As palavras por muita alma que tenham, nunca deixam de ser palavras, às vezes basta ouvi-las!" Charles de la Folie

terça-feira, julho 27, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada V

Grande susto enquanto estava aqui neste meus pensamentos de luta com a cama, a minha mãe chegou e mais uma vez me obrigou a privar da sua companhia e de seus beijos. Veio dizer-me que ia sair, mas que já vinha. Nem tempo tive para lhe perguntar se há garrafinhas milagrosas… estranho… ia com alguma pressa… Ela não costuma andar assim tão depressa, ou será impressão minha!? Talvez seja, nada que mate… estranho, estranho mesmo, para não dizer muito estranho, é que ela leva um envelope, e ao que me parece diz “Sr. Vasco”, ou “para o Sr. Vasco”, deve ser algo importante, mas Vasco?! Vasco?... Ora espera, nããoooo… não acredito! Não acredito mesmo… Sr. Vasco… não é de certeza para o louco insano e deficiente mental, não pode ser… deixa-me rir, mas… de qualquer forma já pergunto à Dona Henriqueta, penso que aquela carta deve ser a razão desta minha dor de tola, de mona ou do raio que a parta.
Que se lixe, a grande verdade é que nem para um berro, um grito à minha mãe tenho coragem… tenho muito medo que a cabeça me salte para algum lado, quem sabe menos conveniente se é que isso existe.
Enquanto nada acontece o melhor é tentar desvendar estes meus mistérios de uma noite atribulada, pelo menos se não foi deveria ter sido, mas por osmose… não foi por certo. Posso tentar chegar lá pelo hálito, mas é um cheiro terrível a tabaco, misturado com pasta de dentes e álcool… e depois sai tudo aqui do meu interior, chega em forma de arroto, que coisa, que horror mesmo. Não falo daquele interior, profundo e bom, aquele interior muito cristão, esse interior não faço a mínima ideia de onde surge, penso que tinha de ser mesmo lá do fundo, mas digo eu aqui que ninguém me ouve, que esse fundo a maior parte das vezes… Não! Não vou dizer, é melhor não, até porque não é esse fundo que faz parte do imaginário colectivo, é um outro fundo, do fundo sei lá de onde, devia ser das antípodas do outro fundo ou será do fundo social de coisa alguma?!
Adiante, outra das coisas que me interrogo é mesmo se as outras raparigas são assim como eu, ou se eu sou a excepção à regra. Tenho dúvidas se há muitas miúdas iguais a mim, com a mesma maneira de ser, de falar, de sentir, de fervilhar, de dizer, acreditem que eu sou muito durona. Lá no interior, sei que lá naquele fundo… às vezes choro por estas coisas, quer dizer… choro e não choro, alivia-me a alma. Estes pensamentos cada vez estão piores, acho que estou com a puta da emoção à flor da pele, a emoção e a comoção se é que isso existe e sei lá mais o quê...
As coisas que me lembro, estou aqui a recordar que para aí no meu 6º ano, estávamos ou andávamos todos a discutir na aula, aquelas conversas facciosas e sectárias, as do costume, tipo: que o homem é melhor que a mulher, que a mulher faz isto e tem bebés, que o homem tem “bobos”, tem o quê?! Claro que tem e estúpido para aqui, parvalhão para ali, mentecapto para ali, fuinha para acolá e eu lembro-me de dizer:
“Vocês têm a mania que são espertos e inteligentes, ainda gostava de saber quais são as vossas conversas entre rapazes”, à qual o Vasco respondeu:
“São as mesmas que as vossas, porquê!? Devem pensar que são as supra-sumo da batata!”.
E lembro-me que me saiu assim um:
“As mesmas que as nossas?! Ai que ordinários!”.
Ainda hoje me gozam por causa dessa história, mas tudo isto ou isto tudo, para dizer que eu posso ser assim meio… abrutalhada… pouco feminina nos actos, mas não devo ser a única… mas sou boa pessoa, sou sim, só posso ser, porque não havia de ser boa pessoa?! Sou sim!

Apeteceu-me


"Sempre que o instinto nos provoca, arremessamos com o destino ao acaso" Charles de la folie

terça-feira, julho 20, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada IV

