terça-feira, maio 11, 2010

(...)As minhas interrogações são como pregos, cada vez que paro para pensar é uma encavadela, parece que levei com uma tábua na cabeça.
- Ó vizinho... Ó vizinho!
Quem é que está aqui agora, que foi, que fiz eu, que se passará, a quem devo eu alguma coisa, que será, que se passa?
- Ó vizinho... Ó vizinho!
Esta voz estridente parece-me a da dona Anunciação...
- Diga minha senhora!
O diálogo promete… ai promete, promete… Ela está com uma cara que até assusta, eu diria mais, está com uma cara que até assusta o medo, meio agoniada, mas não vou desarmar. Este cheiro… sempre que cheiro a noite, pois a noite, cheiro e cheira, arrasta-se comigo e entranha-se… cheira a copos, a ressaca, é enorme o cheiro claro. E ela… mas também caguei, faço o meu papel de “bêbado”, é mesmo esse papel - ainda estou completamente, absolutamente, etilicamente bem-disposto.
- Então diga lá.
- Ó vizinho ouviu o estrondo ontem a noite?
- Qual estrondo?
- Ai que horror, apanhei um susto que pensei logo o pior!
- Dona Anunciação… e era o quê?
- Ai não sabe vizinho, parecia mesmo que o prédio ia cair.
- Ai, sim!?
- Sim!
- E como é isso?
- Eu só me lembro de ouvir um estrondo… E pior, deslocava-se pelas escadas!
Fiquei intrigado, apesar de fingir que… pois… mas não me lembrava de grande coisa!
- Ó vizinho…?
- Sim?
- Olhe que parecia que entrou em sua casa?!
- Acha? Mas o quê?!
- Claro que acho, só não sei como não deu por nada!
- Eu? Não dei por nada!!...
- Olhe que… pelo barulho parecia mesmo o vizinho… a camisa e tudo!!
- Conseguiu conhecer-me pela camisa… só ouvindo?! Desculpe vizinha?!
- Bom, sabe, vizinho, ali a senhora Albana... blá blá blá blá…
Bom dia e um queijo… mas tenho de… até logo minha rica e querida senhora. As coisas que eu tenho de aturar ou as coisas que me aturam! Ainda por cima, não quero… nem quero pensar mais neste assunto. Mas a vida é isto, o que mais poderia acontecer a um miúdo mimado, abandonado à nascença? A minha dose de mimos é fabulosa… Ah! fui mimado sim, pela minha mãe e pelo meu pai, fui abandonado, mas foi pela parteira - caguei-lhe logo em cima.
Sim, sou mimado, faço beicinho, faço biquinho, ah ah ah e faço outras coisas que nem sequer digo, pois publicidade enganosa a esta hora não! Bom, falava de mimos, adoro mimos, adoro ser mimado, adoro adorar…
Mas há ainda no meu meio neurónio muitas incertezas, muitas perguntas e poucas respostas, mas que procuro eu?
Nada de especial, procurava-me, procuro o porquê de apanhar todas as noites uma carraspana como se o álcool fosse acabar, como se fosse a minha última noite. A beber desta maneira pode mesmo ser que consiga acabar com o álcool todo, com shots de tequilla, muito whisky, muita vontade de...
Às vezes até me falta o raciocínio para conseguir exprimir o que vai aqui dentro desta alma, que por certo estará dentro de uma redoma de… humm humm… deixa-me cá ver, formol? Nããã… creolina? Nããã… à pois, devia ter adivinhado, a minha Alma está dentro de uma redoma com muito Jack Daniels e nublada.
Ai… quer ver? Então? O que tem o meu bafo!? Hum!… Quem sabe… claro quem sabe se não é de uma ervita que chegou ontem da sanzala? (Deve ter sido de algum ex-combatente daqueles que têm um grande subsídio por causa dos traumas de guerra, não é que alguma vez tenham visto onde fica a guerra ou pegado numa arma).
Falava de alma, ou estava a falar de Alma, e por alma de quem? Ah… da minha que está em vinha d’ alhos! O que irá dentro… mesmo lá no fundo, da minha Alma? Um Titanic de horrores…
A minha infância terá sido normal? Talvez não, mas essa fica para outro capítulo, o meu problema será amoroso? Será disciplinar? De Édipo… complexo de Édipo - complexo de Édipo quando se sonha que a mãe é a Cláudia Shiffer? Terei sido abandonado em pequenino?
Nããã… acho mesmo que bati com a cabeça no penico, e pior, a minha “namorada” soube disso, uns anos mais tarde, e catrapus… deu-me com ele nos cornos, pois com o penico, raios que o partam ou a partam?!
Cornos?!! Cá está, descobri… Eureka… - quem foi o desgraçado que levou com a maçã na tola?
Ora cornos…, cornos… toiro…, toiro… toirada…, toirada… cavaleiros…, cavaleiros… forcados…, forcados… flores…, flores… casamento!
Casamento. Casamento! Casamento?!
Ai meu Deus! Ai meu Deus, que dia é hoje!?
Eu já vi este número num filme, o número da ressaca, do casamento, da despedida de solteiro… Eu já vi este número, juro que já. Ai a minha cabeça que está prestes a rebentar!
Será que… casamento?
Espera aí?! Serei eu padrinho de casamento?
Será que o Pilitas se vai casar?
Mas não me lembro de nenhuma namorada que ele possa ter, muito menos noiva - a Susana é namorada? …
Ora aqui está um problema que a ressaca arranjou, a ressaca? A bebedeira diria antes, não me lembro de nada e ainda estou ressacado ou será ressecado?
Por mais voltas que dê, não me ocorre nada, se for padrinho por certo terei aqui um par de alianças, hummm… que bonito, um par de alianças!
Alianças?
Ora, deixa cá ver aliança… O que será que diz o dicionário? Hummm, deixa cá procurar, isto está difícil, a cabeça continua a sua aventura explosiva parece mesmo que vai estoirar. Às vezes, mais valia, tipo quando se arranca um dente, dói… dói, mas depois, quando descola da carne, passa com uma velocidade, é um alívio magnífico, mas porque me havia de lembrar agora de dentes, daqui a pouco está a doer e depois são dois problemas. Deixa-me cá pensar e procurar a palavra… que isto está aqui uma baralhação nesta cabecita… Hummm… laralilala, ora aqui está:
- “Aliança: acto ou efeito de aliar; coligação entre estados, entidades ou indivíduos para a obtenção de certos fins; anel de casamento; arco da –; arco-íris.”
Aí está o que é arco-íris, magnífico!
Perguntam-te:
- Então? Tens uma aliança no dedo?
E tu respondes:
- Ó parvo! Não vês que é o arco-íris!!
Ou então…
- Olha lá “meu”, que linda coligação entre estados, entidades ou indivíduos para a obtenção de certos fins que tens no dedo!!
Pior seria…
- Olha lá “Manuel”, mete depressa o acto ou efeito de aliar no dedo que vem aí a tua mulher.
Isto tem muita graça, só não percebo porque não encontro as ditas cujas, será que estão no quarto? Vamos lá procurar, vamos?
(Continua)



Apeteceu-me

"Não tenho certezas, apenas o desejo de as procurar" Charles de la Folie

1 comentário:

Margarida disse...

Queres uma bússola ou guias-te pelas estrelas?