terça-feira, setembro 07, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada IX

Por falar em beleza… a beleza da minha mãe não há meio de chegar. O tempo passa e, nem o pai janta, nem a gente almoça. Hummm… o que preciso mesmo é de tomar alguma coisa, a cabeça parece pesar toneladas, estou a imaginar ir até à cozinha de carrinho de mão, com a cabeça lá em cima, é assim que a sinto, como um peso desmedido para o resto do corpo, tipo aqueles cabeçudos do Carnaval.

E que Carnaval anda por aqui, o que é certo é que continuo especada aqui em cima da cama. Acho que está alguma coisa para acontecer, aliás aconteceu na noite anterior, isso pelo menos é uma evidência, só espero que não tenha acontecido nada de muito anormal, às vezes, a coisa… pois a coisa descontrola-se e mais que descontrolada já sou eu.

O que me intriga… nesta altura do campeonato é que não consigo imaginar o que pode estar escrito dentro daquele envelope… Que raio! Onde andará a Dona Henriqueta!? Quando mais precisamos delas, mães claro, é quando mais elas nos desaparecem, é sempre assim e julgo não haver remédio porque vai ser sempre assim, não haja ilusões!

Até parece que eu tenho uma remessa de mães, é que ter esta já é uma sorte, uma santa destas… só que agora era muito precisa… e nada, nada mesmo… Lá continuo eu de barriga para cima… cabeça empoleirada na almofada, às vezes com uma vontade de passar as mãos pelas pernas que até me arrepia, mas passa depressa só de pensar que tenho de fazer movimentos, alguns movimentos bons, mas a vontade desvanece com uma velocidade alucinante, tipo flash de máquina descartável.

A verdade é que estou angustiada, aos 23 anos… sinto-me angustiada por tudo o que fiz e pelo que não fiz. Apetece-me fazer algumas coisas, mas das que fiz houve algumas de que me arrependo. Arrependo-me das vezes que me apeteceu amar alguém loucamente, sentir alguém a trepar por mim, pelo meu corpo, pelos meus desejos e desígnios, e arrependo-me das vezes que senti nojo de mim por fazer coisas que me apeteciam muito... Não foram grande coisa, a bom da verdade, é que há homens, qual homens! Miúdos que são uma coisa pavorosa, embrulhados são uma coisa, quando se desembrulham, meu Deus… Então quando se prova, valha-me a Nossa Senhora dos Aflitos, conseguem ser confrangedores, às vezes não é por falta de argumentos, é mesmo por falta de… como posso explicar sem me envergonhar, eles querem tudo à pressa, não entendem que as coisas que dão mais prazer demoram a fazer… Demoram, é verdade que este é o meu ponto de vista e ponto, e ponto… e ponto… Apre! estou a ficar um pouco repetitiva, ponto G, “G point”… “prontos” está dito, não só meu… das mulheres, das mulheres em geral. Lembro-me de um namorado que tive que, com a aflição, ou com a pressa, ou sei lá com o quê, rasgou sete preservativos ao tentar meter aquela porcaria, puxava e com os dedos, pimba. Um “gajo” que me dizia, que fazer amor com ele, era como uma prova de Formula Um, no fim era um cheiro a borracha queimada! Afinal… dá-me vontade de rir, nem das boxes saiu. Ele bem tentou, mas já não consegui parar de rir, foi mais forte que eu, no fim ainda lhe disse para levar as “camisinhas”e tentar fazer-lhes a bainha, que ainda serviam para mais umas provas… mas de triciclo, ou então para recauchutar. Nunca mais o vi, coitado, foi um bocado, um bocado é favor, humilhado, mas o que havia de fazer? E se houvesse?! Mas não havia felizmente…

É uma Pancada… para rapariga até que é saudável, quer dizer, tudo dependendo dos parâmetros de quem – te vê. É óbvio que a minha avó não tem a mesma visão - até porque é míope - que, olha pois, que a minha Tia Luísa, a mãe da Ana, claro que não, a minha Avó é 50 ou mais anos avançada!

O que eu penso, isto é o que eu deveria pensar nesta altura… acho que a Ana no dia em que se soltar, vai ser lindo, tenho impressão que vai parecer um toiro a sair dos curros, desencabrestada de todo, mas é cá uma impressão… Só me faz espécie uma coisa: a Ana terá sido inventada debaixo de um vão de escada?! Se, para aquela família, um preservativo é uma dádiva de Satanás aos pecadores, hoje em dia é aos pescadores tal é a quantidade de camisinhas que aparecem por aí a boiar, mas já nem o Santo Padre pensa assim, enfim, o tiro vai sair-lhes pela culatra, ai vai… vai…Hum basta ver como me olham, e isto porque tenho dois brincos na orelha, imagino se eles… bom até a minha mãe, mas não quero pensar nisso agora, não quero mesmo.

Eu bem tento, juro que estou a tentar… a tentar fazer força para me levantar, mas o melhor que consigo é que a cabeça se vire ligeiramente na almofada, na minha melhor amiga, na minha confidente, na minha alma gémea. Se nascesse, por acaso, um objecto gostava de ser almofada… nã, nã nã Porra! Ainda tinha como dono um daqueles gajos sebosos que não se lavam, que deitam óleo do cabelo que dá para fritar batatas, nã nã, isso é que não … ai que me vomito só de pensar nisso, que nojo.

Rápido, rápido, coisas positivas, rápido, ora deixa cá ver gelado de pistácio, ovos de tomatada, baba de camelo, doce da avó, está a melhorar, mas com a sede com que estou, não posso pensar muito em doces, ora pensar, pois pensar!?

Que terá o raio da carta? Aquela carta que a minha mãe tinha e já não deve ter, já a deve ter entregue, mas que tinha na mão, pois na mão?! Estou intrigada, aquela carta, humm… Sr. Vasco, se não fui traída pela minha bela vista, ali há gato, ai há, há!

Gato, gatão, não sei que raio de felino, mas que deve existir alguma coisa deve e a minha mãe sabe, se não sabe devia saber, afinal eu sou filha dela, ela só tem de investigar para mim.

Eu sei que ela tem um desgosto enorme por esta situação, não fui criada para ele, mas a amizade que os meus pais tinham e têm para com os pais dele… Lá estou eu a pensar naquele gabiru, não passa um minuto que eu não pense nele, isto é que é uma sina… nem o pai almoça nem a gente janta…

Apeteceu-me



"O tempo pára naquela fracção de segundo, mas os sulcos na pele continuam a ser escavados" Charles de la Folie

Sem comentários: