quarta-feira, maio 26, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas VI

É verdade que o casamento tem coisas boas, lembro-me da parte em que há os comes e bebes… depois vêm os envelopes cheios de dinheiro. Lembro-me da parte do truca truca, lembro-me também da parte do truca truca, há aquela parte do truca truca muito boa, há aquelas novas técnicas do truca truca, enfim, o casamento resume-se ao truca truca e a novas técnicas de truca truca e dinheiro - cash muito cash! Mas claro, esta não é a minha ideia do casamento, esta é a parte que me assusta menos, a parte que mais vontade me dá de rir, em que não costumo dizer nada... em que não digo mesmo nada, será que havia de dizer alguma coisa? Pois claro! Eu sei que esta não é uma ideia minha pré-concebida, mas é uma ideia e isso até que me deixa feliz.
O que não me deixa nada feliz, é ter de descobrir as alianças, aquelas alianças que nem eu próprio sei se existem. Isto é tudo um mero exercício de memória, ou por outra, de me “desressacar”, de ver se a minha amnésia etílica se vai embora de vez e se descubro e me descubro. Se sei mesmo o que vai acontecer hoje, se é que vai acontecer alguma coisa, até pode ser que não seja grande coisa, que afinal seja uma festa normal. Só não entendo nem percebo o porquê, se era ou se seria uma festa normal, o porquê de termos contratado aquelas senhoras menos sérias, só se foi um fetiche… Será que já disse que adoro mulheres que se riem, não que sejam menos sérias, mas que se riam?! Adoro um belo sorriso, adoro sentir um belo sorriso a roçar-me pelos lábios, a acariciar-me a alma…
Calma, calma lá aí, concentra-te… Há alianças ou não? Isso é que importa, o que importa é o que vai ou não acontecer daqui a umas horas, ou quem sabe minutos, será que a trupe do croquete vai atacar, será?
Eu estou cheio de dúvidas, muitas dúvidas sobre o que se está ou vai passar, não me lembro realmente das alianças, não me lembro sequer se o Pilitas tinha namorada ou não, neste caso noiva. O meu consolo continua a ser o Cão Guru, que se mantém a fazer asneiras atrás de asneiras, o que além de normal e habitual, dá saúde e faz crescer, diz o povo e … lá terá de ser verdade!
A campainha? Quem é, quem será?! Espanto! Olha quem é… é a vizinha do 5º C, nem me lembro o nome dela, estou mesmo com mau aspecto, com aqueles olhos número 39 de goraz com 15 dias de frigorífico. Toma lá dois beijos a ver se acordas, eh eh…
A vizinha presenteou-me com dois beijos e deu-me um envelope branco e ri-se de uma maneira, está feliz, muito feliz, a julgar pelo sorriso e riso.
Estranhíssimo este envelope branco!
A minha vizinha do 5ºC diz-me qualquer coisa, mas não me lembro o quê, nem mesmo o nome… mas, tenho a certeza que a conheço muito bem, se há uma coisa que me lembro dela… é da filha… ai se me lembro, nem vos conto, é a minha “amiga” Palmira. Já vamos à Palmira… porque… havia a mãe da Palmira de estar a rir ao entregar-me aquilo e não se explicar? Pudera!! Só agora deparei com este pequeno, mas importante pormenor, um ridículo, caricato e grotesco, além de desencorajador pormenor, diria mesmo uma vergonha… uma enorme vergonha! Ruborizei, quer dizer fiquei de todas as cores, todas mesmo e só agora percebo que estou como Deus me trouxe ao mundo… Nu! Completamente nu! Que desgraça… admiro a coragem da Dona Henriqueta, a minha sorte é que ela é pitosga como o raio e pode ser que...
Nada que mais me aterrorize, que pensar no que poderia ter acontecido comigo, ficaria vermelho, verde, esbranquiçava...
Conheço-a desde pequenino, este apartamento era dos meus pais que mo ofereceram quando decidiram por cobro à vida. Cobro como quem diz… não se suicidaram, acabaram foi com o cordão umbilical, desapareceram, ofereceram-me o apartamento e disseram-me:
- “FILHO! É HORA DE TE DESEMERDARES, ESTAMOS FARTOS DE TE ATURAR, ÉS UMA MELGA DO PIOR.”
Não se suicidaram, é obvio que não, mas puseram cobro à vida de tormenta que tinham comigo, diziam eles, claro!
É evidente que, depois daquela conversa, nunca mais fui o mesmo, lembro-me de começar a frequentar a minha Psiquiatra, lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje… Ai, ai a Dr.ª Mónica ainda hoje diz que não tenho grandes melhoras, que estou mais refinado, mas que sou um verdadeiro e grandessíssimo filho da mãe.

