terça-feira, outubro 09, 2007

Espaços

(…) Aquele acordar de manhã, arrepiava-me. Tinha saudades de quando me tocavas. Não percebi a tua partida. Deixaste-me para sempre aqui envolta nos meus lençóis –, num despertar agoniante. Tento aguentar-me mais um dia, mais um dia que aparece e desaparece em mim. O meu corpo começa a degradar-se, sem a tua sábia oração a ele. Toco-me, não é a mesma coisa. Sinto-me em mim, gosto sobre maneira. Mas falta-me o teu arfar, aquela lufada que me percorria num sonho de carícias.




(…) Já não me lembro, do dia em que foi. Olhei-me ao espelho depois de me levantar. – Não me reconheci. Estava velha. Pior, senti-me velha, envelhecida na minha própria imagem. Despi-me como quem se despede. Puxei a cortina da banheira –, até me deixar espaço para entrar. Levantei uma perna, apoiando-me em algo que não me lembro- levantei a outra com a agilidade que há muito já não tenho. Sorri, gosto de sorrir. Senti a agua que percorria o chuveiro a embater em mim até acordar.





(…) Gosto do toque do turco. Macio eleve. Leva-me por ai, socorre-me. Tapa-me espaços e brechas que se abrem por ai, no meu corpo. É acutilante. Gosto de me abraçar a ele… ou a ela. Já não sei se por vergonha ou pudor, que não o faço a janela a olhar para longe. Tão longe quanto possível. Apaga a água que há em mim, escorre-a, absorve-a. Um ciúme que me revolta por vezes. Entre a água que gosto de sentir, e aquele que me faz tremer. Gosto de sentir o turco a roçar os limites de mim. É boa aquela sensação.


(…) Andava nos limites de mim mesma. Tinha medo do que ia na minha alma. Nada de especial, coisas de gente menos nova. As varizes já tinham de ser acalmadas, com pequenas massagens. Gostava de as acalmar, acalmava-me depois outras coisas que por vezes estavam esquecidas. Sentia a vontade de as percorrer –, enquanto fechava os olhos. Tinham-me ensinado a nunca desistir. Eu sabia que não podia desistir de mim. Já não havia ninguém a quem recorrer.




(…) Já nada me faz esquecer o passado. Lembro-me que nem tudo foi preenchido. Mesmo assim… duvido que alguém possa ter o que tive. Os cheiros, as imagens, os sons –, estão todos dentro de mim. Muitas vezes, quando me arrepio ao acordar, enrolo-me nos lençóis e deixo-os percorrer… por mim. Sinto-o como senti tantas coisas em mim. Quando saio daqueles banhos, em que a agua me consome o fogo –, a toalha de turco recorda-me as mãos que me pertenceram. Fico feliz, por nunca ter tido uma coisa – a solidão.



Apeteceu-me




"As duvidas que se abatem sobre nós, também nos erguem." Charles de la Folie

6 comentários:

augustoM disse...

Como sempre, vividamente correcto.
A rejeição e o banho da sombra.
Um abraço. Augusto

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

perfeito...

abraço

Carla disse...

Venho convidar-te a brindar comigo amanhã 18/10... É dia de festa lá no meu cantinho...

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Dinada disse...

Então, olha, sei lá...olá, pronto!

Encontrei-te no 'semifrio' a conversar comigo há 2 anos...giro, não?

Bino disse...

Carlitos, pá eu ando sem tempo nenhum. Passei por aqui a correr.
Os negócios, sabes como é. As mulheres não me dão descanso.
A ver se um dia destes te mando um mail.
Aquele abraço.

Titá disse...

Ainda bem que te apeteceu... Gosto de te ler.

Um beijo