terça-feira, dezembro 19, 2006

A Todos um bom... (pardal)

Ela ai está, a época, a quadra e a hipocrisia.
É ver circular pelos mail’s, pela caixa de correio, de mão em mão, sms, mensagens alusivas ao período.
Um período que cada vez mais apela ao consumismo, até de palavras, consumir o mais possível palavras, oferecer palavras grande parte delas ocas, vazias e hipócritas.
Duplicidade de gestos e atitudes, falsidades. Um ano inteiro de filha de putices resumem-se depois apenas a umas meras palavras de arrependimento, para uns dias depois voltar ao mesmo… e assim sucessivamente durante um ciclo de vida.
É talvez por isso que alguém escreveu “ Natal é sempre que um homem quiser”.
Provavelmente para fugir aos sorrisos vazios que se cruzam por entre dias, por entre os bolos Rei e uma posta de bacalhau, um copo de vinho cruzado e sem sabor.







Também é verdade que A hipocrisia das palavras dos “homens” resvala nos sorrisos sinceros das crianças, naquela ingenuidade fantástica que nos arrebata a nossa força de vontade de descobrir e cumprir um tradição cada vez mais sem razão.
Realmente esta altura consegue deixar-me a pensar… porque será que as pessoas tentam enganar as outras, será que pensam que somos todos estúpidos? Deve ser! Só pode.
Faço outra pergunta? Será que sou só eu que penso assim?
Porque será que as pessoas não fazem isto no dia de São Valentim? (louco, passo a explicar)
O dia de são Valentim é mais um daqueles dias inventados com utilidade meramente comercial, não é? E o Natal? O Pai Natal (como ele é actualmente) é uma invenção da Coca Cola e serve meramente para incentivar ao consumismo, não é por acaso que os grandes lançamentos de novos produtos a preços estupidamente caros, é nesta altura, um jogo que hoje custa 60 € daqui a 15 dias custa 24.99 €, mas agora é que se vende, é agora é que os media massacram as pessoas para consumirem… e no fim… o dinheiro acaba-se e acabam-se as hipocrisias e as boas festas e aquelas mensagens meio estúpidas que pouco ou nada dizem. E os dias voltam ao normal e durante um ano ninguém quer saber de ninguém a não ser que precise de um favor… e ai lá se vai o orgulho pela pia abaixo.



Apeteceu-me

"Um dia... a realidade vai cair e um enorme buraco negro vai aparecer". Charles de Folie

segunda-feira, dezembro 11, 2006

OS ARAUTOS DA DESGRAÇA

… Cada vez mais penso que somos uns “miseráveis” não os que Vítor Hugo retrata, mas os que o nosso Pais e os nossos Governantes insistem que não somos mas… obviamente nos mentem.
Mais uma vez o Mar aqui na zona da Costa de Caparica, em São João da Caparica tentou entrar, passar as Dunas. Mais uma vez ouvimos uma série de crânios a explicar o inexplicável.
Há situações tão ridículas como esta:





- A “fulana” do INAG quando se estava no pico da crise dizia, que o Instituto só poderia
fazer alguma coisa se o mar ultrapassa-se a Duna.












Será isto possível?! Será que andam a gozar com os contribuintes?!
Em vez de minorarem as coisas, não, esperam que a desgraça aconteça para fazer algo, quando aliás já deveria de estar feito. Há estudos nesse sentido (ue já deveria de se ter feito alguma coisa) Não é normal que desde 1940 o mar tenha comido 610 metros de praia, e só agora quando limpou estes 16 metros é que toda a gente ficou preocupada?







Mas afinal, é preeferivel gastar dinheiro na OTA e no TGV, mas para quê se um dos bens que o nosso Pais tem é o mar, o mar não são as praias, mas a este ritmo, ficamos sem praias, e com isso sem turistas, para que queremos nós a OTA e o TGV? Só se for para fugirmos a 7 pés quando isto por aqui ficar alagado, porque duvido que os turistas venham para aqui ver a desgraça alheia, não acredito isso é mesmo para o nosso povo.






As romarias no sábado e no domingo para ver a desgraça, que poderia ter provocado outras desgraças foi alucinante.
Estou convencido se cada família tivesse trazido um baldinho de areia, que a coisa se tinha remediado durante algum tempo.
Já estou a ver o Tema da próxima telenovela, resta saber quem fica com o argumento se a TVI se a SIC.


Apeteceu-me

"Se a solidariedade fosse como a curiosidade, estavamos safos". Charles de la Folie

segunda-feira, novembro 27, 2006

Uma Nova Revolta

... Ando muito baralhado!
Começo a ter as minhas duvidas se vivemos num Estado de Direito, numa Democracia ou seja lá o que for…
Cada vez mais acho que as pessoas andam demasiado desatentas no meio do seu egoísmo e egocentrismo.
Em Portugal as pessoas em vez de quererem o melhor para si não! – Querem sempre (os que têm algo que conseguiram), que estejam iguais ou piores a eles próprios.
Estou a falar do burburinho que andaram ai a fazer por causa da Caixa de previdência e Abono de família dos jornalistas (que vai acabar já em 2007).
Durante muito tempo recebi Mails e mais Mails a demonstrar repudio contra as benesses que os Jornalistas tinham. Em vez de lutarem para conseguirem melhor, não:
- Dizem mal, são mesquinhos.




Há outra coisa que me irrita solenemente, que é dizerem que a culpa é dos funcionários públicos! Que somos um pais cheio de burocracias e que a culpa é do funcionalismo publico. Que eu saiba, um mero funcionário de uma câmara ou de uma repartição de finanças ou de outra coisa qualquer, não tem poder de decisão para tornar a nossa vida dependente em mais um papel ou processo, esses coitados além de toda a gente julgar que ganham muito ganham uma miséria, porque os que ganham, são os do costume e os que emperram o sistema, porque vão para lugares de chefia, esses são os amigos do Políticos. Porque são incompetentes? Porque se fossem bons não iriam para a função pública mas sim para empresas privadas, mas ai claro é que eles não vão.
- Porque haveria o “Belmiro” de meter lá um filho de Alguém se tem o seu próprio filho.
Mas a verdade quando se quer distrair o povo, que está ávido intrigas e de se afogar no seu próprio rancor que é alimentado por um grande egoísmo. Basta dizer que a culpa é do funcionário público.
Mas já agora alguém me explica se é o próprio coitado do Funcionário que decidiu juntar drogados e alcoólicos num mesmo centro de reabilitação? – será por certo para trocarem experiências, só pode!
E alguém me consegue explicar porque não é o álcool descriminado como o tabaco?
Porque não introduzem nos rótulos das garrafas de álcool, um fígados com cirrose, ou com cancro? Porque não reproduzem imagens de acidentes provocados pelo álcool.
Será que não podem introduzir a porta da assembleia um balão para medir o álcool e já agora a droga?!
Para terminar a minha baralhação, não entendo porque será que este Governo faz as coisas e não pergunta a ninguém, ou seja dispara primeiro e pergunta depois. Porque será que desde os tempos áureos do MM que não se via um controlo tão grande dos média. Vamos só ver a história dos portes pagos, os portes vão acabar… quem sofre com isso mais uma vez são os nossos queridos Emigrantes que só existem para enviar o seu dinheirinho para cá, e quando o deixam de fazer toda a gente fica muito preocupada porque as remessas estão a baixar. Claro não é obvio que se o país está a marimbar-se para mim porque vou enviar para “ele” as minhas economias.
Voltando ao porte pago, deixa de existir e o governo “oferece” um portal para todas essas publicações. – “Olha” que bom fica ali tudo concentrado para mais facilmente ser controlado, enquanto ia em papel, era meio difícil lerem todas as noticias agora assim é muito mais fácil.
Mas o que me parece evidente mais uma vez é que anda tudo muito distraído a pensar nas “floribelas”, no Euromilhões e afins e esquecem-se que o País real é cá fora, e que os inimigos não são aqueles que lutaram para conseguir mas sim os que nem sequer lutam para tirar, e tudo o que se conquistou estamos a perder aos poucos.

Apeteceu-me

“ Difícil não é ter, mas sim ser coerente”. Charles de la Folie

segunda-feira, novembro 13, 2006

UMA NOVA VOLTA

(…) - Tinha sonhado contigo, foi há muito que isso aconteceu mas parecia tão real, continuavas ali como sempre!
A vida foi passando, sem sequer, dar pelos dias! Uma debandada de dias que desfolhava a vida, ou talvez o contrario, a debandada da vida que se esvaía em dias.
Quase sempre Ele procurava alguém para fugir a sua solidão, nem sempre o conseguia.
Sentia-se louco, um pouco, mas feliz – se é que alguém consegue apreciar a sua própria insanidade mental e a sua perpétua degradação.
Ouve dias que se temeu o pior. – Vi-o correr direito a uma muralha que ficava lá longe. Onde há muitos anos homens diferentes de sangue igual combateram dias e rescreveram as noites com pinturas a vermelho na lua, onde ensanguentaram as trevas sem tréguas.
Era uma corrida solta como o galopar de um puro-sangue Árabe. De um só pulo, atirou-se para cima da muralha mais alta daquele castelo que queria descansar.
Não vacilou um segundo, em perfeito equilíbrio enquadrou-se com toda aquela paisagem. Bastava rodar… fazer rodar 360 graus para ver todo aquele cenário e unir-se, fundir-se entre o precipício e a história.





De braços abertos, peito feito ao sol, camisa aberta ao vento desfraldada como uma bandeira, os cabelos á sorte daquele silêncio anunciado como uma máquina de morte.
Estava frio, ou ficou frio, naquele imenso instante entre a histeria e o bom senso.
Aqueles segundos duraram uma perpetuidade, para nós, que temíamos sempre o pior.
(…) – Sempre soube que eras imaginário, mas não deixaste de ser menos importante por isso, eras como um irmão para mim.
Naqueles dias, a confusão era como uma confissão, perdia-se em pormenores sem grande ou nenhuma utilidade. Ele, gostava de se sentir em perda constante, mas quase sempre se sentia perdido.
Eram histórias em espiral e sem fim a vista, grande parte das vezes cruzavam-se em espaços descontínuos. O desespero em que se encontrava provocava pequenos alertas em toda a comunidade residente, desde a aranha, á mosca, assim como ás melgas, ácaros e afins. E como ele temia os afins. Reinava o desconforto, mas a verdade é que não era o seu… sim o seu desconforto, Ele provoca desanimo, em todos os seus mais chegados seres.
Descobri mais tarde que a sua ingenuidade é que nos afligia, o porquê dessas aflições ninguém quer responder, porque ele não existia pelo menos da forma em que todos o viam. Até porque voltando ao inicio de tudo:
- O espelho nunca lhe respondeu, nem uma esperança lhe deu.