Apeteceu-me


"Nunca é certo o regresso para o jantar, mesmo que a fome aperte" Charles de la Folie

terça-feira, maio 18, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas V

(...) Pois, vamos é muita gente… e bem que precisava de ajuda… mas devia ser feminina, sabe-se lá porquê…fica-se já a saber… É mesmo a confusão que vai neste quarto.
Primeiro ponto, onde poderão estar escondidas, enfiadas as ditas alianças?
Segundo ponto, como poderei eu encontrar alguma coisa nesta pocilga?
Terceiro ponto, será que ando à procura de alguma coisa? Refazendo a questão será que existem mesmo alianças?
Começo pelo último ponto, espero bem que existam, espero que existam e que não as tenha perdido, ou espero que as tenha comprado ou que as tenha ido buscar.
Sei lá… mas também não é nada de muito complicado, nada que não se encontre em dois desses bolos da moda cheios de chocolate, ou num Hambúrguer de marca “roskof” de um qualquer país avançado, ou duas anilhas da sanita, qualquer coisa do género… Aliás, tenho ali umas argolas, nos cortinados que a minha mãe me deu, que servem na perfeição. Mas se acontecer o pior logo penso em algo. Vou então voltar ao princípio.
- Primeiro ponto, há naquilo que a minha vista pode alcançar, um amontoado exorbitante de coisas neste quarto, coisas do pior a roçar o bizarro, bizarrias portanto. Que coisa complicada, como vou achar algo neste quarto?! Acho que aqui não encontrava nem uma vaca, quanto mais duas peças delicadas… Só me interrogo onde podem estar, sim onde, digam-me!?
- Segundo ponto, que tem directamente a ver com o primeiro, aquilo é uma pocilga, para não falar do cheiro nauseabundo a “sarro”, um cheiro bêbado, ou por outra, um cheiro a bêbado. Sei lá, cheira a mim que tresanda, está lá o meu cheiro… mas o grave é que não o consigo suportar… Socorrooooo! Basta soprar para a palma da minha mão para descobrir o belo hálito que habita dentro de mim. Além desses cheiros… são camisas, camisinhas, calças, calções, t-shirts, swet-shirts… Sei lá, uma panóplia de roupa acumulada, amontoada há mais de 3 meses, sim 3 meses! Estão ali umas calças de ganga que se põem de pé, só falta dizerem papá e mamã.
Vai ser bonito, vou parecer o Indiana Jones da Buraca, no “Quarto das alianças perdidas”.
O pior é que se não há alianças, temo mesmo o pior!...
A história das alianças está-me a assustar, aliás tudo me assusta neste momento, confesso. Assusta-me o facto de me assustar, mas é evidente que há coisas bem piores, muito piores. Essas não me assustam, horrorizam-me, deixam-me num estado de demência latente e condizente com o meu aspecto, eu sei que sou o pior delator da minha pessoa… eu sei disso! Também sei que não sou assim tão imperfeito, que até tenho algumas qualidades, que até sou inteligente, que até tenho alguma graça, aliás tive uma que era mesmo uma gracinha, só era pena que fosse sobrinha do padre - liberta-se um imenso sorriso naquela altura… de orelha a orelha!
Há uma coisa que eu não compreendo, porque será que os padres têm sempre uma cunhada que vive com eles, a cunhada e a sobrinha? É quase como perceber porque vão sempre duas raparigas à casa de banho, pois não entendo nem uma, nem outra.
Mas, deixando para trás estas minhas dúvidas… agora tenho de me concentrar no meu pior receio, as alianças que não encontro, mas o meu pior receio, é mesmo…
Será que o Pilitas vai casar?
Porque razão irá o Pilitas casar, alguém me explica?
Terá explicação?
A esta hora já muitos se interrogam: - o que é que este gajo tem contra o casamento do Pilitas? Sabendo eu tão bem que vozes de burro não chegam ao céu, também ninguém vai saber disso, mas se for caso… eu digo que não tenho rigorosamente nada contra o casamento do Pilitas, nada mesmo. Eu tenho é contra o casamento em si.
Irrita-me a ideia de não poder meter as camisas debaixo do colchão para as engomar, de não poder andar de calças de ganga durante imenso tempo e elas ficarem tão sujas que ao despi-las fiquem de pé; encontrar peúgas com 15 dias de uso no congelador; poder colar as pastilhas elásticas debaixo da mesa; poder mexer entre os dedos dos pés e tirar aquela coisa preta e utilizá-la como se fosse rapé… Porra e a Puta da cabeça não pára de doer, será que já disse que quando a cabeça não pensa o corpo é que paga? O corpo uma gaita, a cabeça, como me dói ainda a cabeça, deve ser mesmo castigo.
Só de pensar nestes pequenos prazeres que uma pessoa tem, e só os temos quando somos solteirinhos da Silva! Desengane-se quem pensa que casado consegue fazer tudo como se fosse solteiro, segundo me dizem, pois essa experiência não a tenho, nada fica como no antigamente, nada mesmo… No princípio ainda parece, parece só… andamos tão extasiados, que nem ligamos.
Mas há mais, muito mais… porque terei eu de partilhar seja o que seja com alguém que nem sequer me viu crescer; não é minha amiga de infância; não quer jogar consola comigo até de manhã; que não me deixa ver os jogos da bola; que nem sequer quer andar na Internet a cuscar a vida das outras pessoas - ver gajas nuas -; muito menos ir ao Bar 25 comigo; passear pela sex shop?… Julgo que o casamento é a maior fraude que existe desde que há memória, deixa lá ver desde, desde, desde… hummm… deixa lá ver… pois, desde o “cagar” de cócoras. (...) Continua
Apeteceu-me