Um dia ainda faço uma cruzada a casa dela, e posso sempre levar o Pilitas, olha, ah! ah! o Pilitas é um bom partido para ela, ai se é!!
Até que tinha graça, muita mesmo, é o tipo de moço que os pais de qualquer garota adoram, adoram mesmo odiar, o Pilitas, é um “Moçoilo”… como posso explicar!? A melhor maneira de explicar como ele é, é mesmo não explicar, porque ele é absurdamente e absolutamente inenarrável… É simples, é barato e dá milhões, é um grande amigo, mas tem um defeito, não muito grande, mas não deixa de ser um defeito, é que ele não mente, tipo:
- Ó mãe! Ontem estive em casa da Susana (namorada do Pilitas - será?) a noite toda, até adormeci e se não acredita pergunte ao Pilitas.
- Ó Pilitas… é verdade, o que a Palmira está a dizer?
- Bem… Dona Henriqueta, tecnicamente é verdade, mas basicamente não! Ela passou por lá, quer dizer, disse-nos que ia passar por lá… Ela, Dona Henriqueta, como lhe vou explicar, ameaçou-me há 2 minutos, para lhe dizer que esteve lá. Claro que, Dona Henriqueta, espero que não me leve a mal.
- Estás a ver Palmira, nunca posso confiar em ti, aqui o Pilitas é sincero, nunca mente e diz-nos sempre a verdade, não é?
- Sim claro, quer dizer, pois é essa a minha intenção, às vezes, sabe… omito… omito umas coisas de nada, aliás eu penso que a Palmira também é assim.
É talvez por isso que digo que o Pilitas é único, muito sincero, é óbvio que desta vez eu sabia que até era mentira, mas disse à minha mãe que ele me tinha pedido para não passar por lá, porque queria dar uma valente “trancada” na Susana - isso queria a Susana. A minha mãe, só não lhe deu um treco porque já me conhece de ginjeira. Quanto à “trancada” na Susana, o Pilitas acha que a namorada é para levar virgem para o altar, eu disse a namorada, porque ele podia ser dado à religião, mas de parvo não tem absolutamente nada, ai não tem não, e acho que essa de ir virgem para o altar também é uma treta dele, ou um fetiche, apanhar a igreja vazia e pimba no altar.
A verdade é que a catadupa de pensamentos parvos não passam e eu, quanto mais sei que tenho de me levantar, mais fico pregada ao colchão. É uma briga, uma briga exasperada entre eu, a minha pessoa, o colchão, a almofada, a vontade de não me levantar, a consciência de ter de me levantar, a almofada que não deixa a cabeça levantar e os pés que se auto prendem no edredão. A verdade é que este género de coisas excitam-me, excitam-me muito mesmo, de uma maneira descomunal, agora há um pequeno problema que é o perceber porquê, o porquê desta excitação toda que me persegue. Não sei, até porque tudo me excita… acho que tem a ver com o foro psicológico, ou qualquer coisa da mesma classe… às vezes só me apetece auto-flagelar e dizer: “sua tarada, sua miúda sem escrúpulos sexuais, sua isto, sua aquilo”, mas suar nada…
O problema é que me dá uma vontade, uma enorme e desconcertante vontade de rir, e rio, rio quase até sufocar, parece que estou pedrada, com uma bela ervinha, vinda ali do… psiuu… Não se pode dizer se pois ainda vão à varanda dele, ou à sua estufa ou sei lá mais onde… ih! ih! ih! e lá se vai a nossa produção caseira. Foi aqui que eu percebi o que é uma empresa familiar, ou uma empresa de amigos “mais bem falando”. Aquilo é do melhor, ele planta, seca-as no forno e eu testo o produto, eu e muito mais gente aqui neste prédio. Ainda não fizemos dinheiro nenhum, claro como é que uma pessoa se separa de uma planta que é tratada com tanto amor, é como aquelas pessoas que criam um coelho ou um pato e depois não conseguem comê-lo, e também porque estamos há dois anos em testes de qualidade, sempre ouvi dizer que uma empresa, para ser uma empresa, deve testar bem os seus produtos. E é o que nós fazemos sob o signo da qualidade, aqui o problema maior é que eu sou a “testadora” oficial. Problema porquê?! Nunca chegamos a grandes conclusões porque ficamos E.H.L., ou seja, num Estado Hilariante Lastimável…
apeteceu-me


"Basta pensar novamente para que o dia amanheça num instante, mesmo que seja o escuro que te proteja" Charles de la Folie

terça-feira, julho 13, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada III

Mas hoje a coisa parece estar a correr bem… melhor do que é costume, anda tudo à roda, mas por enquanto nada de muito complicado, pior é quando estou mareada, quando estou virada para essas travessias atlânticas, hoje a coisa está calma, o mar não está revolto está calmo, tipo mar chão. O pior… o pior mesmo é sair da cama, tem de ser de uma só vez, ou de uma vez só, quem sabe se de uma vez acompanhada ou acompanhada de uma vez. Acho que não digo mais nada é só asneiras que saem da minha boca… bom, tem de ser de uma só VEZ, e depois rodar o rabo, tipo Break Dance… meter os pés no chão, apoiar as mãos nos joelhos e upa que se faz tarde, upa para cima. O pior é que as pernas vão bambolear, dar de si, até parece que já estou a ver o filme, e que filme, o melhor é passar à acção, vamos lá a isso… um, dois, três e... ai, ai…
Pois, é tudo fácil, mas aconteceu aquilo que se chama o efeito sempre em pé mas, em versão deitado, eu sou a sempre deitada… e sei, tenho a certeza que tenho de me levantar e que é um dia importante para mim, muito importante mesmo, se não é passa a ser, claro… ou nem por isso…
Nesta altura preciso mesmo de duas coisas: de relaxar e que esta pancada me passe, o melhor é continuar deitada e fazer algo que, alguma coisa que adoro, com este silêncio sepulcral (estas coisas não se devem dizer, mas eu digo tudo como os malucos, talvez por isso é que pensam que eu sou uma rapariga meio esquisita e não se enganam grande Merda). Adoro tirar macacos do nariz, fazer umas bolinhas apetitosas e depois lançar - os macacos - para o vazio e ouvi-los a bater estrondosamente contra o chão, ou contra o guarda-vestidos, ou contra a secretária que não tenho ou… sei lá… Mas fico frustrada quando caem no tapete, odeio mesmo, depois daquele trabalho todo de construção macacal e depois não poder ouvir, escutar aquela sinfonia, aquele belíssimo plock, um plock divinal feito de um belo macaco de uma narina imaculada e depois ejectada. Continuo com esta história, a pensar que devia haver olimpíadas do macaco, tipo: o arremesso do macaco, o mais belo plock do macaco, o maior macaco, o mais viscoso macaco, a colagem do macaco na retrete (no urinol para a classe masculina), o mais expansivo macaco no vidro do WC…seria uma forma de dar a conhecer a arte do macaco ou do macacão a todas as classes. Na verdade há umas menos privilegiadas que não sabem o que isso é, acho que estou certa, acho que pode ser uma bela forma de se estar na vida.
Depois desta dissertação sobre os macacos o melhor é continuar a treinar o meu plock, plock. Macacos mais macacos, a chamada “macacada final”, ou a “última grande macacada” ou ainda a “ grande macacada em cuecas”. Nada de muito especial fazer estas coisas ou não fosse eu mulher, mas as coisas que me lembro, uma mulher que devia ter muito tino, mas… claro, evidente e visível… não tenho! A minha mãe até que é uma “gaja” porreira, senhora “gaja” diga-se em bom da verdade, porque, por exemplo, eu nas mãos da minha Tia Luísa bem lixada estava, a esta hora já tinha um enxoval completo, completo não, faltava-me o essencial… o “gajo”!
A desgraçada da minha prima Ana que tem 24 anos, mais coisa menos coisa, o melhor é dar-lhe um intervalo de dois anos quer para cima e também para baixo, acho que ainda nem cheirou a coisa, coitadinha, o mais perto que esteve de um beijo foi na missa, no casamento não me lembro bem de quem, mas não é muito importante, o casamento claro. Na missa, naquela parte, em que se beija o nosso semelhante assim na Terra como no Céu, a minha prima Ana beijou um miúdo todo bom, na cara, claro, mas foi o mais próximo que ela esteve do sexo ou de um linguado ou de qualquer coisa que dê calores, que aqueça a alma e a faça transpirar, a alma, não vão pensar em outras coisas… Aliás, segundo sei, o meu Tio Manel, nesse casamento, já não tirou os olhos do rapaz, devia estar com medo que acontecesse alguma coisa de grave, quer dizer, o grave aqui devia ser mesmo o rapaz tossir e poder engravidar a prima Ana ou coisa do género, aquelas cabeças são um bocado para a esquisitice. Pois, é triste quando se tem a mania da pureza, quando pensam que um homossexual é alguém que lava a pila com OmO, pois branco mais branco não há, ou haverá… que se lixe a taça. Voltando à miúda, miúda uma fava, ela é mais velha que eu, mas coitada, o que ela sofre à brava com o período – menstrual. O médico mandou-lhe tomar a pílula para regular a coisa e a desgraçada quase foi deserdada só de pensar naquilo, na pílula, não foi de coisar seguro, foi mesmo na pílula… Aliás nem vale a pena porque a pílula, naquela casa, é heresia, se o meu Tio a deixasse tomar, qual tomar, utilizar… O homem é tão… nem sei bem a palavra para o definir… retrógrado, arcaico… não me ocorre nada mais…o meu vocabulário não chega para o definir, pressupondo que ele a deixava usar…
A pílula seria usada, pressionada entre os joelhos para nunca a deixarem cair, uma boa forma de nunca abrirem as pernas. Que horror, ou seja, se em vez da pílula meter uma granada, também faz um belo efeito, aí deve ser uma pílula abortiva. Não vou gozar mais com esta história, é tramado estar na situação dela e isto tudo é uma forma de dizer que a minha prima Ana é uma desgraçada. O que eu penso, e estou a ser muito sincera, é que se ela não se impõe depressa, ainda vai ter um valente desgosto, um não, dois, além de casar virgem, vão-lhe escolher o noivo. Acho que essa é a pior maldade que podem fazer a uma mulher, mas ela nunca se vai aperceber da maldade porque vai para o casamento com tanta “fominha” que nem se apercebe, nem se lembra do que lhe fizeram.

