(...) Foi um salto felino aquele que vi na escuridão, da tua mente. Pregou-te uma partida, eu sei. Como sei que a verdade que me escondeste não sabia a nada, como a àgua. Só não percebo porque dentro de mim ainda sinto sede. Não só também medo. Continuas nessa sombra escondida, vejo o teu corpo transversalmente cortado ao meio, pela luz. És tu eu sei. Como sei o que é olhar para nada e desejar-te.
(...) As unhas cravaram-se no chão, foste puxada para um além distante – em ti tudo é distante é verdade. Confessas que estavas lá, só não me lembro desse local geométricamente desenhado por ti. Também não me lembro de ti. Desculpa, também não me lembro de mim. Choro pela minha alma que nem sequer sei se existe.

(...) Segredaste-me que afinal te lembravas. Só não me lembro do que te deverias recordar. As tuas palavras souberam-me a silêncios perpétuados em pequenos quadrados, recolhidos de lugares nenhum. No meu mundo já não há lugares, deixaram de existir. Nada existe o mundo ficou branco, provocado por uma espiral de desespero. Afinal lembro-me que o que querias dizer, pediste-me para partir e eu quebrei o silêncio e gritei.
“As palavras proferidas nem sempre têm o mesmo significado quando escutadas:” Charles de la Folie