terça-feira, julho 20, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada IV

Um dia ainda faço uma cruzada a casa dela, e posso sempre levar o Pilitas, olha, ah! ah! o Pilitas é um bom partido para ela, ai se é!!
Até que tinha graça, muita mesmo, é o tipo de moço que os pais de qualquer garota adoram, adoram mesmo odiar, o Pilitas, é um “Moçoilo”… como posso explicar!? A melhor maneira de explicar como ele é, é mesmo não explicar, porque ele é absurdamente e absolutamente inenarrável… É simples, é barato e dá milhões, é um grande amigo, mas tem um defeito, não muito grande, mas não deixa de ser um defeito, é que ele não mente, tipo:
- Ó mãe! Ontem estive em casa da Susana (namorada do Pilitas - será?) a noite toda, até adormeci e se não acredita pergunte ao Pilitas.
- Ó Pilitas… é verdade, o que a Palmira está a dizer?
- Bem… Dona Henriqueta, tecnicamente é verdade, mas basicamente não! Ela passou por lá, quer dizer, disse-nos que ia passar por lá… Ela, Dona Henriqueta, como lhe vou explicar, ameaçou-me há 2 minutos, para lhe dizer que esteve lá. Claro que, Dona Henriqueta, espero que não me leve a mal.
- Estás a ver Palmira, nunca posso confiar em ti, aqui o Pilitas é sincero, nunca mente e diz-nos sempre a verdade, não é?
- Sim claro, quer dizer, pois é essa a minha intenção, às vezes, sabe… omito… omito umas coisas de nada, aliás eu penso que a Palmira também é assim.
É talvez por isso que digo que o Pilitas é único, muito sincero, é óbvio que desta vez eu sabia que até era mentira, mas disse à minha mãe que ele me tinha pedido para não passar por lá, porque queria dar uma valente “trancada” na Susana - isso queria a Susana. A minha mãe, só não lhe deu um treco porque já me conhece de ginjeira. Quanto à “trancada” na Susana, o Pilitas acha que a namorada é para levar virgem para o altar, eu disse a namorada, porque ele podia ser dado à religião, mas de parvo não tem absolutamente nada, ai não tem não, e acho que essa de ir virgem para o altar também é uma treta dele, ou um fetiche, apanhar a igreja vazia e pimba no altar.
A verdade é que a catadupa de pensamentos parvos não passam e eu, quanto mais sei que tenho de me levantar, mais fico pregada ao colchão. É uma briga, uma briga exasperada entre eu, a minha pessoa, o colchão, a almofada, a vontade de não me levantar, a consciência de ter de me levantar, a almofada que não deixa a cabeça levantar e os pés que se auto prendem no edredão. A verdade é que este género de coisas excitam-me, excitam-me muito mesmo, de uma maneira descomunal, agora há um pequeno problema que é o perceber porquê, o porquê desta excitação toda que me persegue. Não sei, até porque tudo me excita… acho que tem a ver com o foro psicológico, ou qualquer coisa da mesma classe… às vezes só me apetece auto-flagelar e dizer: “sua tarada, sua miúda sem escrúpulos sexuais, sua isto, sua aquilo”, mas suar nada…
O problema é que me dá uma vontade, uma enorme e desconcertante vontade de rir, e rio, rio quase até sufocar, parece que estou pedrada, com uma bela ervinha, vinda ali do… psiuu… Não se pode dizer se pois ainda vão à varanda dele, ou à sua estufa ou sei lá mais onde… ih! ih! ih! e lá se vai a nossa produção caseira. Foi aqui que eu percebi o que é uma empresa familiar, ou uma empresa de amigos “mais bem falando”. Aquilo é do melhor, ele planta, seca-as no forno e eu testo o produto, eu e muito mais gente aqui neste prédio. Ainda não fizemos dinheiro nenhum, claro como é que uma pessoa se separa de uma planta que é tratada com tanto amor, é como aquelas pessoas que criam um coelho ou um pato e depois não conseguem comê-lo, e também porque estamos há dois anos em testes de qualidade, sempre ouvi dizer que uma empresa, para ser uma empresa, deve testar bem os seus produtos. E é o que nós fazemos sob o signo da qualidade, aqui o problema maior é que eu sou a “testadora” oficial. Problema porquê?! Nunca chegamos a grandes conclusões porque ficamos E.H.L., ou seja, num Estado Hilariante Lastimável…
apeteceu-me


"Basta pensar novamente para que o dia amanheça num instante, mesmo que seja o escuro que te proteja" Charles de la Folie

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