(…) Entre a terra e a erva, onde os pés se vão cravando conforme segue em frente. Quero percorrer outros caminhos. Ruborizo com os pensamentos que me ocorrem. Aquela aragem, o meu cheiro, a minha vontade e o desejo de ser única naquela paisagem – violam-me a serenidade da ocasião. Baixo-me para apertar o atacador, sinto o suor que desce do abdómen em direcção a mim. Percorre-me como uma leve pena. A respiração torna-se mais profunda.O aroma dos pinheiros penetra-me e entra nos meus pulmões.

(…) Fecho os olhos à procura dos silêncios daquela manhã. Ouço mais uma vez o despertar do meu corpo, o desabrochar dos meus poros que emanam cheiros de volúpia. Preciso de ser apreciada por quem me merece. Parada naquela pequena clareira de avanços e recuos, segue-me o ruído das agulhas caídas dos pinheiros. Respiro fundo. Mãos na zona lombar, olho para cima, estico o tronco. Os peitos sensíveis e duros, o roçar fere. Toco-lhes, percorre-me um irremediável tremor pela espinha.
(…) Poisa uma rola num tronco defronte a mim – observa-me. Sinto-me desejada, fecho os olhos. Sou eu que me desejo. Só que não sei como. Os calções justos, que descem por mim até ao joelho afagam-me e afogam-me os movimentos. Percorro mais uma vez a cúpula das árvores, revejo o céu azul. Ajeito-me dentro de mim, alongo-me em direcção a nada, o corpo cede, range e estala. Invade-me a angústia de me redescobrir na minha imensa solidão.

(…) Concentro-me em mim, no meu eterno e terno desejo. Começo a querer saborear o sal que sai de mim. Perna atrás de perna, sistematicamente em passo de corrida, faz sair ainda mais de mim para fora. Todo o centro de mim roça, em toda a minha sensualidade. Como o galope de um cavalo. O vento faz esvoaçar os meus cabelos que se vão prendendo, quando em vez na boca. Humedeço os lábios secos do cansaço, percorre-me novamente o silêncio do campo. Deixo-me ir em direcção à minha vida real.
Apeteceu-me
" Entre o desejo e o sentimento percorre-nos a realidade muitas vezes cruel". Charles de la Folie