A sua cabeça espartilhava-se, redobrava-se, fazia filmes.
O seu corpo mudava, a sua alma crescia, a sua preciosa vida, não era mais que isso mesmo, um conto, ou vários contos.
(...) Na sua secretária tentava escrevinhar qualquer coisa, sobre o que acontecia sobre o que via. Por ali nada mais que um ou outro casulo de uns animaizinhos que se acumulavam por ali, não sei ao certo, se seriam larvas de... não sei mesmo porque as aranhas não se transformavam. As aranhas essas sim eram uma excelente companhia, gostava de as observar, fascinava-me ver como elas produziam aqueles fios, por onde desciam, a uma velocidade estonteante, fascinava-me ver como aquilo acontecia, mas a verdade é que nunca conseguia ver nada. Os meus olhos acabavam por vidrar, desfocavam e entrava em processo de imaginar coisas,de imaginação extasiante, como: uma aranha enorme que andava por ai e fazia mal a todas as pessoas que eu não gosto e depois aparecia eu para os salvar.
Os seus pensamentos, eram muitas vezes despropositados, pensava sempre que era um super herói, que salvava toda a gente, quando afinal ele é que precisava de ser salvo.
Eram pensamentos, que se transformavam em realidades, que pareciam mais virtuais do que afinal eram. Complicada esta linha de pensamento, mas nem por isso os filmes, as comédias, os dramas, as ficções, mudavam, eram pequenas mutações na sua cabeça, mas também na sua vida a sua personalidade ia-se toldando conforme assumia a sua nova personagem. Era uma mistura de sensações, não sabia grande parte das vezes porque lhe aconteciam coisas estranhas, como acordava, em sítios completamente disparatados e nem sempre dentro dos parâmetros normais.
Gostava de olhar com olhos de animais, geralmente só via a duas dimensões, a preto e branco, tudo desfocado, mas era essa a imagem que tinha da vida do que o rodeava do que andava lá fora. Gostava de ver as pessoas desfocadas e ouvir as suas palavras empasteladas muito devagar.. como se fosse uma gravação avariada... ou em rotações erradas. As pessoas tinham-no magoado muito, por isso refugiava-se por ali, nos seus momentos, nas suas metamorfoses, eram gritos de revolta, que os transferia para o papel, para a sua tela imaginária, pinturas que ganhavam formas, cores e por vezes, grande parte das vezes vida. Era absurdo mas ao mesmo tempo fantástico, aquelas sensações, aquelas viagens alucinantes, aquelas amizades que fazia com a sua própria imaginação.
Gostava de ver os bichos de contas, com as suas múltiplas patas, que se fechavam neles próprios. Imaginava-os uma enorme avalanche, via-os a rolar, por um sitio qualquer...a crescer, a crescer, a ficar uma enorme bola cinzenta, grande, grande mesmo de meter medo. Depois abrir-se e com aquela panóplia de patas, começar a esmagar tudo e todos a sua volta...
Mas afinal, não passava de um pequeno bicharoco que brincava com a ponta da caneta em cima da secretária... de um lado para o outro.
Adorava ver aquela borbeletixas, que voam a volta das lâmpadas, para mim passavam logo a grandes pássaros que vinham do espaço que esvoaçavam perto da lua e faziam voos picados até a terra, entravam a velocidades loucas dentro dos oceanos onde pescavam baleias... os seus dejectos destruíam parcialmente cidades, mas eram animais pacificos, que sabiam viver e não se deixavam abater.
(...) naquele dia, não sabia bem o que tinha acontecido, mas não foi simples de assimilar, sentia dores pelo corpo, e tinha a face com sangue, a face e não só, escorria-lhe ainda pelos canto da boca algo esquisito era um pedaço de ti.
Apeteceu-me
"As mudança repentinas, mais não são que um movimento na nossa vida" Charles de la Folie