Apeteceu-me

"Os nossos olhos é que mudam as imagens, nem tudo parece o que realmente é." Charles de la Folie

segunda-feira, outubro 30, 2006

DESCANSO

(…) Rasgava o céu como se tivesse a força de mil homens, noutro ponto do planeta a força da natureza fazia com que os peixes (salmão) subissem o rio contra a força de uma vida.
Por todo o lado a vida corre, sem sentido obrigatório mesmo que seja esse o destino, a ultima paragem de um percurso que ninguém ousa pensar. Basta sincronizar o sentido que nega muitas vezes a razão do razoável.

- Que tempo, esta brisa que me corre pelo corpo, faz sentir-te. O meu corpo fica arrepiado, é como sentir um enorme espasmo, a erupção por todos os poros da minha testosterona.

Lá longe onde o céu era rasgado o tempo estava parado, entre o pensamento e o sonho. Aquele que iria decidir o que poderia naquela altura, naquele espaço de tempo rasgar o céu. – Uma seta? – Um pássaro?! Algo poderia rasgar o Céu, algo que poderia mudar o destino, e muitos sentimentos.


Sem tempo de respirar sentiu seguido de um pequeno zumbido, cravar-se-lhe na carne um pedaço de metal afiado, não conseguiu se quer apreciar a sua morte, não viu como era bela aquela seta, feita de penas de falcão, uma peça delicada.





Noutro espaço de tempo, lá longe… um falcão rasgava o céu, com todo o seu esplendor, um peregrino por excelência, rápido como mais nenhum ser vivo, um predador alado.
No seu voo a uma velocidade vertiginosa, procurava o seu alvo, que afinal não passava de mais um braço amigo que lhe iria roubar duas ou três penas para serem colocadas quase religiosamente naquela flecha que um diria iria cruzar os céus.

- A minha imagem por excelência: - Um enorme furacão, com ventos vertiginosos, no meio daquele redemoinho, Eu, Eu sentado de pernas cruzada, com as mãos pousadas, sobre os quadris, de olhos fechados, inspirando com uma enorme força até sentir a barriga a colar-se as costas. Depois, expirar e afastar todas aquelas nuvens escuras e sentir o céu cor de laranja abrir-se para eu desaparecer entre ele como um raio de luz.

É verdade, nada sobressai naqueles dias cinzentos onde o cansaço é demasiado incompreensível, as dores são demasiado previsíveis, os momentos curtos, ora de desespero, ora de esperança. Mas são momentos, pedaços de tempo que não sabemos se os vamos tornar a ter.

- Tenho um desejo.

Se o vento naquele dia tivesse soprado numa outra direcção aquela seta, ou flecha, poderia ter-se cravado no chão apesar de rasgar o céu com a força de mil homens.


Apeteceu-me


"Por vezes um pouco ao lado pode ser fatal!" Charles de la Folie

segunda-feira, outubro 16, 2006

Sentença

(…) Rodopiava entre o seu próprio silencio. A sua imagem projectava-se no seu próprio espaço, na ruptura entre o seu estado estático e a velocidade do seu rodopiar. A sua vida sempre foi um contra-senso, mas isso não significa que a sua vida seja uma mera forma de estar e de viver.
O pronunciar das suas formas é uma circunstância do que de bom existe na vida. Cheirar aquelas formas sensuais que se desabotoam na nossa imaginação, sugerem-nos fantasias que nos percorrem ao longo das nossas várias etapas, mesmo que sejam pequenas etapas entre a solidão dos nossos passos e a imensidão dos nossos sonhos.
Serão sempre nossas, todas aquelas partes que escolhemos para nos acompanhar.
Ali estava como se de um modelo tratasse, mas a espera de ser modelada, com contornos salobros e de desdém, intocável. Estava apanhada noutro contra-senso, a vida é assim um enorme contra-senso em contra-ciclo com tudo.



Um dia, numa tarde chuvosa, em que o vento nem sequer soprava, reparei:
Num corpo, numa roupa, numa imagem, em varias cores em muitos tons.
Reparei essencialmente numa coisa, ou em duas:
Como é simples apreciar um corpo e como é belo sentir esse corpo pelo seu odor.
Os cheiros fascinam-me a alma, conseguem que ela se arrepie de o esculpir.
Foi nesse dia em que apesar da chuva e do vento que não corria senti uma onda de calor abalar os meus sentidos, as pernas dobraram, os joelhos adormeceram, foi uma queda desamparada. Foram mesmo os joelhos os primeiros a embater na terra, os braços já inertes ao invés de ampararem o trambolhão, foram mais outros a embater violentamente, o peito quase que rebentou tal a força de tal desequilíbrio hormonal. A cabeça, bateu a primeira vez onde descolou os cabelos que estavam de forma alinhada colocados para a direita, o sangue saiu quase de imediato, com a força do embate a cabeça levantou e teve um segundo embate onde varias gotas de sangue saíram em forma de pasta de terra ensanguentada.
Estava ali prostrado naquele dia a ver-me cair sucessivamente. Enquanto as ondas de cheiros chegavam cada vez mais forte.
A verdade é que Ela é linda, sistematicamente linda, morfologicamente apetecível, incrivelmente sugestiva nos seus apetites e na forma de se dar a conhecer. Aquela queda só era possível de vislumbrar enquanto os olhos se vidravam em pensamentos tão nítidos que quase previam a minha queda num futuro próximo. Era num pedestal que talvez ela deveria estar ou numa redoma de cristal, para nunca mais de lá sair. Ao contrario disso estava fechada nos meus pensamentos que circulavam a uma velocidade quase estonteante onde o principio e o fim estavam colados quase que de imediato.
Mas lá estava Ela a rodopiar sobre o seu próprio silêncio. Nos poucos momentos de lucidez emocional, o pensamento fugia dali procurava o verde de uma água desconhecida e o azul de um céu infinito que se projectava a velocidades pouco prováveis nem mesmo sob alçada de uma imaginação abundante em acontecimentos de larga visualização. Estava difícil criar algo de muito belo, mas esse é o princípio... criar sempre algo de belo e transporta-lo para algum lado, nem que fosse aquela tela já tão gasta de tanta cor absorver.
Estava assim sentenciada aquela maldição de todos os dias criar, mesmo que fosse em falso, antes de chegar ao cadafalso.


"Ajudava-me saltar de mim próprio mesmo que em andamento." Charles de la Folie

terça-feira, outubro 03, 2006

Segredo

(…) Quando olhei, nada vi, mas a verdade era inquestionável!
Senti os seus lábios quase a roçar a minha orelha, sopravam palavras que perfumavam a minha imaginação.
Há imagens de sedução que raramente esquecemos, como pequenos sinais e pequenas diferenças que no dia a dia nos fazem grandes mossas. Era um segredo, aquelas palavras faziam todo o sentido, mas ao mesmo tempo desconcentravam-me e desorganizam-me toda a lógica do que era soprado… de um raciocínio que era para ser guardado.
Excitava-me só de pensar que aqueles lábios poderiam descontrolar aquele meu ar sério que gostava de ter, que exigia de mim ter, que gostava de ter para me diferenciar de todos os outros. Mesmo assim era eu que ali estava, meio destabilizado, com o meu metabolismo completamente alterado e alternado.




Aquela pequena aragem que saia da sua boca, provocava-me arrepios na alma, tornava-se numa enorme tempestade dentro de toda aquela postura já de si muito debilitada, enfraquecida pela sua própria mentira.


No fundo era, sim eu no fundo era um ser frágil. A velocidade que o sangue percorria todas as minhas veias e artérias era alucinante, a capacidade do coração bombear a um ritmo fora do comum era presságio de uma catástrofe dentro de todo meu sistema nervoso. As palavras tornavam-se num som empastelado e distorcido demasiado grave para ter melodia.
Pela primeira vez senti o meu corpo imóvel, todo o seu exterior estático enquanto por dentro a ebulição continuava. Estava sentado, numa pequena cadeira, estava de braços cruzados, a mão direita descansava ao longo do músculo do braço esquerdo enquanto, no outro lado se dava o inverso era o músculo que descansava sobre as costas das mãos.
Os pés cruzavam-se no artelho. A cabeça estava reclinada para trás amparada por aquela parede enorme pintada a caliça. O cheiro era de Outono, cheirava a terra molhada, o ar pesado, estupidamente pesado. Estava ali de olhos fechados a tentar entender todos aqueles sons que estava a ser bombardeados para dentro de mim.
De repente algo me fez sair daquela posição imóvel, fiquei pálido. Finquei os dedos nos braços da cadeira, por momentos pensei que ia ficar ali prostrado, aquelas palavras pareciam tiros em direcção a nada…
Eram palavras esclarecedoras de coisa alguma, até porque teriam de morrer comigo ou não fosse um segredo. Mas continuava a espera que aquele segredo continuasse pela vida a fora.

Apeteceu-me

"Posso sempre esconder-me entre as minhas palavras." Charles de la Folie

quinta-feira, setembro 21, 2006

Rataria na primeira pessoa

Nos últimos tempos tem-me apetecido recuperar um hábito de há muitos anos, fazer desporto mais normal que o levantamento do copo e outros desportos que nos levam ao sedentarismo e com isso a ganhar uma grande e cara barriga. (adiante) Com isso tenho tido um maior contacto com a natureza, quer de bicicleta, quer a correr, quer… querer queria, mas …





(adiante) … é inacreditável o quanto as pessoas são “porcas”, muito porcas mesmo.
Nos meus longos e dolorosos passeios de bicicleta é inacreditável o lixo que se vê a beira da estrada. Vê-se de tudo desde o simples preservativo a garrafões de vinho.
Até caixas de peixe são por ali abandonadas a apodrecer. Ainda não entendi porquê e qual a razão, quando existem poucos metros mais acima contentores. A verdade é que além do muito lixo há uma enorme quantidade de ratos e ratazanas, pudera ali é uma enorme fonte de alimento. Hoje compreendo porque é que as pessoas quando entram no meu carro fazem aquela cara de espanto, é que eu guardo todo o tipo de lixo que se faz, desde as garrafas de agua, aos papeis, sacos, saquetas e afins até a poder meter num contentor ou na reciclagem. Da mesma forma que ando sempre com os bolsos cheios de papeis de rebuçados, bocados de papel higiénico e coisas do género, mas é verdade que isso sou eu… mas é demasiado desagradável ver as pessoas a deitar tudo o que é lixo vidro fora, ás vezes dá-me vontade de ter um varinha mágica e fazer sei lá o quê.
Se o lixo se junta na beira da estrada e por certo na estrada da Beira, assim como nas outras estradas pelo pais fora, não menos verdade que quando ando a correr e eu faço-o geralmente na mata que fica entre a minha casa e a praia de São João de Caparica, o “nojo” é o mesmo ou pior, se é verdade que o termo vai “cagar” a mata ali é literal, até porque nenhuma daquelas praias é dotada de casas de banho publicas, mesmo pagando 2.5€ para entrar de carro. Mas a verdade é que há muita gente que “caga” a mata e não na mata.
As pessoas (se é que se pode chamar pessoa a esta espécie de troglodita), vão para ali, comem que nem umas “bestinhas”, e depois deixam todo o tipo de lixo por ali, não acho normal que em pleno sec. XXI, ainda haja gente que faça atrocidades destas.
Afinal o mundo não está nada melhor, está cada vez mais sujo e se isto não bastar, é só dar uma volta pela praia, tirar as medidas a uns portugueses típicos e observar. Depois é só fazer um rewind e tentar perceber o que vai mal no nosso pais.
Eu acho que vai quase tudo, esta semana vi uma carrada de pais preocupados com a sua vida e a borrifarem-se com os seus filhos, como vai ser o prolongamento dos horários, quem vai dar as actividades, isso é tudo secundário. Primeiro é preciso saber para onde vão “atirar” os filhos depois a educação logo se vê até porque agora vão poder avaliar os professores mesmo que não saibam o que os filhos fazem na escola, até porque os trabalhos para se fazerem em casa os TPC’s, vão ser feitos na escola no chamado estudo acompanhado ou coisa do género. Como poderá muitos desses pais saberem o que fazem os filhos na escola… se os “atiram” em vez de os acompanharem.