"Não está no compromisso assinado a palavra de um homem" Charles de la Folie

terça-feira, maio 11, 2010

(...)As minhas interrogações são como pregos, cada vez que paro para pensar é uma encavadela, parece que levei com uma tábua na cabeça.
- Ó vizinho... Ó vizinho!
Quem é que está aqui agora, que foi, que fiz eu, que se passará, a quem devo eu alguma coisa, que será, que se passa?
- Ó vizinho... Ó vizinho!
Esta voz estridente parece-me a da dona Anunciação...
- Diga minha senhora!
O diálogo promete… ai promete, promete… Ela está com uma cara que até assusta, eu diria mais, está com uma cara que até assusta o medo, meio agoniada, mas não vou desarmar. Este cheiro… sempre que cheiro a noite, pois a noite, cheiro e cheira, arrasta-se comigo e entranha-se… cheira a copos, a ressaca, é enorme o cheiro claro. E ela… mas também caguei, faço o meu papel de “bêbado”, é mesmo esse papel - ainda estou completamente, absolutamente, etilicamente bem-disposto.
- Então diga lá.
- Ó vizinho ouviu o estrondo ontem a noite?
- Qual estrondo?
- Ai que horror, apanhei um susto que pensei logo o pior!
- Dona Anunciação… e era o quê?
- Ai não sabe vizinho, parecia mesmo que o prédio ia cair.
- Ai, sim!?
- Sim!
- E como é isso?
- Eu só me lembro de ouvir um estrondo… E pior, deslocava-se pelas escadas!
Fiquei intrigado, apesar de fingir que… pois… mas não me lembrava de grande coisa!
- Ó vizinho…?
- Sim?
- Olhe que parecia que entrou em sua casa?!
- Acha? Mas o quê?!
- Claro que acho, só não sei como não deu por nada!
- Eu? Não dei por nada!!...
- Olhe que… pelo barulho parecia mesmo o vizinho… a camisa e tudo!!
- Conseguiu conhecer-me pela camisa… só ouvindo?! Desculpe vizinha?!
- Bom, sabe, vizinho, ali a senhora Albana... blá blá blá blá…
Bom dia e um queijo… mas tenho de… até logo minha rica e querida senhora. As coisas que eu tenho de aturar ou as coisas que me aturam! Ainda por cima, não quero… nem quero pensar mais neste assunto. Mas a vida é isto, o que mais poderia acontecer a um miúdo mimado, abandonado à nascença? A minha dose de mimos é fabulosa… Ah! fui mimado sim, pela minha mãe e pelo meu pai, fui abandonado, mas foi pela parteira - caguei-lhe logo em cima.
Sim, sou mimado, faço beicinho, faço biquinho, ah ah ah e faço outras coisas que nem sequer digo, pois publicidade enganosa a esta hora não! Bom, falava de mimos, adoro mimos, adoro ser mimado, adoro adorar…
Mas há ainda no meu meio neurónio muitas incertezas, muitas perguntas e poucas respostas, mas que procuro eu?
Nada de especial, procurava-me, procuro o porquê de apanhar todas as noites uma carraspana como se o álcool fosse acabar, como se fosse a minha última noite. A beber desta maneira pode mesmo ser que consiga acabar com o álcool todo, com shots de tequilla, muito whisky, muita vontade de...
Às vezes até me falta o raciocínio para conseguir exprimir o que vai aqui dentro desta alma, que por certo estará dentro de uma redoma de… humm humm… deixa-me cá ver, formol? Nããã… creolina? Nããã… à pois, devia ter adivinhado, a minha Alma está dentro de uma redoma com muito Jack Daniels e nublada.
