terça-feira, junho 22, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas X

Este sorriso que me mantém, sem pensar que ainda me dói muito a cabeça, está para durar… É bom, pois eu não tenho coragem para fazer o que penso, deslocar-me ao 5º C com um ramo de flores, um sorriso de orelha a orelha e pedir para falar com a Palmira, pedir-lhe desculpa e perguntar-lhe se quer ir para a cama comigo, que coisa… ir beber um café comigo, esse desejo é mais forte do que eu possa imaginar. Às vezes acho que estou doente, que é um problema do foro psicológico. Olho para as mulheres, para as mulheres não, para algumas mulheres e vejo uma grande, uma enorme “vagina”, uma coisa assombrosa, mas essa é a grande verdade, não posso esconder isso de ninguém, aliás, foi com esta conversa que a minha psiquiatra a Dr.ª Mónica me desvirginou.
Mas essas são outras histórias, a grande verdade é a minha falta de coragem para enfrentar a realidade, duas realidades.
Há outra coisa que não compreendo em mim… é a bifurcação dos pensamentos. Os meus pensamentos nunca são contínuos, dividem-se sempre em dois, sempre para duas direcções, deve ser, deve mesmo ser, para me dar várias opções de vida, ou de escolha. O pior é que nunca escolho nada, escolhem-me, aliás, apontam-me, tipo: - olha, olha o gajo, é aquele mesmo. Mas se estão à espera que alguém me chame de falhado, tirem o cavalinho da chuva, porque a minha grande falha só eu a sei e já lá vão dez anos, dez longos anos.
Voltando às minhas duas realidades, a primeira é que a Palmira vetou-me, excluiu-me por sua livre e espontânea vontade e por minha deliberada estupidez. A partir desse dia comecei a reger-me por uma nova filosofia, que mais vale fazer amor num sonho que duas quecas inventadas. Diria mesmo que a sonhar com a Palmira foram incontáveis, se formos a medir pela minha vontade. A segunda realidade, é que não podia mesmo, ela não me queria. A mãe é uma querida, mas tenho impressão que também sabia da história, o que fazia todo o sentido, fazia parte daquilo que eu achava ser a segunda realidade. Ela, ou elas preparavam uma vingança requintada, pois, porque os meus seis pontos na tola não eram uma vingança, mas sim um vipe, um gesto espontâneo, um grito de revolta, uma vontade enorme de me matar. Na vingança ninguém pode morrer, a pessoa em causa tem que sentir na carne essa vingança, essa doce vingança, e eu, por mais que tente, não senti em lado nenhum alguém a vingar-se. Por isso, ando sempre de pé atrás, porque, quando menos esperar, sairá dali, daquele universo, algo cheio de alcatrão e penas de galinha. É como eu imagino essa vingança, ou então mais cruel, eu sei que ela consegue ser mais cruel.
Mais uma vez deparo-me cara a cara com aquele envelope branco, com o Sr. Vasco que tanto me intriga, julgo que foi a primeira vez que vi escrito Sr. em relação à minha pessoa. Cheiro-o e delicio-me com o cheiro, imagino logo a Palmira, a doce e bela Palmira, aquele cheiro… um misto entre cebola refogada e alho frito, faz-me lembrar ‘jaquinzinhos’ com arroz de tomate, qualquer coisa que eu adoro, tipo ovos de tomatada. Fiquei durante alguns segundos a olhar para o envelope, olhei para o relógio, marca 10 horas e 20 minutos, um imenso olhar vago, uma imagem deturpada, o branco do envelope transformava-o numa nuvem, numa imensa nuvem. A tempestade que paira na minha cabeça, parece que está a acalmar, a nuvem dá lugar ao envelope, os olhos concentram-se no envelope, estava centrado. Voltei a ler o Sr. Vasco e abri o envelope devagar, devagarinho, entre o nervosismo do momento e de não saber ao certo o que lá está escrito. Olhei para dentro e vi um papel de carta dobrada em 4 e lá está uma mensagem, parece-me manuscrita à mão, claro deve de ser à mão porque ao pé… antes fosse… mas pé de perto. Desdobrei-a calmamente a ponto de me fazer sofrer, tamanha é a ansiedade, olhei para a epístola, para mim é uma epístola de alguém para o Vasco, segundo os meus sonhos e pensamentos e sorri, dei mesmo uma gargalhada.
Pior foi quando olhei para a janela e vi alguém todo nu!
Continua...
Apeteceu-me


"Uma mulher só se torna perfeita quando perde toda a sua geometria" Charles de la Folie

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