Apeteceu-me


“Até para brincar é preciso tempo e espaço… na nossa consciência.” Charles de la Folie

sexta-feira, setembro 08, 2006

Desencontros

Já não sabia onde Ela estava. A verdade é que lá estava.
Chegou por volta das 2 da tarde, uma hora que pouca gente suspeitava! Era um argumento como outro qualquer. Poderia ser ou talvez não.
Era muito difícil de ajustar a hora, uma hora, uma qualquer hora. Era fiel aos seus princípios, talvez por isso ainda não a tivesse descoberto.
- Bastava-me recordar-me Dela, como eu a queria ver ou imaginar. Sim, Imaginar! Porque a verdade é que todos os dias sonhava, também não era mentira que todos sonham, que o sonho é uma constante, por vezes da vida (como dizia António Gedeão).
- Onde estava – continuava-me a interrogar-me.
Sabia que estava com uma blusa bege, com recortes nas mangas rematadas com tule.
Uma saia aos folhes com cores discretas de fim de estação, cintada com um lenço castanho claro.




Varias vezes, reli a carta que Ela me escreveu para saber se os pormenores eram assim mesmo ou se os teria inventado.
- Ah! Os Sapatos - dizia em voz alta.
Pois os sapatos eram afinal umas sandálias de pano com a sola de corda com uns atilhos nos tornozelos. Também eles beges.
- Os olhos, que olhos seriam?
Por certo seriam bonitos e expressivos a julgar pelas expressões que escrevera, o que é certo – lembrava-me agora – é que Ela nunca falou Dela, porque seria?
Para mim ela tinha rosto, tinha corpo, tinha alma e sentimentos… mas isso era o que eu queria que Ela tivesse, porque Ela, por enquanto era só parte da minha imaginação.
Sentei-me no chão encostado a um pilar de mármore, frio como a morte, duro como a vida. Foi ali que refiz todas as minhas ideias sobre a minha existência, e sobre a existência Dela, estava confuso e baralhado.
Cabisbaixo, com as mãos na face a tapar os olhos, fixo na luz que saia das brechas dos dedos recordava a minha infância. Lembrava-me dos livros que fui obrigado a ler antes mesmo de saber o que era um “pintelho”. Eça, lembrava-me do “Crime do Padre Amaro”. Foi o primeiro livro que li, talvez por isso toda a minha ansiedade, toda aquela vontade de que o tempo viesse rápido de encontra mim e me fosse dando fogachos de vida vivida.
- “Cum” caraças – respirei fundo, a camisa colava-se, daquele suor que saia a velocidade da ansiedade. O frio do Pilar arrepiava-me o corpo, as nádegas estavam adormecidas, a minha cabeça estava um caos.
Sentia-lhe o cheiro, só podia ser. O meu olfacto sentia aquele odor que fui imaginando ao longo da nossa troca de missivas. Aquela fragrância só poderia ser emanado por ela. Na direcção do cheiro, nada, apenas um imenso nada, um enorme vazio de coisa alguma. Havia esperança. Naquele pequeno horizonte havia um pequeno declive, que escondia a imagem Dela. Ela que fui perdendo ao longo de uma espera que realmente nunca o foi. Aquele encontro estava marcado, estava realmente marcado pela incerteza da realidade.
O cheiro mantinha-se, mas o campo visual não mentia, mesmo sonhando acordado aquele era o lado certo de uma historia que parecia com um fim errado.
Onde estaria aquele corpo, que vestia cores discretas, mas que o rosto não se revelava.
Foi um compasso de espera, uma longa espera de um encontro com a imaginação.
Uma realidade desencontrada.

Apeteceu-me

"Os passos podem ser seguidos pelo cheiro." Charles de la Folie

sexta-feira, agosto 11, 2006

A Praia (Redacção)

A Praia é um sítio muito bonito, tem areia e muitas ondas.
Por vezes o Mar está bravo, outras vezes muito calminho, umas vezes é verde cor da esperança, outras está azul cor do céu.
Nas minhas férias vou a praia, por isso estou o ano inteiro ansioso para que a escola acabe e comecem as férias para poder ir a Praia.
(é aqui que se ouve um som estridente como se forre uma agulha de gira-discos a cravar-se com força num vinil dos Iron maiden).



A Praia:
Deveria ser um espaço de lazer onde uma pessoa pudesse descansar, mas mais que isso estar relaxado. Relaxar com os filhos. Só que a praia passou a ser um espaço onde uma fauna muito esquisita começou a coabitar com alguns nativos.
Se olharmos com alguma atenção, quase toda a gente leva o telemóvel para a praia:
- são os pais, os filhos os netos e os avós, muito tem esta gente para conversar e para enviar SMS, que será que se fala!?
Presumo que esta seja uma pequena vingança do pessoal, já que lhes vão aos impostos, assim sempre ao telefone obrigam o SIS a gastar quilómetros de fita de gravação (presumo que o sistema ainda não esteja digitalizado).
Realmente acho uma falta de bom senso ir para um sítio como a praia que de telemóvel, parecem “arrevelas” de um lado para o outro de fatos de banho e biquinis agarrados aquela “porra”.
Será só o telemóvel? Outra coisa que me faz impressão é porque sendo uma praia tão grande e muitas vezes cheia de espaço, porque será que as pessoas se amontoam umas em cima das outras, quando ao lado há hectares de areia vazia. Será que as pessoas sofrem todas de problemas de solidão e não querem estar sozinhas. O único problema e que a solidão não é estar, mas sim sentir-se sozinha.
Talvez seja o problema da solidão que obrigue as pessoas a rodearem-se de lixo. Quando aquela gente levanta o “acampamento” fica sempre as impressões digitais de quem por lá passou é lixo e mais lixo, e se alguém faz um reparo cai o Carmo e a Trindade.
Tenho saudades dos tempos em que as crianças guinchavam a beira mar, os nadadores salvadores eram banheiros gordos e barrigudos, das barracas de praia as riscas e do cheiro a Nívea e a Bronzaline.
Isto agora de só se verem telemóveis e mais telemóveis, estava aqui a pensar já nem o raio do biquini piquinino ás bolinhas amarelas se vê, quanto mais tira-lo.


Apeteceu-me



“As ondas são realmente uma boa companhia, tão depressa chegam como partem”
Charles de la Folie

quinta-feira, julho 27, 2006

Simples

Seria fingido!?
- Não sabia ao certo quem era! Nem se seria real.
Naquele vaivém de melodias entre ventos calmos, calores racionalmente fáceis de suportar e um sem numero de cores. Descobria-se entre o fim e o princípio, um risco colorido onde poisava um pequeno pássaro com um enorme chilrear. A sua penugem, uma sinfonia de cores, ali estava naquele risco, onde muitos não ousam pisar.
- Lá longe uma enorme silhueta, a contra luz obrigava a ver aqueles contornos, com uma margem de erro não muito superior ao instante entre o abrir e fechar de olhos.
Uma silhueta fingida, bem que podia ser, talvez fosse – Para
Mim era o que eu quisesse, nada mais simples, via o que queria, o que me apetecia, simplesmente porque me apetece ver coisas.




Não era uma imagem aleatória, era simplesmente uma imagem, como se é simplesmente uma alma. As ervas que desciam aquele socalco tomavam a direcção do vento, as muitas direcções que tem uma vida, mesmo que simples. São direcções sem remetente, ou simplesmente em direcção a nenhures, vidas que nascem, que vão brotando aos nossos olhos. A todas as horas, todos os segundos nasce uma nova vida para nós, basta para isso ser um simples desconhecido, um simples ninguém aos nossos olhos, passa a ser alguém nesse momento, mais uma vida, mais um sem numero de rumos, de direcções.
Bastava olhar, para ver – claro basta olhar para ver, apesar que nem sempre se vê quando se olha. E quando se quer ver o que não está!? E quando não se vê o que está!?
Aquela pedra em forma de banco, parecia esperar, esperar há uma eternidade por alguém que nunca havia de chegar e se chegar?! Pois o que se pode fazer a uma pessoa que chega e se senta num banco de pedra, ou numa pedra que parece uma banco?! Que se conversa com uma pessoa que chega vindo de onde ninguém sabe e fica? Quantas conversar se pode ter com essa pessoa?
- Ontem vi-te, Sabias?
- Claro que não podias saber!
Um dia descobri que tudo o que me rodeia é fruta da minha imaginação, eu vivo algures entre o nada e o nada mesmo.
E ai não acredito que haja espaço para te ver.
- Mas eu sinto-te?!
Foi a demasiado tempo que percorri todas estas imagens que perduram por aqui, mas afinal, naquele dia, naquele momento estava sentado a escrever coisas demasiado simples e sem sentido, por isso acredito que “palavras leva-as o vento”… só assim te imagino naquele risco colorido. Um pássaro um pequeno pássaro com um enorme chilrear.

