Sentia o teu perfume marinho, o teu refrescar sincero entre os meus prazeres.
Tudo parecia fechar-se sobre o momento, o céu, as nuvens, os pensamentos que por ali se refugiavam. O teu bater quase sistemático arrastava vida. Empurrava-as para fora e para dentro, nos limites do aceitável.
Um dia gostava de te compreender, de lidar com as tuas incongruências, com as tuas contradições absurdas. Como tanta beleza comporta tão mau feitio, e como tanta ternura consegue ser tão cruel.

Descobri em ti algo que vai muito além da compreensão, a tua pureza, gosto quando abraças o meu corpo e me embalas, mas também sei quando me queres fora de ti.
Perdi-me, perdi-me quando pensei que seria possível resistir-te, aos teus encantamentos. Hoje penso que é “possível” essa impossibilidade, penso, porque irracionalmente quero-te tanto, como ninguém alguma vez te quis. Não sinto as traições, não as sinto nem as quero, talvez por isso nos respeitamos mutuamente, tu não me agrides e eu não te desafio, ou eu não te desafio e tu não me acometes.
Estou acordado, sei que estás perto, consigo-te ouvir e assim acariciando com as palavras que levo no meu pensamento.

-Quando me expulsas ferozmente pela falta de respeito a tua privacidade. Ontem ouvi-te murmurar a noite inteira, não te consegui entender, mas percebi que estava feroz e enraivecido, ouvi-te a bater contra tudo e todos, a galgar tudo que encontravas pela frente. Nunca me aborreço de te ouvir, nem mesmo quando estás assim irritado, era capaz de jurar que seria incapaz de me divorciar de ti se um dia estivéssemos unidos por uma aliança, mas não, não te costumas aliar a nada. – Nem mesmo a mim.

Claro que não sou singular, nem o pretendo ser, mas adoro quando me deixas galopar contigo na tua crista, por vezes tão perfeita que me esqueço que afinal o mundo não somos só nós, mas poderia ser, o meu pensamento, muitas vezes reduz o mundo a nós dois.
Apeteceu-me
"Dar e receber não é o mesmo, mas pode ser igualmente importante". Charles de la Folie