(…) Gostava de cheiros. Da sugestão que os cheiros lhe davam. Entravam dentro de si, na sua mente, mais depressa que o ar lhe chega aos pulmões. Vivia mais depressa, a um ritmo sensível que lhe chegava pelo olfacto. Percorria o seu corpo pelo cheiro, sabia, e sabia-se. Aquele cheiro que vinha dentro de si, só de o imaginar molhava-a. Redescobria-se, enquanto respirava fundo, e cada vez mais sentia-o entrar. Odores, quentes, ácidos e doces, que evoluíam dentro de si prontos a sair. As suas narinas fortes, abriam com força, com a mesma vontade que o cheiro do seu prazer… saia de si.

(…) Os sons, que cresciam àsua volta, despertavam-na, a ela e não só. Aquelas músicas, as melodias, que a faziam crescer, percorriam-lhe a alma de cima, a baixo. Os sons do seu corpo a despertarem memórias da sua vontade. O silêncio do seu encanto, a desmentirem que o seu corpo se mantinha desfalecido. Gostava de ouvir o som das cordas do violino a serem rasgadas pela crina do arco, numa supinação infernal. O corpo reagia a esses sons da mesma forma que a um murmúrio, bem junto do ouvido. Onde as pequenas aragens que vão saindo quando são proferidos os sons, as palavras, as frases, põem em duvida a confiança que existe dentro do meu ser. Gosto de ouvir o tilintar da sua tentação.
(…) Quero o sabor dos meus lábios. Quero o sabor a sangue quando os trinco e os lambo. Sentir a minha língua a humedece-los enquanto outros lados se vão transformando em pequenas cascatas de mim. Os sabores do amor, do deleite, do gozo percorrem-me por dentro, transformando-me por fora. Sentir o fresco na minha língua, junto com o calor que vem de fora. Percorre-me por dentro a vontade de sentir o sabor de tudo, de ser ainda mais mulher por me ter e querer. Quero sentir uma vez mais os lábios molhados, humedecidos pelo gozo que me dá vir-me em mim. Por isso… quero o paladar do meu gemer.
(…) Percorro-me, com o suave toque dos meus dedos. Leio-me, concretizo-me, dou-me a conhecer. Percebo que o meu corpo é uma cartilha do meu próprio entusiasmo. Conhecer o meu gozo, e gozar-me. Satisfaço-me, com dois dedos que caminham como duas pequenas pernas… conhecem, montes e vales…deleitam-se em poços onde a esperança nasceu. Apalpam as melodias que sugerem a beleza que se encontram numas pernas há muito poupadas de outros sofrimentos. Sinto outros amores, gosto de entrelaçar os dedos em pequenas florestas que me fazem sonhar. Sentir na ponta dos meus dedos o meu fundo que me faz saltar e soltar os gritos da minha libertação.
Apeteceu-me
" Nem sempre percorrer é chegar, por vezes é o caminho mais longo para nos conhecer". Charles de la Folie