Apeteceu-me


"Choro o Rio que começa na minha alegria". Charles de la Folie

segunda-feira, julho 10, 2006

Mágoa

(…) O grito feria a Alma sensível que se prostrava por ali.
Era sensível, não de uma forma vincada, ou profundamente marcada, mas era.
Todos os dias, passava por aquela rua e sentia os cheiros que corriam porta a porta, os silêncios que trilhavam as janelas, o acordar daquelas emoções que se escondiam por entre quartos, salas ou mesmo por assoalhadas sem nome e sem função aparente.
Ao olhar para o céu, conseguia ver-se por entre aquele emaranhado de fios, o azul do longínquo infinito, entre uns e outros, nuvens, brancas como o algodão, brancas como nada e como tudo.
Gostava de sentir os meus sapatos a bater naquele paralípipedo, cinzento e já tão gasto de tanto por ali passarem ao longo dos anos. Aquele barulho seco e cavo, fazia-me pensar e repensar que a minha passagem pela vida tinha algum significado, porquê não sabia, mas fazia. Aquela hora, gostava de pensar, gostava de sentir e de me sentir.
Mas aquela rua além dos cheiros, dos silêncios, de esconder emoções tinha outros significados. Manifestava uma mão cheia de imagens, de saudades, de dias passados por ali a espera de outros dias, que chegavam sempre cheios de surpresas e de vivências, dias cheios de tudo e de nada, mas dias que ajudavam a crescer e a envelhecer uma alma ainda demasiado tenra e terna. Eram dias em que os pensamentos voavam verdes e sem maldade, apesar de todas as tormentas que fazíamos todos passar. Eram dias, que por muito cinzentos que fossem, faziam com que as cores do arco-íris … andassem sempre por ali, sempre presentes naqueles sorrisos que escondiam feridas diferentes da de hoje, eram feridas simples mesmo que os golpes fossem profundos, mesmo que a carne estivesse rasgada, eram de cura elementar, demasiado simples, o próprio ar as sarava.




Por vezes ao caminhar por ali fechava os olhos e lembrava-me dos gritos, dos sorrisos de outros tempos que davam outro colorido.
Hoje vejo com alguma amargura, que a rua envelheceu. Os corpos escondem-se por debaixo de trajes escuros, muito escuro como a alma que os enclausura. Aquelas vestes, aqueles lenços fazem lembrar um tributo a gente que partiu e nunca voltou… Voltaram… voltaram de um sítio onde ninguém acredita que existe, mas que prende e repreende. Esta gente precisa de uma revolta, da revolta de um povo que vive mal, que é torturado constantemente, por gente sem escrúpulos, que nem sequer sabe que aquela rua existe. Um dia acredito que esta gente vista roupa com cores, que grite a sua felicidade até a voz se perder num infinito de ideais… que há muito tempo os roubaram a troco de nada.

Apeteceu-me

"Nunca te libertes dos teus fantasmas, porque há sempre alguem para te oferecer os dela". Charles de la Folie

domingo, julho 02, 2006

O Jogo (de um dia)

(...) Que mais se podia pedir, o ambiente era fantástico.
Quando anunciaram a constituição da equipa, mais de 50 mil pessoas a gritar pelo meu nome, era um jogo especial de tudo ou nada, quem vencesse seria campeão! O sonho de uma vida, o sonho que não estava ao alcance de todos e naquela altura, naquele momento estava ao meu alcance.
Olhava em redor das bancadas, mil cores, mil sons, mil cânticos, mil diferenças, muitas mil, para apreciar sentir.




Tudo começou, lá dentro, lá em baixo no balneário.
Depois de sair da camioneta ou do autocarro, ou raio que lhe chamam... sair calmamente com os phones nos ouvidos... concentrava-me. - olhar vazio, vago mesmo a espera de outras entradas, de outras regras, ouvia uma musica da América do Sul com Flauta Pan, para ai “El Condor pasa”. - Não podia precisar naquele momento, naqueles minutos já muitas emoções tinham passado por mim, mas seguramente era musica que eu gostava.
Quando entrei no balneário, a adrenalina subiu, como subia em todos os jogos. Aquele cheiro, um misto, de pomadas, pomadinhas, mezinhas e bálsamos, um cheiro intenso, que fazia os níveis de confiança aumentarem. - Sentei-me no meu lugar, onde estava o meu equipamento pronto a ser utilizado, novinho como sempre naqueles grandes jogos, adorava o meu numero, o numero que me acompanhou uma vida - o dia em que nasci, era um numero magico para mim. Sentei-me ali, ouvia o burburinho dos meus colegas, as sucessivas tentativas de concentração, baixei a cabeça de uma forma calma, retirei de uma das bolsas do meu saco uma pequena pedra, um seixo que tinha um dia apanhado numa praia onde tinha ido com o meu pai, guardei-a e tornou-se o meu talismã, esse era um dos talismãs, o outro era uma bíblia muito antiga, que me fora oferecida pela minha avó e que me recusei sempre a abri-la, desde o dia em que morreu.
Mas ali de cabeça baixa, segurava a minha pedra, e murmurava, balbuciava pequenas cantilenas de infância, o barulho começava. - Os pítons das botas a roçarem pelo chão começavam a enervar-me, minto aquele barulho chamava-se nervos, os nervos que se apoderam de qualquer jogador antes de um jogo, não de um grande jogo, mas de um qualquer jogo.




O treinador, falava, falava comigo, a sua voz parecia distorcida, depois foi ficando melhor, mais nítida consoante a minha atenção. - O meu actual mundo, o meu estado, começava a prender-se a ele, naquele momento já sabia que poderia fazer história, que poderia decidir a alegria de milhões, mas também poderia ser a causa de uma enorme e frustrante tristeza de muitos, muitos mesmo seguidores.
O ritual do balneário começava quase a compor-se, eram as ultimas massagens, os últimos produtos, as ultimas ligaduras. - Por exemplo, eu... ligava sempre o pé esquerdo de forma a ter mais pressão, a senti-lo melhor, a ficar mais rijo, e a não se dobrar tanto, sabia que no final teria de ficar pelo menos mais 1 hora que os outros, para fazer gelo, para o desinchar.
Estava quase na hora, faltavam poucos minutos, estiquei os braços para vestir a camisola, ela deslizou tranquilamente até bater nos ombros, ajeitei-a puxei os calções para cima, meti a camisola para dentro, depois olhei para as minhas botas de futebol, eram brancas a estrear feitas a medida, pítons de alumínio para rasgarem a terra a relva, por vezes corpos, mas sem maldade, tempo para um grito quase tribal, que fazíamos em grupo para aliviar e deitar fora toda a tensão, batíamos violentamente com os pés no chão.
- Faltavam poucos metros para o relvado, para o jogo, para uma vida.
E ali estava eu, perfilado a ouvir cânticos, a ouvir-me por dentro e por fora, sabia que poderia ser a chave, os adeptos também depositavam toda a confiança em mim, na minha pessoa, os jornais não paravam de dizer e de falar nisso, mas não me importava, convenci-me que era só mais um jogo, apesar de o querer ganhar muito - a minha vida não dependia disso, a minha vida dependia de outras coisas mais importante, muito mais importantes que isso, a minha vida dependia das minhas “pipocas” e dos meus sonhos.
Estava na hora, cumprimentei, aliás saudamos todos os nossos adversários, o arbitro, perfilamo-nos pelo campo, olhei mais uma vez a minha volta, vi aquele espectáculo de luz, de cor, de sons.
Sustive a respiração, o arbitro, meteu o apito a boca e foi naquela altura, que o carro de trás apitou mais uma vez o semáforo estava verde, a botas de futebol penduradas no espelho retrovisor, pareciam acenar para mim.


Apeteceu-me

"A Vida joga-se muitas vezes borda fora sem se saber a importancia dela." Charles de la Folie

segunda-feira, junho 26, 2006

Mais um engano

Mais uma vez estamos a ser enganados e continuamos de sorriso nos lábios e a cantarolar como se nada passasse.

O argumento para nos aumentarem a idade da reforma tem a ver com a média da esperança de vida que tem aumentado nos últimos anos, é verdade!

- O argumento até pode ser que se está a “bater as botas” cada vez mais tarde. Mas a verdade é que não: - a esperança de vida é feita por um cáculo simples - ou .


Provavelmente não é este o cálculo que José Sócrates o nosso digníssimo Primeiro Ministro fez quando disse: -“a forma de cálculo das pensões vai considerar toda a carreira contributiva e vai ligar as pensões à evolução da esperança média de vida.”

Porque o aumento ou o que fez aumentar mais a média nestes últimos anos tem sido: (felizmente) – a cada vez menor taxa de mortalidade infantil. (até aos 10 anos)

Mas o que “eles” querem que o povo veja é que; morremos cada vez mais tarde, eu por exemplo estou-me a ver em Bali, para ai com 90 anos a correr atrás de umas garotas, com a mão cheia de notas da minha reforma, a curtir que nem um louco e a lembrar-me:



Ainda bem que descontei quase 50 anos para poder contribuir para uma data de gente fixe que tinha grandes carrões e reformas aos 40, e eu de Pró-zé, um produto oriundo da nossa grande indústria e de gente que respeita o trabalho dos outros.

Quando estas histórias começam a andar na boca do povo, há logo alguém que grita que a culpa é dos funcionários públicos.

E cada vez mais isso irrita-me, mas também havia de irritar outros quantos que vão atrás da conversa, que por cá há funcionários públicos a mais, mas será?

A Suécia que é um Pais com a mesma população que nós tem quase o dobro de funcionários públicos que nós. Então porque será que lá resulta e cá não?

Aliás na Europa só há dois países com menos funcionários públicos que nós, a Espanha e o Luxemburgo, porque de resto a tabela a seguir demonstra isso:


Suécia 33,3%
Dinamarca 30,4%
Bélgica 28,8%
ReinoUnido 27,4%
Finlândia 26,4%
Holanda- 25,9%
França- 24,6%
Alemanha- 24%
Hungria- 22%
Eslováquia- 21,4%
Áustria- 20,9%
Grécia- 20,6%
Irlanda- 20,6%
Polónia- 19,8%
Itália- 19,2%
RepúblicaCheca 19,2%
PORTUGAL- 17,9%
Espanha- 17,2%
Luxemburgo - 16%





Voltando ao caso da Suécia é verdade que para aqueles funcionários públicos todos existem 50 administrações, no caso português existem 700, penso que isso explica muito ou pelo menos bastante. Se pensarmos que cada administração é composta por 5 elementos, que depois nomeiam mais uns quantos directores e coordenadores, e depois que cada um destes têm direito a um carro, cartão de crédito, telefone pago e mais uma série de benesses, basta somar isto tudo e pensar porque será a função publica um fardo para o país. Mas a verdade é que a culpa é sempre do mexilhão.


Apeteceu-me



O Lançamento de Santarém foi Fabuloso...

"O momento deve ser isso mesmo, um momento."

Charles de la Folie

domingo, junho 18, 2006

Convite 24 de Junho

Dia 24 de Junho O Autor Carlos Barros, a Corpos Editora e a Camara Municipal de Santarém tem o grato prazer de convidar V.Exa., família e amigos para a apresentação do Livro - VAZIO DE CORES, no jardim Sá da Bandeira, na 4ª edição da Feira do livro de Santarém, a partir das 18 horas.


