segunda-feira, outubro 24, 2005

MOMENTO


(…) Ela adorava o campo, aquele verde, o cheiro a manhã, toda aquela zona envolvente onde podia usar de um pensamento, mais que um pensamento… de liberdade.
O seu olhar, um olhar sério, profundo e meigo, de quem ousa andar no limite da vontade, do prazer, do desejo e mais que tudo da felicidade.
Ela era acima de tudo feliz, não se lhe conhece amor, um amor carnal, mas sim vários amores, é verdade que físicos, mas ao mesmo tempo naturais (de natureza), o seu grande amor, aquela pradaria imensa onde podia correr como Deus e a sua mãe a meteram no Mundo, era o seu espaço, seu dela de mais ninguém e a sua vida só dela dependia também.
Quem a viu, dizia que era parecida com o seu pai, de uma elegância estrema, fina, uma coxa alta, um peito de nobre recorte, o cabelo escuro, muito escuro que tapava o seu olho esquerdo, muitas vezes sacudia a sua cabeça para poder olhar como só ela sabia, aquele olhar directo, ao mesmo tempo discreto. Adorava passear perto do lago, onde a só a aragem que corria por aquelas paragens parecia não estar imóvel. Tudo o que por ali se mexia era de forma tão perfeita que parecia um quadro, uma aguarela acabada de pintar, parado, imóvel, mas não morto. Por vezes via-se os peixes quase com a sua cabeça de fora, como a conversarem com ela, passava por ali horas sozinha, junta com a natureza, a sua natureza… uma natureza quase utópica, mas era a sua.
Ouve um dia, que esteve quase a ser apanhada na teia da rotina, do dia a dia, esteve perto de se deixar apanhar pela inveja do homem, a sua resistência naquele dia, a sua confiança esteve perto de desvanecer. Sentiu o cheiro a queimado, aquele cheiro que lhe chamava a atenção e que lhe despertava instintos, viu as chamas e fugiu, fugiu para longe, para muito longe, para onde o horizonte era desconhecido, mas que ainda lhe pertencia….estava assustada muito assustada e ai quase perdeu tudo o que tinha, tudo o que a definia, a sua liberdade, a sua vontade de ser, de existir pelo prazer disso mesmo.
Perdeu-se nos seus pensamentos, no medo, no próprio medo, pavor do que estava a acontecer, medo de perder a sua preciosa liberdade.
Ela era linda, muito mesmo, o momento… em que parou de fugir foi magnífico, parou, rodopiou sobre si mesmo.

Foi ali que olhou para trás e percebeu que não podia fugir.
De uma vez só, começou um galope estonteante, a sua crina solta esvoaçava por cima do seu negro dorso e quando chegou relinchou forte para que todos ouvissem que era livre e que nunca ninguém se havia de apoderar dela ou do seu dorso.


Apeteceu-me


“A chuva molha, mas a água mata a sede” Charles de la Folie

27 comentários:

Anónimo disse...

Também nós já sentimos na pele o fogo que desperta o instinto.
***maria

Su disse...

tb li como a ana maria....
e gostei de ler tuas palavras

jocas maradas

Anónimo disse...

Um momento interessante escrito nas suas palavras. Beijinhos.

Vagabundo disse...

Obrigado pela visita lá no meu "banco de jardim", sempre que quiseres descansar depois da surfada aparece por lá, o teu tb é relaxante.
Já agora, que é o outro Louco que falta?

Abraço Vagabundo

Madeira Inside disse...

Mais um texto de que gostei de ler!!
Boa foto, a tua!!
Hehe!!

Beijinhos

Elsa disse...

Grande sintonia de letras e música...
e há quanto tempo eu não ouvia UHF... ;-)
beijo de boa semana

Micas disse...

Livre e selvagem...sempre. Uma delicia, para não variar.

Maria Carvalho disse...

Carlos! Está magnífico!! Belíssimo...nem sei que possa acrescentar!! Beijos meu querido. Adorei.

Anónimo disse...

que susto, pensei que era eu! bolas, serei égua?

Talk Talk disse...

Também pensei que escrevias sobre uma mulher, por certo seria essa a intenção. Belo texto.
Um abraço.

silvia disse...

Gosto muito de ler os teus textos, normalmente não comento porque ás vezes nem sei que diga mas passo cá muitas vezes.

Obrigada pelas visitas no meu cantinho

vi disse...

gostei mt... ao inicio tb axei k s tratasse d uma mulher, e o inesperado da situação agradou-me ao descobrir a bonita égua... =) *******************************

vi disse...

gostei mt... ao inicio tb axei k s tratasse d uma mulher, e o inesperado da situação agradou-me ao descobrir a bonita égua... =) *******************************

Eric Blair disse...

Pá, nunca gostei de UHF. A vantagem é que, depois de calar o AMR pude prestar mais atenção a este belo texto.

augustoM disse...

Gostei muito do texto, já vai sendo um hábito.
Se tivessemos que escolher um animal para simbolizar a liberdade, não havia águia que chegasse aos cascos do cavalo. Ele complementa o belo da paisagem e empresta um toque de nobreza ao climax envolvente.
Adoro cavalos.
Um abraço. Augusto

agua_quente disse...

Está lindo, o teu texto! Uma sensação de liberdade selvagem. E eu que adoro cavalos! Gatos primeiro, né? :))
Beijos

Ana disse...

Olá!!
Obrigada pela visita :D
Espero que voltes sempre, a porta está sempre aberta!!! E...desculpa lá quando a inspiração acaba depressa :P
Ah...posso tomar a liberdade de adicionar o teu link nos meus contactos???

Anónimo disse...

Um texto magnificamente escrito mas que tem UMA AURÉOLA tanto de selvagem como de triste...um texto onde a mão do homem ditou a diferença entre a liberdade da vida e as grades do destino; 1000 vezes a morte. São assim os seres que são intrinsecamente LIBERDADE.

heidy disse...

Quem não sonha com a liberdade? o poder abrir as asas e voar?

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Liberdade a seiva da vida. Um texto muito bem escrito.

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Confesso que muitas vezes entro e saio em silêncio e sem deixar rasto..., mas hoje deixo marca dizendo que gostei deste momento e de reouvir esta música..., porquê? Porque me apeteceu! :)

Beijokas da Lina (mar revolto)

Leonor disse...

ola carlos. obrigado pelas tuas visitas la no meu sitio.

de certo modo o teu texto fez-me lembrar o "miura" de miguel torga...

bem escrito.

abraço da leonor

Anónimo disse...

Belo post. Parabens. Beijinho;***

Maria Manuel disse...

Aqui não se poupam as palavras! E está bem.
Canta liberdade!

margusta disse...

Olá Carlos,
...Adorei ler-te, como sempre és fantástico em tudo o que escreves.
Beijinhos.

PS. Vamos lá a pegar na prancha que o campeonato da Europa acaba no domingo..lololol.

Anónimo disse...

aqueles pessegos têm mt bom aspecto miam :P

Sara MM disse...

muuuuuuuuuuuio bonito!