quarta-feira, dezembro 09, 2009

Livro (de ninguém)

(…) Desfolhava o livro, como quem faz amor. Movimentos simples, mas profundos. O olhar concentrado juntava as palavras que caminhavam à velocidade daquele olhar compenetrado. No espaço entre as folhas -amareladas pelo tempo – e o observar, juntavam-se ideias e utopias. Os dedos que marcavam o passo da sua leitura, tremiam na ansiedade de chegar ao fim. O rosto consumido pela concentração, abria rasgos de desassossego. Lá longe nada se erguia, estava vazio, o mundo concentrava-se naquele pequeno espaço de ninguém.

(…) Passavam já alguns minutos depois de nada. O tempo estava parado. Os olhos movimentavam-se assimetricamente. Apenas um respirar balançava entre dois mundos. O dela, rasgado por imagens e o dele, escrito no próprio patíbulo. Os universos eclodiam numa distância proporcional e indizível. Até hoje ninguém descobriu o sentido exacto da sua predicação. Ela apenas voou sobre as palavras que acabara de achar dentro de si. Um sémen de vocábulos.

(…) O escuro que a rodeava, esbatia-se na luz do seu rubor afogueado. A posição incómoda, fazia-a rebolar na cama. O livro colado nas mãos – delicadas e aguçadas –, mantinha-se aberto. Mais uma vez o semblante fechava-se, para logo em seguida despertar um sorriso, apenas um. Molhava o dedo, nos lábios húmidos e desfolhava mais uma página. Um segundo apenas, para ordenar as ideias e logo retomar a ordem das palavras. A noite lá fora esperava por ela.



(…) Fechou o livro sobre o seu dedo, uma marca de si, colocada nele. Apenas isso. Engoliu em seco enquanto colocou o manuscrito no seu peito, a perscrutar o som abafado de um coração discreto. A cabeça colocada na almofada, olhos fechados, respiração controlada, imaginava-se dentro dele. Seguiu a história com os seus olhos escondidos pelas pálpebras que se mantinham fechadas. No dia seguinte, alguém pegou no mesmo livro e o fechou num armário. Fala-se que foi suicídio, talvez…

“Nem sempre se desfruta o tempo, mas o tempo passa por nós e desfruta-nos" Charles de la Folie

1 comentário:

O Profeta disse...

Um formoso menino estava mesmo alí
Tocou de leve o lado esquerdo do meu peito
Olhou-me com um luminoso sorriso
Deixou-me sem fala, sem jeito

Deixou-me no apagar de uma vela
Olhei novamente o mar
A calmaria voltou como por encanto
Mil criaturas inundaram-me o olhar

Golfinhos felizes assobiaram
A cria de uma baleia acenou-me
Uma andorinha do mar poisou no parapeito da janela
Uma maravilhosa e antiga história sussurou-me

As estrelas brilharam no celeste
A Lua estendeu seu manto de fino lusr nesta cena
Adormeci na imensidão deste mundo
No embalo de...Uma Noite Serena...


Uma noite serena

Um mágico Natal