Apeteceu-me



"Não percebo as vontades por isso me deixo levar..." Charles de la Folie

terça-feira, julho 06, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada II

Entre as coisas que me vêm à cabeça são - dois pontos, parágrafo:
- Onde é que passei a noite, porque a passei, com quem passei, que me fizeram e porque fizeram e com quem fiz? Atenção nada de pensamentos promíscuos, porque falo simplesmente e quem sabe, infelizmente, de copos, não falo de quecas… - que grande suspiro - isso são outros quinhentos paus, são mesmo outras histórias, e claro histórias de um outro rosário. Quer dizer, podem ser deste, mas só são ou só serão quando eu quiser, e agora não quero mesmo pensar nisso, agora o que eu mais desejo e que mais quero, é como conseguir alcançar a cozinha. É que neste momento parece-me um objectivo, uma batalha inatingível. Só espero que esteja lá o meu extracto de guaraná, o meu querido amigo desintoxicador hepático, uma coisa amarela, com um sabor horrível, horrível de se tomar e de beber. Aquilo parece - num copo de água, num simples meio copo com água - ter concentrado uns vinte quilos de açúcar, mas é inegável que é tiro e queda. É “espantástico”, “fabulástico”, incrível, é um arrebatador de ressacas e pedradas, já pareço uma daquelas anunciantes de publicidade manhosa no canal de compras. Só peço a todos os santinhos que ainda tenha algumas bombinhas daquelas, porque caso não tenha… ai se não tenho, estou completamente, perfeitamente lixada com PH! É coisa para me suicidar, tipo enforcar-me pela barriga claro, pelo pescoço depois faltava-me o ar. Só espero que sim, aquelas pequenas garrafinhas são e serão sempre uma dádiva de Deus...
A história é rápida, foi uma vez num churrasco brasileiro, num rodízio, eu provei a caipirinha (bebida feita com lima, cortada às rodelas ou macerada, açúcar, gelo picado e cachaça, muita de preferência). Os rapazes, os rapazes, as raparigas sei lá, toda a gente trazia carne à força toda, mas antes e depois de provar aquela dádiva dos céus parecia que o mundo ia acabar e bebi o mais possível. A primeira vez que fui à casa de banho, ainda me lembro, aliás, só me lembro dessa vez, as outras… contaram-me. Lembro-me que olhava para o espelho e ria-me que nem uma louca, que nem uma perdida! Claro, estava mesmo perdida, falava comigo ao espelho, tipo a madrasta da Branca de Neve, só que para mim, não é como nas histórias de fadas, cá comigo os espelhos mentem muito, são muito mentirosos, falta de um bom correctivo.
Figuras, pois figuras tristes, muito tristes, mas existem figuras mais tristes, digo eu aqui que ninguém me está a ouvir. Ah! isto tudo para dizer que fiquei em coma etílica, por outras palavras, com uma bebedeira monumental, daquelas de caixão à cova - deixa-me cá bater na madeira.
E aí entra a garrafinha milagrosa, a tal, a maravilhosa, a inefável garrafinha milagrosa. Deram-me daquilo e parecia que me tinham dado um choque, daqueles dos filmes, com um desfibrilhador - duas coisinhas que se esfregam uma na outra, parecem dois ferros de passar a roupa, depois espetam com aquilo no peito e damos saltos que parecem os do cão do Pilitas. Por falar no cão do Pilitas, o que é feito do Cão Guru? O que é feito dessa alma linda e babada?!
Continuando (a contar) a minha experiência da garrafinha milagrosa, abri os olhos de uma maneira que nem vos conto… Conto sim… foi de uma tal forma que no dia seguinte parecia que tinha uma distensão muscular na pálpebra, simplesmente maravilhoso, é quase inexplicável tal é a velocidade de actuação daquela Porra, que quase parece irreal, quem sabe se não é mesmo?! É mais uma daquelas coisas que só a nossa cabeça pode explicar, ou seja, acção psicológica, mas enfim.
Sempre que há alguém conhecido que vá ao Brasil, não mando um bilhete postal, mas peço sempre para me comprar as benditas garrafinhas de extracto de guaraná.
A caipirinha, essa enjoei-a de uma forma que nunca mais bebi, a não ser umas Caipiroskas com Vodka, ou Caipirissimas com Tequilla, o que me irrita muito, porque com a caipirinha lembro-me… lembro-me… não me lembro de coisa alguma, mas contaram-me depois que estive e estava sempre alegre!
É que sou um bocado maníaca ou depressiva e passo logo à fase do choro, tudo isto por causa daquele filho de um comboio de melancias do Vasco. Mas, mesmo assim…claro que não posso estar só e sempre a pensar em coisas alegres, porque não resolvem nada, e mesmo que resolvessem!? Sinto-me terrível, parece que acabei de ser atropelada por um camião Tir. Só espero, espero mesmo, verdade verdadinha, que haja aqui em casa alguma coisa milagrosa. Faço votos para que exista.
Eu sei que tenho de alcançar a cozinha, eu sei quais as coordenadas para lá chegar, da minha cama até à cozinha são…
Isto parece o mapa do tesouro, nesta altura do campeonato é mesmo um tesouro o guaraná, é ouro puro, purinho da Silva. Ora então, da minha cama são sete passos para abrir a porta do quarto; depois virar à esquerda; doze passos dos meus ou seja, são passos pequenos, virar à direita, abrir a porta; dois passos, rodar à minha direita, esticar o braço e vasculhar a cestinha que está em cima do microondas e encontrar o remédio milagroso. Se for para chamar o Gregório, em vez dos doze passos, são só seis, virar à direita, mais quatro passos, ajoelhar, puxar o tampo para cima e gritar por ele até à exaustão, até que a garganta me doa, isto não é tema de um fado?! Será que se chama o fado do Gregório?!


