terça-feira, setembro 09, 2008

Papel de parede

(...) Soltei aquele grito caracteristico de gente crescida – de uma forma lancinante – na penumbra daquele local. Não era a imagem que tinha de ti, perdido num qualquer local que não davas conta. Passei-te a mão pelo cabelo, senti aquele suor frio - que se escapava da testa - ficar agarrado às minha mãos. Quando olhei de uma primeira vez, vi sangue – não podia ser, era frio – depois de olhar outra vez, era apenas a minha mão.


(...) Diz-me só mais uma vez, só mais uma. Gosto das tuas palavras, da forma como as entoas. Percorrem-me os sentidos e descobrem-me emoções que pensava estarem inutilizadas para sempre. Só mais uma vez diz-me qualquer coisa para poder redesenhar-te dentro da minha alma. Como se estivéssemos numa cama – deitados e juntos – perdidos em silêncios.


(...) Não acredito que não sejas o homem que conheci – hoje prostrado dessa forma pérfida. Crescente dentro de mim e fizeste-me crescer para sempre. Não me lembro bem ao certo quando foi – a memória trai-me da mesma forma que fui traido por ti. Já nem esse sorriso te descontrai e deixa esse dilúvio de disparates desvanecerem-se. Acorda ainda pertences a este mundo – eu sei do que falo.

(...) Enquanto pensava nas palavras que não ouvia, reflectia nos movimentos do Mar – na perpetuação da nossa incapacidade de resistir. Soltei-me com se fosse uma fúria, na direcção exacta do passado. Lembro de bater em vão – com força – num vazio desconcertante. Já não estavas lá – senti o teu paladar – quando percebi que nunca lá tinhas estado.

(...) Das vezes que te vi, não eras tu, nunca foste. Nem as palavras foram - disparadas – por ti. Não existes eu sei. Já eu fui vetado a estar aqui eternamente, escondido em cada palavra que me sai – é isso eu sei. Morro de medo, só de saber que ninguém me entende.



Apeteceu-me

"Dentro de ti re-descubro-me" Charles de la Folie