quinta-feira, maio 03, 2007

Liberta-me

(…) Adorava passear-me por ali, sentir os pés a enterrarem-se pela areia. Adorava aquelas manhãs meio solarengas com uma pequena brisa a arrefecer-me o corpo, que latejava com aquele cheiro a mar.
Os olhos vidram-se no horizonte, o sentido único onde o verde do oceano choca com o azul do céu. - Uma vez ouvi que a mistura dos dois alimentava a poesia, aleitava os pintores e perseguia os fracos de espírito. Era ali que dava o meu primeiro suspiro da manhã, onde erguia os braços em direcção ao céu e exorcizava a minha preguiça que se acumulava enquanto rebolava na cama em sintonia com os meus sonhos.














(…) O mar estava calmo, como calmamente caminhava em direcção a ele. Gostava de me sentar, na areia molhada e senti-lo a tocar-me ao de leve nos pés. Gostava de o ver subir por mim, lentamente, como os beijos. Levemente brutais, assustadoramente frios, que aquecem o corpo e descontrolam a alma. Gostava de pousar as mãos ao lado dos quadris… e brincava com a água, não a deixava tocar as minhas nádegas. Adorava quando ela (onda) bate nas pernas e salta pelo meu corpo, encharca-me os seios, e apodera-se de toda a zona abdominal, aquele frio transforma-se num pequeno vulcão que desperta um estranho, mas perfeito bailado num corpo já de si pantanoso.








(…) Gosto de brincar com o mar, rebolar-me nele, oferecer-me a ele como não o faço a ninguém. Gosto do sal que larga no corpo, de lambe-lo e sorve-lo nas partes onde a minha língua consegue chegar. Sinto-me perdida, no meio de tanta imensidão, molhada, provocada, sinto-me como gosto em pecado por mim e em mim. Sinto-me violada e oferecida, aos meus próprios prazeres, gosto de contornar o meu corpo com as mãos… sentir o eco da água a reflectir-se e a ajustar-se contra mim. São abraços intermináveis que afagam os meus prazeres e devaneios.


(…) As horas passam, sinto o meu corpo cada vez mais fechado sobre mim, a minha alma mais aberta, os meus poros escancarados, a minha vida parada em movimentos que atenuam a realidade. Aqui mando no meu corpo, no meu prazer, sou rebelde no meu amor-próprio. Mergulho de costas, abro bem as pernas para sentir a agua a entrar dentro de mim, estico os braços para sentir os seios a esticarem, o ventre a descomprimir. O sol cada vez mais se torna no pior dos afrodisíacos, impossível de parar, rasga o corpo em mil orgasmos…


Apeteceu-me




"Nem sempre a verdade está escondida, por vezes não existe"! Charles de la Folie

12 comentários:

Maria Clarinda disse...

Mais uma daquelas senhoras "maravilhas" de palavras, que só tu as sabes ter. Adorei, perdi-me sentindo o mar em mim.
Jinhos

[cirandinhas da raaa-fah] disse...

Ei rapaz ...
Se eu não tivesse medo de mar até me arriscava a falar mais ...

Beijos.

Carla disse...

Olá :)
Passei para ler as novidades deixar um jinho e votos de boa semana :)
Kiss

augustoM disse...

Nostalgia de uma Costa da Caparica, que teima em deixar-nos a sós com a recordação?
Um abraço. Augusto

Unknown disse...

Gosto imenso da tua escrita. Tens o dom de nos fazer sonhar e sentir aquilo que dizes!

Beijinhos

Sérgio Mayor de Andrade disse...

És um poeta da prosa, sabes?
Abraço

Bino disse...

Olha, o gajo que comentou antes é que te soube definir-te bem. Poeta da Prosa.
Eu já andava ao tempo a tentar descobrir se o que escreves é poesia ou prosa, voilá: poesia em prosa.
Aquele abraço Carlos.

Tia Concha disse...

Tenho uma surpresa lá para os meus lados...

passa lá.

bjs

Acho que é mais prosa binoc!hehehe

contrÒsblogues presente disse...

bela escrita sim senhor, surpreendi-me.
andas um romantico du camandro!

manda-me um mail que eu preciso de falar contigo. já tenho sodades de te desaustinar a carola e como nunca me vens visitar, tem de ser assim por mail.

bjokas

contrÒsblogues presente disse...

contraculturabebop@gmail.com

vai ver o contra na covilhã em
www.myspace.com/contraculturabebop

pensei q aparecia o meu mail no outro commentárico... nã vejo um boi destas couzas...

bjikas

Anónimo disse...

acho q o azul e o verde nunca se juntam. so no infinito. de qlq maneira, o horizonte acaba por nao existir. hoje tou uma ceptica, dar nome as coisas q nao existem nao cabe dentro de mim.


um bisu

Unknown disse...

A correria cotidiano tem-me impedido de vir mais vezes e desfrutar dos seus textos.
Apetece-me, mas, como naquelas quadrinhas infantis, "o tempo não me dá tempo de bem o tempo fruir e nesta falta de tempo, nem vejo o tempo fugir".