Apeteceu-me

"No principio pensamos no fim e no fim já não há tempo para pensar" Charles de la Folie

terça-feira, junho 29, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada I

Capítulo II - Pancada

- Mãe, Porra, já basta… já estou acordada que Merda… já não chega o raio da dor de cabeça que tenho e ainda vens para aqui pôr-te aos beijos a lambuzar-me toda?!
Se há coisa que odeio é ser acordada com beijos. Odeio, a minha mãe sabe disso e passa a vida a fazê-lo…Guardem os beijos para… sei lá… para… para… para um dia mais tarde recordarem ou coisa do género. Para quem haviam de servir os beijos… Os beijos… cada vez que me lembro de beijos… Terei eu a culpa de acordar assim? Acho que não! Feitios são feitios, ou será que não?! Mas cada vez que me lembro de beijos, lembro-me de cerveja, de imperiais, da espuma a cair alarvemente no balcão e a escorrer pelas mãos… Uma pessoa sorve ruidosamente e fica-se com aquele bigode branco que rapamos com a língua e depois olham todos para nós, com aquele ar de desaprovação, e só nos apetece, logo a seguir, arrotar à camionista e despenteá-los a todos. Eu sei que fica mal numa menina, mas que se lixem, alguns… para não dizer todos.
Que horas serão? Dói-me a alma para olhar seja lá para o que for. Que chatice, já são oito e meia da manhã, que grande porcaria… Até estou com medo de subir as persianas, pior mesmo que beijos é levantar as persianas de repente e levar… “levar” é bom, até que me apetecia… mas, dizia eu, levar com aquela luz toda de uma vez só nos meus olhos, parece o milagre de Fátima, cheio de cor e luz. Do milagre de Fátima precisava eu agora… pois precisava e de que maneira, até agradecia. A minha cabeça gira que gira…
Mas o que preciso agora mesmo é de uma velinha em honra e memória de Nossa Senhora dos Gregos ou será do Gregório? Se não é deve ser de coisa parecida. Que enjoo, estou mesmo enjoada! Grávida, garanto-vos que não estou, só se foi obra do espírito santo, quem sabe… quem sabe… sei eu, ora que coisa! Se não for eu quem saberá? Só mesmo eu e se eu digo que não estou, é porque não estou. Preciso é de muita calma e paciência que a coisa não está nada famosa e pior... pior mesmo é que ali do outro lado… só ouço…
Pois do outro lado só ouço a minha mãe a zurzir, praguejar e outras coisas que nem me quero lembrar. Anda ali, de um lado para o outro, a dizer: “a Palmira isto, a Palmira aquilo”… Arre! a Dona Henriqueta ainda me gasta o nome, de tanto andar para ali tipo uma barata tonta, é o que parece, pelo que sinto, mas o que sinto mesmo é uma enorme vontade de… Que engraçado e ao mesmo tempo que estranho… sempre me lembro de tratar a minha mãe por Dona Henriqueta, porque será?! Pois sei lá, também nunca ninguém me explicou porque é que o Stevie Wonder não podia ver o Ray Charles, eles que até parecem pessoas simpáticas, porque terão assim um ódio tão grande um pelo outro?!
A minha cabeça anda num corrupio ou antes num inferno. A noite foi de borga, uma grande borga mesmo, mas o mais curioso é que não me lembro porquê, estou, com uma estranha sensação… Bolas, até mesmo o “Cérbero” está completamente entorpecido.
Lembro-me que é sábado, que tenho qualquer coisa para fazer e não sei bem o quê!? Trabalhar não é de certeza, emprego não tenho, fundo muito menos… fundo de desemprego claro, é que não faço a mínima ideia do que é trabalhar, quer dizer, eu lá no fundo até sei, mas óbvio é um fundo tão… mas tão… longínquo que não o quero imaginar… Bom só se fosse nu, mas nu quem? Acho que ando a ficar com alucinações muito complicadas, terei eu andado a tomar alucinogénios, ou lá como chamam a essas coisas que nos dão, para andar aí a imaginar coisas esquisitas…
Grande pedrada que eu ainda tenho em cima, tenho e ao que parece é para manter, quer dizer mantenho não por opção, mas porque… ai nestes dias tudo o que me vem à moleirinha é disparate, se não é disparate anda lá perto, ou então é dor, ora dor por dor… prefiro o disparate. Eu sei que a maior parte das pessoas dificilmente consegue compreender o porquê de uma rapariga dizer e fazer tanto disparate, não é pelo disparate, é pela rapariga em si. As pessoas não conseguem conceber nem imaginar isso no seu reino cinzento, ou no seu meio palmo de testa, pois uma rapariga dizer disparates e fazer disparates… Ah! e muito menos, já me esquecia, a “enterrar” uma panela pelos “cornos”, pode ser “chifres”, fica mais bonito uma donzela dizer assim, mas fica melhor pelos “cornos” de um gajo abaixo. A história do Vasco fica para outras núpcias… “péra” lá! Eu disse núpcias?! Pois, ora núpcias, núpcias está-me a tentar dizer qualquer coisa, mas... não chego lá por enquanto, nem por enquanto, nem por nada, não chego e “prontos”.
Eu, quando estou assim, não é que tenha estado assim muitas vezes pelo menos esta semana, eh! eh!, mas quando estou assim… ai ai… Antes de conseguir abrir os olhos, todos remelosos, gosto… adoro… sinto-me mais aconchegada assim, de barriga para cima, quer dizer, deitada de barriga para cima, não quero que ninguém pense em coisas esquisitas. Barriga para cima, pernas abertas, braços a agarrar na almofada para a poder puxar para cima até me tapar as orelhas, é a maneira de eu não sentir nem dores nem o quarto a andar à roda, parece um carrossel, anda que se desunha. Quando este meu quarto lhe dá para isto, só me apetece dizer coisas ruins, mas ele não me liga nenhuma, é um safado, um grande cafajeste isto para não dizer já aqui um chorrilho de asneiras.