Ai… quer ver? Então? O que tem o meu bafo!? Hum!… Quem sabe… claro quem sabe se não é de uma ervita que chegou ontem da sanzala? (Deve ter sido de algum ex-combatente daqueles que têm um grande subsídio por causa dos traumas de guerra, não é que alguma vez tenham visto onde fica a guerra ou pegado numa arma).
Falava de alma, ou estava a falar de Alma, e por alma de quem? Ah… da minha que está em vinha d’ alhos! O que irá dentro… mesmo lá no fundo, da minha Alma? Um Titanic de horrores…
A minha infância terá sido normal? Talvez não, mas essa fica para outro capítulo, o meu problema será amoroso? Será disciplinar? De Édipo… complexo de Édipo - complexo de Édipo quando se sonha que a mãe é a Cláudia Shiffer? Terei sido abandonado em pequenino?
Nããã… acho mesmo que bati com a cabeça no penico, e pior, a minha “namorada” soube disso, uns anos mais tarde, e catrapus… deu-me com ele nos cornos, pois com o penico, raios que o partam ou a partam?!
Cornos?!! Cá está, descobri… Eureka… - quem foi o desgraçado que levou com a maçã na tola?
Ora cornos…, cornos… toiro…, toiro… toirada…, toirada… cavaleiros…, cavaleiros… forcados…, forcados… flores…, flores… casamento!
Casamento. Casamento! Casamento?!
Ai meu Deus! Ai meu Deus, que dia é hoje!?
Eu já vi este número num filme, o número da ressaca, do casamento, da despedida de solteiro… Eu já vi este número, juro que já. Ai a minha cabeça que está prestes a rebentar!
Será que… casamento?
Espera aí?! Serei eu padrinho de casamento?
Será que o Pilitas se vai casar?
Mas não me lembro de nenhuma namorada que ele possa ter, muito menos noiva - a Susana é namorada? …
Ora aqui está um problema que a ressaca arranjou, a ressaca? A bebedeira diria antes, não me lembro de nada e ainda estou ressacado ou será ressecado?
Por mais voltas que dê, não me ocorre nada, se for padrinho por certo terei aqui um par de alianças, hummm… que bonito, um par de alianças!
Alianças?
Ora, deixa cá ver aliança… O que será que diz o dicionário? Hummm, deixa cá procurar, isto está difícil, a cabeça continua a sua aventura explosiva parece mesmo que vai estoirar. Às vezes, mais valia, tipo quando se arranca um dente, dói… dói, mas depois, quando descola da carne, passa com uma velocidade, é um alívio magnífico, mas porque me havia de lembrar agora de dentes, daqui a pouco está a doer e depois são dois problemas. Deixa-me cá pensar e procurar a palavra… que isto está aqui uma baralhação nesta cabecita… Hummm… laralilala, ora aqui está:
- “Aliança: acto ou efeito de aliar; coligação entre estados, entidades ou indivíduos para a obtenção de certos fins; anel de casamento; arco da –; arco-íris.”
Aí está o que é arco-íris, magnífico!
Perguntam-te:
- Então? Tens uma aliança no dedo?
E tu respondes:
- Ó parvo! Não vês que é o arco-íris!!
Ou então…
- Olha lá “meu”, que linda coligação entre estados, entidades ou indivíduos para a obtenção de certos fins que tens no dedo!!
Pior seria…
- Olha lá “Manuel”, mete depressa o acto ou efeito de aliar no dedo que vem aí a tua mulher.
Isto tem muita graça, só não percebo porque não encontro as ditas cujas, será que estão no quarto? Vamos lá procurar, vamos?
(Continua)



