segunda-feira, maio 16, 2005

TOVARISCH

дружественный

(...) Olhava de um lado para o outro, era já noite. Numa esquina na gelada Moscovo, o nosso intrépido herói, enrolado num sobretudo escuro, confundia-se com uma sombra, de um lado uma garrafa de Vodkra enrolada num jornal, podia-se ver a data daquele jornal, mas que interessa isso.
Escondido debaixo, da sua quente camisola, um embrulho, guardava-o com a sua própria vida. Mas naquela altura ficava uma interrogação no ar que fazia ali, naquela esquina escondido um membro do Politburo, não era normal, naquela altura na União Soviética estes destacados membros do povo esconderem-se. Mas ali estava ele, parecia esperar... esperar por um momento exacto. Longe iam os dias de boas graças daquele povo que libertou nos idos anos 40 no final da 2ª Guerra Mundial os prisioneiros de Auchwitz e lutaram como ninguém as portas de Moscovo.
Estávamos na véspera, do Ano Novo de um dos dois anos novos, que se comemoram na Rússia, já que continuam a utilizar, dois calendários o Juliano e o Greoriano um comemora a 1 de janeiro e o outro a 14 de janeiro. Mas nada disto interessa, o que interessa ou interessava naquele momento era o nosso herói, naquela altura, olhou para o relógio, puxou as golas do seu sobretudo, agitou o seu barrete, feito de pele de esquilo, apesar de merecer um gorro de uma outra pele melhor, por entre aquela penumbra e frio puxou da sua garrafa de Vodkra, inclinou a cabeça para trás, e de um valente trago, bebeu quase meia garrafa, a sua maçã de adão, parecia deliciada com arrastar daquela sensação e ardor. Aquele aquecimento que penetrava pelo seu corpo, era fantástico, dos seus poros começava a brotar suor, as suas mão aqueciam de uma maneira disparatada, depois enrolhou a garrafa, passou a manga do seu casaco pelos lábios, e olhou novamente, para todos os lados.
Estava ali ao lado do Teatro Bolshoi, saiu dali como o passo alargado, ajeitou o embrulho que escondia, perto da Catedral de São Basilio, sentiu uns passos, olhou para trás já com a respiração ofegante, não de quem está cansado mas de quem, está receoso, de quem esconde algo, olhou para trás novamente, desta vez pouco discretamente, mas não tinha visto ninguém, também não queria acreditar que o KGB o pudesse seguir, mas mesmo assim, seguiu, estava agora a passar perto do Museu da história do estado, era fantástico, a áurea que ali se vivia na praça vermelha. Por momentos, enquanto tentava controlar a sua respiração e os seus nervos, relembrava-se do grande desfile militar que este ano tinha presenciado, ao lado do General Karin Boniek, um grande amigo, e homem que sabe guardar os seus segredos mais secretos.
Passava agora perto do muro do Kremelin, desviou-se para o outro lado, estava quase na altura do render da guarda e não queria correr o risco de ser reconhecido. Ajeitou novamente o embrulho, que continuava bem aconchegada de encontro ao seu corpo.
Ali na praça das catedrais virou rápido e encostou-se ao edifício do senado. Respirou, repirou novamente, encostou-se ali aquele edifício, castanho esverdeado, de 3 andares com um pé altíssimo, um edifício que conhecia bem, muito bem mesmo, havia lá duas secretárias que conhecia, lindamente, se conhecia, tirou a garrafa novamente do bolso, custou a sair, estava embaraçada, no meio do forro roto do bolso do sobretudo. Depois foi meter o gargalo da garrafa na boca e de uma só vez, bebeu mais um trago, um grande trago daquela agua benta ardente.
O caminho estava ali a frente, seguiu uns bons 200 metros, olhou para trás não viu ninguém, naquela porta de madeira, aliás, duas enormes portas de madeira, olhou novamente, para trás, e para os lados empurrou a porta, subiu uma enorme escadaria de mármore. Lá em cima a fumar um cigarro, estava um enorme homem, algo foi dito em surdina, depois abriu-se a porta de um apartamento, lá dentro, muita luz, debaixo de enormes candeeiros de cristal, gente muito bem vestida, mas parecia uma grande festa, mas na clandestinidade, era por certo na clandestinidade.
Mal tirou o sobretudo, as pessoas perceberam quem era, o mais esperado membro do Politbugo, tirou debaixo do seu camisolão o tal pacote, devagar e sob o olhar daquela gente toda, começou a tirar o papel, lá debaixo, um disco, sim um disco de vinil, uma versão do cokaine de J.J. Calle, tocada por um grupo Soviético ás escondidas.


Apeteceu-me

"A Musica não é mais que a imaginação a dançar"

Charles de la Folie

10 comentários:

Anónimo disse...

Bem, desta vez digo-te uma palavra (ou duas): (simplesmente) FA-BU-LO-SO!!!!!! E a banda sonora a condizer! Estou extasiada! Fez-te bem esta revoluçãozinha que por aqui andou, estou a ver... parece que te inspirou! Cumprimentos à Teresa.

la machina disse...

Dale is in da house!

Anónimo disse...

Isto hoje está tudo muito calmo por aqui...

Anónimo disse...

as vas e as ginas proletárias estão no comité para a nacionalização da (s) coisa (s)

Vênus disse...

Olá Carlos,
Parece que tudo voltou ao normal por aqui...Que bom!
Bjs

Anónimo disse...

Quero deslizar
em teu corpo
enquanto danço
para a lua
estrelas displicentes
rastejam infindáveis
trazendo a serpente.
BY ANGEL

BlueShell disse...

Até eu fiquei a olhar por cima do ombro a ver se estava alguém atrás de mim...tão intensa foi a tua narração! E afinal o que não se faz por um disco de vinil?
Gostei...e suspirei de alívio!
Tudo fica bem quando termina bem!
Jinhos, bshell

Conceição Paulino disse...

inesperado...Bjs e;)

Anónimo disse...

Hoje vestimos todos a camisola do Sporting. Como sei que és ferranho, deixo aqui a minha mensagem de força!

Anónimo disse...

errado. hoje despimos todos as camisolas... e não só.
viva a libertação das vas e das ginas.
fora com as roupagens enganadoras. ninguém quer comprar gato por lebre.