sábado, maio 07, 2005

Divisão (muro)

Divisão (muro)

(...) Olhava fixamente para aquele muro, os olhos desfocavam, as lágrimas corriam lentamente pela sua face, as pequenas veias nos seus olhos começavam a ficar vermelhas de sangue,do grande fluxo de sangue, eram pequenos derrames. A sua mente vagueava entre aquele muro e a aragem daquele dia, olhava para os pés e sentia que nada podia fazer. Porquê os pés, porquê a vontade de pular com força em direcção ao muro? As mãos estavam cerradas, com muita força, notava-se nos músculos, totalmente contraídos, pareciam rochas, pedras, que a qualquer momento podiam explodir, sem qualquer razão aparente.
Estava frente a frente com o seu Adamastor, com a sua tormenta, com tudo o que mais receava, era a sua vida, estava ali e por vezes sentia-se sem controlo dela, mas a vida era isso mesmo um perfeito descontrolo, um perfeito respirar de dias, muitos dias, muitas horas, minutos, segundos, que eram respirados abundante e sofregamente.
Respirar, aquele acto continuo, que nos mantém ao nível de qualquer coisa, mas que coisa ?!
Aquele muro, que olhava fixamente, ele!
Durante aquele acto continuo de expirar e expelir, aquele acto de pura sobrevivência.. respirar é isso mesmo, é sobreviver! Para se sobreviver, é preciso resistir, porque podemos simplesmente, deixar de o fazer, e desacreditar toda a nossa existência.
O muro, que mais não é se não uma barreira, continuava ali. A sua visão periférica, mostrava que ele, muro, não tinha fim, não conseguia atingir o seu fim, podia ser meramente uma ilusão optica. Era uma barreira que por vezes parecia inultrapassável, mas nada lhe restava mais, a verdade era essa, nada lhe restava mais que aquele muro, vivia com ele 24 horas por dia, talvez por isso, naquele dia estava ali, quase prostrado, acabrunhado, diante do seu maior pesadelo, por mais que pensasse, chegava a conclusão que não havia volta a dar. Claro que não havia volta a dar, ele foi habituado a não dar voltas, mas sim a enfrentar essas voltas. O peito enchia-se de raiva, os sentidos despertavam ódios, o suor que se libertava era corrosivo, as pernas, entreabertas e flectidas forçavam e vincaram-se no chão, as pernas não, mas os pés, esses sim, forçados pelas pernas, com músculos definidos e saídos, o tronco seco em forma de “A” invertido, os abdominais salientes, pareciam tijolos mal enfiados, uma parede interminável, mas seca, um poço de força. De uma forma ou de outra ele sabia, que era inevitável, quanto mais os punhos cerrava, mais os músculos do pescoço saiam, a jugular quase pulava, movia-se para fora, como se uma mangueira tratasse. Estava frente a frente, depois daquela acalmia aparente, de anos e anos a fio sem que nada se passasse. O seu corpo naquele momento emanava uma energia forte, saiam raios de luz intensos, o seu cabelo estava em pé tal era a electricidade, os seus olhos mudaram de cor, ficaram da cor da electricidade, seja qual for a cor da electricidade. Os seus movimentos, ficaram rápidos, muito rápidos, de tal maneira que a imagem que se via parecia em camera lenta. Naquela altura, a diferença era enorme, respirava-se confiança, respirava-se, era evidente que o que se ia passar, ia ser violento, mas só havia um vencedor, e o derrotado cairia no esquecimento rapidamente.
Passaram-se 100 dias, e ali estava ele imóvel, diante do muro, podia-se ver, aliás já se viam as brechas, que o tempo estava a provocar, naquela barreira, alta, longa, quase intransponível, já se podiam ver pequenos movimentos da parede a sucumbir, o muro começava lentamente a despedaçar-se, a desintegrar-se, a transformar-se em areia, a imagem era de uma enorme ampulheta, que teimava em contar o tempo.
Alguém me disse que tudo começou numa pequena brecha. Aquele enorme muro, grande e quase intrasponivel, o tempo, fez com que se desvanecesse. E ele, ele ali ficou para sempre petrificado pela sua energia, naquele momento já era uma memória.

Apeteceu-me

"Os muros contornam-se, mas derruba-los dão mais satisfação" Charles de la Folie

12 comentários:

Vênus disse...

Olá Carlos,
Passei só para desejar-te um bom fom de semana..E o tempo, Ele controla tudo..Podemos mudar isso?
bjs

agua_quente disse...

Hás-de dizer-me como fez ele para derrubar o muro. Será que o simples facto de o enfrentar o fez cair? Boa filosofia, não sei é se resulta na prática. :) Beijos

Conceição Paulino disse...

Uma prova de resistência e persistência? Os piores muros são os nossos.Bem interiores.Bom fs

Anónimo disse...

Sem dúvida que os piores muros são aqueles que nós mesmos erguemos cunhadão.
Abraço para ti e bom domingo.

SL disse...

A vida é feita de muros...
Mas a vida também é feita de coragem e força para os destruir!
Jinhos

Å®t Øf £övë disse...

Bela metáfora...
Todos nós enfrentamos diversos muros ao longo da nossa vida.
Alguns conseguimos derrubá-los,outros por vezes só os conseguimos contornar.
Mas o importante mesmo é ultrapassá-los a todos de uma forma ou de outra.
Bom domingo.
Abraço.

Anónimo disse...

Está em nós, contornar ou derrubar o muro ou simplesmente virar as costas! Mil beijinhos!

Anónimo disse...

Temos que ultrapassar os nossos muros interiores se queremos estar aptos para ultrapassar os muros que nos são impostos pelos outros e pela propria vida... =) aquela imagem dos pessegos com chantili dão cabo de mimmmmmmmmm *beijoka

Unknown disse...

Todos temos os nossos muros e barreiras, seria bom que por vezes os conseguissemos ultrapassar. Beijo

Anónimo disse...

Em cada caminho que percorremos, ontem, hoje e amanhã, sempre existem muros, os visíveis e os invisíveis.
Uns contornam-nos, outros atemorizam-se perante eles, e outros enchem o peito e de rosto erguido e derrubam-nos.
Não apenas com o pensamento ou com a vontade que se deixa perder nos dias.
Mas com a persistência, tenacidade e energia suficiente para os derrubar, abater e saber que se tratou de mais uma meta atingida em nós, por nós e para nós.
:)

Kisses

Dra. Laura Alho disse...

Há sempre muros na nossa vida. E nenhum deles é intransponível.

Beijinho *

Anónimo disse...

E às vezes somos nós que construímos os muros.E nem todos são derrubáveis.