quinta-feira, maio 17, 2007

Acordar

(...) Sentia-me magnífica, harmoniosa comigo, sentia-me eu, sentia-me. - Hoje era um daqueles dias em que o seu reflexo no espelho não se mexia, perplexo com a sua beleza.
Sentia-me segura, gosto de descansar neste paraíso de coisa alguma, entre o nada e provavelmente o nada. Era claro... claro que era... como sempre mais um dia.



(...) Sentia que era mais um acordar quase irrepreensível, tinha aqueles pequenos gestos, sempre graciosos, que me acautelavam o corpo para mais um dia. Adorava estar ali deitada, com as mãos a pressionar a zona lombar, para empurrar a preguiça para fora do meu corpo, era como fazer uma pequena ponte entre o meu sedoso e sedento corpo e a cama, forrada com lençóis negros de seda. Gostava de passear o corpo por ali logo de manhã, de fazê-lo deslizar, senti-lo a roçar pela cama onde grande parte dos meus sonhos se manifestavam.





(...) Rompia comigo. Rompia-me. Quase nunca me abandono, e quando o faço, faço para me perder em mim e por mim... aos meus belos prazeres e tentações. Devolvo-me vezes sem conta para tentar ser cada vez mais perfeita no meu tocar. Gosto de me contorcer, de entender como a forma da dor é tão próxima, mas tão proxima do prazer. Como o Amor e os dissabores que caminham juntos, como os gritos que calam a Alma, podem ser tão diferentes e tão iguais aos Gritos que prevalecem na Dor.



(...) Sinto lágrimas (prazer), algumas vão caindo pelo meu corpo despido, que lentamente ganham velocidade e percorrem os meus seios até chegarem ao precipício rijo e eriçado onde ficam (lágrimas) ali no limbo. Até se desligarem e caírem com força... A força de uma sensibilidade que está à flor da pele. Sentindo aquelas lágrimas quase entrarem em mim.



(...) Mais uma manhã que me perco no meu acordar, entre sonhos que não se concretizam e pesadelos que não chegam... acredito ferozmente nas vontades de me ter e de me manusear. Quero e acredito em mim , quero cada vez mais ter-me para não me magoar. Gosto de sentir o sangue aquecer dentro de mim e violar-me de vontades que acabam sempre em conspirações cada vez mais húmidas.


(...) De joelhos sobre a cama, com as nádegas poisadas em cima dos calcanhares, entrelaço as mãos, puxo-as por cima da minha cabeça, sinto o meu corpo a esticar. Sinto-lhe o cheiro, o cheiro de um sonho, do prazer, das minhas vontades, daquilo que realmente sou, daquilo que realmente quero ser. Gosto de me ter, de me apreciar, de me experimentar, de me levar ao limite e descobrir como sou ilimitada





Apeteceu-me




"procura a morte e logo encontrarás uma bela e longa vida". Charles de la Folie

7 comentários:

Anónimo disse...

adorei, adorei, adorei. escreves de uma forma tao linda.

Carla disse...

a intensidade do sentir...
beijos

Unknown disse...

apeteceu-me.... dizer-te que descobri este espaco e... esta-se bem.
beijinhos

Seamoon disse...

Como sempre...muito muito bom.

mil bjs.

seamoon

Maria Clarinda disse...

Mais uma das tuas delicias...adorei.
Jhs mil

augustoM disse...

Um despertar entre o espreguiçar e o sensual. Não é mau.
Um abraço. Augusto

redonda disse...

Gostei da poesia dos textos, das citações, da música, de algumas das fotografias e da ideia de virar pessega só por comentar :)