-Vazio de Cores- será apresentado por:

- PAULINO COELHO - Programa da manhã da Radio Renascença.



Estão todos Convidados




Vazio de Cores



" Nem sempre o que parece é, nem sempre o que é parece. São os impasses da vida, ou nem por isso que nos fazem pensar em "coisas".

O ponto de partida destes contos foram quase sempre o nada, nada mesmo.

Cada conto saiu da imaginação que me faz viver e sonhar, mas partiu sempre da primeira frase, todos eles nasceram sem destino, mas com uma vontade muito própria, ganharam vida e vontades, grande parte das vezes de um enorme vazio de ideias, mas lá se arranjava um "espacinho" para conspirar e deambular, por mais uma "estória".

As minhas duvidas sobre a minha capacidade de inventar e construir, mantém-se intactas, adoro duvidar de mim, adoro ter dúvidas, adoro descobrir que ás vezes nem eu acredito em mim, isso faz de mim um perfeito idiota, ai fica mais uma duvida qual o idiota que eu sou!

Por isso são os nadas que foram passando pela minha cabeça que estão aqui retractados, bem ou mal, cabe a quem os lê avaliar, mas atenção…"








apeteceu-me


"Será que o tempo apaga a memória da origem?" Charles de la Folie

quinta-feira, junho 08, 2006

OBRIGADO

(…) Estava prestes a entende-la, quando aconteceu algo terrivelmente inexplicável.
As palavras não conseguiam segurar aquele olhar que percorria os centímetros do seu espírito. Sentia-se o respirar, aquele forte respirar que vinha de dentro, de uma forma estupidamente controlada.



Não era certo que o que por ali acontecia tivesse uma razão, ou mesmo um sentido, era único e misterioso. Era por si só, como uma nota de música que existe mas ninguém conhece a sua causa, nem a sua origem.
Queria saber tudo. Tudo a que tinha direito, é sempre bom ter direito a alguma coisa.
Parecia uma eternidade, aquele espaço de tempo em que se fecha por momentos os olhos e se inspira uma lufada de ar, essa pequena zona de tempo era como uma enorme pradaria cheia de cores garridas, onde as nuvens são cor-de-rosa choc, as arvores verde alface e a relva cor de laranja. É nesse espaço de tempo que tudo acontece, em que as pinceladas de qualquer coisa se arrumam, numa qualquer tela da imaginação que se solta numa corrida desenfreada contra nada mesmo.
Estava prestes a acontecer, como sempre acontecia. Aquela era mais uma vez que isso ficava presente, a dificuldade é, ou era descobrir onde fica a realidade, se está presa a alguma coisa que se sustente ou se é mesmo a mais pura da imaginação, que produz aqueles laivos de luz que parecem existências intermitentes das realidades em quedas constantes.
Por momentos, estava ali sem saber se estava realmente. O barulho que saia de dentro daquele copo fazia pensar em mil “estórias” de encantar. Faltava ali algo naquele enorme puzzle, faltava qualquer coisa que se embrulhava, mas não havia como descobrir.



A aragem corria e com ela uma enorme chuva de folhas lilases, uma chuva de flores naquela tarde quase carnívora que teimava em consumir os nervos que se entranham no corpo. Estava pálido de medo, as palavras saíam absurdamente sem nexo.
Demora tempo a entender o tempo, os vários tempos, o tempo de saída, o tempo das coisas, as coisas do tempo e mais importante: - o tempo que nós temos em nós.
Ali estava sem controlo algum sobre as minhas pernas que tremiam perante aquele cenário quase impensável, que se desfocava em constantes sorrisos. A imagem parava, rodava aqueles corpos que me faziam tremer e ao mesmo tempo chorar de alegria.
Mais um apelo vindo daquele copo onde sobressaía o amarelo do limão. Um enorme trago em seco antes de o levantar, como que a saborear o vazio que se cortava naquela imensidão de qualquer coisa.
Aqueles olhares penetravam-me e assustavam-me, ao mesmo tempo que ia descobrindo o verdadeiro sentido da palavra amizade.
Cada segundo que passava o sangue circulava mais depressa, se uma forma avassaladora.
Chegou a altura de dizer, mas dizer o quê? O sentido das “coisas”, porque será que as “coisas” tem de ter um sentido?
- Não será mais fácil assim, sem sentido!
Um dia alguém me disse que valia sempre a pena descobrir em nós uma palavra qualquer, por muito simples que fosse.
E foi essa que eu descobri – OBRIGADO.






Apeteceu-me


"Muitas vezes somos surpreendidos por um enorme Vazio." Charles de la Folie

sábado, maio 20, 2006

Mais vale Sê-lo que…

Os portugueses continuam com a mania das grandezas. Vai dai um tal senhor, “Português” de gema, que dizem que é líder mundial no negócio filatélico, o Rei dos Selos que até é de Viseu, deu o golpe do baú: - ou seja pôs em causa as poupanças de mais de 300 mil clientes. Ou seja este senhor é acusado de delitos contra as finanças públicas, lavagem de dinheiro, insolvência… entre outras coisas que eu nem sei bem o que é, mas tudo isto aconteceu em Espanha porque por cá anda tudo tranquilo, tudo salvo seja, menos os pobres coitados que tinham o seu “dinheirinho” a ver se rendia mais alguma “coisinha”. Infelizmente cada vez há mais mês para tão pouco ordenado. Atrevia-me a dizer que se a coisa for por aqui, quem se vai “tramar” mesmo é o “mexilhão, já estamos habituados, a justiça aqui neste País a beira-mar plantado é como a Europa a duas velocidades.

Mas como toda a “gente” já percebeu como funciona Portugal, querem-nos vender, dizem: - gato por lebre

Ora é o Primeiro-ministro que o diz em relação a refinaria, a nova refinaria de Sines, mas se deu por isso, espero que entenda também que o que se passa em relação ás centrais Nucleares. O que nos querem impingir são centrais de 2ª geração que já não se usam, obsoletas. Passo a explicar é como alguém tentar nesta altura do campeonato vender um computador pentiun II. A verdade é que nesta altura já vão na 4ª geração:

- Está-se quase a chegar a fase que não vão existir resíduos tóxicos oriundos da fusão.

Se comprar-mos essa tecnologia já desusada, da duas uma: - ou é mais um portuguesisse, ou então alguém se vai encher dele, sim do vil metal, não do lixo nuclear.

Já agora referir que Portugal é dos países que menos ajudam as famílias - claro é só mais uma estatística, se fosse politico diria, que tal como as sondagens estas estatísticas valem o que valem. E já agora Portugal é também o País onde aumentou mais o número de divórcios, de referir que pela Europa, em cada 33 segundas há um divórcio.

Pensando bem talvez seja por isso que nos fazem (políticos e governantes e afins), o que nos fazem, é porque andamos demasiado divorciados de tudo só olhamos mesmo para o nosso umbigo.





Apeteceu-me

"Todos os dias-me me interrogo, será que merece a pena!?" Charles de la Folie

domingo, maio 14, 2006

"Vazio de Cores"

A Capa



A Primeira dedicatória




A expectativa







Ex-Ricardo dePinho Teixeira





EU ainda Meio Perdido






Apeteceu-me





"Vale sempre a pena decobrir-nos" Charles de la Folie

terça-feira, maio 09, 2006

CONVITE

Vazio de Cores



(...) As palmas eram merecidas, mesmo muito. O Grande Mestre, que tinha chegado das grandes cidades, afinal tinha feito desaparecer todas as tristezas daquela pequenina Aldeia. (...)

(...) Ela entrou de rompante, apareceu em palco e não se intimidou mesmo com as luzes a baterem-lhe de frente e pela frente no seu desnudado corpo, mesmo sem saber se havia muita gente a assistir ao seu desempenho, aquela rapariga vinda da Aldeia não mostrou medo à grande cidade. (...)

Entre a Cidade e a Aldeia ficava o Vazio, podiam ser uns parêntesis, uma fase intercalada ente os dois espaços, nas extremidades daquele buraco ficavam duas vidas, mas ali nada existia, nada, a não ser uma tela pintada a negro, podia-se tentar visualizar, sintonizar mesmo, paisagens lindas e belas, verdejantes, montanhosas, sinuosas, brilhantes, com vales, pequenos vales, rios, ribeiros, ribeirinhas, árvores, arvoredos, moitas, cães, gatos, coelhos, pássaros, mas uma cortina cinzenta transparente teimava em cair sucessivamente naquele vazio espacial.
Naquele desprovido, desocupado e destituído caminho, podia fazer-se uma auto- estrada de sons, estridentes contínuos, com ligeiras protuberâncias, ligeiras bossas, no aproximar desses sons que atingem velocidades irracionais, velocidades fora do controlo humano, aqueles sons formavam uma música com batidas ritmadas, na ordem dos 60 batimentos por minuto mais coisa menos coisa, era uma música ao ritmo cardíaco.




(...) No meio dos movimentos do Grande Mestre, movimentos estudados pelos anos de saltar de Aldeia em Aldeia a levar o seu espectáculo de Magia e ilusionismo, movimentos quase graciosos, que levavam o seu longo manto, capa, isso mesmo, a sua enorme capa a esvoaçar, a passar pelos rostos das pessoa que se sentavam na primeira fila, num desses movimentos, enquanto na sua enrugada mas hábil mão mostrava um baralho de cartas, tudo parou à sua frente. (...)

(...) No calor e no meio de bafos ressabiados, de gentes ávidas de ternuras fictícias, de gentes que se alimentam de sonhos, naquele palco sozinha, mas sem se intimidar com aquela panóplia de gentes que estavam ali para extorquir a sua vida, para se alimentar da sua graciosidade, eles que sonhavam um dia em ter uma mulher assim na sua cama, elas que sonhavam e fantasiavam um dia poderem dançar assim.
Num dos seus saltos que a tornaram famosa, num axel, numa perseguição dantesca imaginária, ficou suspensa no palco e na sua respiração. (...)

Naquele corredor de som que se abriu, no lugar vazio, sem tempo, onde aquelas almas se cruzaram, onde a bailarina regressou à Aldeia que a viu nascer e o Grande Mestre voltou à Cidade onde teve noites de glória.
No cruzamento daquelas Almas daqueles espíritos, no meio daquele vazio daquele parêntesis, estava uma caixa vermelha, vermelha como o Sangue.



A






E EU (CARLOS BARROS) CONVIDAM-VOS, DIA 13 DE MAIO, (DIA DE MILAGRE), PARA A APRESENTAÇÂO DO LIVRO "VAZIO DE CORES" EM VILA NOVA DE GAIA, NO SOUND CAFFÉ (PRAIA da MADALENA)ÁS 22 HORAS.

desta vez APETECEU-LHES

"Por vezes os sonhos podem tornar-se em milagres, ou os milagres em realidades."
Charles de la Folie

quinta-feira, maio 04, 2006

Faz o que eu digo....




