(…) O chão, escorregadio juntava-se à escuridão daquele espaço infinito. Talvez terminasse naquele – tão seu – abismo. Ouvia-se contar que houve tempos em que brincavas na fímbria dele, como se não tivesses limites, hoje as lágrimas, apesar de não passarem do umbral dos seus olhos, ali permanecem na ilusão de coisa alguma. Falas do precipício como se fosse tão teu que não te consigas afastar dele e hoje, onde vives?

(…) Tacteava as paredes, unidas, sem portas nem janelas, apenas a fresta do teu corpo. Uma brisa – causava um arrepio de abolição –, provocada pela passagem da tua existência, toda ela em si provocante. Mas ali estavas presa, suportavas uma dor inquietante. O desejo, o querer, ofuscado pela vingança. A saudade e a esperança, escurecidas pela cobardia. Nem mesmo o ajeitar da ponta do cabelo que se soltava numa estranha musicalidade, te libertava da escuridão.
(…) Mais um passo dado em direcção ao fim que nunca mais acaba. É nesse pensamento que deixas cair o teu mais tímido sorriso. O mesmo que escondes debaixo dos lençóis, resguardado dos segredos que são só teus. Passo a passo procuras a direcção exacta do teu medo. Fechas os olhos, e não notas a diferença entre o que vias e o que acabas de ver. Da mesma forma que não acreditas que o fim apareça sempre do mesmo lado. Não há lado, apenas a lembrança que os lados da tua Alma te doem.
Apeteceu-me
"Basta uma nova direcção, para acontecer um desvio" Charles de la Folie