Apeteceu-me
"Não há lógica na irracionalidade do pensamento, apenas temos de aprender a deixa-lo ficar" Charles de la Folie

terça-feira, junho 22, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas X

Este sorriso que me mantém, sem pensar que ainda me dói muito a cabeça, está para durar… É bom, pois eu não tenho coragem para fazer o que penso, deslocar-me ao 5º C com um ramo de flores, um sorriso de orelha a orelha e pedir para falar com a Palmira, pedir-lhe desculpa e perguntar-lhe se quer ir para a cama comigo, que coisa… ir beber um café comigo, esse desejo é mais forte do que eu possa imaginar. Às vezes acho que estou doente, que é um problema do foro psicológico. Olho para as mulheres, para as mulheres não, para algumas mulheres e vejo uma grande, uma enorme “vagina”, uma coisa assombrosa, mas essa é a grande verdade, não posso esconder isso de ninguém, aliás, foi com esta conversa que a minha psiquiatra a Dr.ª Mónica me desvirginou.
Mas essas são outras histórias, a grande verdade é a minha falta de coragem para enfrentar a realidade, duas realidades.
Há outra coisa que não compreendo em mim… é a bifurcação dos pensamentos. Os meus pensamentos nunca são contínuos, dividem-se sempre em dois, sempre para duas direcções, deve ser, deve mesmo ser, para me dar várias opções de vida, ou de escolha. O pior é que nunca escolho nada, escolhem-me, aliás, apontam-me, tipo: - olha, olha o gajo, é aquele mesmo. Mas se estão à espera que alguém me chame de falhado, tirem o cavalinho da chuva, porque a minha grande falha só eu a sei e já lá vão dez anos, dez longos anos.
Voltando às minhas duas realidades, a primeira é que a Palmira vetou-me, excluiu-me por sua livre e espontânea vontade e por minha deliberada estupidez. A partir desse dia comecei a reger-me por uma nova filosofia, que mais vale fazer amor num sonho que duas quecas inventadas. Diria mesmo que a sonhar com a Palmira foram incontáveis, se formos a medir pela minha vontade. A segunda realidade, é que não podia mesmo, ela não me queria. A mãe é uma querida, mas tenho impressão que também sabia da história, o que fazia todo o sentido, fazia parte daquilo que eu achava ser a segunda realidade. Ela, ou elas preparavam uma vingança requintada, pois, porque os meus seis pontos na tola não eram uma vingança, mas sim um vipe, um gesto espontâneo, um grito de revolta, uma vontade enorme de me matar. Na vingança ninguém pode morrer, a pessoa em causa tem que sentir na carne essa vingança, essa doce vingança, e eu, por mais que tente, não senti em lado nenhum alguém a vingar-se. Por isso, ando sempre de pé atrás, porque, quando menos esperar, sairá dali, daquele universo, algo cheio de alcatrão e penas de galinha. É como eu imagino essa vingança, ou então mais cruel, eu sei que ela consegue ser mais cruel.
Mais uma vez deparo-me cara a cara com aquele envelope branco, com o Sr. Vasco que tanto me intriga, julgo que foi a primeira vez que vi escrito Sr. em relação à minha pessoa. Cheiro-o e delicio-me com o cheiro, imagino logo a Palmira, a doce e bela Palmira, aquele cheiro… um misto entre cebola refogada e alho frito, faz-me lembrar ‘jaquinzinhos’ com arroz de tomate, qualquer coisa que eu adoro, tipo ovos de tomatada. Fiquei durante alguns segundos a olhar para o envelope, olhei para o relógio, marca 10 horas e 20 minutos, um imenso olhar vago, uma imagem deturpada, o branco do envelope transformava-o numa nuvem, numa imensa nuvem. A tempestade que paira na minha cabeça, parece que está a acalmar, a nuvem dá lugar ao envelope, os olhos concentram-se no envelope, estava centrado. Voltei a ler o Sr. Vasco e abri o envelope devagar, devagarinho, entre o nervosismo do momento e de não saber ao certo o que lá está escrito. Olhei para dentro e vi um papel de carta dobrada em 4 e lá está uma mensagem, parece-me manuscrita à mão, claro deve de ser à mão porque ao pé… antes fosse… mas pé de perto. Desdobrei-a calmamente a ponto de me fazer sofrer, tamanha é a ansiedade, olhei para a epístola, para mim é uma epístola de alguém para o Vasco, segundo os meus sonhos e pensamentos e sorri, dei mesmo uma gargalhada.
Pior foi quando olhei para a janela e vi alguém todo nu!
Continua...
Apeteceu-me


