(…) No crepúsculo da irrealidade, a intensidade dos primeiros raios de Sol passam ao lado da profundidade do meu sono. Não acordo daquele silêncio que me enche a vida que se enrola comigo no cetim da cama. Bebo a noite em tragos e espero embriagado que ela passe, para esquecer todos os recantos da escuridão em que ela – noite – assenta. Os dentes cerrados rangem, as mãos unidas parecem rezar, os joelhos juntos ao abdómen esperam pelo «renascimento».

(…) Lá fora há o escuro da noite, a lua que foge e que se esconde entre as nuvens de Verão. Há ainda a Vida, toda ela. Os corpos que se decompõem em melopeias que atenuam o cansativo dia-a-dia. Fecha-se a janela por onde passa a brisa que acaricia o corpo enrolado num sonho permanente mas sem memória. Permanece o suor de um corpo que respira a sua própria vontade e que renasce. Vence o medo do pequeno pesadelo que lhe contrai o corpo.
(…) O peso de toda uma vida faz retomar a noite, afundo-me no colchão, com ele levo o pesadelo de não conseguir recordar o momento em que as lágrimas começaram a libertar-se. Nem de quem eram, nem de quem são. O corpo contrai-se num despertar violento. O semblante carrega a noite, numa intercessão fria. Olhos abertos, fixos em nada. A violência da figuração prende-se na quietude do movimento. Só que isso nunca acontece.
Apeteceu-me
“Serei eu um sonhador neste mundo de pesadelo!” Charles de la Folie