
Ontem, vi a areia esvair-se, comprimir-se e esgueirar-se, sabe-se lá por onde… o mar mastigou-a, engoliu-a e…
O homem alimenta o mar que se torna insaciável, incansavelmente sôfrego e sequioso.

Estava ali sentado. No fundo como sempre e como todos os dias o horizonte, onde o céu se confunde com o oceano, ou o oceano se baralha com o céu, pelo meio o branco da espuma das ondas e o rasto das nuvens. Ali perto, os pensamentos.

Ficavam as dúvidas dos dias que vinham, que haviam de passar, do massacre da beleza da natureza. Ali sentado imaginava-me a cavalgar aquelas ondas, de uma beleza indescritível, o seu avanço, a sua sabedoria tropeçava nas hesitações humanas.

Humildade, essa pode ser a palavra-chave de quê? De tudo! O homem teima em não aprender, o homem teima em destruir em vez de construir, o que constrói fá-lo a destruir, têm medo de questionar, de inquirir, de partilhar as duvidas o homem não partilhas as duvidas nem reparte as culpas, antes incrimina com o dedo acusador o mais fraco, o homem raramente assume as suas culpas.

O voo rasante daquela gaivota não deixava ser um indício que mesmo ali sentado era indesejável.

Os cães não paravam de uivar, o vento assobiava,- a sinfonia parecia de raiva.- contrastava com o barulho das máquinas, que sem culpa, continuavam em direcção ao abismo.
Ao nosso próprio abismo.

Apeteceu-me
"O Mundo está a fugir cada vez mais depressa de nós." Charles de la Folie