"Uma mulher só se torna perfeita quando perde toda a sua geometria" Charles de la Folie

terça-feira, junho 15, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas IX

Ela… penso eu que não sabe, mas a Palmira - essa parte sabe - por onde passa deixa tudo boquiaberto, porque é mais bonita, mais perfeita que a menina do Martins ou será da Martini? Adiante… naqueles dias em que eu ando mais irritadiço ela descontrai-me e sigo-a, vou pela cidade, pelos centros comerciais, vou atrás do seu cheiro, do seu perfume de menina, quer dizer de mulher, daquele perfume que as mulheres lindas emanam. Não vos passa pela cabeça o que eu sinto… mas não estive, nem estarei apaixonado por ela, isto é só uma visão desinteressada, clara e desapaixonada, é?! Ora Porra cala-te! Ou por outra, não penses nisso.
Bom, vou andando por aí a sonhar com o que podia ter sido e que parece irremediavelmente perdido.
Mas tudo isto para falar daqueles machões de meia-idade que se babam quando vêem uma mulher bonita e mandam aquela “bocas” horrorosas que nem piropos chegam a ser!
Um dia ouvi um que até me fez doer a alma. Mas lindo… teve resposta imediata e à altura… tudo porque ela levava aquelas botas até ao joelho, só de olhar até arrepia, estão a ver, não estão?
Pois eu já me arrepiei 2 vezes…
- Oh boa, onde está o cavalo? - diz o palhaço.
- Está a dormir com a puta da tua mãe. - Responde a Palmira com uma elegância digna de uma Deusa.
Depois, acho que ele não gostou e tentou, tentar tentou… ir atrás dela, mas não aconteceu porque eu, EU, estão a ver, tipo super-herói, saí da sombra vindo do nada, vindo da penumbra, sem ela a donzela perdida e insegura e frágil, sem ela se aperceber… fui defender a minha donzela, a minha… - eu não estou a dizer isto, ela odeia-me e eu também, ih ih ih - a minha amada.
O que aconteceu a seguir? Aconteceu o incomum, não o normal, mas sim o incomum, o oposto do que acontece aos príncipes que defendem as donzelas… Ali era cada salto que dava, era cada estalo que levava, mas fui firme nas minhas convicções de defender a minha… ok, percebem, e continuei com fé a defendê-la com… pois, em vez de unhas e dentes, muita cara negra. Fartei-me de levar porrada, mas como diz o povo, quem corre por gosto não cansa e lá continuei todo marcado, parecia o mapa mundo com a Austrália bem vincada no meu olho direito - nem parecia a Austrália, pois sempre tive em conta que a Austrália é um país aberto, mas estava demasiado fechado, mas fazia jus aos aborígenes - negrinho da silva.
Teria muito para falar da Palmira e teria muito mais se não tivesse sido estúpido, tivesse, claro, tivesse e sou, mas tenho de aprender a viver com isso e com a minha estupidez mental, mas porque hei-de eu de me preocupar? Mesmo assim tenho uma bela dádiva, duas, claro que são duas, morar no prédio dela… e ela, ao que sei, não namorar com ninguém, pelo menos que eu saiba, que eu veja, que isso transpire para a minha imaginação.
Eu sabia… desde aquele dia, daquela tarde, que a bela Palmira, que de parva não tinha nada… desbravava terreno para a pancada final e que pancada… já durava há dez anos, dez longos e horrorosos anos... dez anos é mesmo muito tempo para uma vingança.
Ao mesmo tempo que penso nisso, assola-me um sorriso… um sorriso malicioso, não malicioso, um sorriso sacaninha, adoro sorrir assim, sinto-me o Harrison Ford da Picheleira, uma espécie de Teresa Guilherme, mas em versão masculina e não tão minimalista.
Lembrava-me… Ah! Porra… já me esquecia do envelope que a mãe da Palmira me veio entregar, pois era a mãe da Palmira, chama-se Dona Henriqueta. Diz o envelope: para o Sr. Vasco, esse sou EU, que coisa tão formal, deve estar alguém para morrer, além do envelope ser estranho, também estranhei o pedido da Dona Henriqueta, se tinha um “guronsan” que lhe dispensasse, que raio de coisa para dispensar! Mas antes isso que um par de cuecas ou peúgas, não que não emprestasse ou que o pedido fosse insólito ou descabido, mas é que as peúgas que por aqui coabitam comigo parecem mais daquelas coisas que as mulheres usam nas aulas de aeróbia. Nunca percebi porquê, porque usam elas aquelas meias, deve ser por terem frio nos tornozelos, mas enfim. As minhas peúgas são assim um enorme buraco, uma imensidão de vazio, talvez por isso o cheiro nunca se pegue às meias, fica logo directamente ligado, em união de facto, aos ténis ou aos sapatos, nada de muito importante, mas muito mau cheiroso, o chamado pivete infernal. Aliás, se fosse realizador de cinema adoraria fazer um filme que se chamasse “ O Pivete Infernal, smell mortal”, para aí com o Norris, o Caldo e com o Estaladas, o Silvestre… não o gato.
Mas aquele pedido é estranho, muito estranho, a Dona, a mãe da Palmira, é abstémia, creio eu. Nestes dias de hoje é melhor não dar nada por certo… também acho que não fuma, para que quereria ela um desintoxicador etílico, ou por outras palavras, um tira ressacas, um amigo inseparável?
Mas teimo sempre em pensar atrasado, em não me lembrar que poderia ser para outra pessoa, pois claro, para a Palmira. Eu sei que é de propósito, não podia mesmo por duas razões, a primeira porque não devo pensar muito nela, porque não devo, porque me faz mal e além do mais faz-me calos na mão esquerda. A outra razão é que se andou na borga poderia ser pela mesma razão que eu, uma despedida de solteiro ou coisa do género… Estou ainda na escuridão, tudo muito escuro e enevoado em relação ao que aconteceu no dia anterior, não faço a mínima ideia, nada de nada, “rien de rien”, estou na perfeita amnésia, só mesmo palpites, mas tudo menos tripla, empate também não dá jeito nenhum, o que dava jeito sei eu o que era!? Mas não tenho a mínima hipótese… isso é que era bom.

