(...) Dois passos bastaram. A queda foi mortal, numa descida vertiginosa - relembras - procuraste o teu papel dentro de mim. Ainda hoje - voltaste a relembrar - mantens-te nessa descida, perdida num silêncio em que percorres o meu rosto lentamente, deslizando nas entrelinhas com que vais revestindo a minha pele. Nem sempre de cordeiro.

(...) Jamais poderei pronunciar o teu nome. Bani-o de circular por perto daquele destino que todos nós conhecemos e não ousamos pronunciar. Ontem balbuciei-o. Entrei lesto num Mundo que não é o meu, numa dimensão dividida da minha. Metade do meu corpo ficou de um lado que não conheço, com uma visão dividida e um destino des-traçado entre a tua e a minha ilusão.
(...) Regresso daquela pequena fatalidade. A água saia em catadupa do mutismo da noite. Chamam-lhe chuva. Escondido segredava-lhe metonímicas em sentido proporcionalmente inverso àquele que queria. Sorri com o destino que levava o meu cogitar. Ganhava o objectivo do tempo. Ouvia o soluçar das nuvens a desabar por cima de mim. Como um beijo húmido numa noite longa de amor. Voltei a olhar, nada vi. Regressei embalado pelo teu olhar. Desculpa, pareceu-me que era teu.
Apeteceu-me "Nem sempre o destino dos dedos, pronunciam o que vai na alma" Charles de la Folie