(…) As mãos «pregadas» uma na outra, sustentadas pelo ritmo da vontade e pelo mutismo da água a percorrer-lhe o corpo. A brisa que sobressaltava a cortina, refrescava a realidade naquele impasse entre o tudo e o nada. As palavras – ali – só serviam para alarmar o sossego que se vivia, numa Alma gasta de tanto sufoco. Nada era ao acaso, assim como o decorrer da vida que se esvai a cada passo que se dá rumo a outra jornada.

(…) A porta bateu, desceu as escadas, os pés descalços sentiam o frio do mármore, provocando um arrepio na espinha. Havia um rasto do perfume que ele tinha deixado naquela manhã. Apesar de ter partido ela sentia a sua presença. Deixou-se ficar na fímbria do instante e sossegou a mente, respirou-o como nunca o tinha feito. O Corpo abriu-se, soltou um novo corpo – em chamas – que se reergueu num deleite inatingível.
(…) Dos seus olhos soltava-se a sua própria imagem, cheia de dúvidas e desesperos. Havia um sonho consumido pelos beijos que a unia naquele abraço terno a si. No silêncio somente ela existia, o seu desejo pertencia-lhe, assim como a sua vontade de viver. A sombra descolava-se da Alma, escondendo a insegurança do dia-a-dia. Os dedos percorriam a esperança desprotegida de si, no seu mais perfeito silêncio.
Apeteceu-me
"O silêncio é nosso, por mais que nos gritem" Charles de la Folie