Apeteceu-me


"Nem sempre o primeiro olhar é o primeiro amor" Charles de la Folie

terça-feira, junho 08, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas VIII

Mas… a pequena mentira que mudou a nossa vida para sempre, espero que para quase sempre, porque ela é uma excelente amiga, aliás ela e o Pilitas são os meus únicos e verdadeiros amigos. A Palmira, mesmo sem me falar, tem demonstrado isso, eu sei que a maior parte dos fracassos amorosos na minha vida têm a ver com ela - para meu bem, claro! Ela considera - penso eu - que é um sofrimento estar mais de uma semana comigo, que eu não sou homem para grandes voos, que gosto mais de planar nas minhas idiotices.
Tanta conversa fiada, a minha inocente mentira que levou ao descalabro da nossa forte - como betão - e duradoira relação, foi num dia em que sonhei com ela. Sonhei que, como posso explicar isto… que ela me tinha dado um beijo, e depois a coisa foi-se complicando, fomos fazendo coisas que hoje são ridículas e que me fazem corar mas… naquela altura com 14 anitos, faziam-nos muito bem ao ego. Olha, outra coisa para tentar descobrir, alguém aos 14 anos tem ego?
Mas esse sonho foi, para aquela altura, uma curte e uma heresia. Seria uma heresia ou um contra-senso? Talvez, quem sabe?
O que eu sei é que acabei, acabei e acordei todo molhado e só depois…. depois descobri porquê… Ah pois, lembro-me de acordar todo pegajoso ali, na zona do pirilau, e não percebia nem a razão, nem o porquê. Lembrava-me do sonho e lembrava-me de ter tido umas sensações estranhíssimas, assim como se fosse uma sensação de absorção, só que para fora - pois, a cabeça ainda não está a funcionar muito bem, mas já melhorou substancialmente -, mas uma excelente sensação. Olhei para a cabeceira não vi lá nenhum pacote de iogurte, não tinha comido nada com creme que me lembrasse, sei lá…
Foi mesmo um sonho fabuloso, dois protagonistas… disso lembrava-me muito bem mesmo, Eu e a doce e linda Palmira.
Bom… a história daquele creme ou liquido pegajoso… eu quis tirar a limpo, é claro que quis, mas era meio complicado perguntar uma coisa destas à minha Mãe, porque… acho que ela iria sempre perceber e perguntar-me como foi, se fosse ao meu Pai já estava a ver o número:
- Pai!
- Sim, filho.
- Sabes, acordei pegajoso hoje na cama…
- Hum… isso parece-me interessante. Lembras-te daquela vez na Ericeira?
- Sim, pai.
- Pois, lembras-te do nome daquela loja de chapéus-de-sol?
-Sim, pai.
- Pois, filho, já fizeste os trabalhos da escola?
- Sim, pai!
- Então… porquê filho?
- Porque sim pai (devo ser estúpido).
- Diz filho?
- Nada pai!
Fiz-me à pista e fui para a escola. E sabem o que aconteceu?
Pois, o que fiz lá na escola… é aquilo que nunca se deve fazer a uma rapariga.
Que se roube uma ideia a um amigo e se vá para a escola dizer que a ideia é nossa, que se consiga dizer mais rápido que essa ideia é nossa, que tens umas ideias brilhantes, mesmo que depois não as consigas pôr em prática e vejas depois esse amigo que deixou de falar contigo, cheio de amigos novos, porque se tornou o “idiota” da escola… Isso é uma coisa feia, é verdade, muito feia mesmo, mas acaba por passar sem grandes danos morais, pelo menos é o que eu penso.
Agora, sonhares com uma rapariga, não perceberes bem o que se passou, sabes que aconteceu ali uma mutação qualquer que sujou os lençóis, e depois ires dissertar para a escola onde reúnes com uma assembleia notável e contas a história, neste caso o sonho, como se fosse a mais pura das realidades… Isso aí… penso que é já muito complicado… Agora penso, mas apreendi a lição!
Não me lembro já bem como foi, mas foi mais ou menos assim:
- Sabem?! Ontem estive com a Palmira.
- Ohhh, então? (em coro)
- Nem sabem o que aconteceu!
- Conta…. (em coro)
- Estive com a Palmira, e…
- Foi?! E? (em coro)
- Nus.
- Nus?! (em coro)
- Sim, e foi muita bom, até deitei… sabem…. não sabem?!?
- Ah... vieste-te? - diz um ou uma mais esclarecido ou esclarecida.
- Vieste-te?! (em coro)
- Sim, vim a pé, como é normal, o meu pai tem o carro na oficina.
- (riso geral) Ah ah… maganão, conta lá, não disfarces - diz o mais esclarecido.
Claro que fiquei vermelho, mas não me descaí.
- Sim, sim, pois claro e depois, sabem… foi sempre a abrir…
- E a Palmira? (pergunta geral)
- Ela? Ó pá, estão a ver, a coisa foi de tal maneira que ela nem se apercebeu. (evidente foi um sonho)
- Ela deve ter gramado? (pergunta geral)
- Pois, até já nem era a primeira vez…
Mais conversa, menos conversa foi isto que se passou, de um sonho para a realidade, da realidade para o boato, do boato aos ouvidos da Palmira foi um tirinho, pior, muito pior que isso… Tenho quase a certeza que ela estava no meio da RGA (Reunião Geral de Alunos) e que foi daquelas vozes isoladas que gritava lá do fundo:
- E depois, conta!
- Como foi? Tem cabelos nas pernas?
- Eh! Homem valente, deste-lhe a valer.
- Como é a tranca, vale a pena?
Como de parva a Palmira não tinha nada, nem tem… ela estava era a desbravar terreno para a pancada final, ela queria mesmo que eu fosse o mais longe possível, aliás queria que eu me enterrasse o mais possível, ela era meticulosa, cerebral. Eu hoje penso e sonho que se não fosse aquela estupidez de «cachopo», penso, quero, desejo e sonho que ela devia ser fantástica a todos os níveis, desde passar a ferro, a cozinhar… Tem um ar de quem deve fazer umas sopas substanciais óptimas, deve ser fenomenal a espancar os tapetes, deve varrer o chão de uma maneira assombrosa, bom o resto nem vos conto, não posso, quer dizer poder posso, mas será que quero?
Claro que quero, a Palmira é linda, escultural, olhos cor do mar, esverdeados, cabelo russo, não loiro, mas russo, queimado do sol, tem para aí 1 metro e 78 e não é magra, nem forte. É um espanto, um espanto de mulher!
Apeteceu-me