“Faz o que eu digo, não faças o que eu faço” – Nunca este Pregão ou será provérbio!? - me soou tão bem.
(já foi a umas semanas mas que se lixe)
-Agora na Páscoa ou na época Pascal quando pensei em ir passear a algum lado eu e a família não o fiz por várias razões, entre elas, a de não ter dinheiro para isso, para férias mesmo que curtas, porque ao abrigo do Défice (que dá para tudo) de ter que poupar e dar para o fisco fiquei…” teso” sem “cheta”. Mas qual foi o meu espanto quando descobri que 119 deputados, que foram eleitos por “gente” que não pode ir a lado nenhum ao resguardo de debelar o tão apregoado défice, se evaporaram!
Dizia eu…119 deputados saíram para férias e nada aconteceu. Ou seja 8, foram oito propostas do governo e um voto de protesto do CDS/PP contra o encerramento de várias maternidades, que não foram votadas na Assembleia da República por falta de Quórum.
Parece-me inacreditável que num Pais que dizem que está à beira da banca rota este tipo de situação aconteça. Parece-me mais do que evidente que alguém anda a gozar com o “povo”.
Mas também não é menos verdade que cada um tem aquilo que merece. Num pais onde os valores estão cada vez mais esquecidos, onde a palavra já não vale nada, os compromissos são o que são e dai não passam. É o que o povo querer! Não é verdade?!



Vejamos o que aconteceu em França com o CPE, contrato de primeiro emprego, os estudantes saíram a rua e obrigaram o governo Francês a voltar atrás.
Aqui, toda a gente faz o que quer e não acontece nada, só se fala de futebol e afins. Talvez por isso os clubes tenham as dívidas que tem e não lhes acontece nada.
Ou seja nesta altura o povo português só se indignaria se:

- O Benfica acabasse.
- Desligassem a televisão na hora da telenovela.
- Rasgassem o 24 horas
- Os telemóveis deixassem de funcionar


… Para não falar da gripe das aves, que já matou 9 pessoas na China. Coitados dos nove chineses! Bom mas o melhor é calar-me e estar quieto porque hoje descobri que é pecado, estar na Internet, ver televisão e ler jornais pelo menos é o que diz o Cardeal James Francis Stafford, Penitenciário-Mor do Vaticano.


Apeteceu-me


Porra os Combustiveis já aumentaram 5 vezes este mês, e ninguém faz nada?


"Uma mentira muitas vezes sonhada torna-se mais cruel ao acordar." Charles de la Folie

quarta-feira, abril 26, 2006

(Mudanças) AVATARA

(...) Era espantosa a sua capacidade de mudar, de se transformar, de se redescrever. A vida nele tinha vários sentidos e direcções, todas elas faziam parte de uma realidade, que tomava bifurcações meio estranhas.
A sua cabeça espartilhava-se, redobrava-se, fazia filmes.
O seu corpo mudava, a sua alma crescia, a sua preciosa vida, não era mais que isso mesmo, um conto, ou vários contos.
(...) Na sua secretária tentava escrevinhar qualquer coisa, sobre o que acontecia sobre o que via. Por ali nada mais que um ou outro casulo de uns animaizinhos que se acumulavam por ali, não sei ao certo, se seriam larvas de... não sei mesmo porque as aranhas não se transformavam. As aranhas essas sim eram uma excelente companhia, gostava de as observar, fascinava-me ver como elas produziam aqueles fios, por onde desciam, a uma velocidade estonteante, fascinava-me ver como aquilo acontecia, mas a verdade é que nunca conseguia ver nada. Os meus olhos acabavam por vidrar, desfocavam e entrava em processo de imaginar coisas,de imaginação extasiante, como: uma aranha enorme que andava por ai e fazia mal a todas as pessoas que eu não gosto e depois aparecia eu para os salvar.
Os seus pensamentos, eram muitas vezes despropositados, pensava sempre que era um super herói, que salvava toda a gente, quando afinal ele é que precisava de ser salvo.




Eram pensamentos, que se transformavam em realidades, que pareciam mais virtuais do que afinal eram. Complicada esta linha de pensamento, mas nem por isso os filmes, as comédias, os dramas, as ficções, mudavam, eram pequenas mutações na sua cabeça, mas também na sua vida a sua personalidade ia-se toldando conforme assumia a sua nova personagem. Era uma mistura de sensações, não sabia grande parte das vezes porque lhe aconteciam coisas estranhas, como acordava, em sítios completamente disparatados e nem sempre dentro dos parâmetros normais.
Gostava de olhar com olhos de animais, geralmente só via a duas dimensões, a preto e branco, tudo desfocado, mas era essa a imagem que tinha da vida do que o rodeava do que andava lá fora. Gostava de ver as pessoas desfocadas e ouvir as suas palavras empasteladas muito devagar.. como se fosse uma gravação avariada... ou em rotações erradas. As pessoas tinham-no magoado muito, por isso refugiava-se por ali, nos seus momentos, nas suas metamorfoses, eram gritos de revolta, que os transferia para o papel, para a sua tela imaginária, pinturas que ganhavam formas, cores e por vezes, grande parte das vezes vida. Era absurdo mas ao mesmo tempo fantástico, aquelas sensações, aquelas viagens alucinantes, aquelas amizades que fazia com a sua própria imaginação.
Gostava de ver os bichos de contas, com as suas múltiplas patas, que se fechavam neles próprios. Imaginava-os uma enorme avalanche, via-os a rolar, por um sitio qualquer...a crescer, a crescer, a ficar uma enorme bola cinzenta, grande, grande mesmo de meter medo. Depois abrir-se e com aquela panóplia de patas, começar a esmagar tudo e todos a sua volta...
Mas afinal, não passava de um pequeno bicharoco que brincava com a ponta da caneta em cima da secretária... de um lado para o outro.
Adorava ver aquela borbeletixas, que voam a volta das lâmpadas, para mim passavam logo a grandes pássaros que vinham do espaço que esvoaçavam perto da lua e faziam voos picados até a terra, entravam a velocidades loucas dentro dos oceanos onde pescavam baleias... os seus dejectos destruíam parcialmente cidades, mas eram animais pacificos, que sabiam viver e não se deixavam abater.
(...) naquele dia, não sabia bem o que tinha acontecido, mas não foi simples de assimilar, sentia dores pelo corpo, e tinha a face com sangue, a face e não só, escorria-lhe ainda pelos canto da boca algo esquisito era um pedaço de ti.


Apeteceu-me



"As mudança repentinas, mais não são que um movimento na nossa vida" Charles de la Folie

segunda-feira, abril 17, 2006

Ruído




(…) Era um pequeno barulho. – Esquisito, ninguém conseguia descobrir de onde ele vinha, um pequeno barulho que por muito pequeno que fosse, era, existia, estava ali.
Engraçado como um pequeno ruído, um pequeno carpido poderia incomodar tanto.
Sentado no chão com as mãos no rosto, os indicadores a pressionarem as fontes, o queixo sobre os polegares os restantes entrelaçados sobre o nariz, de olhos fechados, concentrava-se naquele estrupido.
O som, perante tamanha concentração, convergia como se fosse uma enorme massa para um só ponto, e não de um só ponto para a massa, para ser processado e conhecido, descobrir a sua origem e anulado, mas não.
Aquele pequeno som, aquele ruído, tornava-se agora num pesadelo que entrava pelos canais auditivos e inundava um corpo que tinha sido tomado, por algo insignificante. Agora conseguia quebrar toda a concentração, pior, agora quebrava-o, entrava a uma velocidade alucinante, percorria-lhe o corpo, derrubou-o.
Estava agora deitado no chão, com os joelhos junto ao peito, mãos sobre a face. Todo o rosto parecia estar a ser esmagado, por algo que não se compreendia, a sua pele parecia estar a quebrar, a abrir brechas e a expandirem-se rapidamente soltando raios de luz encriptados com gemidos de um corpo a rasgar-se.
Lentamente, algo se esvaía naquele centro de qualquer coisa, aquele corpo já não pertencia a nada, nem nada lhe pertencia a não ser aquele som que se transformou num enorme e poderoso ruído.




Num último esforço o corpo tentou repelir, todo aquele mal foi um acto de grande coragem, e sem destemor começou uma luta ilógica onde a coerência deu lugar a audácia e assim foi…
Numa fracção de qualquer coisa temporal, descobriu-se que o som nunca existiu.
Aquela imagem foi-se desdobrando vezes sem conta, multiplicando por aqui e por ali a velocidades nunca antes imagináveis. Talvez por isso um dia quando percorria aquele corpo fragilizado, percebesse que o prazer tem cores que se misturam com os sons.


Apeteceu-me

"Os sons muitas vezes não são mais que imagens de ilusões". Charles de la Folie

segunda-feira, abril 10, 2006

ESCURO





(…) Escuro, muito escuro. A escuridão que estava dentro daquele buraco contrastava com o dia, um dia muito claro, com o Sol bem espetado lá em cima a apontar para meio Mundo. Naquele buraco a opacidade cegava, como raios negros oriundos de um sítio onde ninguém lá conseguiria chegar.
Lá no fundo onde o homem não ousa chegar, os animais e o seu extinto não se atrevem a aproximar, há qualquer coisa de diferente.
Basta espreitar e lançar a força dos nossos sentidos, deixar o nosso espírito percorrer aquele caminho que ninguém conhece.
A velocidade a que percorre aqueles túneis é alucinante, as voltas, as espirais, corre, circula. Todos os palmos daquela escuridão sem fim a vista, são preenchido pela velocidade, pela rapidez e ligeireza de um pensamento.



Uma ideia sem razão está na origem daquele caos de entendimentos, mas é dado o máximo para chegar a um ponto. Mesmo que aquelas curvas, os loopings seguidos de curvas apertada a quase noventa graus, onde as subidas precedem as descidas e as descidas precedem-se a elas próprias, onde o ritmo nunca abranda, e os abrandamentos são constantes actos de cobardia. Os saltos sobre os precipícios são constantes e ininterruptos, vezes sem fim, onde o pensamento sai sempre iludido com circuitos fechados de imaginação, onde as alucinações são mutantes e rápidas e precedem sempre as vontades de nada acontecer.
A viagem continua, rápida e sem destino, em direcção a nada por enquanto, a rapidez é a palavra-chave, mas a chave de tudo continua ainda sem razão e sem gerência.
Mas a lá vai percorrendo aqueles corredores sem morte aparente, mas também sem vida alguma para poder perecer. Fogo, muito fogo rastejante como uma mecha, é a combustão de um espírito sem corpo, de uma alma, sem rumo de um pensamento sem dono.
As repetidas passagens deixam os rastos baralhados, quase que não se seguem nem sossegam, perdem-se em lado algum, perdem-se por ai. Esperam que algo aconteça mesmo que isso nunca aconteça. É tempo de parar.
E ai a calma fica, o silencio de nada, nada mesmo, parou…
Nada se sente, o próprio sentimento, está congelado, imóvel. Não há ruído, não há nada. Há paz de espírito, é nessa altura, que recomeça o salto no infinito a procura de um nova razão, de um novo percurso.



