(…) Respirei fundo como sempre. Um amargo percorreu-me o vazio do estômago, fechei os olhos e ali permaneci durante um segundo apenas. Viajei no primeiro silêncio, senti as notas de uma pequena melodia. Chegava a hora, finalmente estava rodeado de amigo. O corpo manteve-se retraído, na esperança que o momento permanecesse para sempre. Não estava preparado ainda para que o sonho se tornasse realidade. Nessa realidade que nos alimenta, sem mais sobressaltos.
(…) Acordei … um segundo depois. Reconheci a voz de uma amizade profunda, ali estava – como no dia em que alguém se foi – e tornou-a presente. Mais uma vez senti as lágrimas percorrerem-me, torneando a sombra da minha Alma. Sinto-me seguro, há um dia a renascer, uma palavra que sobrevive e um desejo de fugir à dor perigosa da solidão.
(…) Aos poucos, a liberdade de ser eu, foi-se entranhando naquela pequena fobia de falhar. O ar tornava-se finalmente respirável – para mim. A corda que me ornamentava o pescoço alargava-se. Os espasmos de ansiedade voltavam a resguardar-se numa solidão partilhável. Passo, após passo, descobri no meio de silêncios que afinal a compreensão vai muito mais além que coisa nenhuma. É por isso que sobrevivo a mim e aos meus erros.
Apeteceu-me
"Se a realidade não for sonhada como sobreviveremos!?" Charles de la Folie