Apeteceu-me

"Não tenho certezas, apenas o desejo de as procurar" Charles de la Folie

quarta-feira, maio 05, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas III

(...)Tive de a agarrar… agarrado e de que maneira, vou chamar-lhe a bebedeira carraça, mas tive de a agarrar em algum lugar, deve ter tido algum objectivo. Afinal, e ao que parece, segundo se diz e se sabe, eu ainda sou dos poucos que pensam que para beber tem de haver duas razões. A primeira e a segunda, sendo que a primeira é por tudo e a segunda por nada, quer dizer se eu fosse de pensar até que arranjava pelo menos mais umas quantas, tipo mais uma. Se o Tico e o Teco estivessem com a sua veia inspirada, diria que para uma boa bebedeira basta uma “boa”, pois uma “boa”, ou muito “boa” razão, ou por uma “boa” causa, ou por uma “boa” zanga, ou uma “boa” discussão, nunca por uma “boa” queca. Aqui passa-se da conta, ai, ai, até me custa a dizer, este dizer é mesmo a admitir, adormece-se e faz-se uma figura medonha… mas muito pior, mas muito pior que a figura que se faz… ai podem crer que é o reencontro… quando se chega ao local habitual e se tem aquela conversa:
- Então?
- Então, como vai isso?
- Então!?
- Então, tudo bem?
- Sim, só os sapatos um bocado apertados?
- E a tua avó ainda é motard?
- Sim. E o teu avô, sempre bateu o «recorde» de comer pastéis de Tentúgal?
- Pois!?
- Sim?!
- Então…
- Então…
- Ok… chau ai…
- Ok, chau… ai… foi muito mau?
- O quê?
- Sabes?!
- Sei o quê?
- Chauzão então…
- Pois correu mal, mas eu safei-me.
- Ahhh... imagina!
- Pois, imagina mas esquece.
- Chau! Ok!
- Chau... fica bem...
Pois e sabem o que é o pior dessa conversa? É que tu sabes que aquela foi a oportunidade perdida. Ela queria, tu querias e agora?
Bom a “estória” mantém-se, eu quero muito, só que ela já não quer nada.
Mais negas, mais desilusões, mais psiquiatras - quer dizer se forem do calibre da Dr.ª Mónica que venham, mas agora tenho de ir mais devagar - mais uma série de interrogações que só as mulheres sabem. Ora Porra!!!
Estava a pensar ligar-lhe, mas agora com este recalco dá-me algum receio. Dá-me?! Não me dá nada, fico com algum receio, ora agora, alguém dá alguma coisa a alguém? Claro, ela devia e deve estar furiosa, aquela noite, supondo, pois claro isto supondo que existiu, teria sido, ou foi mesmo uma noite tramada, levada da breca. Nem sequer quero pensar nela, noite lógico, a verdade é que todos os vestígios são comprometedores. Ai o álcool, mas como diz o Pilitas “mais vale um bêbado amigo que um alcoólico anónimo”, por isso, “toca p’ra diante que já se faz tarde”.
Mas lá está, não me sai da cabeça nem a Puta da dor, nem se terá sido uma noite catastrófica, terá? Terá? Nãããã… nem quero pensar nisso, não é bom pensar nisso, nem devo pensar nisso, mata-me pensar nisso…
Estranho… a porta da rua está aberta, é estranho, muito estranho, porque está a porta aberta? MISTÉRIO… alguém terá saído à pressa ou será que alguém entrou muito torto, muito mesmo? Torto entrei de certeza, essa não era uma dúvida por certo, mas estava com a esperança de que ela não tivesse estado ali comigo… provavelmente trouxe-me a casa, pois provavelmente…