Apeteceu-me

"Nem sempre os caminhos são para serem percorridos". Charles de la Folie

segunda-feira, abril 03, 2006

Ela – Insónia





(…) Bastava olhar para Ela para perceber que, não era mulher para mim, mas lembrava-me sempre das palavras sábias de um amigo quando tínhamos 18 anos:

- O não é certo, esse é garantido.

Olhar para Ela provocava-me doses exacerbadas de sensações compulsivas, se é que isso se pode dizer. Era um misto de revolta que me angustiava e de um sentimento de perda, o corpo contrai-se e por vários minutos assim ficava. Era uma verdadeira tormenta olhar para Ela. Por varias vezes tentei traduzir o que via, mas era quase, para não dizer impossível.
O seu rosto não muito cândido, mas de uma enorme pureza, mesmo que aquele sorriso de difícil expressão pudesse ser entre o cínico e o ingénuo, era difícil estabelecer a fronteira, da mesma forma que é difícil entender e perceber uma mulher.
Os olhos, lembravam-me amêndoas doces, de um castanho avelã onde o brilho lhe acentuava a Alma. A definição do seu rosto era de alguma forma acentuada pelas maçãs de rosto, demasiado bem delimitadas, pelo contorno do seu nariz. Um nariz de fino recorte, um tudo ou nada levantado, umas narinas que abriam lentamente no seu expirar, eram pequenos sinais se quem sabe estar na vida e no amor. Uma boca de lábios delicados, carnudos mas de traço fino, de um vermelho prazer, de quem está prestes a ter um orgasmo. O cabelo de um castanho muito claro, que os sol realçava, cortado de um forma estranha, mas que lhe assentava de uma forma quase magnifica.
O pescoço, fazia-me sonhar, com noites de carícias, de poder utiliza-lo para meu belo prazer, para poder descobrir cada poro, cada sinal, cada milímetro de pele que espelhava, sentir-me naquele colo eternamente.
Tentava não sonhar com o que restava, davam-me arrepios só de pensar, que o poderia imaginar, aquele corpo despido só para mim. Mas era quase irredutível, não pensar que o poderia sonhar, desenha-lo na minha imaginação só com cores sóbrias de ternura, mas garridas de paixão.
Mas conseguia descobrir a sua silhueta através das roupas que usava, roupas sensuais, não muito justas, mas que pactuavam com a sua beleza e com a sua enorme ousadia de ser linda.
Ela, era tudo o que sempre sonhara com alguém, foi assim que a perdi e que me senti perdido.
Aquele não, que Ela nunca me dissera, também esse ficou perdido por ai, nalgum quadro pintado por mim numa noite de insónia. O sim esse casei-me com ele e com Ela, mesmo que ainda hoje não entenda o significado daquelas sensações compulsivas, de uma revolta angustiante.




Apeteceu-me


"A beleza pode ser um entrave" Charles de la Folie

segunda-feira, março 27, 2006

Onde… ir.




(…) Quando terminou de subir as escadas com um gesto decidido pousou a mão sobre a maçaneta da porta, feita de madrepérola e com um gesto do pulso rodou-a para a sua direita. Devagar, muito devagar empurrou aquela enorme porta de carvalho maciço, pesada muito pesada. As suas dobradiças já com muitos anos rangiam como se gritassem uma ladainha de uma qualquer carpideira num pranto sem destino.
Era difícil, mas não impossível fazer com que aquela porta ficasse pelo menos com uma brecha com que a pudesse passar, transpô-la para o outro lado, um lado desconhecido e sem propósito aparente.
Estava escuro, sentia-se o cheiro a humidade, havia sons, pequenos sons num silêncio quase intransponível, a meia altura numa parede de caliça estava um interruptor muito antigo, feito de porcelana. A alavanca, não era uma alavanca, mais parecia um pequeno osso que se girava. Podia-se quase ouvir a electricidade em movimento naqueles fios antigos, um pequeno estalido naquele interruptor quando suavemente entre a porta e o desconhecido se dispões a rodar aquele interruptor. Não foi imediato, durou uma fracção de segundos, sentiu-se a electricidade a percorrer aqueles fios ainda feitos de um só bordão.
Naquele instante ficou um cheiro estranho no ar, um cheiro agressivo, que a velocidade da electricidade foi queimando até chegar ao seu destino depois de rodado o tal botão feito de cerâmica.




Era um balão enorme, transparente, cheio de filamentos, era uma lâmpada estranha, aquela que ali estava bem por cima da sua cabeça. A sua luz também era muito diferente das lâmpadas que conhecia, era uma luz amarelada com pouca intensidade apesar da imponência do seu tamanho, uma luz que pouco ou nada iluminava.
Demorou um bocado a habituar-se aquela luz, ou por outra, aquela escuridão, os seus olhos, de um castanho quase negro, brilhavam… brilhavam a procura de algo que não conhecia, estava a procura do desconhecido era a primeira vez que por ali passava ou que tinha curiosidade de ali ir, sabia que no cimo daquelas escadas havia uma porta, sempre soube mas ao longo dos anos nunca teve apetite de lá chegar. Os anos aguçaram-lhe a apetência. Sempre foi assim com tudo, só 10 anos depois é que descobriu que as broas da sua Avó eram angustiantes, como uma droga, imparáveis de se degustar, andou uma vida inteira para descobrir os deleites de andar de bicicleta.
Ali estava parado, entre as escadas, uma porta entre aberta e o desconhecido.
Deu dois passos em frente, enfrentou a escuridão, descobriu um novo interruptor feito de cerâmica com um botão giratório que mais parecia um pequeno osso, girou-o, sentiu um leve clique era ali que deveria parar, engoliu em seco, respirou fundo, fitou a escuridão que o desafiava, ouviu novamente o percorrer da electricidade, sentiu um enorme deja-vu…

(…) Estava enfiado num enorme corredor como quem está dentro de um colete-de-forças.

Apeteceu-me

"Ainda que em sobressaltos o desconhecido sabe bem". Charles de la Folie


terça-feira, março 21, 2006

CORPOS




(…) Ali a respiração esbarrava na solidez do ar que o rodeava. Estava um dia lindo. Um rapaz com os cotovelos apoiados no mármore que rematava aquela varanda, olhava para além do horizonte. Via-se no fundo dos seus pensamentos, dos seus sonhos da sua imaginação, conquistava ai os monstros que no dia a dia o venciam.


(…) Do outro lado do mundo, uma rapariga deitada sobre si, sobre os seus cotovelos, apoiava aquele queixo frágil de traço único sobre aquelas mãos delicadas, com unhas que cegavam com o seu brilho. Uma espécie de fio da navalha que encandeia ao sol. Ela com um ar descontraído olhava para um quadro, uma paisagem de um horizonte longínquo, de um pintor desconhecido mas que emoldurava a sua maneira de pensar e de sonhar, um traço único de uma rapariga que nunca conheceu a vida, a dura vida que acreditava existir num qualquer local longe daquele quadro.


(…) Algures num qualquer recanto de um pais atravessado pelo Equador, uma criança saltava sorrindo atrás de uma miragem que nunca conseguia alcançar. Cada vez que parava, via-a, olhava-a, pensava e sonhava que um dia ia ser como a miragem que desconcertava a sua imaginação e descontrolava todas as manhãs o seu acordar. Ali o Sol era como a chuva, chegava de uma forma arriscada e inexplicável, tal como os sonhos.


(…) Sentia todo o corpo a congelar, mas a sua curiosidade era mais forte que a dor. Dor talvez fosse forte de mais para explicar a sensação de andar perdido no gelo, na neve do fim do mundo. Ali o branco coincidia com a absorção dos dias complicados que passara na grande cidade, como um mata-borrão. Consoante o frio se apoderava do seu corpo, as decepções da vida iam desvanecendo. Passo a passo ia subindo aquela ilusão e morrendo a sua desilusão.




(…) No palco olhava para a multidão como se nada existisse. Estava só, sentia-se só. As palavras saiam-lhe, a musica ecoava por cantos que nem ela imaginava. Parecia mecânico, parecia não era. Ali naquela porta do tempo onde pouco ou nada importava a musica não passava de um enorme vazio de sons, as palavra um enorme vazio de qualquer coisa de difícil digestão.


(…) O tempo corre para um lugar qualquer, foge-nos. As várias tentativas de o agarrar, são frustradas, é eficiente amadurece e corre. Um dia lá o encontraremos sossegado no canto para onde corre, para onde foge, para aquele horizonte onde os monstros não nos vencem. Descobrimos que está dentro de uma pintura que ninguém reconhece, no meio de uma linha imaginária que nos corta ao meio. O tempo congela-nos a alma, mas não a corrompe, esse é o nosso papel.
O tempo é o palco de uma vida que temos de viver por meio dos sonhos que nos atravessam.

Apeteceu-me

"Ele vai e volta e nunca chega ao mesmo tempo que a vida" Charles de la Folie

domingo, março 12, 2006

Cowboyada




Estava aqui a pensar no que havia de escrever e comecei a lembra-me do filme que tanta polémica tem gerado nos Estados Unidos – “Brokenback Mouontain” a estória de dois Cowboys a maneira antiga, só que com gostos modernos, isto aligeirando um pouco a estória que me merece todo o respeito.
Apesar dos Óscares terem sido no domingo e o Taiwanês Ang Lee ser o mais provável vencedor, (que não foi)não é deste filme que quero falar, mas sim de outros filmes e de outras realidades – a nossa.
Associei os cowboys aqueles empolgantes assaltos a Bancos em pleno Faroeste.
O Problema é que por aqui, são os Bancos que assaltam os portugueses.
Este ano os lucros dos 4 maiores bancos portugueses foram assim:
Contas feitas, já depois de pagos os impostos:

• O BCP ganhou mais de 753 milhões de euros,
• O Santander Totta 340 milhões,
• O BES lucrou mais de 280 milhões,
• O BPI 251 milhões.

Nada de especial, para a crise que se diz para ai instalada.
Na semana passada o Banco Central Europeu, aumentou a taxa de juro em 0,25%, o povo ficou boquiaberto porque vêm para ai mais aumentos nas taxas de juro, por outras palavras ficaram preocupados e é de ficar. – Só um pormenor que será por certo um “pormaior” é que os bancos já a pensar neste possível aumento já o tinha feito no princípio do ano, e assim começarem já a acautelarem os lucros a apresentar no próximo ano.
Mas como um roubo nunca vem só os Bancos agora andam a estudar como sacar mais uns “tustos” aos Portugueses com a Taxa de Multibanco, primeiro incentivaram-nos a fazer tudo pela caixinha milagrosa, para assim reduzirem custos em pessoal e agora dão o golpe final, quando toda a gente está mais ou menos dependente da “coisa” criam uma taxa. Cá para mim vai voltar a moda do tempo dos cowboys – não, não é a utilização de dinamite e bombas – mas sim guardar o pouco dinheiro que se ganha debaixo do colchão.