"O gosto por sorrir é tão forte como o desejo de o fazer" Charles de la Folie

quarta-feira, maio 26, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas VI

É verdade que o casamento tem coisas boas, lembro-me da parte em que há os comes e bebes… depois vêm os envelopes cheios de dinheiro. Lembro-me da parte do truca truca, lembro-me também da parte do truca truca, há aquela parte do truca truca muito boa, há aquelas novas técnicas do truca truca, enfim, o casamento resume-se ao truca truca e a novas técnicas de truca truca e dinheiro - cash muito cash! Mas claro, esta não é a minha ideia do casamento, esta é a parte que me assusta menos, a parte que mais vontade me dá de rir, em que não costumo dizer nada... em que não digo mesmo nada, será que havia de dizer alguma coisa? Pois claro! Eu sei que esta não é uma ideia minha pré-concebida, mas é uma ideia e isso até que me deixa feliz.
O que não me deixa nada feliz, é ter de descobrir as alianças, aquelas alianças que nem eu próprio sei se existem. Isto é tudo um mero exercício de memória, ou por outra, de me “desressacar”, de ver se a minha amnésia etílica se vai embora de vez e se descubro e me descubro. Se sei mesmo o que vai acontecer hoje, se é que vai acontecer alguma coisa, até pode ser que não seja grande coisa, que afinal seja uma festa normal. Só não entendo nem percebo o porquê, se era ou se seria uma festa normal, o porquê de termos contratado aquelas senhoras menos sérias, só se foi um fetiche… Será que já disse que adoro mulheres que se riem, não que sejam menos sérias, mas que se riam?! Adoro um belo sorriso, adoro sentir um belo sorriso a roçar-me pelos lábios, a acariciar-me a alma…
Calma, calma lá aí, concentra-te… Há alianças ou não? Isso é que importa, o que importa é o que vai ou não acontecer daqui a umas horas, ou quem sabe minutos, será que a trupe do croquete vai atacar, será?
Eu estou cheio de dúvidas, muitas dúvidas sobre o que se está ou vai passar, não me lembro realmente das alianças, não me lembro sequer se o Pilitas tinha namorada ou não, neste caso noiva. O meu consolo continua a ser o Cão Guru, que se mantém a fazer asneiras atrás de asneiras, o que além de normal e habitual, dá saúde e faz crescer, diz o povo e … lá terá de ser verdade!
A campainha? Quem é, quem será?! Espanto! Olha quem é… é a vizinha do 5º C, nem me lembro o nome dela, estou mesmo com mau aspecto, com aqueles olhos número 39 de goraz com 15 dias de frigorífico. Toma lá dois beijos a ver se acordas, eh eh…
A vizinha presenteou-me com dois beijos e deu-me um envelope branco e ri-se de uma maneira, está feliz, muito feliz, a julgar pelo sorriso e riso.
Estranhíssimo este envelope branco!
A minha vizinha do 5ºC diz-me qualquer coisa, mas não me lembro o quê, nem mesmo o nome… mas, tenho a certeza que a conheço muito bem, se há uma coisa que me lembro dela… é da filha… ai se me lembro, nem vos conto, é a minha “amiga” Palmira. Já vamos à Palmira… porque… havia a mãe da Palmira de estar a rir ao entregar-me aquilo e não se explicar? Pudera!! Só agora deparei com este pequeno, mas importante pormenor, um ridículo, caricato e grotesco, além de desencorajador pormenor, diria mesmo uma vergonha… uma enorme vergonha! Ruborizei, quer dizer fiquei de todas as cores, todas mesmo e só agora percebo que estou como Deus me trouxe ao mundo… Nu! Completamente nu! Que desgraça… admiro a coragem da Dona Henriqueta, a minha sorte é que ela é pitosga como o raio e pode ser que...
Nada que mais me aterrorize, que pensar no que poderia ter acontecido comigo, ficaria vermelho, verde, esbranquiçava...
Conheço-a desde pequenino, este apartamento era dos meus pais que mo ofereceram quando decidiram por cobro à vida. Cobro como quem diz… não se suicidaram, acabaram foi com o cordão umbilical, desapareceram, ofereceram-me o apartamento e disseram-me:
- “FILHO! É HORA DE TE DESEMERDARES, ESTAMOS FARTOS DE TE ATURAR, ÉS UMA MELGA DO PIOR.”
Não se suicidaram, é obvio que não, mas puseram cobro à vida de tormenta que tinham comigo, diziam eles, claro!
É evidente que, depois daquela conversa, nunca mais fui o mesmo, lembro-me de começar a frequentar a minha Psiquiatra, lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje… Ai, ai a Dr.ª Mónica ainda hoje diz que não tenho grandes melhoras, que estou mais refinado, mas que sou um verdadeiro e grandessíssimo filho da mãe.

Apeteceu-me


"Nunca é certo o regresso para o jantar, mesmo que a fome aperte" Charles de la Folie