O que não me deixa nada feliz, é ter de descobrir as alianças, aquelas alianças que nem eu próprio sei se existem. Isto é tudo um mero exercício de memória, ou por outra, de me “desressacar”, de ver se a minha amnésia etílica se vai embora de vez e se descubro e me descubro. Se sei mesmo o que vai acontecer hoje, se é que vai acontecer alguma coisa, até pode ser que não seja grande coisa, que afinal seja uma festa normal. Só não entendo nem percebo o porquê, se era ou se seria uma festa normal, o porquê de termos contratado aquelas senhoras menos sérias, só se foi um fetiche… Será que já disse que adoro mulheres que se riem, não que sejam menos sérias, mas que se riam?! Adoro um belo sorriso, adoro sentir um belo sorriso a roçar-me pelos lábios, a acariciar-me a alma…
Calma, calma lá aí, concentra-te… Há alianças ou não? Isso é que importa, o que importa é o que vai ou não acontecer daqui a umas horas, ou quem sabe minutos, será que a trupe do croquete vai atacar, será?
Eu estou cheio de dúvidas, muitas dúvidas sobre o que se está ou vai passar, não me lembro realmente das alianças, não me lembro sequer se o Pilitas tinha namorada ou não, neste caso noiva. O meu consolo continua a ser o Cão Guru, que se mantém a fazer asneiras atrás de asneiras, o que além de normal e habitual, dá saúde e faz crescer, diz o povo e … lá terá de ser verdade!
A campainha? Quem é, quem será?! Espanto! Olha quem é… é a vizinha do 5º C, nem me lembro o nome dela, estou mesmo com mau aspecto, com aqueles olhos número 39 de goraz com 15 dias de frigorífico. Toma lá dois beijos a ver se acordas, eh eh…
A vizinha presenteou-me com dois beijos e deu-me um envelope branco e ri-se de uma maneira, está feliz, muito feliz, a julgar pelo sorriso e riso.
Estranhíssimo este envelope branco!
A minha vizinha do 5ºC diz-me qualquer coisa, mas não me lembro o quê, nem mesmo o nome… mas, tenho a certeza que a conheço muito bem, se há uma coisa que me lembro dela… é da filha… ai se me lembro, nem vos conto, é a minha “amiga” Palmira. Já vamos à Palmira… porque… havia a mãe da Palmira de estar a rir ao entregar-me aquilo e não se explicar? Pudera!! Só agora deparei com este pequeno, mas importante pormenor, um ridículo, caricato e grotesco, além de desencorajador pormenor, diria mesmo uma vergonha… uma enorme vergonha! Ruborizei, quer dizer fiquei de todas as cores, todas mesmo e só agora percebo que estou como Deus me trouxe ao mundo… Nu! Completamente nu! Que desgraça… admiro a coragem da Dona Henriqueta, a minha sorte é que ela é pitosga como o raio e pode ser que...
Nada que mais me aterrorize, que pensar no que poderia ter acontecido comigo, ficaria vermelho, verde, esbranquiçava...
Conheço-a desde pequenino, este apartamento era dos meus pais que mo ofereceram quando decidiram por cobro à vida. Cobro como quem diz… não se suicidaram, acabaram foi com o cordão umbilical, desapareceram, ofereceram-me o apartamento e disseram-me:
- “FILHO! É HORA DE TE DESEMERDARES, ESTAMOS FARTOS DE TE ATURAR, ÉS UMA MELGA DO PIOR.”
Não se suicidaram, é obvio que não, mas puseram cobro à vida de tormenta que tinham comigo, diziam eles, claro!
É evidente que, depois daquela conversa, nunca mais fui o mesmo, lembro-me de começar a frequentar a minha Psiquiatra, lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje… Ai, ai a Dr.ª Mónica ainda hoje diz que não tenho grandes melhoras, que estou mais refinado, mas que sou um verdadeiro e grandessíssimo filho da mãe.
Apeteceu-me

"Nunca é certo o regresso para o jantar, mesmo que a fome aperte" Charles de la Folie