Hummm… Essa é uma ideia fantástica, fabulosa mesmo, podia ter feito uma péssima figura, mas a minha virilidade estava lá presente. Boa… boa… o Tico e o Teco estão a fazer um bom trabalho de raciocínio, lá vem mais uma dúvida, odeio a palavra, mas estou a ser assolado por mais uma dúvida, ou seja: - quando ela me veio trazer a casa devo, claro que devo ter tentado que ela subisse, certo?! A não ser que estivesse ebriamente morto e sem vestígios de poder ressuscitar.
Hummm!!!! Deixa cá por a cachimónia a matutar…
Visto assim à distância, à distância de poucas horas, a coisa deve ter sido engraçada, muito engraçada mesmo. Esta dor de cabeça continua violentamente a aborrecer-me, mas… espero que ela dê uma desculpa… pois espero que ela me dê uma desculpa. Qual desculpa… um desconto, eu preciso é de um desconto, mas já pareço, sei lá quem a tentar adivinhar os meus passos, um verdadeiro puzzle… ai a desgraça, imagino o diálogo:
- Meu amorrrr sobe comigoooo…
- Não! Tenho de ir para casa.
- E, então, esta casa é tua.
- Minha?! Não brinques com coisas sérias.
- A minha coisa é seria demais… a minha coisa… claro o meu amor.
- Vá lá… sobe, estás uma desgraça.
- Qual desgraça?! Eu quero é a tua graça. Vá sobe, sobe, sobe que ficas calada… ou será cansada?
- Não, não tenho de ir, já é muito tarde.
- És o meu amor, minha flor!
- A tua flor vai para casa...
Tipo duas horas depois.
- Acorda e vê lá se não me vomitas o carro!!
- Ahh!… Humm!… Ah!… eu não estava a dormir estava a pensar em ti, pois… na tua graça.
- Desculpas, pira-te, até amanhã...
Bom este pensamento, não dá com nada, dei-lhe o flanco todo, agora ela tinha-me onde queria, bem amarrado aos... pois, talvez nada disso tivesse acontecido, se... pois se... estes ses, que grande porcaria se está a passar comigo, eu não era assim.
Mas esta dor de cabeça não me larga e pior, muito pior e no meio disto tudo o que é certo, o que é realmente certo, é que a porta está semi ou se-mi aberta… que se lixe… e o Cão Guru acaba de me mijar nos pés.
Há quem diga que quando um homem anda em maré de azar até os cães lhe mijam nos pés.
Ora Porra!... Que grande Porra!... Que raio de vida a minha, e ainda é um quarto para as nove, pensando melhor antes fosse um grande quarto para as nove, mas grande não era e as nove não cabiam mesmo no meu quarto, ai não cabiam não! Como diria a fadista, até que a garganta me doa, só que em versão sexo.
Um quarto para as nove… e só de pensar que tenho de ir trabalhar, esse é outro mistério… E… eu trabalho?
Talvez, quem sabe?! A cabeça é que não pára, não pára de pensar, não pára de doer, muito menos pára de andar à roda.
Até que enfim, consegui tirar o Cão Guru daqui da perna, agora o melhor é tentar tomar um banho retemperado… mas… bolas…
É mais difícil do que eu pensava, convinha primeiro limpar a casa, mas como???
(...) Continua
Apeteceu-me

"Perde-se a oportunidade mas ganha-se um principio" Charles de la Folie