Apeteceu-me

"Um dia a indignação dá lugar a explosão". Charles de la Folie

quinta-feira, março 02, 2006

Mata dos Medos (não há que duvidar)




8 Da noite, o Sol começava a baixar na Mata dos Medos, sentia-se a brisa do mar, ouviam-se as ondas a bater, estava uma temperatura amena de Primavera.
3 Miúdos atrevidos que faltaram à escola andavam por ali, pelo meio do pinhal. A natureza que ao sol se mostrava estava agora a esconder-se, viam-se tocas de ratos de campo, zimbros, troviscos, medronheiros e carrascos, ouvia-se o chilrear de pássaros de muitas espécies, era um cenário pintado quase à mão, uma mata mandada plantar por D. João V, já naquela altura era assim que se travavam as dunas.
Aqueles 3 miúdos andavam a colocar visco nas árvores, (um suco glutinoso que se extrai da casca do azevinho, com o qual se envolvem as varinhas para apanhar pássaros). Era desumano ver os pássaros a lutarem contra aquele suco que mais parecia ranho, aquele ranho esverdeado, nojento, acabado de sair das narinas de um carnautaro, ou de um tiranossauro, mas aqueles miúdos não pareciam ficar muito comovidos com o assunto, ficavam felizes riam-se do sofrimento dos pobres pintassilgos.
Um melro, com o seu bico de cor de ouro, observava atento o que se estava a passar, assobiava melodias tristes, parecia estar a adivinhar o fim de alguns da sua espécie, mas não se deixava enganar, o cheiro do visgo servia de repelente ao melro.
A noite caía abruptamente, os 3 amigos viram-se de repente numa situação complicada, muito complicada, os pinheiros mansos parece que se fecharam entre eles, entrelaçaram as suas agulhas para taparem o céu.
Pouco ou nada se via, sentia-se o cheiro a maresia, mas adensavam-se outros odores, sentia-se o cheiro a medo, estavam ali os 3 parados, costas com costas, formavam um tridente. Ao mínimo movimento, os sons criavam ainda mais medos, os galhos a partirem-se debaixo dos pés serviam para as cabeças ficarem geladas, os olhos encherem-se de sangue, o corpo ficar hirto, as pernas ficarem bambas.
Estavam a cagaçados, amedrontados, apavorados. Naquela altura, a Mata dos Medos parecia estar em pequenos murmúrios.

- O mais novo do grupo, o João, pensava nas coisas que o irmão mais velho lhe costumava contar, no homem que raptava jovens para depois os comer, que geralmente se arrastava pelas matas, era um homem muito grande, vestia-se com gangas e aproveitava-se do restos de trapos que encontrava por aqui e ali e enrodilhava-os a volta do corpo. Diziam que era Húngaro, que tinha vindo para Portugal para jogar à bola, mas um desgosto de amor emaluqueceu-o e “comeu” a namorada que o enganava, que a partir dai nunca mais foi visto. Sabe-se que anda pela Mata dos medos, que o seu cheiro nauseabundo o persegue e quando o vento lhe dá de feição os cães uivam como os lobos.
O Irmão, lembrava-se ele, também lhe disse que houve uma vez um grupo de 3 miúdos que desapareceu, só encontraram um sapato sujo de excrementos humanos.
O João estava assustadíssimo, ao mínimo respirar dos seus amigos, de murmúrios da mata, do som da coruja, do cantar do melro, ele estremecia. Só queria sair dali, queria gritar, mas os seus lábios estavam imóveis, da sua boca não saia qualquer ruído, parecia que estava cozida, estava completamente petrificado.

- O Rodrigo, que era o mais espiritual do grupo, era um miúdo negro, de raízes profundas Africanas, os seus olhos lentamente começaram a cerrar-se, sentiu um formigueiro pelo corpo, começou a sentir a Mata, as suas Almas perdidas que esvoaçavam por ali tipo balões soltos a despejarem.
Começou a recordar velhos feitiços que ouvia contar lá em casa à sua avó, ela uma velha macumbeira, amada e odiada por todos, recordava estar escondido na escuridão, afastava silenciosamente a cortina feita de uma velha manta ribatejana, feita de mil cores escuras que representam o campo, a cor do campo, afastava a cortina que dava para o quarto da avó, o único quarto daquela casa que só tinha um inquilino, recordava ver uma imensidão abrupta de velas, milhares de pontinhos de luz acesas e o curioso é que a luz não brilhava, muito menos iluminava, ouvia os murmúrios da sua avó a rezar e a evocar demónios e espíritos para derrotarem a paz de quem ela odiava. Esses pensamentos eram tão fortes que quando abriu os olhos, parecia ter uma névoa de sangue e, à sua frente, levitavam velas acesas, no meio, uma enorme poça de sangue com uma cabeça de um galo e as suas patas cruzadas, ao longe pareceu ver o galo a esvoaçar sem cabeça nem pés.

- O Manuel era o mais racional de todos, mas, aquela noite, ou naquela noite, só lhe apetecia chorar, mas a lágrimas saíam secas, a força que fez para chorar, ele sabia que o choro afastava o medo, urinou-se pelas pernas abaixo, o líquido escorria por cima dos seus ténis, fazia um pequeno canal em direcção ao mar, de repente a urina começou a evaporar-se, fez como que uma nuvem, que se foi transformando num pequeno demónio, primeiro a cara da sua antiga professora, depois em formas rápidas, a do seu vizinho que todos os dias o espancava quando saíam da escola, depois do cão do seu avô que o mordeu quando era ainda bebé, por fim do seu pai, o seu rosto fechou-se, parecia querer sucumbir aquele episódio, estava pálido.

Os 3 continuavam imóveis de costas voltadas uns para os outros, um triângulo perfeito, no meio desse triângulo, desse tridente formado, pareciam sair sons de pessoas, os sons eram cada vez mais fortes, começaram a ver vindas de todos os lados, luzes.
Quando temiam o pior, eram só pessoas, pessoas à sua procura, tudo não tinha passado de um sonho mau, quando os 3 se voltaram, lá estava o galo sem cabeça e sem pés a esvoaçar, lá estava o pai do Manuel, lá estava o Húngaro refastelado a comer.

Apeteceu-me

"Nem sempre a ambição se sobrepõe a amizade" Charles de la Folie

domingo, fevereiro 26, 2006

(...) Intrepelação


(…) A loucura da vida, o tempo, tudo que a rodeia...o rodopiar da mente, a alma turva de tanto abanão.
A vida salta, de emoção em emoção. Ontem corria a verdade sobre nada, hoje sobre nada corre nas veias da sua insensatez.
Levantava a cabeça, o alcance da sua visão dá-lhe uma imagem demasiado ampla daquilo que quer ver, só algo lhe interessa. Não conseguia a sua perfeita focalização, isso adormecia-lhe a sua confiança. A palavra ali que se poderia utilizar, auto estima, falta-lhe a confiança exacta para poder abanar a sua espinha e sentir o arrepio fatal de quem está apaixonado. Os seus dedos percorriam o corpo a procura de um sentir diferente, mas era o toque de a muitos anos o mesmo tocar gasto de si própria. Sentia os calos do seu imaginário pouco imaginativo. O suspiro, o arfar de emoções que pouco ou nada saíam a não ser as habituais lamentações da sua ainda curta mas intensa vida. Uma vida cruel aos seu olhos, fiel no imaginário de quem a sente.

Lá fora, esperam famintos quem nem lobos desenfreados que a sua mente se abra a vida, que não se deixe de levar pelos mais inóspitos pensamentos recrutados em nada e por nada.
Cai uma lágrima diária, que consegue esvaziar a alma de um sentimento simples e cruel, mas que precisa de ar e de luz para que não se torne numa pedra pouco ou nada preciosa, que custa a carregar durante o resto de uma vida que pouco ou nada se sabe, mesmo que controlada.

Apeteceu-me

"Sempre que fugimos somos apanhados por nós próprios em contrapé" Charles la Folie

sábado, fevereiro 18, 2006

Será !? (estava com os copos quando escrevi isto)




O QUE ESTÃO A OUVIR FOI UM BRINDE DO BINO
Será? Pois não sei.
Sei sim que a minha mãe me ligou a dizer que era lindo. Que nunca tinha visto nada igual. E se ela ligou a dizer é porque é verdade. Talvez ela não se lembre mas tenho fotografias em Paris na Neve e são mais bonitas que estas. Deixa-lo!
A Neve, que percorreu grande parte do país, e que durante uns dias teve o condão de fazer com que grande parte dos portugueses falassem sobre o assunto.
Para além que também fez esquecer muitas outras coisas mesmo que durante algumas horas.
Nesta altura do campeonato a neve faz-me lembrar duas coisas:
O Português que a todo custo vai aos Jogos Olímpicos de Torino, e os anúncios dos chocolates “Kit Kat”. Acho que foi um dia inesquecível para alguém.
Aqui quando nevou na Costa, eu, estava na Garagem a desmanchar uma cadeira… de madeira. Já que nesse dia… frio, além do gaz, tinha-se me acabado a lenha. Não sou rapaz de muitas modas e desfiz o que desse para arder. É verdade que com este devaneio perdi… a neve…
Mas frio, muito frio tem andado o meu pensamento, não do Danny Silva, que nesta altura estará em Torino onde vai entrar nas provas de fundo de sky dos Jogos Olímpicos de Inverno, e onde vai representa Portugal e os Portugueses.

(ficou em 94º, mas foi lá teve esse mérito que que por muito nos custe deixa-nos a roer de inveja)É bonito termos um atleta português que nos representa, que se treina de uma forma surreal e de formas inenarráveis, mas é o seu sonho, chegar, representar e não nos deixar, a nós, “portugas” mal vistos. Estava a pensar se o Danny Silva não estaria mais interessado em representar Espanha, onde o Gaz da marca portuguesa (Galp) custa metade do que em Portugal, onde os combustíveis são muito mais baratos, onde ir as compras a supermercados compensa na ordem dos 30%... os cigarros são 1 € mais baratos. Será que a nossa PT vai entrar também numa fria? Por um lado so me apetece rir, mas quando me lembro do que deixo todos os meses nas finanças, e que pago de impostos todos os dias quando me levanto…só me apetece dizer….
Buenos dias…


Apeteceu-me


"Quanto mais nos lixam, mais nós nos acomodamos". Charles de la Folie