domingo, junho 14, 2009

A Morte (nem sempre) saiu à rua

(…) Recordo aquele sentimento de morte. Da própria extinção do meu respirar. Agoniante apesar da calma, desesperante apesar do silêncio. Não me ocorreu uma ponta de medo, embora o escuro e a solidão. Até na morte nos sentimos sós. Seguramente triste pela indiferença. Suavemente agoniado com o protelar de um destino, se é que ele existe. E nós, onde fica a verdade de um «nós», tanto Universal como personalista. Vazio entre homens.

(…) Esteve presente – ela – enquanto cambaleava à procura do ar que me faltava. Enfrentei-a com dignidade, entregando-me. Venci-a. O ranger da porta numa madrugada amena, não despertou a curiosidade alheia. Nem nesse momento em que me deixei prostrar, sem forças para lutar, soltou-se-me a violência do desespero em forma de lágrima. O sufoco não me deixava gritar, nem podia. Estava em agonia.



(…) O cinzento da noite recai-me sobre o tronco. Ergui os braços ao Céu até soltar a vida e protelar a morte. Mesmo só, numa solidão imensa e intensa, a vida reerguia-se. Do alto o som dos passos que se iam escondendo numa impudência volátil. As portas trancavam-se, as luzes acendiam-se e voltavam a uma escuridão pérfida. Restava-me a minha esperança, aquela que se deita todos os dias comigo e me abraça num sufoco intenso. A mesma que me faz recordar a saudade.

(…) Sinto os pulmões a encherem-se de ar. Sinto uma brisa a entrar como a Primavera a chegar. Há vida, mas foge o momento. Há um segundo que se esvai numa hora inteira. Como o mundo que rodopia sem que ninguém se aperceba. Como o desejo ultrapassa o medo e nunca mais regressa. Hoje estou vivo, apesar de a Morte me ter rondado sem que eu fosse uma personagem.

Apeteceu-me

“Nem sempre uma resposta antecede uma pergunta” Charles de la Folie

4 comentários:

Anónimo disse...

Isso chama-se renascer...

Anónimo disse...

Sobreviver a uma agonia é, de facto, sobreviver, renascer...
Então aproveita o agraciamento de não teres partido... e volta a sorrir, mesmo na sombra...

Fico feliz por a agonia não te ter levado...

Abraçooo... de um malmequer...

Mais um Lugar de Mim disse...

Credo... nem me vou atrever a perguntar... mas vou querer saber de ti... talvez amanhã.
Beijo grande!

Jeremias disse...

tens lá prémio no meu blogue, aparece.
Abraço
António